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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

versão impressa ISSN 1415-711X

Bol. - Acad. Paul. Psicol. v.28 n.2 São Paulo dez. 2008

 

RESENHAS

 

Aracê Maria Magenta Magalhães1

Centro de Psicologia e Psicanálise – Bauru

 

 

TRINCA, W. (2008) O espaço mental do homem novo. São Paulo: Vetor Editora Psico-Pedagógica

O livro que se resenha é a mais recente produção de Walter Trinca, Membro Efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, da International Psychoanalytical Association e Titular da Academia Paulista de Psicologia, ocupando a Cadeira nº 40, “Walther Barioni”. Essa produção compõe-se de doze capítulos bem condensados, incluindo um adendo sobre as expansões da arte e da ciência. Em relação ao primeiro tema, o autor relaciona-o com a superação da dor mental e, sobre o segundo, com a Psicanálise na perspectiva de mudança da ciência clássica.

O autor, ao iniciar a contribuição, o faz lançando um olhar sobre os graves problemas que se avolumam, no processo de formação e organização do nosso mundo. Aponta para o fato de que ao mesmo tempo em que o homem constrói, destrói o planeta, vivenciando momentos impactantes ao constatar, como resultado de seus atos, o aviltamento à vida, a ofensa aos sentidos e a desumanização crescente. Rapidamente nos mostra um panorama dos problemas mundiais a que o leitor com certeza está familiarizado, pois os encontra referenciados nos jornais escritos e falados de todo o mundo, em conversas e reuniões das mais diversas e, portanto, cotidianamente em nossa vida e realidade.

Assim o autor chama-nos à reflexão sobre a impotência generalizada na resolução de tais problemas que, por mais cruciais e inadiáveis à nossa sobrevivência e à do planeta, podem permanecer sem solução e agravam-se no decorrer do tempo.

Faz-se, então, necessária e urgente a transformação desta realidade noutra que favoreça a vida, o planeta e a humanidade como um todo. Para tal, faz uma defesa da consciência ampliada do ser humano para alçar outra perspectiva que lhe permita ver mais longe: para além do emparedamento determinado pelas estruturas rígidas criadas; do imediatismo; do vazio interior da mente condicionada a fragmentar o saber em compartimentos, a congelar a realidade e a conceber a ciência num universo previsível, automatizado e regido por sistemas estáveis com trajetórias previamente calculáveis. Assim vai dissertando pelos vários capítulos para chegar ao último, no qual questiona a ciência clássica que privilegia o determinismo, incompatível com as novas concepções do conhecimento, em que vigoram os princípios de mobilidade e fluidez; que dá conta do incalculável, do não previsível, do que não se sustenta apenas com máquinas e cálculos precisos, mas que exige leveza, amplidão e responsabilidade para dar conta do imponderável.

Em defesa da leveza, o autor cita Einstein e Schopenhauer, aos que se poderia incluir Calvino nas “Seis propostas para o próximo milênio” e outros adeptos de uma nova perspectiva de formação do pensamento. Apoiados nela, podemos dirigir-nos para a perspectiva da amplidão, que se concebe com a liberdade de visão. Se nosso olhar está livre, também estará livre nosso modo de ser e agir.

Livres da doutrina determinista que vitimiza e exonera a humanidade de suas responsabilidades, temos agora que assumi-las e às suas conseqüências.

No referencial psicanalítico, o sujeito responsável é fruto do incalculável e, conforme a lei freudiana, devemos decifrar nosso inconsciente, pois aquilo que não se quis, aquilo que não se sabe, ser-nos-á destinado.

Encontramo-nos diante da obrigação de romper as barreiras asfixiantes e fazer emergir o novo e com isso uma nova forma de pensar e agir que descortinaria um homem novo, debalde toda a inércia e dúvida.

O autor estende-se na explicação de como pode ocorrer o desbloqueio e o desembaraço do vértice atado, possibilitando a vibração solta da vida, plena em mobilidade e fluidez, numa relação verdadeira e profunda com o mundo. Vislumbra o caminho e, com seu método, percorre-o junto com o leitor, lançando mão de conceitos psicanalíticos e espirituais.

O livro descortina-se, baseando-se no texto que aparece na capa: a intensificação indevida da sensorialidade que ocorre na mente pode representar uma catástrofe para o desenvolvimento do espírito (...) A consciência dessa situação pode conduzir a modificações especiais da interioridade. Então facilita o surgimento de espaços amplos e abertos, mobilidade, imagens artísticas (...). Tais experiências dirigem-se a um alargamento global do espaço mental, necessário ao aperfeiçoamento do processo de humanização.

 

 

1 Psicóloga Clínica. Contato: Rua Antonio Alves, 28-21 – Jd. Aeroporto – CEP 17012-431 – Bauru, SP. Tel.: (14) 3011-2248. E-mail: aracemagalhaes@hotmail.com

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