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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

versión impresa ISSN 1415-711X

Bol. - Acad. Paul. Psicol. vol.33 no.85 São Paulo dic. 2013

 

RESENHAS DE LIVROS

 

Granville, M.A. (2011). Curriculos, Sistema de Avaliação e Práticas Educativas: da Escola Básica à Universidade. Campinas: Papirus Ed., 272p.

 

 

Geraldina Porto Witter1

Cadeira 23 – Dante Moreira Leite
Universidade Camilo Castelo Branco

 

 

O currículo é o fio condutor da vida acadêmica em todos os níveis educacionais e precisa ser de estudo e avaliações continuas para servir de dado para mudanças futuras. Todo currículo implica em práticas educativas e em sistemas de avaliação que enfocam como um todo ou apenas por segmentos. O livro organizado por Granville trata destes aspectos e das múltiplas relações entre eles. A organização contou com colaboradores de várias áreas do conhecimento, o que poderá dar a obra uma possibilidade de visão interdisciplinar do tema.

O livro compreende 14 capítulos, que incluem os três eixos (currículo, avaliação e práticas educativas) que termina por uma síntese integradora. Os eixos perpassam os capítulos, mas não compreendem partes com subtítulos organizadores.

O primeiro capítulo, foi redigido por Rodrigues e Fernandes que enfocam o currículo e as práticas pedagógicas em curso de Ciências Contábeis e que começa com a preocupação da perda de genialidade, em decorrência do aumento no número de cursos e carência de professores. Parte de uma concepção já superarada de prática pedagógica. Fazem uma análise do currículo e das principais mudanças que ocorrem ao longo dos anos no brasil. Em suas condições, no final do capítulo, dão ênfase a formação do docente. É pena que não tenham aberto um espaço para estudo comparativo com currículos de outros países.

No capítulo 2, David e Machado tendo por referencial o currículo por competências; focalizam as disciplinas e projetam suas inserções e adaptações. Relembram os princípios básicos de ensino por competências calcadas no trabalho de Pinheiro e permeando com dados de questionário preenchidos por nove docentes e de uma coordenação pedagógica, todos com respostas tendendo a ser positivas.

Frasseto é autor do capitulo seguinte que trata das mudanças implícitas da passagem das narrativas totalizantes na pesquisa educacional e na formação docente. Tem base em quatro textos, mas não consegue contextualizar a mudança nas novas diretrizes dos filósofos que dominam o cenário, inicialmente a Continental (Europa) e a Anglo – americana que é a principal crítica desde o século passado ao império da teorização. É um texto simples, breve e útil para iniciantes.

O capítulo 4 leva a assinatura de Jeffrey que faz uma análise do caso da educação básica. Parte da Lei de Diretrizes a Bases passando por uma rápida indicação de práticas avaliativas e os papéis do Estado – Avaliador. Destaca para exemplificar o Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), criado em 1996 descrevendo seus papéis, funções base de atuação e aspectos críticos levantados por outros autores.

O empate modernidade vs pós-modernidade na área da educação ambiental é o tema de Oliveira, Buchala e Bueno (capítulo 5) que buscam conceituar e exemplificar respondendo às questões: "1. Oque é ontologia?; 2. Quais os aspectos presentes na obra de Leff (2001) que o levaram a propor uma ontologia de tons Hiddegerianos como sustentáculo de sua proposta de uma epistemologia ambiental?" (p.77). O texto é didático e bem elaborado, mas excede o número de vocábulos permitido por lei na transcrição de parte das obras de vários autores. É uma reflexão teórica de interesse para a área.

Villela é o responsável pelo capítulo seguinte e trata da formação docente na América Latina onde surgiram "práticas educativas originais". Caracteriza esta educação, foca exemplos de Brasil e Cuba, dá destaque à formação de crianças e jovens no campo. É texto pertinente e que vê a questão mais pelo prisma de outros autores, com pouca contribuição pessoal, mas didaticamente bem estruturado em um discurso de convencimento.

Em seguida, Pernelli Neto volta-se para as questões de tempo e espaço no ensino de História e Geografia, recorrendo ao cinema que oferece múltiplas narrativas úteis às duas áreas, sobre os quais traça considerações gerais. Destaca, para exemplificar e complementar suas assertivas sobre a matéria, as curtasmetragens. Consideram - as úteis e válidas para vários usos de recursos no ensino nas duas áreas, apresentando uma proposta para sua efetivação. Inclui instrumentos usados, em anexo.

O oitavo capítulo é da lavra de Marughtti e Torres que contemplam um estudo de caso da Educação de Jovens e Adultos (EJA), tendo em vista vivência didático-pedagógica, ocorrida em Ribeirão Preto no Projeto Trocando de Lições. Fazem uma síntese do EJA e do percurso metodológico usado no Projeto que sintetizaram em quadros (sem numeração e títulos) incluindo falas dos participantes da pesquisa de cunho qualitativo. A descrição não viabiliza a réplica, mas é sugestiva para pesquisas diversas mais sofisticadas.

Granville enfoca no capítulo 9 o discurso pedagógico e as práticas docentes nas décadas de 1950 e 1970. É uma contribuição de cunho histórico das práticas educativas nas referidas décadas, tendo por matéria especifica de análise de livros didáticos. Considerando que análise de livros didáticos tem sido objeto de atenção de vários autores e tipo de documentos (artigos, teses, capítulos de livros e livros) poderia ter dado maior extensão e profundidade às análises. É um texto claro, didático e útil para compreensão de alguns aspectos que perduram até o presente ainda que rebatizados.

Um problema educacional particularmente grave que se vivencia na atualidade brasileira é o da formação ou desenvolvimento moral / ético das novas gerações. Braga e Martins enfocam em seu trabalho (capítulo 10) a questão, tendo por foco o sujeito autista. Trata-se de um estudo qualitativo de caso, com base em entrevista e questionário. A análise é feita sobre os discursos da mãe e professora. Constatam as dificuldade do desenvolvimento moral e tecem implicações para o educador dentro de uma perspectiva piagetiana. É de interesse para quem atua na área especifica, mas todo professor deve cuidar deste desenvolvimento.

O Capítulo 11 diz respeito a didática e a mediação pedagógica da universidade à escola básica, elaborando por Armoni. Começa por caracterizar as bases legais e recomendações oficiais e passa a discutir a práxis educativa com suas implicações tendo por base as concepções de Marx em sua obra "O Capital" e de autores que trabalham nesta concepção teórica vai da opção por uma teoria de mundo à uma modalidade de aula que estrutura de um várias fases. Hoje há disponíveis estruturas e formas de ensino dentro da visão que o texto oferece. É muito reducionista. É um bom texto para descrever o ideal de atuação de um professor Marxista.

Cação e Mendonça (capítulo 12) tratam do novo currículo paulista São Paulo Faz Escola, a que acrescem em ponto de interrogação. Consideram que ele se apoia, em políticos neoliberais que tem tido, na opinião dos autores, reflexos diretos na política educacional paulista, fazendo uma análise crítica com outra perspectiva. Não há uma análise intrínseca da própria proposta, mas é uma análise crítica a partir da outra concepção teórico – política. Considerando a proposta um projeto político pedagógico que não atende ao desejável quando ao prisma sócio – histórico e. Os autores que, após as suas análises, consideram que nada há assimilar e que é urgente refiguração do currículo, do projeto político pedagógico, da docência e da gestão nas escolas públicas paulista (p.244).

Considerando a Ocorrência de crianças e jovens que frequentemente ficam em regime de internação em hospitais, no penúltimo capítulo Lopes e Oliveira consideram a questão do atendimento escolar a esta clientela considerando: a legislação brasileira o atendimento escolar disponível na rede hospitalar e as diferentes concepções vigentes de atuação das classes hospitalares. Concluem que a opção melhor é a manutenção com o vínculo com a escola, que há insuficiência de estudos acadêmicos e há muitos aspectos a conhecer.

Fechando o livro, D’Água trata da gestão escolar e da inclusão, que requer uma aliança entre administração e demais personagens do cenário educacional. Apresenta as responsabilidades e fazeres, em diferentes dimensões a serem consideradas.

A bibliografia dos vários capítulos recorre pouquíssimos textos que não estejam na língua portuguesa, a capítulos e a artigos relatando pesquisas. O conhecimento cientifico para ser acompanhado e vivenciado requer constantes buscas nas bases bibliográficas, devendo-se recorrer, prioritariamente, a dados de pesquisas que geram evidencias e sejam generalizáveis para outras realidades. Com raras ocorrências, encontradas nos vários capítulos, mesmo nos que são apresentados como relato de pesquisa. Isto pesa negativamente na avaliação da obra. Entretanto é consoante a muito do que se faz na área educacional no Brasil.

A temática central é importante, mas em muitos textos falta a contextualização nas linhas especificas para a obra. Os textos são didáticos, bem escritos e podem ser úteis como base inicial ou ponto de partida para o assunto. É necessária uma forte complementação bibliográfica e que apresente várias perspectivas e teorias conforme se faz em países produtores de saberes, ou se estará condicionando o aluno a ver um único caminho como o melhor, o verdadeiro, além de outras mazelas. Um professor com competências mais amplas como de leitor crítico de textos poderá tirar o bom proveito e exemplos dos vários capítulos. Como são os capítulos totalmente independentes podem ser lidos em qualquer ordem e até mesmo de forma isolada, servindo para uso de seminários de textos.

 

Recebido: 08/02/2013
Aceito: 02/04/2013.

 

 

1 Docente e Pesquisadora da Universidade Castelo Branco. Contato: Av. Pedroso de Morais, 144, ap. 302, Pinheiros, CEP 05420-000, São Paulo, SP - Brasil. E-mail: gwitter@uol.com.br

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