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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

Print version ISSN 1415-711X

Bol. - Acad. Paul. Psicol. vol.27 no.2 São Paulo Dec. 2007

 

RESENHA DE LIVROS

 

 

 

Suzana Grunspun1

Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo

Endereço para correspondência

 

 

TRINCA, W. (2007). O Ser Interior na Psicanálise. Fundamentos, modelos e processos. São Paulo: Vetor Edit.Psico-Pedagógica, 378 pp.

A trajetória profissional de Walter Trinca, tanto na docência universitária quanto na produção científica e na psicoterapia coloca-o entre os mais eminentes psicólogos e psicanalistas da atualidade. A obra que se resenha é uma das suas mais importantes e atualizadas publicações. Baseia-se na conjugação criativa de sua abrangente experiência profissional, especialmente na psicanálise, oferecendo ao público um modelo por ele concebido que é fundamentado na formulação de mecanismos facilitadores ao entendimento dos processos mentais.

Os vinte capítulos que compõem a obra traduzem, em forma original e clara, as idéias e concepções sobre o modelo acima referido com suas derivações e aplicações. Os dez primeiros introduzem-nos em importantes conceitos para o entendimento das inovadoras formulações a respeito do modelo mental que o autor concebe, para dirigir-se às demais especificações como a dinâmica dos fatores, a unificação das perturbações psíquicas, a contextualização, entre outras colocações, e terminar com uma síntese e aplicações das idéias expostas.

Dentro desse contexto, inicia sua exposição pelo conceito do ser interior, baseando-o em uma noção fenomenológica introduzida na Psicanálise para expressar a realidade primária ao ser essencial da pessoa.

Para ele, esse construto constitui a instância que corresponde nossas experiências de existência própria e das vivências de sermos nós próprios em nosso existir pessoal. É o centro a partir do qual emana a vida; contém aspectos fundamentais da pessoa, sendo, pois, sua mais importante característica.

Trinca, cuidadosamente, assinala as diferenças entre o ser interior e o self, por ser este último o órgão mental de execução, um meio pelo qual a existência efetiva-se. Como meio de contato, o self tem a capacidade de conectar-se em maior ou menor grau com o ser interior, por ser este um vasto campo de experiências. Por outro lado, como núcleo influente, o ser interior tenta manter sua efetividade sobre o self e comandar os movimentos que se expressam procurando imprimir suas qualidades vivas. A influência do ser interior sobre o self pode ser de maior ou menor grau, o que determinará os diversos tipos de alterações psíquicas que poderão ser mais ou menos graves, dependendo da capacidade de cada pessoa poder re-conectar-se com seu ser interior ao longo de sua vida.

Trinca nos propõe, nos capítulos subseqüentes, uma interessante reflexão sobre a clínica e a teoria, sugerindo um sistema mental determinante no qual será possível realizar a inserção das perturbações psíquicas nesse corpo onde as patologias ordenam-se, organizam-se e unificam-se. Assim as perturbações deixam de apresentar-se em categorias separadas e estanques, passando a um contexto unificador, fazendo parte de um processo inteligível de continuidade que tem como paralelo somente a evolução do próprio processo do desenvolvimento humano.

Essa proposta volta-se para uma operacionalidade na clínica, gerando interpretações mais globalísticas. Segundo o autor, essa descoberta nos pacientes, de sistemas mentais determinantes, vem permitir a utilização de vários elementos psicanalíticos, antes dispersos ou desconexos, que agora poderão ser reunidos e assim se tornarão mais eficazes, podendo até alterar a dinâmica e a força das interpretações.

Baseado em conceitos fundamentados de teorias psicanalíticas reconhecidas, o autor pergunta-se qual é o lugar que seu modelo ocupa na Psicanálise; e uma de suas respostas refere-se ao quanto ele nada significaria se não forem consideradas as descobertas psicanalíticas mais representativas, especialmente aquelas realizadas por Freud, Klein, Winnicott e Bion. E Trinca continua afirmando que o modelo desenvolvido não pretende ser nenhuma alternativa a outras estruturas congêneres e teorias, mas, sim, compor-se em algum nível com eles, e para isso, é preciso encontrar bases em outros novos para alcançar-se um patamar em que os dados reorganizem-se em vez de incompatibilizarem-se ou excluírem-se. A novidade, diz-nos o autor, é do modelo criar um corpo de estruturas e um campo de pesquisa que se colocam em plano intermediário entre as teorias gerais e as interpretações do material clínico.

Essa obra é de imenso valor para os que se interessam e debruçam-se nesse tema tão estimulante em que a Psicologia e a Psicanálise convivem e complementam-se. Ela amplia a visão do terapeuta, facilitando a formulação de caminhos acessíveis para um maior entendimento do paciente. Como ele próprio afirma, ao divulgar as idéias deste livro está em oferecer meios de fazer diminuir o sofrimento, lutando em prol da vida contra toda espécie de destruição mental.

 

 

Endereço para correspondência
Av. Angélica, 2355, 5ºa. cj. 51
CEP 01227-200 São Paulo, SP
Tel.: (11) 3255-7389
E-mail: sgrunpun@uol.com.br

Enviado em: 16/07/2007
Aceito em: 17/08/2007

 

 

* Médica psicanalista. Membro e docente da citada Sociedade.

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