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Construção psicopedagógica

Print version ISSN 1415-6954On-line version ISSN 2175-3474

Constr. psicopedag. vol.33 no.34 São Paulo  2023  Epub Mar 08, 2024

http://dx.doi.org/10.37388/cp2023/v33n34a01 

EDITORIAL

EDITORIAL

Marlene Coelho Alexandroff1 

1Editora Científica.

Quando se analisam os estabelecimentos onde a violência escolar é grande, encontra-se uma situação de forte tensão; inversamente, quando se analisam aqueles em que a violência diminuiu, encontra-se uma equipe de direção e professores que souberam reduzir o nível de tensão. A questão fundamental é esta: os incidentes violentos se produzem sobre um fundo de tensão social e escolar forte; em tal situação, uma simples faísca que sobrevenha (um conflito, às vezes menor), provoca a explosão (o ato violento). É preciso, portanto, dedicar-se às fontes dessa tensão. CHARLOT, Bernard, in SOCIOLOGIAS, (8), Dez 2002, p.80 -

A revista “Construção Psicopedagógica” busca contemplar os leitores com um conteúdo atual e sob múltiplos olhares. A sua missão é divulgar o conhecimento em relação à aprendizagem e ao desenvolvimento humano, nas suas diversas facetas.

Este volume traz temas que se interrelacionam em diversos artigos: a questão da agressividade, da violência, do Bullying e até das intoxicações tecnológicas referentes ao uso excessivo e inadequado das TIC´s (Tecnologias de Informação e Comunicação). Temos acompanhado cenas de extrema violência dirigidos a crianças, adolescentes e educadores que geram impactos na constituição do sujeito, seja na primeira infância, na adolescência ou no ingresso à vida adulta. Destacamos que a psicopedagogia é uma área que busca compreender os processos de aprendizagem e desenvolvimento humano, levando em consideração fatores cognitivos, emocionais e sociais. Portanto, essas temáticas devem ser pauta de reflexões e intervenções.

Se pensarmos em situações de conflito nas escolas, com certeza encontraremos algumas dinâmicas que se repetem: situações de oposição às autoridades e agitação e impulsividade motora.

A oposição pode ter um motivo concreto ou vazia de conteúdo, em que a oposição não sejam dirigidas a pessoa propriamente dita, mas contra o papel de autoridade que ocupa. Apesar de essas oposições fazerem parte da construção de identidade, principalmente no adolescente, há que se pensar em medidas concretas que visem trazer maior autonomia e responsabilidade às crianças e adolescentes para diluir a oposição e facilitar a convivência nos momentos críticos, contribuindo ainda para o desenvolvimento de condutas sociais como a cooperação e a solidariedade. È muito importante que haja oportunidade para olhar para si e para o outro possibilitando a diminuição de cenas de bullying.

Embora comumente encarado como negativo e destruidor, o conflito é necessário à vida, inerente e constitutivo, tanto da vida psíquica, como da dinâmica social. Sua ausência indica apatia, total submissão e, no limite, remete à morte. Sua não explicitação pode levar à violência. Mesmo que possa se confundir com ela, conflito não é sinônimo de violência ... (GALVÃO, Izabel – in CENAS DO COTIDIANO ESCOLAR: conflito sim, violência não. 2024, p.15)

Em relação as dinâmicas turbulentas, estas trazem muitas divergências entre o professor e colegas. Há um desperdício de energia na situações de contenção por parte do professor e de tentativas de escapar ao seu controle. Sabe-se que há situações muito complexas, com conjunção de muito fatores, como a violência urbana, desrespeito aos direitos individuais e conflitos familiares e até mesmo, propostas pedagógicas inadequadas e o desrespeito a questões ligadas ao corpo e movimento.

Aqui também entra a questão do excesso de tempo diante das telas que pode contribuir para o acúmulo de energia corporal, dispersão, desatenção e dificuldade no convívio social.

No entanto, precisamos olhar as crianças e adolescentes como um ser corpóreo e concreto, uma pessoa completa com uma história a ser desvendada e acompanhada e desta forma, esperamos que os artigos sobre esses temas atuais que têm trazido inúmeros impactos nos ajudem nesta reflexão.

O primeiro artigo, O PAPEL DA PSICOPEDAGOGIA NA COMPREENSÃO/MEDIAÇÃO DAS INTOXICAÇÕES TECNOLÓGICAS, um estudo teórico reflexivo foi construído com base na leitura crítica de referências nacionais e internacionais nos traz reflexões atuais e pertinentes. Escrito por Marcos Venicio Esper, membro do FrED ( Université de Limoges) e docente da Universidade do Estado de Minas Gerais; Amanda Jorri de Tomei, Pedagoga, Neuropsicopedagoga e docente na cidade de São Paulo e Jacqueline Wendland Doutora em Psicologia e professora no Institut de Psychologie – Universidade de Paris, Laboratoire de Psychopathologie et Processus de Santé -LPPS - EA 4057, discute sobre as intoxicações tecnológicas resultantes do uso excessivo e inadequado das TIC´s (Tecnologias de Informação e Comunicação). Esses efeitos podem ser tanto físicos, como sedentarismo e problemas de postura, quanto psicológicos, como ansiedade, depressão e isolamento social.

As intoxicações tecnológicas referem-se aos problemas de saúde e bem-estar causados pelo uso excessivo ou inadequado de tecnologia, como smartphones, tablets , computadores e outros dispositivos eletrônicos. Esses problemas podem incluir vício em tecnologia, falta de sono adequado, isolamento social, ansiedade, depressão, problemas posturais e dificuldades de concentração (ESPER, 2022).

O artigo discute os prós e contras do uso das TIC´s, pois elas têm desempenhado um papel cada vez mais significativo no campo da educação, reformulando e ressignificando os processos de ensino-aprendizagem, ou seja, como os alunos aprendem e como os professores ensinam.

Destaca a importância da Psicopedagogia institucional e clínica numa mediação entre a tecnologia, o aluno e a escola, trazendo pistas e possibilidades de intervenção:

Reafirmamos que a psicopedagogia pode desempenhar um papel relevante no enfrentamento dessa problemática, contribuindo por meio de conscientização e informação aos estudantes, pais e educadores sobre os efeitos negativos da intoxicação digital e a importância de equilibrar o uso das tecnologias digitais com outras atividades educacionais e recreativas. É fundamental o desenvolvimento de habilidades digitais saudáveis, como o estabelecimento de limites de tempo, a prática de pausas durante o uso de dispositivos eletrônicos e a adoção de estratégias para filtrar informações relevantes.

O segundo artigo, AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA PARA CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL COGNITIVO NA SÍNDROME DE TURNER nos traz um estudo de caso discutindo a síndrome de Turner que se caracteriza pela deleção total ou parcial do segundo cromossomo sexual feminino. A maioria das meninas não tem atraso cognitivo, mas são frequentes as dificuldades específicas de aprendizagem da matemática. A pesquisa foi realizada por Joice Kelly de Andrade Galvão, de Vitória, Espírito Santo e Daniela Dadalto Ambrozine Missawa da Universidade Vila Velha, Espírito Santo.

Segundo as autoras, há escassez de estudos abordando as dificuldades de aprendizagem da matemática na ST (Sindrome de Turner), o que demonstra a necessidade de um aprofundamento neste campo. Destacam que:

(...) a avaliação neuropsicológica se mostra um importante procedimento, pois segundo Charchat-Fichman, Fernandes e Landeira-Fernandez (2012), possibilita uma compreensão detalhada do funcionamento neurocognitivo-comportamental do paciente, ou seja, se caracteriza como uma etapa fundamental no desenvolvimento de estratégias eficazes de intervenção psicológica. Consiste, portanto, na investigação das funções cognitivas e do comportamento através da aplicação de técnicas de entrevistas, exames quantitativos e qualitativos das funções que formam a cognição, abrangendo os processos de percepção, atenção, raciocínio, memória e linguagem (MÄDER-JOAQUIM, 2010). Autores como Serafim e Moraes (2016) pontuam que o propósito de uma avaliação neuropsicológica é o de estabelecer e delinear o perfil cognitivo, proporcionando a identificação e a gravidade do déficit, bem como de estabelecer os comprometimentos e as habilidades preservadas no indivíduo.

Sobre a adolescente pesquisada, nos trazem as seguintes informações:

Participou da pesquisa E.S.G.C.,13 anos, sexo feminino, matriculada no 7º ano do Ensino Fundamental, diagnosticada com Síndrome de Turner por um geneticista. A investigação do cariótipo se deu através de um exame FISH (Fluorescence In Situ Hybridization) Sonda centromérica XY, utilizando uma amostra de sangue periférico. O exame revelou um mosaicismo cromossômico (X0 – 5%/XX – 8%/XXX – 87%), que ocorre, segundo Vasconcelos (2007), quando há uma mistura de linhagens celulares, havendo a presença de uma linhagem normal e outra alterada. A adolescente possui 1,36 de altura e faz uso de hormônio de crescimento humano biossintético Somatropina. As queixas iniciais trazidas na ficha de inscrição da clínica de psicologia são: dificuldades em matemática, não reconhecimento de valores, como cédulas de dinheiro, e comportamentos agressivos. A pesquisa foi realizada na Clínica de Psicologia da Universidade Vila Velha.

A guisa de conclusão as autoras apontam que depois analisados os dados,

(...) verificou-se que através do perfil cognitivo foi possível identificar e analisar detalhadamente os domínios cognitivos na capacidade de compreensão verbal e memória e as fraquezas cognitivas na capacidade de flexibilidade mental e em aritmética, que se mostraram importantes informações para o planejamento de um futuro programa de reabilitação cognitiva para a participante.

No entanto, ressaltam a necessidade de se complementar a avalição neuropsicológica com exames de imagens que permitam verificar alterações funcionais, além de avaliações de profissionais de outras áreas como neurologia e psicopedagogia, realizando assim uma abordagem interdisciplina.

O próximo artigo, um relato de pesquisa sobre o tema A ADOLESCÊNCIA E OS PROBLEMAS DE CONDUTA E AGRESSIVIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR, produzido por Assirlene de Fátima Xavier, de Campina Grande, Paraíba. Trata o resultado de uma investigação de campo, na qual foram aplicados três questionários estruturados com a amostra de 112 alunos, 20 professores e 112 fichas individuais, sendo o universo de 224 alunos, 30 professores e 224 fichas individuais e/ou laudos médicos. A autora destaca que:

A Adolescência vem sendo descrita e compreendida a partir da cultura que o concebe, assim sendo, a Adolescência pode ser vista como uma transição do ser criança para o ser adulto e que envolve vários aspectos dos quais, são necessários para o desenvolvimento do indivíduo. Dessa forma, apresenta-se como uma fase de divergências e contestações aos padrões sociais tradicionais, turbulência física-biológica assim bem como, psicológica. Dessa forma, e por ser este um período de tensões e conflitos internos e externos, propicia ao jovem a vulnerabilidade a atitudes agressivas, de contestação, rebeldia, ao contato com drogas ou vulnerabilidade a possíveis problemas psíquicos relacionados a transtornos comportamentais e de conduta social.

Desta forma, a autora analisa diferentes aspectos relacionados à adolescência e a multiplicidade de fatores aos quais estão relacionados à violência, ou seja, a família e o meio social do indivíduo, está também vinculado a uma série de fatores intrínsecos e extrínsecos.

Na visão de Lesourd (2004) o indivíduo adolescente, encontra-se em conflito constante entre o eu e o ser social, deparando-se com questionamentos, regras e conflitos subjacentes à sua cultura. Ao mesmo tempo em que, necessita da aceitação de si mesmo enquanto ser único, necessita da aceitação do meio em que está inserido e esses dois caminhos, por si só já demandam maturidade psíquica para interpretá-los de forma adequada e coerente. E nesse interim, conflituoso, o adolescente hora sente-se e age de forma coerente “socialmente”, hora age de forma incoerente aos padrões sociais, o que acarreta, muitas vezes conflitos tempestuosos com a família, no ambiente escolar, na própria sociedade e consigo mesmo.

A autora conclui sua pesquisa, após a compilação dos dados, análise e tabulação, dos resultados da pesquisa trazendo uma esperança de mudança de comportamento numa relação mais dialógica.

(...) os adolescentes com perfil de características ditas problemáticas pela escola, como por exemplo, diagnosticada com algum tipo de transtornos a exemplo de: Transtorno de Conduta-TC, Transtorno de Oposição Desafiante-TOD, Transtorno de Personalidade Antissocial-TPAS e/ou outros transtornos, como também abandono, abusos, casos de agressão doméstica já conhecidas pela escola, entre outros fatores, apresentam graus mais elevados de agressividade que se sobressaem aos demais em situações de conflito. Avaliou-se também, que há uma mudança de comportamento do adolescente com relação a sua agressividade no ambiente escolar, quando as respostas a suas agressões não se baseiam apenas em punição, mas em aproximação dialógica com as figuras de autoridade.

Em seguida trazemos outro artigo com conteúdo atual e que necessita de atenção : BULLYING: ESTUDO COMPARATIVO DE PERCEPÇÕES DE ESCOLARES, PROFESSORES E TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS. O artigo escrito em parceria com Pedro Gustavo Silva e Maeve Silva , de FAGAMMON, (Lavras, MG); Rafaella Cristina Campos, da UFLA (Lavras, MG); Marcelo Antônio Lopes da UNIFENAS (Alfenas, MG) e Leandro Veloso Silva, da UFMG. O estudo nos traz um relato de pesquisa em duas escolas (uma pública e uma privada), no município de Lavras, sul de Minas Gerais, com o objetivo de analisar como estava sendo tratado o assunto bullying .

Segundo os autores,

O termo bullying tem vasta variedade de significados e sentidos, que vão se sedimentar dependendo do contexto sócio-histórico e cultural dos envolvidos – pessoas e instituições. Mas, em um panorama geral, pode-se definir que bullying , ou agressão sistemática, como um ato de exposição e agressão repetida, partindo de ações intencionais que ofendem e prejudicam, socialmente e subjetivamente, um indivíduo (SILVA & ROSA, 2013).

Destacam o bullying é um dos vilões da juventude, pois 30% dos jovens já participaram de alguma forma dessa violência. “ Dentre os dados obtidos, o IBGE concluiu que 20,8% desse total é formado somente por agressores, dado que indica que 1 em cada 5 jovens, dos 13 aos 15 anos, pratica bullying com seus colegas na escola. ” Ainda ressaltam que a maioria dos praticantes de bullying são do sexo masculino e que o número só não é maior , porque os episódios podem ser praticados por vários praticante por vítima.

Na coleta de dados empíricos percebeu-se que todos os adolescentes sabiam descrever o fenômeno, seja a partir de um entendimento pessoal de cada um, seja por um episódio que já viram, seja por terem passado por alguma situação parecida:

Puderam-se verificar, palavras como: violência, ódio, desrespeito, preconceito, macaco, intolerância, gordo, dentre outras. Tais palavras foram ditas em voz alta, pelos proponentes, após escritas pelos alunos e questionados sobre quem escreveu cada uma delas, e pedindo para justificar suas escolhas.

Analisam o despreparo das escolas para reduzir ou eliminar a ocorrência de situações de violência escolar, muitas vezes por escassez de recursos materiais e humanos e por falta de capacitação dos professores e das equipes técnicas.

Como professores e equipes técnicas tendem a achar que as causas da violência entre alunos são exteriores à escola - localizadas na família ou na sociedade em geral - são poucas as ações institucionais com foco no combate à violência entre os alunos relatadas pelos docentes.

Depois de analisar as duas escola, uma pública e outra particular, concluíram que os resultados foram semelhantes nas duas escolas, Entretanto, que quase a totalidade dos participantes deste estudo sabia da existência do fenômeno na sociedade e que ele ocorria dentro da escola. Todos concordavam que o bullying precisa fortemente ser combatido.

É preciso lidar de frente com possíveis situações de violência, não apenas através de um viés de uma resolução ou normativa que subsidie legalmente as ações a serem efetivadas, de fato, assumindo posturas e medidas que devem ser tomadas, no que diz respeito à preparação dos profissionais da/na educação, para lidarem com a violência e para não deixarem que ela se prolifere.

O último relato de pesquisa traz o artigo OFICINAS DE JOGOS ON-LINE: ALCANCES E LIMITES. As autoras, da USP – Universidade São Paulo -Tamires Alves Monteiro, Maria Thereza Costa Coelho de Souza, Ana Lúcia Pétty e Valquiria Carracedo. Este artigo tem como objetivo relatar um programa de intervenção com jogos, em formato on-line , criado no contexto pandêmico pela equipe do Laboratório de Estudos sobre Desenvolvimento e Aprendizagem (LEDA) do Instituto de Psicologia da USP, para a realização de uma pesquisa financiada pela FAPESP. O programa teve duração de três semestres e foi realizado numa ONG situada na região oeste da cidade de São Paulo, com grupos de crianças de 9 a 11 anos que apresentavam dificuldades escolares.

A pandemia do Covid-19 gerou enorme impacto mundial e afetou diretamente os atendimentos realizados no laboratório. O contexto novo e incerto exigiu a suspensão de todas as atividades presenciais e tomadas de decisão, com mudanças que implicaram em muitas transformações. No primeiro ano da pandemia - período de março a dezembro de 2020 - foi possível ficar em contato com o público e dar seguimento ao programa por meio de mensagens enviadas via whatsApp.

Segundo as autoras, a experiência de atuação com oficinas de jogos, aliada à base teórica e a abertura para conhecer novas tecnologias favoreceram a equipe do L.E.D.A a oferecer outra forma de atendimento nesta situação que impedia o encontro presencial, e que simultaneamente precisava de muito suporte socioemocional.

Como recurso didático, utilizou-se três Cadernos-Diários diferentes, um para cada semestre, especialmente criados para dar suporte a este modelo de atendimento remoto (vide Guia do L.E.D.A., 2021). Os Cadernos-Diários foram produzidos pela equipe do L.E.D.A, tendo sido distribuídos para uso individual, entregues na instituição antes do início de cada semestre. Eles contêm o conjunto total de atividades gráficas para as crianças realizarem ao longo de cada semestre do Programa de Intervenção com Jogos. Além dos cadernos, foram utilizados materiais como lápis de cor, lápis grafite, borracha, apontador, tesouras (doados à instituição), bem como os jogos relativos a cada semestre (emprestados durante o período de uso).

As autoras relataram que o trabalho contou com pelo menos dois integrantes do L.E.D.A, sendo um deles conduzindo as oficinas e os demais atuando como observadores que colaboraram ocasionalmente com participação oral, além de uma professora da instituição atuando presencialmente nas oficinas, que acompanhou semanalmente cada grupo de até nove crianças. Quanto aos equipamentos eletrônicos, foram utilizados o celular da professora e o notebook da instituição, conectado a um projetor com telão. O local cedido para a realização das oficinas foi a sala da biblioteca.

Em cada semestre ocorreram aproximadamente 12 encontros e os quatro momentos foram assim organizados: (1) o jogo principal, sendo algumas modalidades do 4Cores no primeiro semestre (MACEDO, PETTY e PASSOS, 1996); Tangram e Feche a Caixa no segundo (MACEDO, PETTY e PASSOS, 2000); Cara-a-Cara, Imagem e Ação e Conte um Conto no terceiro semestre (MACEDO, PETTY e PASSOS, 2005); (2) as atividades suplementares com desafios que instigam a solução de desafios como caça-palavras, cruzadinhas, contagens e correspondências; alguns questionários sobre curiosidades a respeito das crianças e sua vida escolar, bem como sobre mudanças percebidas e novas possibilidades de ação; (3) os temas para reflexão destacaram aspectos para as crianças falarem sobre vida saudável, economizar água, sono, alimentação, amizade, ajudas em casa, atividades físicas e brincadeiras, enfrentamento de problemas, força e coragem, equidade, análise de atitudes, perfil de comportamento; (4) para fazer o fechamento de cada dia, geralmente com duração de um ou dois minutos, foi proposta alguma atividade de respiração, desde simples atenção ao inalar e exalar, até alguns exercícios para relaxar. Este momento ocorreu com regularidade e todas as crianças concordaram em participar, indicando que estavam envolvidas com a ideia e gostaram de aproveitar esse tempo de pausa na agitação.

As autoras trazem análises diversificadas e bem fundamentadas sobre o trabalho realizado e concluem que

(...) é possível dizer que o formato remoto de oficinas de jogos apresentou um caráter inovador alinhado com outras intervenções surgidas no contexto da pandemia de Covid-19 e que poderão permanecer como alternativas de atendimento para populações de localidades mais distantes e/ou com menores possibilidades de se deslocarem até a universidade para receberem atendimentos em formato presencial. A repetição do programa de oficinas de jogos on-line permitirá esclarecer se os bons indicadores aqui relatados foram pontuais ou se podem se tornar marcas gerais deste formato de intervenção.

Finalmente, chegamos à resenha do livro BARREIROS: UMA TRAJETÓRIA EDUCATIVA ENTRE MATA E MAR sistematizada por Paulo Sergio de Oliveira Junior, do Instituto Sedes Sapientiae, São Paulo. As autoras do livro, as psicopedagogas Georgia Vassimon e Maria Christina de Magalhães Silvestre narram a experiência educativa da Associação Barreiros, conhecida popularmente como “Barreiros”, homônimo da fazenda que se localiza na Ilhabela, município-arquipélago localizado no litoral norte do estado de São Paulo. A iniciativa da criação dessa Associação deveu-se ao empenho da proprietária da Fazenda, Maria Silvia Doria do Amaral que, ao lado do esposo, Luiz Alves, recebeu a indicação do Grupo de Estudos e Trabalhos Psicodramáticos (GETEP) para que se ampliasse o projeto socioeducativo, com vistas a atender crianças e adolescentes da localidade.

Em 9 capítulos, as autoras trazem os dez anos de trabalho realizado na comunidade de uma forma muito própria pois cada capítulo se inicia com uma epígrafe de importantes personalidades no campo da poesia em língua portuguesa (Manoel de Barros, João Cabral de Melo Neto, Alberto Caeiro, Adélia Prado, Ferreira Gullar, Paulo Leminski), além de Francisco de Assis, numa relação direta com aprendizagem e natureza. Ilustrando a obra, uma coletânea de imagens acompanham o texto escrito, fazendo com que o Barreiros, seus participantes, bem como Ilhabela, se façam presentes. A citação inicial é um poema de Jacob Levy Moreno, idealizador do Psicodrama, uma das referências de trabalho das autoras.

Barreiros: uma trajetória educativa entre mata e mar é uma importante obra de referência para o educador. A diversidade de textos e imagens é fonte de sugestões para enriquecer o processo educativo em qualquer espaço, principalmente, em instituições. A leitura desse livro tem um tempero especial para quem cursou Psicopedagogia no Instituto Sedes Sapientiae: as professoras Georgia e Chris, durante as aulas, citavam frequentemente Barreiros, com muito carinho e muita delicadeza. Reconhecemos esse mesmo cuidado na obra, assim como o respeito em dar voz a todas as pessoas que integram o projeto, fazendo do livro uma criação de muitas mãos.

Assim, finalizamos este número da “Revista Construção Psicopedagógica”, agradecendo aos autores que contribuíram com a presente edição, enriquecendo a reflexão e o fazer psicopedagógico,

Agradecemos pela companhia na leitura dos textos e convidamos para que nos ajude na divulgação de nossa revista e esperamos também que você, leitor, nos alegre com a sua contribuição para o próximo número. Seu artigo será muito bem-vindo! Ele é muito importante para nós!

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