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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

Print version ISSN 1415-711X

Bol. - Acad. Paul. Psicol. vol.29 no.2 São Paulo Dec. 2009

 

RESENHAS

 

Zelia Maria Freire de Oliveira1; Eunice Maria L. Soriano de Alencar2

Pontifícia Universidade Católica - Brasília

 

 

Jackson, N., Oliver, M. & Shaw, M. (2007). Developing creativity in higher education - an imaginative curriculum. New York: Routledge.

A importância da criatividade tem sido crescentemente reconhecida nos mais distintos setores da sociedade. Ela é apontada como um recurso fundamental para indivíduos, organizações, elemento essencial na sociedade do conhecimento, devendo os educadores desenvolvê-la nos estudantes. Entretanto, a literatura sobre criatividade na educação superior é escassa. Neste sentido, o livro Develoging creativity in higher education - an imaginative curriculum vem preencher uma lacuna, especialmente dada a pouca familiaridade dos professores da educação superior com o tema da criatividade e como facilitar o seu desenvolvimento e expressão nos estudantes.

A obra, composta por prefácio e 15 capítulos, ressalta a necessidade de se fomentar a criatividade na educação superior, local onde o seu papel na aprendizagem e na realização pessoal é largamente desconhecido e onde se dá mais valor ao pensamento crítico e racional. Vários capítulos originaram-se de pesquisas com alunos e professores, apresentando perspectivas sobre o significado da criatividade em diferentes disciplinas e instigando o professor a examinar a sua compreensão sobre criatividade, com vistas a ajudar os estudantes a desenvolverem sua capacidade de produção criativa.

O Prefácio, escrito por Mihaly Csikszentmihalyi, enfatiza a necessidade de criatividade e de ideias inovadoras neste mundo globalizado, para reconhecer as realidades emergentes e entender suas implicações. A escola, segundo esse autor, ensina o estudante a responder questões, mas não a elaborá-las. Ademais, preocupa-se em transmitir o conhecimento do passado e os jovens precisam aprender a aplicar esses conhecimentos em um caleidoscópio de constantes mudanças de ideias e eventos, o que requer criatividade. Considera que é preciso ajudar os estudantes a encontrarem o que eles realmente amam, pois se estiverem envolvidos com o que gostam, a base da criatividade estará formada. Mas como fazer isso na universidade? Aponta, entre as respostas, a paixão no ensinar e no aprender, pedagogia e currículo prazerosos e imaginativos e uma cultura institucional que fomente a criatividade.

No primeiro capítulo, Norman Jackson apresenta como objetivo do livro o de encorajar a educação superior a refletir mais profundamente sobre suas responsabilidades e práticas para desenvolver o potencial criativo dos estudantes, por meio de seu corpo docente e currículos, organizados de forma imaginativa em todas as disciplinas, não só naquelas que tradicionalmente abraçam essa ideia. Lembra que professores criativos e processos criativos são raramente divulgados e celebrados; e ainda que muitos professores da educação superior têm um conhecimento limitado a respeito de criatividade. Ensinar com criatividade é ensinar bem para gerar resultados particulares na aprendizagem.

Richard Smith-Bingham e Anna Craft, nos capítulos dois e três respectivamente, abordam as políticas e programas públicos, especialmente na Inglaterra, além de projetos de diferentes esferas que demonstram esforços em prol da criatividade. Realçam que a universidade é o repositório de pesquisas e conhecimento, com enorme potencial inovador e, por isso, tem de cuidar dos agentes-chaves da inovação: professores e estudantes. Craft vai além, sinalizando as relações dinâmicas entre a educação e o mundo em transformação do emprego e da economia global. Ressalta que, no atual cenário, não basta ter amplitude e profundidade de conhecimento. É também indispensável dominar estratégias para abordar e resolver novos problemas.

Vivemos em um mundo complexo, o que é analisado no capítulo quatro, por Paul Tosey que explana sobre a teoria da complexidade. Por esta perspectiva, as instituições de educação precisam ser criativas, já que a complexidade requer que mudemos nossa atitude epistemológica através da criatividade.

Nos capítulos cinco, seis, sete e nove são descritas pesquisas sobre criatividade, realizadas com estudantes e professores. Nelas, foram investigados concepções de criatividade, ensino e estudo criativos, avaliação e currículos formatados para fomentar a criatividade, elementos que facilitam a expressão do pensamento criativo, entre outros aspectos. Têm a autoria de Bharat Shah, Chris McGoldrick, Margaret Edwards, Martin Oliver, Marilyn Fryer e Ruth Dineen, que vêm trabalhando em colaboração no projeto “Currículo Imaginativo”.

No capítulo oito, Norman Jackson e Malcom Shaw indicam perspectivas de criatividade na educação superior, voltando a enfatizar que esse comportamento não tem sido devidamente valorizado nesse nível de ensino. O que ser criativo significa para os acadêmicos? Muitos acadêmicos sentem que a criatividade é importante, mas não em sua disciplina, considerando mesmo que há disciplinas mais propensas à sua expressão. Norman Jackson e Christine Sinclair, no décimo capítulo, buscam uma apropriada pedagogia para fazer florescer a criatividade, indicam estratégias que embasam o desenvolvimento do potencial criativo, apontando relações entre aprendizagem auto-regulada, aprendizagem cognitiva e a criatividade. Descrevem também as complexas interações e interdependência entre professor, aluno e tarefa, apontando ainda autores, como Sternberg e Williams, que consideram que a maneira mais efetiva de se desenvolver a criatividade discente é ser o professor um modelo de comportamento criativo para os estudantes.

Distintas técnicas de pensamento criativo são descritas por Caroline Baillie no capítulo 11 “Fomentando a criatividade de estudantes por meio de técnicas de pensamento criativo”. A autora aponta diversas abordagens, como Resolução Criativa de Problemas, a abordagem Mente e Corpo do Pensamento Criativo, o TRIZ, de origem russa “Teoriya Resheniya Izobreatatelskikh Zadatch”, usualmente traduzido como Teoria da Resolução Inventiva de Problemas. A autora informa que as distintas técnicas foram aplicadas em estudantes e professores de uma ampla variedade de disciplinas e contextos da educação superior, como parte de um grande experimento levado a efeito na Inglaterra para promover o pensamento criativo em universidades.

Os capítulos 12 e 13 versam sobre avaliação da criatividade que, segundo John Cowan, é uma tarefa bastante complexa, por ter o constructo inúmeras dimensões, constituindo-se em um processo altamente pessoal, que varia de desafio para desafio, sendo difícil capturar o âmago da inspiração. Avaliar a criatividade por produto é uma solução possível, mas também não tão simples quanto parece. Ton Balchin propõe a avaliação da criatividade através de seu valor consensual, acentuando que é importante distingui-la de outros constructos, como inteligência e competência.

No 14º capítulo, James Wisdom indica a necessidade de mudança cultural na educação superior para uma melhor aceitação do valor da criatividade. Para isso, é preciso que os professores sejam ajudados a entenderem e valorizarem a sua própria criatividade e a reconhecê-la como parte integral de sua profissão. Do texto, pode-se abstrair alguns desafios para reflexão: o que significa ser professor universitário? O que significa ensinar? Como pode a criatividade ser ensinada ou desenvolvida? Quais são as condições para desenvolver a criatividade através do ensino?

No último capítulo, “Fazendo sentido da criatividade na educação superior”, Norman Jackson ratifica que pouco se tem investido na pesquisa de criatividade, inversamente à sua importância no mundo atual. O problema da criatividade na educação superior é posto como uma oportunidade de se alterar uma cultura prevalente na universidade, de mudar o paradigma vigente, que penaliza erros em vez de vê-los como oportunidades, meios de aprendizagem. É preciso ouvir as vozes acadêmicas, dos alunos e dos professores, conhecer as suas experiências e percepções de criatividade nas diversas práticas e disciplinas; é preciso ver a criatividade na sua interação entre indivíduo, domínio e campo. Finaliza, indicando princípios para se construir um ambiente de ensinoaprendizagem que promova a criatividade tanto dos professores quanto dos alunos.

Developing creativity in higher education - an imaginative curriculum apresenta evidência empírica, experiências profissionais e múltiplas fontes de informação que inspiram o professor interessado em fazer a criatividade florescer nos processos educativos. Embora não haja ainda versão em língua portuguesa, é uma obra de agradável e fácil leitura, indicada para reflexão de todos os dirigentes e professores de instituições de ensino superior. Defende a ideia da necessidade de se desenvolver a criatividade também neste nível de ensino, dada a sua importância para a vida acadêmica, para a vida pessoal e futura no campo de trabalho, bem como para toda a sociedade.

 

 

Recebido em: 17/07/2009
Aceito em: 14/09/2009

 

 

1 Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação e Psicologia da PUC/Brasília.
2 Doutoranda em Educação - PUC/Brasília. Contato: Prog. Mestr. em Educ. - UCB - PUC/ Brasília SGAN 916 módulo B - Asa Norte - CEP 70790-160 - Brasília - DF. Tel.: (61) 340-5550 r. 155. E-mail: ealencar@pos.ucb.br

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