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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

Print version ISSN 1415-711X

Bol. - Acad. Paul. Psicol. vol.34 no.86 São Paulo  2014

 

Teorias, pesquisas e estudos de casos

 

 

Estudo de casos de docentes matriculados em curso sobre discurso científico

Case study of teachers enrolled in course on scientific discourse

 

Estudio de caso de docentes inscritos en curso sobre el discurso científico

 

Geraldina Porto Witter 1; Fernanda de Moraes Vieira2

Universidade de Mogi das Cruzes

 

 


RESUMO

O presente estudo tem por objetivo geral – analisar casos de docentes que frequentaram um curso sobre Discurso Científico. Os objetivos específicos são: verificar como se auto-avaliam aspectos relevantes da produção científica, e quanto analisam o conhecimento básico sobre a temática do curso e suas expectativas de aprendizagem. Também é objetivo específico verificar a evolução percebida pelos docentes no final do curso (auto avaliação) e como avaliam vários aspectos do curso. Os resultados mostram que o curso é útil aos docentes.

Palavras-chave: ética no discurso; educação continuada; capacitação em redação; curso de extensão.


ABSTRACT

The main objective of this study is to analyze cases of teachers who attended a course of Scientific Discourse. The specific objectives are: to determine how relevant aspects of the scientific production are self-evaluated; and how much they analyzed the basic knowledge on the subject of the course and their learning expectations. A specific objective is also to verify the evolution perceived by teachers at the end of the course (self-evaluation) and how they evaluated the various aspects of the course. The results showed that the course is useful to teachers.

Keywords: discourse ethics; continuing education; training in writing; extension course


RESUMEN

Este estudio tiene como objetivo general - analizar casos de profesores que asistieron a un curso sobre el discurso científico. Los objetivos específicos fueron: determinar la forma de auto-evaluar aspectos relevantes de la producción científica, y evaluar cuanto analizan los conocimientos básicos sobre el tema del curso y sus expectativas de aprendizaje. También puede ver el objetivo específico percibido por los profesores al final del curso (autoevaluación) y como diversos aspectos evaluados durante la evolución del curso. Los resultados mostraron que el curso ha sido útil a los maestros.

Palabras-clave: la ética del discurso; la educación permanente; la formación por escrito; un curso de extensión.


 

 

Introdução

O desenvolvimento científico decorre em grande parte do evoluir da competência de avaliação dos cientistas para medirem seus objetos de estudo e até mesmo a própria Ciência, estendendo-se em todos os seus âmbitos, assim como no da aprendizagem da mesma.

Isto implica na avaliação das instituições e formadores de cientistas. Naturalmente como a maior parte desta formação ocorre na universidade, este aspecto deve merecer atenção especial no processo de sua avaliação, seja ela intrínseca ou extrínseca (Rodrigues, 2012, 2013).

A preocupação com a capacitação de futuros pesquisadores a rigor deve começar com o processo de alfabetização científica já na pré-escola e ir se sofistificando, progressivamente, até os cursos de pós- graduação. Como afirmam Burns e Sinfield (2008/2008) dizem, é preciso cuidar de aspectos específicos das habilidades de estudo, leitura e escrita para que o aluno possa ter êxito na universidade. Isto pede que o professor universitário também tenha uma formação adequada para cuidar não só deste aspecto, como também para ser um bom modelo de profissional e de pesquisador. Nestas circunstancias, considerando o rápido desenvolvimento das ciências, as questões éticas e metodológicas e dos padrões de discurso científico, o professor universitário precisa enfrentar o desafio de manter- se atualizado (Chaves, 2013) e competente para acompanhar as rápidas mudanças que ocorrem no mundo em geral e no segmento da produção de conhecimento científico (Darling, Hammond, & Bramford, 2005).

Dentro deste contexto é necessário levar em consideração como os professores aprendem, ampliam seus conhecimentos e competências para pesquisar e transferir para seus alunos o saber- fazer- poder da ciência (Hommerness, Darling- Hammond, Brensform Besliner, Cochran- Smith, McDonal & Zeichner, 2005). Entretanto, no Brasil parece ser muito rara a preocupação com estes aspectos da formação do professor, especialmente, o que atua na universidade (Rodrigues, 2013, Witter, 2013).

Como lembra Renan (2008) é essencial para o evoluir na vida profissional que se aprenda já na vida acadêmica a Planejar seu Desenvolvimento Pessoal e ter uma base que o faça não apenas um bom consumidor de ciências, mas também tenha base para se tornar um bom produtor. Certamente, para cumprir o que lhe cabe neste contexto o docente universitário precisa saber, fazer, distinguir e envolver-se sistematicamente com produção intelectual, produção científica, produção acadêmica (Targino, 2010). Precisa ser um modelo atual, não um modelo cunhado no passado.

Como se espera eticamente que docentes universitários sejam também produtores científicos (Landrum & McCarty, 2012) e que sejam muito competentes, estejam sempre se atualizando e sendo modelos adequados para seus alunos, que se empenhem na produção de conhecimentos e na sua educação permanente neste setor, o que implica em atividades como ir a eventos científicos, assistir cursos etc. Mas ainda parece que não se está preparando adequadamente os professores para atuarem em um mundo que está passando por rápidas mudanças (Lonrinberg- Hammon & Bransford, 2005).

Além disso, o fazer ciência vem evoluindo rapidamente em termos metodológicos, exigências éticas diversas que tratam de múltiplos aspectos. Assim sendo, é de se esperar que o docente se mantenha dentro destas exigências estudando sistematicamente as questões pertinentes. Também é esperado que as intuições lhes forneçam condições para o aprimoramento contínuo. Dentro deste contexto é que foi elaborado o presente trabalho cujos objetivos são descritos a seguir.

 

Objetivos

O presente estudo tem por Objetivo Geral – analisar casos de docentes que frequentaram um curso sobre Discurso Científico, com ênfase na ética e na atualidade.

Os Objetivos Específicos são: verificar como se auto-avaliam quanto a aspectos relevantes para a produção científica, analisar conhecimento básico sobre a temática do curso e suas expectativas de aprendizagem durante o mesmo. Também consiste objetivo específico verificar a evolução percebida pelos docentes no final do curso (auto avaliação) e como avaliam seus vários aspectos.

 

Métodos

Os casos aqui apresentados decorreram de uma pesquisa denominada Avaliação de Curso de Extensão Universitária sobre Discurso Científico aprovada pelo CEP/UNICASTELO (CAAE: 06183712.3.0000.5494).

 

Participantes

Foram usados os dados relativos a quatro participantes que preencheram todos os requisitos de inclusão/exclusão; eram docentes universitários, interessados em cursar, em nível de extensão, um curso sobre Discurso Científico e que assinaram um termo de consentimento. Praticamente não havia risco que não estivesse coberto pelo referido termo. Seus dados pessoais e resultados são descritos na parte de resultados, em decorrência do trabalho descrever estudos de casos.

 

Material

Foram usados os seguintes materiais: 1). Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), documento pelo qual o participante manifestou sua anuência em colaborar na pesquisa da qual foi devidamente informado e em que está devidamente protegido de possíveis questões éticas; 2) Pré-teste de autoavaliação do aluno; 3) Pré- teste de potencial e de perspectivas do participante; 4) Pósteste de auto-avaliação dos alunos e 5) Teste de avaliação do curso.

 

Procedimento

O projeto foi aprovado no CEP e na programação de Cursos de Extensão da Universidade para ser ministrado gratuitamente aos docentes da Universidade. Só após esta situação estar definida foi o curso divulgado. Inscreveram-se 31 professores, mas só onze o concluíram principalmente por falta de tempo e choque de horários. Destes foram usados quatro protocolos para os estudos de caso aqui apresentados, por terem cumprido todas as exigências da programação e terem 75% de frequência.

 

Resultados e discussão

A média de nota dos que concluíram as tarefas foi 8,1 com variação de 7,5 até 10. Seguem os relatos de caso.

Como só de quatro casos foi possível aglutinar os pré-testes e pós- testes, optou-se por apresentar no presente texto como estudos de caso.

 

Caso 1

Trata-se de professora que atua na área de Ciências Humanas Aplicadas, que nos últimos três anos havia produzido 7 resumos, 6 resumos expandidos, 12 painéis, três artigos técnicos, 2 artigos de pesquisa e um capítulo de livro, sem ter participado anteriormente de curso similar.

No Pré- Teste de Potencial e Perspectivas relatou ter se inscrito no curso para obter conhecimentos e melhorar as estratégias para produção científica. Esperava desenvolver-se mais 50%. Não indicou nenhum problema ético que possa ocorrer em pesquisa tanto no fazer, no redigir como no usar seus resultados. Na auto-avaliação feita no Pré-teste considerou-se muito boa professora e regular como produtora científica. Avaliou-se como tendo bom desempenho em: leitura geral, leitura científica, escritora de texto científico, estrategista na escrita, estrategista na leitura, estrategista no uso do tempo. Citou apenas uma variável que influi no seu envolvimento com a leitura técnico-científica: falta de tempo. A mesma variável dificultou seu envolvimento com a pesquisa. Na sequência, na produção científica indicou: leitura-referencial bibliográfico-revisão-elaboração do projeto. Considera que, pelo silêncio, a produção se faz melhor no contexto do lar. Afirmou que um bom título de trabalho científico deve ser expresso em 11 palavras e retratar bem a pesquisa. Para remeter um artigo a uma revista considera primeiramente seu QUALIS e a relação de compatibilidade de reformular rapidamente as solicitações de revisores das revistas. Também tem o hábito de consultar as bases: Bireme e IBIS.

No Pós teste de auto-avaliação considerou que seu desempenho melhorou como leitora geral, leitora científica, estrategista em escrita, estrategista em leitura e uso do tempo. Manteve sua avaliação como muito boa professora. Também achou sua produção como produtora de ciências, indo de regular para um pouco melhor e mantendo a mesma posição (como boa escritora). Em sua análise considerou ter avançado no aproveitamento do tempo (estratégias e carga de tempo). Também aprendeu a discriminar e a corrigir problemas de escrita associados à análise de periódicos. A produção de textos inclui leitura de textos (tese, artigos), organização da informação para auxiliar. Para produzir precisa de ambiente com pouco barulho e com boa ventilação. Considera que o resumo deve ser claro e incluir objetivos, metodologia e proposta de análise. Escolhe revista para mandar artigo considerando primeiro a área e em seguida o Qualis, não tendo problema de revisar o texto. Durante a semana passou a ler pelo menos três artigos que pretende usar em futuro trabalho, tendo recorrido à SciELO (IBICT).

Na avaliação do curso considerou ter crescido entre 60 e 80%. Considerou o pior aspecto o horário do curso. Como melhores aspectos indicou: metodologia, didática, material e suporte. Sugeriria o curso a colega e gostaria de assistir a outro sobre as estratégias de produção. Além disso, considerou que o curso forneceu subsídios para suas atividades didáticas. Está lendo mais de que o fazia. graças a orientação e supervisão para a escrita, considerando que o grupo de pesquisa melhora a produção acadêmica. O instrumento fornecido também pedia a avaliação dos itens do programa quanto a sua importância para a escrita, a formação de pesquisa e para ela própria. A participante atribuiu nota 10 a todos os aspectos em todos os itens.

Quanto a outros aspectos do curso atribuiu o valor máximo (10) a todos os itens, exceto o aspecto físico do ambiente em que ele ocorreu e ao qual considerou como merecendo oito.

Em síntese, pode-se considerar como uma avaliação bem positiva do curso, mas há ainda necessidade de completar sua formação ampliando seu potencial de produção. Por se tratar de competência que precisa ser atualizada constantemente para acompanhar o evoluir da ciência e de seu discurso, esperase que como produtora científica a pessoa busque frequente atualização na área.

 

Caso 2

Trata-se de professor da área de Ciência Exatas que se destaca porque esperava do curso obter conhecimento e motivação para seu envolvimento com a produção científica, tendo esperança de crescer 50%. Não tem realmente produção conforme se espera de docentes universitários. Nos últimos três anos, sua produção limitou-se no total por categorias em que apresentou produção ao seguinte: cinco resumos em eventos, dois resumos expandidos em eventos, três artigos técnicos e dois artigos de pesquisa, ou seja, a média dos três anos foi muito baixa para o esperado de um produtor científico. Solicitado a indicar problemas éticos na produção e texto resultante de pesquisa mencionou: plágio de outros autores e falta de autorização dos participantes. Também informou não ter cursado nenhum curso sobre a matéria anteriormente.

No pré-teste foi solicitado a avaliar-se quanto a vários aspectos o resultado foi: considerou-se muito bom como professor e estrategista no uso do tempo; bom como leitor geral e científico, estrategista na escrita e na leitura, regular como produtor e escritor de texto científico. Em sua opinião dificultam seu envolvimento com a leitura científica a falta de tempo, a motivação e os próprios textos. Na escrita de trabalhos científicos as dificuldades também decorriam da falta de tempo e de motivação, bem como da própria bibliografia. Para produzir, busca a informação, organiza-a e redige o trabalho, sendo que considera que o melhor lugar para fazer isto é em sua própria casa. O bom título de um trabalho científico “deve ter a mensagem do objetivo e conteúdo do artigo”. Para remeter a matéria para publicação procurou a revista apropriada quanto ao tema e considerou bom que o revisor indicasse revisões, cujos problemas analisou com boa vontade. Tem hábito de procurar bibliografia disponível gratuitamente na Internet, mas não fez menção a nenhuma base de dados. Considerou que, tendo por base o seu desempenho antes do curso, afirmou ter melhorado como: professor, produtor científico, leitor científico, escritor científico e estrategista na escrita. Entretanto, manteve-se no mesmo estado enquanto leitor de textos gerais. Passou a considerar que melhorou um pouco como estrategista no uso do tempo. Aliás, a variável que mais dificulta a sua leitura de textos científicos é o tempo, mas informa estar trabalhando para ter mais controle sobre ele. Na escrita científica sua maior dificuldade é detalhar e especificar parâmetros e modelos no conteúdo.

Para produção de texto científico relatou que primeiramente elabora um projeto, faz revisão com base na informação, coleta os dados, descreve objetivos, tema, metodologia e conclusões. Há que melhorar a estruturação da sequência ou para conseguir melhor desempenho. Para produzir precisa de ambiente agradável com condição de ficar voltado apenas para o tema que estiver trabalhando. O bom resumo implica em obedecer estritamente às regras estabelecidas pela revista, que escolhe em função do tema e da área de conhecimento. Quando o editor pede algum reparo, atende a solicitação e sentese mais motivado; durante a última semana leu um artigo resultando ainda 25 registros para o trabalho e recorreu à base DEDALUS.

Quanto à avaliação do curso considerou ter progredido 80%, os seus aspectos piores foram: dia da semana, horário e falta de tempo para estudar. O melhor do curso foram: a professora e o repasse de responsabilidade e de seriedade. Quanto á importância dos itens do programa foi solicitado a atribuir notas de zero a dez a cada um deles. Quanto à importância para a escrita atribuiu nota 10 para: dessensibilização sistemática (8), autoadministração e autoorganização (7), fluxo de produção e autogerenciamento (8) e ética no discurso científico (8). No que concerne à importância para a formação do pesquisador e para ele próprio atribuiu nota máxima a todos os itens. Também sugeriria o curso a colegas. Quanto a apectos específicos do curso atribuiu as seguintes notas: interação professor-aluno- 10, variabilidade nas estratégias de ensino – 10, interação aluno-aluno – 5,espaço físico-6; atendimento às expectativas pessoais – 10, competência docente – 8, aproveitamento pessoal do curso – 8, flexibilidade do docente – 10, produtividade pessoal no curso – 8, e impacto do curso em sua produção pessoal. Manifestou desejo de participar em um curso mais avançado de discurso científico para aprofundar estratégias de produção. Declarou que o curso também forneceu subsídios para suas atividades didáticas e que estava escrevendo e lendo mais do que fazia antes de tê-lo cursado, tendo inclusive trabalhando em um grupo de pesquisa, o que tem sido um grande estimulo para avançar.

Os dados indicam bom aproveitamento do curso e satisfação com os resultados e mudanças pessoais conseguidas. Todavia há ainda aspectos a evoluir dos quais está ciente e buscando soluções.

 

Caso 3

O participante é docente da área de Ciências Exatas e da Terra que procurou o curso em busca de motivação, de melhoria de sua condição para compreender, interligar e escrever mais “esperando um crescimento de 50%”. O único tipo de produto científico discursivo que produziu nos últimos três anos foram 10 artigos técnicos, o que em si é bom, mas não garante o desenvolvimento técnico- científico esperado, sendo muito importante produzir pesquisas, leva-las a eventos na área e publicar como artigo científico. Como problema ético na área fez menção a contatos interpessoais, mas sem maior especificação e nunca frequentou curso na área do discurso científico.

Na sua auto-avaliação considerou-se muito bom professor e leitor, bom em leitura científica, estrategista escrita e estrategista na leitura. Considerou-se regular como escritor de texto científico e estrategista no uso do tempo e como fraco enquanto produtor científico. Solicitado a evidenciar três variáveis que reduzem seu envolvimento com a leitura técnica científica indicou: só dispor de pouco tempo para leitura, tempo de deslocamento (habitação- trabalho), trabalho burocrático. No que concerne ao trabalho de escrita técnico- científico seu envolvimento é reduzido pela ação das variáveis: trabalho burocrático, deslocamento (habitação vs trabalho), local de trabalho.

Para produzir um artigo científico relatou que foca o tema e suas articulações, faz um levantamento das fontes pertinentes, procura escrever blocos principais (2 ou 3) e arremato complementando-os “. Para melhor produzir prefere trabalhar no contexto profissional, sala como mobília prática e confortável, boa iluminação, arejada, computador atualizado, moderno, banda larga, papel e lápis. Para o participante, um bom titulo implica em clareza, objetividade e articulação com o tema. Não teve vivencia de artigo enviado para revista científica. Se solicitarem revisão preocupa-se em saber se é de ordem técnica. Consulta bases bibliográficas de sua área de interesse, mas não indicou nenhuma.

No pós-teste considerou que melhorou em todos os aspectos focados no curso. Lamenta a falta de tempo para ler e escrever e está buscando usar melhor o tempo, bem como se preocupar por ainda não ter produzido um artigo científico. Costuma produzir mais no trabalho, espaço que tem buscado fora de seu horário e está tentando conseguir mais tempo para a produção. No resumo, levantou os pontos principais científicos e disse está disponível para atender a mudanças para melhorar a produto. Na ultima semana só leu um artigo, mas está consultando áreas correlatas em busca de pesquisas realizadas em domínio conexo ao seu doutorado.

Na avaliação do curso considerou ter ganho mais de 80% de competência. Entre os três aspectos piores do curso incluiu apenas um: rotinas difíceis de cumprir por falta de tempo e acrescentou “É pior pela minha falta de tempo e organização e não que seja errado como tarefas para ler e escrever”. Os três melhores aspectos foram: atividades práticas, distribuição do tempo e sequência de leituras. Quanto à contribuição de notas aos itens do curso assim o fez relevância para a escrita, atribuiu 10 também a auto–organização; uso de estratégias cognitivas e trabalho programados; 08 para fluxo de produção estratégias comportamentais, técnicas de avaliação e de auto avaliação do produto e pós-teste; 06 foi atribuído ao pré-treste e a dessensibilizarão. As mesmas notas se repetiram quando da avaliação da importância para a capacitação da pesquisa e para ele próprio. No final, por livre expressão, assim se manifestou. “Acho todos os itens do programa essenciais para a escrita, formação do pesquisador e nossa melhoria no campo de pesquisa acadêmico”. Também sugeriria o curso a um colega. Avaliou quase todos os aspectos do curso atribuindo nota 10, exceto para espaço físico (8) e sua produtividade pessoal (5). Gostaria de assistir o outro curso para profundar-se em estratégias de produção. Em sua opinião o curso lhe forneceu subsidio para uso em suas atividades didáticas, mas o mais tempo para a leitura ainda está por conseguir. Também achou positivo trabalhar em grupo em nova abordagem.

A reação do participante foi favorável ao curso e aproveitou bem a oportunidade e sua falta de tempo para dedicar-se é uma batalha a ser vencida. Precisará de tempo para poder estudar e frequentar outros cursos para manter sua motivação e melhorar sua produtividade.

 

Caso 4

Diz respeito a docente da área da Saúde que, no Pré-teste de Potencial, explicitou ter se matriculado para aprender a escrever e publicar artigos científicos, esperando crescer 50% ou mais nesta direção. Não publicou nada até a inscrição no curso. Nem mesmo um resumo. O único problema ético na produção e redação de que se lembrou foi plágio. Nunca frequentou curso sobre a matéria. Na sua autoavaliação se considerou muito boa apenas no uso do tempo, denominou-se como professora, leitora de textos gerais, estrategista de leituras e escrita, e escritora de ciências. As variáveis que dificultam seu envolvimento com leitura técnico- científico são: falta de tempo, de estratégias para ler e interpretar. Na escrita dificultam: a falta de conhecimento e de estratégias. Não produziu ainda qualquer texto científico e nada pode dizer sobre como o faria. Entretanto, em relação ao título considera a importância de interessar ao leitor, ser claro, e despertar curiosidade. Acha profissionalmente correto estar aberta a critica. Consulta o Google Acadêmico e Pubred.

No pós-teste autoavaliativo considerou que após o curso ter melhorado como a professora, produtora científica, leitora de textos gerais e científicos, escritora e estrategista de uso de tempo. Achou estar um pouco melhor como estrategista em escrita e em leitura. Tem dificuldade na leitura de termos técnicos, mas espera superá-la, ainda tem problemas na escrita que espera resolver com a prática. Não tem vivência, mas a partir de outros artigos é o inicio. Para produzir precisa de ambiente silencioso, organizado, agradável, material didático, o que encontrou em sua casa ou na biblioteca da universidade. Não soube indicar as características básicas de um resumo científico. Para escolha de uma revista para envio de matéria para publicação considera importante o conceito que ela tem e o respeito às normas de publicação. Também demonstrou disposição para fazer revisão, quando necessário. Nas últimas semanas tem lido pelo menos um artigo em cada uma delas e usado a base SciElo.

Ao avaliar o curso considerou que ele viabilizou um crescimento pessoal entre 61 e 80% em relação ao inicio do curso. Não indicou nenhum aspecto negativo do curso, mas reclamou que a sala de informática era muito quente. Os três pontos que considerou mais positivo foram: didática e conhecimento da professora e a oportunidade para novas amizades. Na avaliação dos itens do programa para a escrita, a formação de pesquisador e para a participante ela atribuiu nota 10 em todos eles e em todas as condições. Também sugeriria o curso a colegas. Quanto aos vários aspectos do curso deixou sem avaliação o físico; atribuiu 8 para sua própria produtividade no curso e seu possível impacto nessa produção. Aos demais aspectos atribuiu a nota 10: interação professor aluno, variabilidade de estratégias de ensino, interação aluno- aluno, atendimento às expectativa pessoais, competência da docente, material didático, aproveitamento pessoal e flexibilidade da docente. Informou que gostaria de fazer outro curso na área para aprofundar mais os conhecimentos de estratégias de produção científica. Além disso, o curso forneceu subsídios para as suas atividades didáticas. Também considerou esta lendo e escrevendo mais do que antes do curso. O trabalho em grupo foi visto como produtivo.

 

Discussão

Não se pode desconsiderar que se trata de docentes que trabalham em instituições universitárias privadas, que atuam em um contexto cultural em que a maioria dos educadores leciona em mais de uma instituição, às vezes tem outra atividade paralela (consultório, trabalho em empresa), além de aulas semanalmente, de matérias diferentes. A este quadro cultural pode se acrescentar o tempo consumido no transito, em congestionamentos perversos.

Desta forma a falta de tempo para ler, pesquisar e produzir discursos científicos não é de estranhar. Eles se propões a tentar melhorar a administração do tempo e cuidar mais da otimização do disponível, organizando melhor suas estratégias de trabalho. Entretanto, este esforço deveria ter apoio em ações administrativas gerais que assegurassem tempo ou verba mediante comprovante de produção, estabelecendo critérios. Além disso é necessário cuidar da atualização dos docentes oferecendo cursos, criando oficinas de trabalho e utilizando os grupos de pesquisa para que funcionem bem, sejam produtivos e produzam como se espera de grupos desta natureza. Isto tem impacto, inclusive, na formação dos futuros profissionais (Wilson, Samally & Yancey, 2012).

São aspectos a merecer pesquisas mais especificas. Podem ser úteis estudos analíticos da produção de pesquisadores que foquem concomitantemente o contexto em que atua, as contingencias físicas e culturais que atuam sobre ele (Nogueira, 1997, Moreira, 1997) indo além do exame dos produtos (Vieira, 1997, Santos, 1997) ou considerando em um modelo menos complexo, também sua produção acadêmica. Evidentemente trata-se de trabalhos com objetivo distintos das indispensáveis pesquisas de metaciencia.

Considere-se que em sua pesquisa Longarezi e Silva (2013) constataram que ensinar pesquisa na graduação melhora o docente com competências criticas, reflexivas e transformadoras da realidade. Embora no presente estudo fossem professores universitários, verificou-se que não só aprenderam bem como também há espaço para ser desenvolvido e que se mostraram cientes. Assim sendo, isto pode ser indicio de que buscarão assumir o autocontrole de sua educação permanente.

 

Considerações finais

A Universidade Camilo Castelo Branco tem oferecido aos docentes cursos sobre pesquisa (metodologia) e ética na pesquisa. Todavia, nem sempre com a adesão desejável. Entre as justificativas estão: falta de tempo, sobrecarga de trabalho, trabalhar em duas ou mais instituições. Isto também está subjacente como dificuldade para poder pesquisar e estudar. Entretanto para cumprir suas funções a Universidade precisa de docentes- pesquisadores éticos e atualizados. A instituição ao oferecer oportunidades está esperando que os docentes cumpram o que deles é esperado ou os projetos institucionais não se efetivam por limitações dos docentes em busca de atualização produtiva.

Para superar resistência, falta de produtividade e de produção docente é necessário, além dos cursos, promover projetos motivacionais, estímulo para apresentação de pesquisas em eventos. Desta forma pode ser melhorada a qualidade e produtividade do corpo docente, bem como, a própria imagem social da comunidade. O reflexo disto na qualidade de corpo docente e seus reflexos na capacitação dos futuros profissionais, tendem a ser de grande valor (Wilson, Smally, & Yancey, 2012).

 

 

REFERÊNCIAS

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Recebido: 19/02/2014 / Corrigido: 22/03/2014 / Enviado ao Parecerista: 27/03/2014 / Aceito: 03/04/2014.

 

1 Falecida recentemente, Doutora em Ciências e Livre Docente pela Universidade de São Paulo - USP. Contato com a família: Av. Pedroso de Morais, 144, Apto. 301 – Pinheiros – CEP: 05220-000 – São Paulo/SP E-mail: gwitter@uol.com.br Telefone: (11) 4796-5156.
2 Graduando em Psicologia pela Universidade de Mogi das Cruzes - UMC – Assistente de Pesquisa. Contato: Rua Aureliano Ribeiro Moreira, nº. 369 – Vila Formosa – CEP: 12.307-570 - Jacareí/SP. Email: Fernanda-mv@hotmail.com. Telefone: (12) 3023-8218.

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