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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

Print version ISSN 1415-711X

Bol. - Acad. Paul. Psicol. vol.27 no.2 São Paulo Dec. 2007

 

TEORIAS, PESQUISAS E RELATOS DE EXPERIÊNCIA

 

Psicossociologia e negritude: breve reflexão sobre o "ser negro" no Brasil

 

Psychosociology and Blackness: brief reflection on "being black" in Brazil

 

 

Maria da Consolação André1

UNIP - Campus de Brasília

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este artigo resulta de pesquisa conceitual realizada como parte da tese da autora sobre processos de subjetivação de afro-brasileiros com vistas à obtenção do doutorado em Psicologia. O interesse pelo estudo como um todo é o de chamar a atenção dos profissionais e pesquisadores da Psicologia pela importância da discussão das idéias veiculadas no Brasil sobre o negro e também do debate sobre as questões da negritude. Entende-se que esse debate pode auxiliar na compreensão dos sofrimentos advindos de experiências discriminatórias vividas pelos afro-brasileiros. Assim sendo, o objetivo deste artigo consiste em examinar os conceitos de "negro" e de "negritude", abstrações oriundas historicamente do sistema escravista objetivado pelo tráfico dos africanos no Brasil. Idéias que podem justificar a suposta inferioridade dos africanos e afro-brasileiros em nossa terra.

Palavras-chave: Negro, Afro-brasileiro, Subjetividade, Ideologia.


ABSTRACT

This article is the result of a conceptual research developed as part of the author's thesis on subjectivity processes of Afro-Brazilians, focused on a doctor degree in Psychology. Our interest for this study as a whole is to call the attention of professionals and researchers of Psychology about the importance of discussing ideas disseminated in Brazil about black people, and also to debate about the "black awareness" questions. It is understood that this debate could be helpful in the comprehension of the sufferings occurring from discriminatory acts experienced by Afro-Brazilians. Therefore, the objective of this article consists in the examination of the concepts of "black" and "blackness", abstractions derived historically from the slavery system brought by the traffic of Africans to Brazil, as well as ideas that could possibly justify the inferiority of African people and Afro-Brazilians in our country.

Keywords: Black, Subjectivity, Afro-brazilian, Ideology.


 

 

Introdução

Na pesquisa realizada para a obtenção do doutorado em Psicologia, tornou- se importante refletir acerca dos conceitos "negro" e "negritude" pelo fato de que, de modo geral, a população negra tem buscado uma afirmação do seu "ser", conforme pudemos observar no levantamento bibliográfico das áreas de Sociologia, História, Antropologia e de Psicologia.

No que toca a esta última ciência, adotamos como foco a perspectiva psicossociológica, pois conforme Maisounneuve (1977, p.2) sua emergência como ciência-charneira2 poderá auxiliar na compreensão e explicação da integralidade das condutas humanas. Tal afirmação revelou-nos a necessidade de direcionar a revisão bibliográfica sobre a imagem de submissão que é atribuída à citada população. Como contraponto a essa idéia generalizada, temos registros de atuação independente, como fugas, suicídios e a quilombagem, que podem ser listados como formas de rebelião aos tratamentos advindos do sistema escravocrata. No que diz respeito ao conceito de "negritude", adotamos a posição de que esta é vista como a busca de afirmação do negro, da sua existência enquanto ser herdado dos ancestrais nos campos artístico, religioso, dentre outros. Ou seja, os afro-brasileiros querem fazer valer formas de vida particulares como grupo distinto da sociedade em geral. Desse modo, entendemos que os conceitos "negro" e "negritude" são fundamentais para os estudos sobre o "ser negro" e para a compreensão dos processos de subjetivação dos afro-brasileiros, uma vez que essa abstração tem sido usada para justificar a suposta inferioridade atribuída a esse grupo étnico.

A revisão bibliográfica é referida a uma série de registros e reflexões em relação aos respectivos construtos, presentes nas contribuições dos filósofos, antropólogos, sociólogos, médicos, religiosos e, em especial, psicólogos. Em relação a este último campo, encontramos trabalhos importantes sobre os conceitos de "negro" e de "negritude", que serão analisados em seguida.

 

A construção do conceito preconceituoso sobre o "negro"

O "ser negro" é visto, historicamente, como um fenômeno negativado, sendo explicado por várias ciências, em especial pela Psicologia. De acordo com registros sobre a África negra, essa população era considerada impura; julgamento esse encontrado em documentos religiosos que apresentavam o negro como herdeiro de Cam e, pela Biologia, era-lhe atribuída uma "natureza" negativa. A partir dessas e de outras fontes, o negro é estudado como um "fenômeno diferente", ora analisado como "criação divina", ora como "obra da natureza", mas sempre interpretado como defeituoso. Essas explicações passaram a ser registradas como justificativas para explicar a inferioridade do negro nos aspectos intelectual, emocional e social de sua personalidade, devido à sua origem africana, tida como primitiva e animalesca. Sua terra natal era considerada como a terra de pecado e de imoralidade geradora de homens corrompidos e a cor que os distinguia dos brancos era estranha e pedia explicação. (Santos, 2003, p.55).

Nas referências citadas, há também o registro de que cerca de 50 milhões de africanos foram trazidos ao Brasil durante mais de 300 anos de escravidão, advindos principalmente das possessões portuguesas de Angola, Moçambique, Cabo Verde e Guiné Bissau. Esses povos foram os primeiros a receber a nomeação de "negros inferiores" (Marquese, 2004; Meltzer, 2004; Rodrigues, 2000; Schwartz, 1993). As construções a partir de tais idéias acerca do negro conferiram-lhe uma posição ideologicamente constituída de estereótipos que descrevemos a seguir:

a) O negro é um ser inferior - intelectual, emocional e social.

Santos (2003) afirma que a caracterização negativa da cor negra aparece antes da noção de raça. Para asseverar essa concepção, Cohen (1980), citado por aquele autor, também registrou que a temática da cor negra apareceu nos vários tempos da humanidade com valoração negativa fundamentada como símbolo de hierarquia de classes.

b) O negro representa: falta de moralidade, signo de morte e corrupção; em contrapartida, o branco, signo de vida e de pureza.

Reforça essa idéia a dedução que se faz de trechos religiosos divulgados em tempos idos, sobre o "negro" como representação do pecado e da maldição divina. Ribeiro (1995) registrou o texto da bula Romanus Pontifex, de agosto de 1454, do Papa Nicolau V, o qual apresenta a idéia da Igreja que seria a "salvadora das almas", notadamente dos negros, atribuindo ao rei Afonso a plena e livre faculdade, entre outras, de invadir, conquistar, subjugar a quaisquer sarracenos e pagãos, inimigos de Cristo, suas terras e bens, a todos reduzir à servidão e tudo praticar em utilidade própria e dos seus descendentes (pp. 39-40).

c) O negro não é civilizado.

O fato de ser negro pode indicar que são incapazes de progredir, de evoluir nos aspectos intelectuais, emocionais e sociais, não podendo, portanto, contribuir para o progresso de uma sociedade baseada na ideologia branca/européia.

Para configurar esse preconceito, vale lembrar que o costume de marcar os excluídos, com um ferro, na Grécia clássica (e em outras culturas), criava estigma permanente nos escravos, criminosos e traidores, os quais deveriam ser evitados. Goffman (1963/1988) usou essa idéia para ilustrar qualquer atributo considerado profundamente desabonador. A posse de tal desqualificação pode ter efeitos deformadores sobre o desenvolvimento individual, pois, em certa medida, as pessoas por ela atingidas são excluídas das relações sociais "normais".

Outra série de argumentos que apoiam o contexto deste artigo são aqueles afiliados ao evolucionismo social ou darwinismo social. As contribuições descritas pelos adeptos dessas idéias consideram o negro como incapaz de evoluir, o que prejudicaria o sentido do progresso. Visto como hereditariamente inferior, Priori & Venâncio (2004) registram que muitos viajantes identificavam os africanos como sendo semelhantes aos macacos, o que era resultante da convivência com eles. Esse tipo de estereótipo serviu para fortalecer as caracterizações "desumanas", afirmando que o negro não teria possibilidade de atingir a perfeição como era suposta aos brancos (Buffon, 1749/1971; Calmon, 2002; Fausto; 2001; Fernandes 1972 e 1978; Florentino & Góes, 1997; Chiavenato,1999; Costa, 1986; Gomes, 1994; Moura, 1983 e 1989; Marquese, 2004; Meltzer, 2004; Munanga, 1988, 1996, 1999; Priori & Venâncio 2004; Rodrigues, 2000; Silva, 2003).

d) O negro é propenso a ser criminoso.

De acordo com o modelo determinista, apareceram a craniologia técnica e a antropologia criminal (...) cujo principal expoente - Césare Lombroso - argumentava ser a criminalidade um fenômeno físico e hereditário e, como tal, um elemento objetivamente detectável nas diferentes sociedades (citado por Schwartz, 1993, p: 48/49).

Tal afirmação encontra-se na literatura sobre o negro e a criminalidade; por exemplo, em Gomes (1994), Gould (1999), Ribeiro (1995) e Silva (2003). As classificações que hierarquizaram as raças foram construídas por meio do uso de escalas de valores entre os diferentes povos - asiáticos, africanos, europeus - estabelecendo relações entre a biologia (cor da pele, traços morfológicos) e as qualidades morais, psicológicas e socioculturais. Segundo esta perspectiva, a raça branca era considerada superior à amarela ou negra por causa das diferenças físicas hereditárias: cor da pele, formato do crânio, formas dos lábios, do nariz e do queixo, dentre outras (Munanga, 2004). Reforçando tais idéias, podemos citar também estudos sobre Psicologia Diferencial, doença mental e também a aplicação da frenologia que advoga que as capacidades ou habilidades mentais teriam sua sede numa determinada localização no cérebro, hoje comentadas nas concepções de autores como: Anastasi (1967); Galton (1979 e 1988), Gould (1999); Gobineau (1853) e Le Bon (1894). O uso de tais construções pode explicar o que é denominado racialismo, dando suporte ao aparecimento da categoria negro baseada em características biológicas que, fortalecida pelas atitudes a ela incorporadas, resultou numa depreciação do negro africano, inserindo, posteriormente nesta categorização, o negro brasileiro numa ancoragem aos estereótipos a ela atribuída.

e) O negro é infantil, pré-lógico e animista.

Fortalecendo essa negativação, aparece em vários textos (Nina Rodrigues, 1904/2004) a idéia de que o negro africano era infantil por não saber cuidar de si, precisando de um senhor que lhe diga o que fazer e como fazer, como deve se portar e que possuía capacidade cognitiva inferior aos brancos. Na sua obra Os Africanos no Brasil, Nina Rodrigues (1904/2004) fortaleceu essas idéias negativas, apresentando sua concepção sobre a inferioridade do negro: (...) Se conhecemos homens negros ou de cor de indubitável merecimento e credores de estima e respeito, não há de obstar esse fato o reconhecimento desta verdade - que até hoje não se puderam os negros constituir em povos civilizados (p. 18).

O negro, na visão desse autor, não é civilizado. Para ele, a psicologia sobre o negro é uma psicologia do phatos e da criminalidade. Considerado primitivo, o povo africano era apontado também como infantil, sendo governado pelas emoções e não pela razão como era deduzido do paradigma racionalista que vigorava na época; daí a idéia de que o negro não era e não poderia ser civilizado, porque por mais que fosse "depurado" pelos constantes relacionamentos com os brancos, a sua natureza não permitia as alterações necessárias para a sua evolução ao padrão hegemônico.

Em suas discussões e análises, Nina Rodrigues (1904/2004) revelou o exercício do positivismo, o que, no caso dos estudos sobre o negro, aparece nas classificações, nas tipificações dessa população, apresentadas como "verdades" sobre a inferioridade desse grupo versus a superioridade da outra população. Esse autor também estudou questões de criminologia a partir de tipologias raciais, notadamente o tipo negro, e terminou por construir uma falsa concepção de predisposição criminal do negro, que é reafirmada em diversas abordagens, as quais, de acordo com Silva (2003), atribuíram-lhe um agente criminogênico pautado na constituição biológica e os fenótipos criminológicos e também no atraso cultural, efeito de uma raça que estava ambientada noutra temporalidade, distante dos povos civilizados. Embora os negros tivessem contribuído para a civilização, ainda assim são considerados como um dos fatores de inferioridade dos povos (pp. 21 e 22, Nina Rodrigues, 1904/2004).

Objetivando a compreeensão da formação racial no Brasil, o autor citado empreendeu um discurso que fortaleceu a visão e atitude racista perante o negro (ser inferior), pautado no paradigma da determinação biológica e cultural, ao compará-lo ao branco (ser superior). Utilizou, por conseguinte, de uma perspectiva normatizadora, higienista e sanitarista e, por extensão, para a análise das raças, doença mental e responsabilidade penal da realidade nacional.

Portanto, para Nina Rodrigues (1904/2004), a referida população seria incapaz em todos os setores da vida sociopolítica. Cita vários exemplos: o da religião católica que, em sua concepção, o negro não teria condição de adquiri- la porque não a assimilaria por ser desprovido da capacidade de abstração. Outro exemplo apresentado foi em relação ao idioma e às artes, sobre as quais Nina Rodrigues afirmava que as dificuldades ocorriam pelo fato de os negros serem deformados, primitivos e infantis. Registrou também a má influência que o negro teria para os propósitos do progresso da sociedade brasileira, sugerindo, como outros autores (Boletim Academia Paulista de Psicologia - Ano XXVII, nº 2/07: 47-66 / Boletim Academia Paulista de Psicologia - Ano XXVII, nº 2/07: 67-82) o fizeram, que o "branqueamento" seria uma forma de redenção para os negros e de salvação para a nação brasileira.

A escola de Nina Rodrigues (1904/2004) teve como maiores discípulos e divulgadores de suas idéias Afrânio Peixoto e Arthur Ramos que apoiaram-se na Medicina Legal, Psicopatologia Forense, na Higienização, na Antropologia Criminal, na Psicologia Coletiva e Étnica, desdobrando-se em aplicações imprevistas e múltiplas problemáticas da ordem nacional.

Ramos (1988), da mesma forma que Nina Rodrigues entendia que o negro não deveria ser estudado apenas do ponto de vista racial, mas que seria importante investigar sua cultura, a herança de seus traços africanos e as formas de participação na sociedade. Este direcionamento poderia fornecer elementos para a elaboração de um mapa psicocultural do negro. E tais resultados configurariam uma área denominada etnopsicologia pelo encontro de teorias antropológicas e psicológicas.

Sobre a questão do negro, Ramos publicou as seguintes obras: As Culturas negras no novo mundo, (1934); O folclore negro no Brasil, (1936); Aculturação negra no Brasil, (1942); e O negro brasileiro (1988) que são marcos de sua produção teórica. Embora suas obras tenham um direcionamento para a Antropologia, encontramos relações entre essa ciência e a psicanalítica. O seu livro O negro brasileiro - etnografia religiosa e psicanálise (1988) fez uso da psicanálise para interpretar as manifestações culturais, principalmente religiosas. Nesta obra registrou sua opinião de que os costumes negro-fetichistas são tão evidentes no Brasil que bem mostram o poder de impregnações dos elementos pré-lógicos e, por isso, viveríamos em pleno domínio de um mundo mágico, impermeável, de uma certa maneira ainda, aos influxos de verdadeira cultura. Em seu trabalho, o autor elucidou o campo de conhecimento que denominou de etnopsicologia, ao passar da interpretação psicanalítica para a histórico-cultural e vice-versa, valorizando a cultura que para ele seria o instrumento que destruiria a ilusão mágica da nossa vida emocional para que se pudessem atingir etapas mais adiantadas, substituindo condutas pré-lógicas por outras mais racionais.

Ramos (1988) deu ênfase à questão religiosa tentando, inclusive, dar uma interpretação psicanalítica (p.297). Buscava uma compreensão sobre a psique coletiva do brasileiro e o estudo das formas atrasadas (...) [as] religiões permitindo apenas descobrir uma ponta do véu. Partindo destas constatações, Ramos sugeriu que deveríamos descer mais, muito mais. E escrever a história do Brasil (...) ligando-a com a massa ethnica para ser mais exacta, mais científica, investigando as peripécias e transformações do seu inconsciente folklorico (1988, pp. 297-298).

Com essas idéias, conclui que a inferioridade dos negros deveria ser vista como um fenômeno da natureza, pois seriam produtos do curso que ocorre na progressão filogenética do gênero humano, conforme as suas distintas distribuições geográficas e sociais.

A tentativa de compreender as influências dos diferentes contextos nos processos de subjetivação dos povos tem sido reiterada pela Etnopsicologia que, segundo Laplantine (1994) é reconhecida como disciplina e uma área de pesquisa que surgiu nos primórdios do século XX, que tem como meta alcançar uma compreensão das constituições de identidades em diferentes culturas. Há também a etnopsiquiatria fundada por Devereux (1977) e exercida como uma prática pluridisciplinar, visando à compreensão do aspecto étnico, do adoecimento mental e das dimensões psicológicas e psicopatológicas das culturas. Nos registros de Nina Rodrigues (2000) e Ramos (1934; 1936; 1942 e 1988) parece ficar claro que ambos os autores, em diferentes níveis e recortes, registraram questões sobre o negro, as quais envolvem a cultura da população, referenciando tanto as raízes africanas quanto os processos culturais criados e recriados por essa população no Brasil.

 

A negritude: o retorno à África ou a uma forma de vida

O exercício da negritude teve a sua origem nos movimentos culturais conduzidos por protagonistas negros, brancos e mestiços que, a partir das primeiras décadas do século XX, lutaram por um renascimento do negro. Esses movimentos tinham como objetivo divulgar e valorizar as raízes culturais africanas, crioulas, em todo o mundo e, principalmente, em três países das Américas: Cuba, Estados Unidos e Haiti (Lopes, 2004; Munanga,1988).

Um importante investimento que objetivava dar visibilidade ao negro foi registrado no movimento nomeado como Pan-africanismo. Em sua formação, estava a elite negra que tomava parte nos eventos acadêmicos, como são os congressos. Além disso, participava da leitura de livros, jornais e outros meios de divulgação que somente era circunscrito a esse grupo populacional. Consta que esse movimento, articulado como posicionamento político e intelectual do fim do século XIX teve como precursores Edward W. Blyden; Booker T. Washington e W.E.B. Du Bois (Lopes, 2004; Munanga,1988). Em 1900, outro protagonista, Sylvester Willians, em uma conferência, em Londres, celebrou os progressos que o Movimento havia alcançado. O Pan-africanismo trazia, no seu bojo, idéias que valorizavam a história do negro e sua cultura. Tais idéias foram a fonte que induziu o aparecimento de outras iniciativas como o Harlem Renaissance e a Negritude (Lopes, 2004; Munanga,1988).

O Harlem Renaissance surgiu como movimento artístico e literário em Nova Iorque, no bairro de mesmo nome, entre 1918 e 1928, com um cunho sociocultural. Com o objetivo de influenciar a história e a política de modo a atingir todas as camadas do grupo negro, esse movimento expressava-se por meio da dança, das artes visuais, da literatura porque acreditava que tais expressões eram do conhecimento dos diversos grupos. As várias manifestações culturais desdobradas por esse movimento possibilitaram articulação política, principalmente porque foram absorvidas pela indústria cultural, o que permitiu a conquista de espaços que antes eram negados, bem como uma divulgação da cultura afro e o exercício do resgate da história dessa população. Essas atuações ficaram conhecidas como Movimento Negro. Seus principais líderes foram os poetas Langston Hughes, Claude Mckay, Countee Cullen, Sterling Brown que buscaram inspiração nas idéias de W.E.B. Du Bois e Booker T. Washington (Lopes, 2004).

A negritude originada no mundo francófono, isto é, nos países que falam o francês, nos anos 20/30, surgiu como tentativa de mobilizar a comunidade negra a posicionar-se contra o racismo. Do projeto de alguns intelectuais, tais como Aimé Cesaire (Antilhas), Léopold Sedar Senghor (África), Leon Gontran Damas (Antilhas), estudantes de origem africana e que faziam parte de um grupo maior de negros vindos de outras regiões, os quais, tomando consciência da situação de humilhação e de subjugação que os negros sofriam, apesar de ter havido a abolição, desejavam conquistar um lugar próprio na sociedade. Conforme registrado por Bernd (1984), do encontro desses estudantes surgiu, em 1932, o Manifesto da Legítima Defesa, denunciando, de forma agressiva, a exploração do proletariado negro no mundo. O cerne das denúncias girava em torno da submissão a que o escravo negro viveu, dominado intelectualmente e psicologicamente, gerando assim sentimento de inferioridade. Os participantes do projeto de defesa registraram, no documento, que o negro, como o antilhano, mostrava descrença na própria raça, no próprio corpo, nos seus sentimentos essenciais, vivendo, muitas vezes, as abstrações (podemos dizer reificação?) e ideais de outra população, os brancos, o que lhes acarretava medo, vergonha e tantas outras experiências que lhe afetariam a personalidade. Fundam, com isto, um jornal: o L' étudiant Noir, no qual, na edição de 1935, num artigo de Cesaire, aparece pela primeira vez o termo Negritude. Daí surgiu um movimento, fortalecido por elementos da cultura européia e por outras fontes que dinamizariam o exercício político do grupo: o marxismo, o existencialismo e o surrealismo. (Munanga, 1988, 1996, 1999 e 2004).

Conforme Lopes (2004), o termo negritude é um

(...) neologismo surgido na língua francesa na década de 1930, para significar a circunstância de se pertencer a grandes coletividades africanas e afro- descendentes; a consciência de pertencer a essa coletividade e a atitude de reivindicar-se como tal; a estética projetada pelos artistas e intelectuais negros no continente de origem e na diáspora (p.472).

Por volta de 1936 ou 1938, Cesaire (1964) atribuiu um significado à negritude como sendo uma revolução na linguagem e na literatura que permitiria reverter o sentido pejorativo da palavra negro para dele extrair um sentido positivo. E Senghor (1964a e b e 1968) considerava a negritude como a soma total dos valores africanos, os quais deveriam ser cultivados com orgulho.

Munanga (1988) registrou o levantamento de três objetivos mais importantes, sintetizados como: a questão da identidade; a luta pela emancipação e o repúdio ao ódio, significando a busca de diálogo com outras culturas (pp. 43-49).

Cesaire (1971 e 1983) e Senghor (1964a e b) são considerados os principais representantes das duas tendências do Movimento. A primeira via a unidade e especificidade do "ser negro" como um desenvolvimento histórico advindo do tráfico no Atlântico Negro e da vida nos sistemas Plantations das Américas. Seu pensamento dirigia-se para um projeto que desse liberdade aos afro- descendentes, tanto no aspecto político, quanto no psicológico-espiritual. A segunda, derivada das idéias de Senghor (1964a e b), defendia a existência de uma essência negra, constante e fixa. Tais divergências no tocante à identidade negra não constituíam-se impedimento para que um ponto em comum fortalecesse o Movimento. Todos estavam de acordo com uma visão da personalidade cultural negra africana, a qual deveria ter sua identidade, fidelidade e solidariedade pautadas na concepção do comunitarismo originário da África. A partir disto podemos descrever o objetivo essencial que o Movimento apresentava: a sobreposição da personalidade negra à máscara branca, que foi presentificada pelo assimilacionismo.

No entendimento dos protagonistas do Movimento, tais suposições fortaleceriam a busca pela afirmação do negro e permitiria que esse fosse valorizado nas esferas das artes, da política, chegando no âmbito da luta pela independência. Para os autores, tal proposta revelava um sentimento de volta às origens, não como uma volta à vida pré-colonial, mas, ao contrário, apresentando claramente a negação do assimilacionismo que a colonização idealizou (Munanga, 1988, 1996, 1999 e 2004).

Moura (1983) afirmou que a negritude nasceu de um protesto intelectual de negros de formação cultural européia e, unindo-se a outros críticos, defendeu a opinião de que as idéias veiculadas pelo movimento não atingiram as camadas da base da sociedade porque as pessoas que participavam dele, embora fossem negros, estariam mais vinculados à burguesia. Munanga (1988) apresentou uma outra referência que corrobora o pensamento de Moura (1983) no que diz respeito às dificuldades do Movimento. Para ele, seria muito difícil unir artificialmente povos geográfica, histórica e culturalmente diferentes, que se inserem no contexto das civilizações com motivações e destinos econômico-políticos diversos, às vezes opostos (p. 57).

Sartre (1965), no seu livro Reflexões sobre o racismo, alertou para o perigo de tornar o movimento um racismo às avessas e afirmava que a negritude seria uma etapa a ser ultrapassada, para se destruir; é passagem e não término, meio e não fim último. Na sua obra O que é negritude, Bernd (1986) sustentou que este conceito é concebido como uma tomada de consciência de uma situação de dominação e discriminação e a conseqüente reação pela busca de identidade negra. Em sua obra - Negritude e literatura na América Latina - Bernd (1987) concordou com o alerta de Sartre ao registrar que

(...) a radicalização na reivindicação das especificidades da raça negra acabou sendo usada com propósitos contrários aos que a originaram, servindo, inclusive como justificativa para teorias discriminatórias e racistas (...); na tentativa de negar o discurso dominante, a negritude acabou por parafraseá-lo, sendo superada pela exaustão de suas fórmulas. (p.31)

Para Bernd (1987) refletir sobre os caminhos da Negritude será importante pois

(...) enquanto (...) permanecer no nível dos signos, isto é, se resumir a combater os signos do poder branco, não haverá um real enfrentamento do problema. É necessário chegar à estrutura profunda: lá onde os estereótipos se constroem como causa e conseqüência de preconceitos. (p.33)

Observamos, portanto, fortes contradições em relação à negritude tanto como movimento quanto como ideologia. Para Moura (1983) isto se deu devido à forma como a própria significação do termo foi interpretada pelos intelectuais que se colocaram "à direita da negritude", criando estereotipias etnocêntricas, fazendo com que a negritude fosse entendida como uma simples conduta de revolta do negro frente ao mundo branco. Na perspectiva do autor, a negritude é, de fato, um processo que tem função desalienadora e, para que isto ocorra, deverá ser pensada e vivida pelo afro-brasileiro, que precisará reconhecer-se como negro, ter vontade de sê-lo, buscando os valores ancestrais, conceber a percepção de si mesmo no mundo.

Por outro lado, Munanga (1988) afirmou que para alcançar tal patamar exigiria que se começasse por uma ressignificação e compreensão de termos tais como negro, preto, africano, negritude, afro-brasileiro, que por muito tempo foram usados negativamente, divulgando uma imagem inferiorizada desse grupo populacional, a partir das ficções derivadas da ideologia européia.

Vimos que a história do negro escravizado, a incorporação de pseudo-concepções de que ele nasceu para ser escravo, que é inferior por origem, dentre outras, marcou a sociedade com tais representações negativadas e, neste sentido, os estudiosos das questões raciais deverão pensar que a cultura negra não pode ser estudada como simples reminiscência, ou memória, pedaço do passado cultural fossilizado, mas como componente de uma realidade social dinâmica e conflitante, na qual exerce uma função (Moura, 1983, p. 78).

Conforme as perspectivas positivadas pelos autores, a negritude poderá ganhar relevância tanto como definição quanto como forma de ação a partir do momento em que houver a aceitação e valorização do "ser negro", dos objetos representativos dessa origem, da identificação com a ancestralidade, da luta pela afirmação e emancipação, garantindo um lugar como protagonista e cidadão. A crença é que no momento em que a maioria dos afro-descendentes puder transformar sentimentos de vergonha, de medo, de inferioridade por outros como o orgulho de sua ancestralidade, por mais fragmentada que esta se apresente, veremos possibilidades da ocorrência de mudanças no imaginário social sobre o negro, a partir dele próprio, como foi o principal objetivo do Movimento Negro precedente e acreditamos que ainda seja o objetivo dos Movimentos Negros atuais (Munanga, 1988, 1996, 1999 e 2004).

 

Negritude: elemento chave para compreender a construção da identidade e os processos de subjetivação

D'Adesky (2001) discutiu a negritude como um anti-racismo diferencialista que, se for relacionado à ideologia do branqueamento, deverá ser vista como uma "positivação" capaz de mostrar o valor da herança da cultura africana, da imagem desse povo como referência étnica. A negritude é apresentada discursivamente como afirmação de si mesmo como portador de potenciais, como sujeito de uma história e de uma civilização fecunda, digna de respeito. Compreendendo que, primordialmente, há uma urgência em buscar o reconhecimento da dignidade humana, pois ela será pautada na conquista da igualdade de oportunidades de acesso à educação, ao trabalho, ao lazer e tantos outros campos que compõem o quadro que representa a cidadania. Para o autor,

a negritude vai além da simples identificação racial. Ela não somente é uma busca de identidade enquanto forma positiva de afirmação da personalidade, mas também um argumento político diante de uma relação de dominação. Ela serve aos militantes como vetor entre as identidades pessoal e coletiva. (p.140)

De acordo com o referencial pesquisado, no Brasil, os movimentos negros utilizaram, em boa parte, dos modelos europeus da negritude, apresentando os mesmos princípios, ou seja, pensava-se que os negros pretendiam exercitá-la como um movimento com perspectiva a uma ideologia desalienadora, como sugeriu Moura em vários de seus escritos.

Um importante referencial para esses exercícios foi o Teatro Experimental do Negro, que se destacou como uma significativa organização, estimulando a participação política e cultural dos afro-brasileiros. (Davis, 2001; Lopes, 2004; Nascimento & Nascimento, 2000; Souza, 2005).

Outras organizações foram constituídas no Brasil, a saber: em 16 de setembro de 1931, a Frente Negra Brasileira foi fundada com o objetivo de unir a gente negra para afirmar seus direitos históricos e reivindicar seus direitos atuais, tendo como principais lideranças Arlindo Veiga e Jose Correia Leite (a entidade foi extinta em 1937); em 1936, o poeta Solano Trindade criou o Centro de Cultura Afro-Brasileiro, em Pernambuco; e, no período em que vigorou o regime militar, diversos grupos organizaram-se em todo o País: o Grupo Palmares, no Rio Grande do Sul; em Campinas, interior de São Paulo, apareceu o grupo denominado Evolução, fundado por Thereza Santos e Eduardo Oliveira e Oliveira em 1971 e, na mesma época, foi inaugurado o Festival Comunitário Negro Zumbi, (FECONEZU) que continua acontecendo até hoje. Ainda em São Paulo, Abdias do Nascimento, após retornar de seu exílio em 1980, fundou O Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO). No Rio de Janeiro, foram criados O Instituto de Pesquisa de Cultura Negra (IPCN), a Sociedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil (SECNEB), a Sociedade de Intercâmbio Brasil - África (SINBA), o Grupo de Estudos André Rebouças e tantos outros. Na Bahia, surgiu o Núcleo Cultural Afro-Brasileiro, o Grupo de Teatro Palmares Iñaron (Davis, 2000; Lopes, 2004; Nascimento & Nascimento, 2000; Souza, 2005).

As experiências dessas pessoas e os acontecimentos que se deram em nossa sociedade em geral fizeram com que ocorresse, em 18 de junho de 1978, a idealização do Movimento Unificado Contra a Discriminação (MUCDR), confirmado em um ato público que aconteceu na frente do Teatro Municipal de São Paulo, no dia 7 de julho. Em 23 de julho, o MUCDR foi renomeado como Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial (MNUCDR) e, em dezembro de 1979, no Rio de Janeiro, quando aconteceu o Primeiro Congresso do Movimento, este passou a ser apenas nomeado por Movimento Negro Unificado que perdura até os dias atuais (Davis, 2000; Lopes, 2004; Nascimento & Nascimento, 2000; Souza, 2005).

Ainda fazendo referência aos movimentos, existem os grupos musicais denominados hip hop, praticado por jovens da periferia, sobretudo pelos jovens negros, configurando um campo que possibilita a idealização e constituição da subjetividade daqueles que o aderem.

Conforme Scandiucci (2005)

Trata-se de um empreendimento coletivo e abarca manifestações artísticas nos campos da música (RAP, sigla derivada de rhythm and poetry - ritmo e poesia, uma espécie de canto falado ou fala rítmica), das artes visuais (grafite) e da dança (break). (p .2)

O rap é outro movimento que pode ser visto como um modo singular de abordar a cultura negra. Através dele, os jovens dão ênfase aos seus posicionamentos frente às culturas e podemos entendê-lo, portanto, como uma função que afirma as culturas enquanto forças sociais a ponto de ter sido institucionalizado nos mais variados lugares do mundo, conectando-se às atividades e aspirações socioeconômicas, políticas e afetivas desses grupos (Cashmore, 2000; Lopes, 2004; Mclaren 2000; Sansone, 2004).

A temática da negritude é muito complexa, pois envolve tanto aspectos subjetivos quanto objetivos; dos primeiros, temos a referência pessoal, dada pela história de cada um e, dos segundos, a referência para as relações na sociedade. Como exemplo dessas questões, citamos o relato do professor Milton Santos, eminente geógrafo que fortalece a reflexão sobre a necessidade de buscarmos uma compreensão dialética da questão. Em uma entrevista que concedeu a Odete Seabra, Mônica de Carvalho e José Corrêa Leite, perguntado como via a questão da negritude, deu a seguinte resposta:

A biografia do sujeito influi muito na sua história. Minha família, do lado do meu pai, era de lavradores urbanos de Salvador. Existiam vazios dentro da cidade, os vales não eram ocupados e neles se desenvolviam atividades agrícolas - meus avós eram meeiros de um grande proprietário urbano. Eu conheci meus avós. Minha avó trazia a produção para entregar no mercado e andava de pé no chão. Do lado da minha mãe era diferente. Minha mãe é de uma pequena burguesia negra antiga. Meus avós maternos eram professores primários, antes da abolição. Meu avô foi prefeito de Glória, no rio São Francisco, meu bisavô era amigo de Ruy Barbosa. Havia uma pequena burguesia negra que tinha espaço naquela sociedade, uma posição artística, sabia as regras de andar na rua com uma senhora, como falar com uma pessoa bem situada, o lugar que a mulher devia ocupar à mesa, como pegar a faca. Era tudo aquele respingo da corte na classe média, que não era bem uma classe média, porque isso ainda não havia (...) Por isso tive uma educação que me levou a não saber o que era candomblé, da mesma maneira que me levou a jamais ter entrado num campo de futebol - até hoje não conheço, aliás, um estádio. Você fala de negritude, e ela está presente pela minha própria condição física, mas ao mesmo tempo tive a educação para ser um homem da corte, um homem da vida social plena. (Santos, M., 2000, p.85)

Esperamos que haja um entendimento de que a complexidade da negritude assim o é pelo fato de que tanto os aspectos subjetivos quanto os objetivos estejam presentes nesta construção e que esta necessita de um processo de aprendizado sobre a história do grupo e da sociedade contextualizadamente, englobando os aspectos objetivos e subjetivos que farão a composição das identidades e das subjetivações dos diferentes sujeitos no processo.

 

Considerações gerais

Neste trabalho, analisamos o conceito do "negro'' como abstração e que este tem sido usado desde a instituição do sistema escravista no Brasil, para justificar e divulgar a suposta inferioridade dessa população. Esperamos poder incitar profissionais e estudiosos da Psicologia e áreas afins para a importância de conhecer e discutir as idéias expostas sobre o negro e, com isto, propormos debates acerca das questões e movimentos sobre a negritude. Acreditamos que tais debates possam ser significativos para a compreensão dos relacionamentos inter-raciais, bem como dos possíveis sofrimentos que são conseqüências de experiências discriminatórias vividas pelos afro-brasileiros, herdeiros das formas de vida dos ancestrais negros a partir do sistema escravista.

 

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Endereço para correspondência
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Enviado em: 15/02/2007
Aceito em: 15/06/2007

 

 

1 Docente da citada universidade e Doutora pelo Instituto de Psicologia da UnB (Dep. Psicologia Clínica). Orientador: Professor Doutor Norberto de Abreu e Silva Neto.
2 De acordo com os tradutores do texto original La Psychosociologie, sciense charnière (L.L. Penna e J.B.D. Penna, 1977), esse termo é utilizado a partir do original francês - charnière - que significa ponto de junção. Tendo valor de adjetivo, ocorre como segundo elemento de substantivos compostos por oposição. Assim sendo, tal termo aparece freqüentemente no vernáculo, ao lado da articulação, tendo o mesmo significado.

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