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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

Print version ISSN 1415-711X

Bol. - Acad. Paul. Psicol. vol.34 no.87 São Paulo Dec. 2014

 

História da Psicologia

 

 

Considerações sobre a Teoria das Representações Sociais como capítulo da História da Psicologia Social

 

Considerations on the Theory of social Representations as a chapter in the History of Social Psychology

 

Consideraciones sobre la Teoría de las Representaciones sociales como capítulo de la Historia de la Psicología Sociales

 

 

Talita Meireles Flores1; Zaira de Andrade Lopes2; Branca Maria de Menezes3; Lucas Ferraz Córdova4

Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campo Grande/MS - Brasil

 

 


RESUMO

Este trabalho traz considerações sobre a importância do estudo da história, econômica e cultural da sociedade para compreender a construção da ciência psicológica e o desenvolvimento de suas teorias e conceitos. A história da psicologia é marcada pelos acontecimentos sociais, principalmente aqueles que têm um grande impacto no desenvolvimento da sociedade e dos sujeitos nela inseridos. Um exemplo são as grandes guerras mundiais, que contornaram os campos de saber e de estudo dos grandes psicólogos daquele momento histórico. Nos livros de história da psicologia moderna é muito comum encontrarmos uma cronologia que data os acontecimentos e movimentos da história, mas ainda é tímida a explicação do impacto destes movimentos históricos na ciência psicológica. Desta maneira, a intenção deste texto é a de destacar a recente história da psicologia social e sua cisão entre psicologia social e psicológica, que é modelada e construída na relação com os acontecimentos reais da sociedade e pautada nas condições de pesquisa e de estudo nas quais a ciência vinha se desenvolvendo. No contexto da Psicologia Social, a Teoria das Representações Sociais pode ser entendida como uma teoria conciliadora da divisão cartesiana entre psicológico e sociológico. Para a realização deste trabalho recorre-se a livros e artigos que trazem contribuições sobre a história da Psicologia como ciência e também a respeito da história da Psicologia Social, além de produções relacionadas à construção da teoria das Representações Sociais. Consideramos ao final deste estudo que a Teoria das Representações Sociais, criada pelo psicólogo social Serge Moscovici, propõe a dialogicidade entre sujeito e sociedade ao considerar tanto elementos individuais, quanto sociais na constituição dos sujeitos e na explicação do comportamento humano.

Palavras-chave: história da psicologia; psicologia social; representações sociais.


ABSTRACT

This paper presents considerations on the importance of the study of political, economic and cultural history of society to understand the construction of psychological science and the development of its theories and concepts. The history of psychology is marked by social events, especially those that have a great impact on the development of society and individuals within it. One example is the great world wars, which skirted the knowledge and study of the great psychologists of that historical moment. In the history books of modern psychology it is quite common to find a chronology dating the events and movements of history, but it still contains a modest explanation of the impact of these historical movements in Psychological Science. Thus, the intention of this paper is to highlight the recent history of social psychology and its division between psychological and social psychology, which is modeled and constructed in relation to the actual events of the society and according to the conditions for research and study in which science has been developing. In the context of Social Psychology, Social Representations Theory can be understood as a conciliatory theory of Cartesian division between psychological and sociological. For this work we resort to books and articles that bring contributions to the history of psychology as a science and also about the history of social psychology, and related to the construction of the theory of social representations. We consider at the end of this study that Theory of Social Representations, created by social psychologist Serge Moscovici proposes dialogicity between subject and society when considering both individuals and socials elements in the constitution of the subjects and the explanation of human behavior.

Keywords: history of psychology; social psychology; social representations.


RESUMEN

Este artículo presenta consideraciones sobre la importancia del estudio de la historia económica y cultural de la sociedad para comprender la construcción de la ciencia psicológica y el desarrollo de sus teorías y conceptos. La historia de la psicología está bastante marcada por los acontecimientos sociales, principalmente aquellos que tienen un gran impacto en el desarrollo de la sociedad y los individuos dentro de ella. Un ejemplo son las grandes guerras mundiales, que bordeaban los campos del conocimiento y el estudio de los grandes psicólogos de ese momento histórico. En los libros de historia de la psicología moderna es muy común encontrar una cronología que data de los eventos y movimientos de la historia, pero sigue siendo modesta la explicación del impacto de estos movimientos históricos en la Psicología Social. Por lo tanto, la intención de este artículo es poner en realce la historia reciente de la psicología social y su división entre la psicología social y psicológica, que se modela y construye en relación a los acontecimientos reales de la sociedad y guió a las condiciones para la investigación y el estudio en el que la ciencia se estaba desarrollando. En el contexto de la Psicología Social, Teoría de las Representaciones Sociales puede ser visto como una teoría conciliadora de la división cartesiana entre psicológico y sociológico. Para la realización de este trabajo se recurre a los libros y artículos que aportan contribuciones sobre la historia de la psicología como ciencia y también sobre la historia de la psicología social, además de las producciones relacionadas a la construcción de la teoría de las representaciones sociales. Consideramos al final de este estudio que la Teoría de las Representaciones Sociales, creado por el psicólogo social Serge Moscovici propone una dialéctica entre el sujeto y la sociedad al considerarlos elementos individuales y sociales en la constitución de los sujeto y la explicación de la conducta humana.

Palabras-clave: historia de la psicología; psicología social; representaciones sociales.


 

 

Introdução: Por que estudar História na Psicologia?

Apesar da obviedade da resposta a esta pergunta que intitula a primeira parte do texto, faz-se necessário entender a importância da História da Psicologia para compreender a ciência psicológica, principalmente se a intenção é produzir mais conhecimento nesta área. É difícil entender e explicar algo quando não se sabe de sua história. Apesar disso, Goodwin (2005) faz uma alerta sobre necessidade de ir além de uma visão simplista do estudo da história. Para o autor mencionado, a história não pode ser apenas uma prevenção de erros cometidos no passado e um guia para melhorar o futuro. Goodwin (2005) retoma o famoso historiador da Psicologia, E. G. Boring, que afirmou ser por meio do conhecimento da história que se pode, ao menos, dar significado ao presente.

Ainda que seja importante considerar o presente no estudo da história é preciso atenção para não defender uma visão presentista, que julga o passado pelo presente, ou mesmo uma atitude nostálgica, que considera o passado como melhor do que o presente. Goodwin (2005) retoma o termo "presentista" de George Stocking. Conforme Goodwin (2005), Stocking contrapôs a visão presentista por uma abordagem que chamou de historicista, a qual buscaria entender a história em conformidade com o contexto em que ela se deu e se dá. O autor afirma que:

Conforme descreve Stocking, o "presentista" interpreta os eventos históricos apenas em relação ao conhecimento e aos valores modernos, ao passo que o"historicista" tenta entender o mesmo evento em termos do conhecimento e dos valores vigentes à época desse evento. Como o "historicista" procura situar os fatos históricos no contexto geral das épocas em que transcorreram, essa abordagem é, por vezes, chamada de abordagem contextual da história. ( p. 24)

Nesta perspectiva de estudo da história uma análise interessante foi feita pelo autor Luís Cláudio Figueiredo, em seu livro "A invenção social do psicológico: Quatro séculos de subjetivação 1500 – 1900", (2007) que trata sobre a relação entre os processos históricos e a constituição da sociedade e dos sujeitos. Ainda que este artigo não esteja sustentado na postura teórica defendida por Figueiredo (2007): a psicanálise, não se pode dispensar a contribuição que ele traz para apreender a influência da história da sociedade, em especial da civilização ocidental, na forma como os sujeitos constituíram suas identidades.

Nesta obra, Figueiredo (2007) mostra como as identidades dos sujeitos que integravam sociedades mais antigas eram congruentes, sem muitos problemas de confusão e caos. Posteriormente, tais identidades foram abaladas por movimentos na política e economia, como as grandes navegações e a oposição da burguesia contra a nobreza, que culminou na divisão da sociedade em classes.

Foi neste contexto que ocorreu o que Figueiredo (2007) chamou de cisão entre o público e o privado. Ora, o sujeito pendia para seus desejos e vontades pessoais, ora se submetia às regras e normas do Estado. Figueiredo (2007) afirma que há três formas de se entender o século XIX: o Liberalismo, o Romantismo e o Regime Disciplinar. O Liberalismo preconizava os direitos e liberdades individuais assegurados pelo Estado, a intenção era não interferir na esfera privada da vida dos indivíduos. Já o Romantismo prezava pela exaltação da emoção humana, as origens pré-pessoais, racionais e civilizadas. Havia no romantismo uma tentativa de restaurar a vida social e pessoal dos indivíduos e, também, promover a integridade entre a vida coletiva e individual. No caso do Regime Disciplinar o objetivo era de conter as liberdades e desejos individuais para o bom funcionamento da sociedade como um todo. Para Figueiredo (2007) o espaço psicológico e as teorias da psicologia surgem, justamente, nas articulações conflitivas entre essas três formas de pensar e praticar a vida em sociedade, propostas pelo romantismo, liberalismo e pelas três formas citadas.

Ainda que as contribuições de Figueiredo tenham sido exploradas de forma resumida neste texto pode-se verificar a importância da consideração e do estudo da história para entender a construção da ciência psicológica.

A desvalorização de determinadas teorias pode ser evitada quando se evidencia na história de uma sociedade, os seus movimentos culturais, econômicos e políticos. Farr (2010) aponta que: "Acontecimentos da vida real podem ter uma influência dramática no desenvolvimento histórico das disciplinas acadêmicas". ( p. 24). O autor pontua, principalmente, os acontecimentos das guerras mundiais como desencadeadoras do rumo que tomou a Psicologia e em específico a Psicologia Social. Farr (2010) mostra como a guerra interrompeu e impôs outros rumos aos trabalhos de importantes autores, que são considerados precursores nas diferentes teorias psicológicas:

A guerra interrompeu o trabalho de muitos professores em ambos os lados do conflito. Wundt já estava além da metade dos dez volumes de sua Völkerpsychologie quando explodiu a guerra [...]. A guerra forçou McDougall a adiar a publicação de seu segundo volume de psicologia social (The group mind, que não veio a Lume até 1920). O primeiro volume tinha apenas sido An Introduction to Social Psychology [...]. A guerra marcou também a transição no pensamento de Freud, de seus estudos clínicos de pessoas, para o desenvolvimento de uma psicologia das massas [...]. A explosão da guerra aprisionou Köhler em Tenerife, onde ele era Diretor da Anthropoid Station. Gastou o período da guerra estudando as habilidades de uma colônia de nove chipanzés na solução de problemas. Estava particularmente interessado no uso que eles faziam de instrumentos. Esses estudos foram a base de seu livro sobre The mentality of apes [...]. (p. 185)

Outra questão importante levantada por Farr (2010) é o serviço prestado pela psicologia na Grande Guerra de 1914-1918. O autor mostra como os testes psicológicos passaram a ser utilizados como meio para avaliar as pessoas e designá-las a tarefas militares específicas.

No período da Segunda Guerra mundial, de 1919 – 1939, ao desenvolvimento da Psicologia Social foi marcante. Farr (2010) aponta que, para o psicólogo social estudioso da história da psicologia social, Cartwright, o verdadeiro nome de grande impacto nesta área foi o de Adolf Hitler. Neste período houve a migração dos psicólogos gestaltistas alemães e austríacos para a América, onde o behaviorismo imperava. A mistura e o conflito entre a filosofia positivista, que guiava o behaviorismo na América do Norte, e a fenomenologia orientadora da Gestalt, gerou um produto caracteristicamente americano – a psicologia cognitiva.

Conforme Farr (2010), neste contexto histórico da segunda guerra mundial, a psicologia se voltou para os estudos dos pequenos grupos, para realizar terapia com os soldados participantes:

Houve considerável interesse, tanto durante como depois da guerra, para a compreensão da dinâmica de pequenos grupos. Esse não foi um interesse exclusivo dos Estados Unidos. Houve pelo menos um empreendimento conjunto anglo-americano no campo da psicologia social [...]. Devido à crônica falta de psiquiatras no exército britânico durante a guerra, os soldados que necessitavam de psicoterapia eram tratados em grupo, em vez de individualmente, como se costumava fazer. (p. 190).

Farr (2010) aponta que vários estudiosos se dedicaram aos trabalhos com pequenos grupos, mas o que mais se destacou foi Kurt Lewin.

Ao analisar as questões levantadas pode-se perceber o quanto é importante o estudo da história na psicologia e também a história da psicologia. Na verdade ambas são indispensáveis para o entendimento da ciência psicológica. Os acontecimentos históricos mostram como sujeito e sociedade se organizam e, desta forma, têm uma implicação direta no desenvolvimento das ciências.

 

A divisão na História da Psicologia Social: Psicológica e Sociológica

Como já foi tratado anteriormente, a história dos acontecimentos sociais, políticos e econômicos está relacionada diretamente com a história da psicologia e com a construção do conhecimento psicológico. Neste momento do texto a intenção é apontar algumas questões principais sobre a história da psicologia social e destacar como esta área de conhecimento foi dividida entre psicologia social sociológica e psicológica, em que alguns estudiosos se dedicaram à compreensão dos aspectos sociais da constituição dos sujeitos e outros aos aspectos individuais.

Farr (2010) faz uma análise importante sobre o desenvolvimento da história da Psicologia Social cindida na tradição européia sociológica e americana psicológica. O autor mostra em seu livro "As raízes da psicologia social moderna" como a história da psicologia social está ligada de forma direta aos acontecimentos históricos e políticos da sociedade, principalmente relacionados às grandes guerras mundiais. Farr (2010) aponta que, com a migração de psicólogos austríacos e alemães, seguidores da corrente gestaltistas, para a América deu-se o conflito entre a Fenomenologia e o Positivismo, entre o Behaviorismo e a Gestalt, o que gerou a psicologia social cognitivista americana. Farr (2010) mostra que é deste conflito que Allport relacionou as raízes da psicologia social à Europa e suas flores ao solo americano.

Com isso, Farr (2010) faz crítica à maneira como Allport e Jones, estudiosos da história da psicologia, trataram a história da psicologia social de maneira substancialmente positivista, dividindo sua composição epistemológica da experimental. Ou seja, de um lado os autores colocaram a tradição européia metafísica, trazida da fenomenologia, e de outro o aspecto experimental americano, proveniente do behaviorismo. Outro traço da filosofia positivista contida na explicação de Allport, segundo Farr (2010), se encontra na colocação de August Comte, filósofo conhecido como pai do positivismo, no lugar de fundador da psicologia social, com o intuito de defendê-la como ciência. Neste sentido, tanto Allport, quanto Jones vêem a psicologia social sociológica de maneira menos científica do que a psicologia social produzida pela América do Norte, especificamente nos Estados Unidos.

Pode-se pensar que Allport, ao declarar Comte o fundador da psicologia social, cometeu o que Goodwin (2005) chamou maneira Personalística de investigar a história, que vê nos atos dos personagens históricos a fonte de compreensão para a história. Farr (2010) destaca o risco de determinar nomes de fundadores e/ou ancestrais para explicar a origem das ciências, pois isto pode impregnar a história com a visão de um ou outro autor.

Também é importante considerar que o interesse e a posição teórica de um estudioso da história da psicologia podem provocar interpretações errôneas sobre as intenções conceituais e teóricas de um autor. Este é o caso do que cometeu Boring com Wundt. Conforme Abib (2009), a história que mais se conhece sobre Wundt é que ele foi o fundador da psicologia como ciência a partir do estabelecimento do laboratório em Leipzig. Contudo; ficou desconhecido na história da psicologia e em seus manuais, o posicionamento de Wundt sobre a psicologia como uma área intermediária entre a fisiologia e a cultura:

Uma prova adicional dessa dualidade encontra-se na diferença que o psicólogo alemão faz entre a psicologia cultural (Völkerpsychologie) e a psicologia fisiológica e experimental. A psicologia cultural investiga os processos mais complexos da mente, como linguagem, mito, religião, arte, sociedade, lei, cultura e história [...]. E a psicologia fisiológica e experimental investiga os processos mais simples da mente, como sensação, percepção e processos afetivos [...]. A psicologia cultural não pode ser reduzida à psicologia fisiológica e experimental, nem os processos mentais complexos podem ser reduzidos a processos mentais mais simples. (Abib, 2009, p. 201).

Abib (2009) aponta que, devido a interesses políticos e ideológicos do nazismo, existiu na psicologia a necessidade de valorizar os estudos de controle e seleção, o que se opunha à proposta de Wundt. No entanto não era só este fator que levou à desconsideração da psicologia social de Wundt, mas também a forte corrente positivista da época com a qual esse autor não concordava, pois não admitia que os processos mentais mais profundos fossem estudados de maneira experimental. Farr (2010) mostra que Wundt havia elencado três tarefas para sua vida: criar uma psicologia experimental; uma metafísica científica e uma psicologia social. Segundo Farr (2010) os historiadores da psicologia ignoram a contribuição de Wundt sobre as questões sociais. Abib (2009) afirma que:

O projeto de Wundt foi derrotado, não só na esfera dos interesses intelectuais ligados à prática e da ideologia do controle social, mas também no campo da metafísica elementarista, da epistemologia unitária e das condições da instituição acadêmica alemã. (2009, p. 205).

A forte tradição positivista separou os objetos de pesquisa com os quais a psicologia poderia lidar e também definiu como essa ciência poderia trabalhar com seus objetos de estudo que, claramente, deveria se restringir às pesquisas experimentais. É neste contexto que se pode observar a separação entre uma psicologia que se dedicaria aos processos psicológicos elementares de uma psicologia que se voltaria ao estudo das relações entre sujeito, sociedade e cultura.

 

Psicologia Social Sociológica e Psicologia Social Psicológica: Algumas Considerações

A psicologia social tem uma tradição que a fragmenta, mesmo que sua intenção seja a de estudar justamente a relação entre sujeito e sociedade e não ambos isoladamente. Conforme Farr (2010) era freqüente que os estudiosos demarcassem seus objetos de estudo e os separasse para facilitar a aceitação de sua ciência no meio acadêmico ou mesmo para priorizar o que estavam interessados em estudar. Farr (2010) cita o exemplo de Wundt, que separou a psicologia em fisiológica e sociológica. Neste mesmo contexto estava o filósofo Durkheim, que dividiu seu objeto de estudo em representações coletivas e individuais.

Havia também, segundo Farr (2010), um interesse dos estudiosos em demarcar suas ciências para propor problemáticas que outros pesquisadores resolvessem. Farr (2010) cita novamente o exemplo de Wundt, que propôs o estudo distinto e separado da psicologia natural e da psicologia social. Posteriormente a Wundt surge G. Mead, conhecido como um behaviorista social que propôs o entendimento do indivíduo como produto da interação recíproca entre o meio social e o organismo biológico.

Analisando tais considerações pode-se entender que havia por parte dos estudiosos da psicologia e da sociologia do século XIX, uma distinção essencial entre consciência e cultura. Com isso, tal concepção demarcou o largo espaço existente entre indivíduo e sociedade, psicológico e sociológico. Farr (2010) aponta que tanto Wundt, quanto Freud e Durkheim apresentaram esta proposta. Wundt na sua separação entre fisiológico e cultural, além de sua premissa que limitava ao estudo experimental os processos elementares da consciência. Freud fez sua separação inicial determinando os níveis consciente, pré-consciente e inconsciente. Por fim, Durkheim fez sua distinção entre as representações coletivas e individuais:

Para Wundt, assim como para Durkheim e Freud, a cultura é algo que está além da consciência dos indivíduos que a mantêm e transmitem. É algo que está com a consciência dos indivíduos, mas externa a ela. Abrange aquilo que Durkheim chamou de representações coletivas. (Farr, 2010, p. 64)

Apesar de seus contrastes teóricos, é marcante na visão destes autores explicações distintas entre cultura e mente que, inclusive, não se misturavam quando o objetivo era a compreensão dos sujeitos e de sua relação com a sociedade. Vale lembrar que Freud conseguiu estabelecer esta relação entre o sujeito e a cultura com seus trabalhos posteriores, principalmente em seu texto "Psicologia das Massas e Análise do Eu". Farr (2010) aponta que Freud precisou estudar estas questões por conta dos acontecimentos históricos de sua época, relacionados à guerra.

Neste trabalho iremos nos ater à contribuição de Durkheim para entender a separação entre a psicologia social sociológica e psicológica, visto que este autor é tomado como ancestral dos estudos de Moscovici sobre as representações sociais. É importante fazer um parêntese neste momento do texto para pontuar o risco da escolha feita por Moscovici ao eleger Durkheim como ancestral de sua teoria. Farr (2010) aponta que:

A escolha de Durkheim feita por Moscovici, como um ancestral, é uma declaração que sua teoria das representações sociais é uma forma sociológica da psicologia social. [...]. O perigo principal, na escolha de ancestrais, conforme Deustscher, consiste em tomar emprestado uma única idéia, ou conceito, teórico, sem explicar como a pessoa se coloca em relação ao resto das ideias teóricas do ancestral. Isto é especialmente perigoso quando o ancestral é um pensador tão complexo como Durkheim. (p. 173).

Esta é uma questão a ser considerada, pois pode levar a interpretações errôneas de que as representações sociais estariam ligadas exclusivamente ao estudo do sujeito a partir da sociedade. Com isso, as representações sociais continuariam perpetuando a separação entre individual e social, como foi a proposta de Durkheim, ainda que esta não seja a explicação da teoria de Moscovici. Logo adiante, isto será melhor trabalhado neste texto.

Considerando o que foi discutido acima, ressalta-se a necessidade de compreender melhor a proposta de Durkheim para, posteriormente, entender o novo olhar de Moscovici. Conforme Farr (2010), Durkheim veio de uma tradição positivista e buscou excluir de sua ciência os elementos psicológicos. Para Durkheim os fatos sociais não poderiam se reduzir aos fatos individuais. Paéz, Morales, Sarabia e Ursua (1992) consideram que houve certo descrédito ao sociólogo Durkheim e à sua concepção da sociedade como um organismo biológico, em que cada órgão/instituição executa sua função para o bom funcionamento do todo, pois trata-se de uma concepção funcionalista. Tal paradigma sofreu duras críticas nas ciências sociais, pois se trata de uma simples inversão das explicações causais e não admite as contradições e mudanças presentes na sociedade.

Marcová (2006) sinaliza que o conceito de representações coletivas apresentado por Durkheim é estático. De acordo com Marcová (2006), Durkheim não explicou a passagem das experiências sociais para os indivíduos, a não ser de forma coercitiva. Ou seja, as representações coletivas constrangem o sujeito e assim modelam seu comportamento:

As representações coletivas, isto é, imagens, crenças, símbolos e conceitos, surgem diretamente das estruturas sociais. Elas incluem todos os fenômenos socialmente produzidos que circulam e são compartilhados na sociedade, como religiões, mitos, ciência e linguagem. As representações coletivas são fatos sociais e formam uma realidade social, da mesma maneira que os fatos físicos formam realidades físicas. Elas são consideradas externas para os indivíduos que não contribuem com sua formação. Impondo neles uma pressão irresistível. E, cedendo à sua coerção, os indivíduos internalizam e perpetuam essas formas sociais de ação, de pensamento e de sentimento. As representações coletivas estão acima do indivíduo e elas têm o poder de gerar novas representações. (p. 177)

Desta maneira, percebe-se que Durkheim não estava preocupado em compreender a relação entre o indivíduo e as representações coletivas, ainda que tenha, segundo Marcová (2006), mostrado a necessidade de mais estudos sobre esta relação.

De acordo com Marcová (2006) o posicionamento dualista de Durkheim a respeito das representações se estabeleceu quando o autor realizou uma extensão do dualismo cartesiano, que propôs oposições entre corpo e mente, para o cartesianismo entre sociedade e indivíduo. Com isso, o autor definiu as representações individuais e as coletivas. As representações individuais estariam relacionadas aos fenômenos psicológicos e neurológicos. Já as representações coletivas seriam as criadoras dos fenômenos sociais, culturais e externos aos sujeitos. Marcová (2006) mostra que não há, segundo Durkheim, nenhuma contribuição dos indivíduos na construção das representações coletivas. Esta explicação de Durkheim tem origem no dualismo cartesiano dos filósofos que o antecederam, para os quais estava clara a separação e a impossibilidade da relação entre opostos, como mente e corpo, indivíduo e sociedade, singular e plural. Foi neste contexto que Durkheim estabeleceu também uma dualidade entre as representações: coletivas e individuais:

Durkheim estendeu esse dualismo tradicional, do corpo e da mente, para o segundo tipo de dualismo, entre a sociedade e o indivíduo. Baseado nestes dois tipos de dualismos, ele postulou dois tipos diferentes de psicologia: a individual e a social. Para tanto, ele fez nítida distinção entre as representações individuais e as representações sociais. Considerando que as representações anteriores – as individuais – são estudadas pela psicologia individual e as últimas – sociais – devem ser estudadas pela psicologia social. Durkheim restringiu as representações individuais aos fenômenos psicológicos e neurológicos (Durkheim, 1898). [...] As representações individuais, de acordo com Durkheim, não têm muito a ver com conhecimento. Elas são o resultado da natureza física e biológica do indivíduo e, portanto, são variáveis e pessoais. (Marcová, 2006, p. 176).

Desta maneira, percebe-se o quanto Durkheim escamoteou o caráter individual no processo de construção e apropriação de conhecimento e das produções humanas, ignorando o papel do sujeito. Marcová (2006) apresenta uma explicação interessante sobre este posicionamento de Durkheim. Para a autora, Durkheim elaborou seu sistema de pensamento baseando-se no estudo de sociedades primitivas, em que as relações são muito mais coesas do que nas sociedades modernas, pois as variações individuais quase não são percebidas:

"Poderíamos imaginar a hipótese de que nas sociedades pré-modernas as pessoas compartilhavam suas experiências de maneira mais íntima e, portanto, tinham também representações mais semelhantes do que nas sociedades modernas.". (Marcová, 2006, p. 178).

Com estas considerações é possível afirmar que Durkheim não conseguiu dar conta da complexidade das relações que se estabelecem no mundo moderno, em que os interesses e posicionamentos individuais estão presentes de forma marcante.

Ainda que caibam críticas aos pensamentos e conceitos elaborados por Durkheim, há que se considerar o momento histórico de desenvolvimento da ciência no qual ele estava inserido. De acordo com Marcová (2006), no período em que Durkheim trabalhou sobre as representações coletivas, a ciência estava passando por uma transformação drástica: de um lado havia uma ciência mecanicista e do outro uma ciência relativista. A ciência mecanicista apregoava um progresso científico contínuo e concreto, em que as investigações deveriam se basear no palpável e nas explicações estáveis. Conforme Marcová (2006), no relativismo, que estava começando a surgir na metade do século 19, já eram propostas novas idéias, que respeitavam as descontinuidades e instabilidades. Apesar de ter vivido neste contexto de mudança, Durkheim prendeu-se aos conceitos da velha ciência e elaborou sua teoria conforme estas concepções.

Apesar das concepções dualísticas de Durkheim, Marcová (2006) ressalta a importância desta divisão feita pelo autor: entre individual e social, pois marcou o território de estudos e pesquisas nas áreas da psicologia e da sociologia. Não descartando as contribuições de Durkheim, é preciso evidenciar que este estudioso deixou uma tarefa inacabada por não oferecer uma sistematização que permita relacionar estes campos de estudo e, além disso, as complexas sociedades modernas não poderiam ser estudadas por meio de um conceito tão estático quanto o das representações coletivas.

A teoria proposta por Moscovici vem solucionar esta divisão que Durkheim apresentou. A grande contribuição da teoria das representações sociais é o entendimento da relação sujeito e sociedade, interno e externo, universal e particular e a ênfase no caráter dinâmico do conhecimento. Farr (2010) aponta que, assim como G. Mead resolveu o problema proposto por Wundt da diferenciação entre ciências psicológicas, naturais e sociais, Moscovici realizou esta solução na teoria de Durkheim. A próxima sessão deste texto tentaremos mostrar esta solução na teoria das representações sociais.

 

A Teoria das Representações Sociais como uma Alternativa para a Cisão entre Sujeito e Sociedade

Segundo Lane (1991), foi na década de 50 que se iniciaram as sistematizações dentro da Psicologia social. Neste período a psicologia social sofreu uma divisão decorrente das duas tendências que faziam parte de sua tradição. Por um lado estava o pragmatismo americano, presente na corrente behaviorista e cognitivista, que possuía o objetivo de intervir nos grupos para harmonizar a sociedade e amenizar conflitos e, assim, ajudar na reconstrução da sociedade dilacerada pela destruição da segunda guerra mundial. Do outro lado estava a tendência européia, que também buscava conhecimentos para evitar novas catástrofes mundiais, como a segunda guerra.

É a partir da década de 60 que acontece uma crise no conhecimento psicossocial. Conforme Lane (1991) muitas críticas recaíram sobre as teorias da psicologia social, que não estavam servindo para intervir, explicar e prever comportamentos sociais. Tais críticas foram direcionadas principalmente para a psicologia social norte-americana, que foi taxada de positivista, por perder o ser humano em nome da objetividade.

Lane (1991) aponta algumas questões importantes sobre a vivência desta crise na Psicologia. Uma dela é a tradição biologicista dentro da psicologia, que concebia o sujeito como organismo que interage com um meio respondendo a estímulos. Os aspectos psicológicos, nesta abordagem, são concebidos como fatores internos ao indivíduo. Por outro lado existiam as análises do sujeito a partir de um viés sociológico, que preconizavam a explicação do comportamento humano pela ênfase na realidade social. Lane (1991) indica que, neste contexto, a Psicologia Social teria o objetivo de compreender os indivíduos, que possuem uma história particular, um aparato biológico e sua relação com a sociedade:

"Portanto, caberia à Psicologia Social recuperar o indivíduo na intersecção de sua história com a história de sua sociedade – apenas este conhecimento nos permitiria compreender o homem enquanto produtor da história". (Lane, 1991, p. 13).

Com isso, a psicologia precisaria ir além das explicações reducionistas, que determinavam o comportamento do sujeito como sendo modelado pelo mundo externo, ou trazia explicações que se limitavam às questões neurológicas e psicológicas do sujeito. Lane (1991) ressalta que tais explicações conduzem a uma naturalização dos comportamentos e retiram do sujeito a sua capacidade de criar e transformar, já que sua constituição seria determinada biologicamente, psicologicamente ou socialmente.

Este pensamento que compreende o sujeito como criativo e transformador está incutido na proposta da Teoria das Representações sociais de Serge Moscovici. Este autor não faz a distinção entre psicologia social psicológica e sociológica, pois trabalha com uma perspectiva de entender a relação dos opostos e sua dialogicidade:

[...] Moscovici concentra-se no estudo do conhecimento social como objeto de pesquisa fundamental para a psicologia social, porque engloba em si todos os processos psicológicos suscetíveis de serem estudados, tais como a memória, a percepção, o processamento de informação ou a dissonância etc, processos que atuam em conjunto com os aspectos da vida social, tais como os valores, as normas, os símbolos e as tradições para gerar conhecimento em um contexto social. Todos são elementos adquiridos pelos indivíduos por meio de sua experiência em suas relações sociais, na família, no grupo de amigos, no trabalho ou em outras esferas dentro de uma cultura determinada [...]. (Palmonari & Cerrato, 2011, p. 313).

É neste sentido que se pode qualificar a teoria das representações sociais como uma teoria de relação. Ela não privilegia e também não dá conta somente dos elementos psicológicos elementares ou complexos, tampouco centra-se em um determinismo social para explicar o comportamento humano. As representações sociais permitem o entendimento da relação das questões individuais mais simples às mais complexas e, também, o entendimento das questões sociais.

A teoria de Moscovici, por vezes, é taxada como pertencente à psicologia social sociológica, contudo isso se dá por sua oposição à psicologia social individualista e psicologicista que é produzida na América do Norte. A psicologia social americana trabalha com o pressuposto de que não existe o social, mas a soma de individualidades. Moscovici propõe a construção do social e do sujeito em uma relação instável, permeável e mutante:

Ao contrário de Durkheim, Moscovici viveu através da ciência das descontinuidades, das instabilidades e relatividades. Igualmente importante, ele viveu durante a idade das ciências sociais, que foram afetadas profundamente por duas guerras mundiais e por regimes totalitários, como o nazismo e o comunismo soviético. (Marcová, 2006, p. 190).

O contexto histórico em que brotou a teoria de Moscovici já mostrava a necessidade de construir uma teoria que fosse capaz de explicar os movimentos opostos e as relações pouco delimitadas presentes nas sociedades modernas, com isso pode-se dizer que:

O conceito de "representação social", como foi posto por Moscovici inicialmente (1961) e, sucessivamente aprofundado, criticava as dicotomias tradicionais de sujeito/objeto, teoria/método, individual/social, postulando que as características da sociedade constituem a base dos fenômenos psicossociais e lhes dá significado. (Palmonari & Cerrato, 2011, p. 313).

Moscovici questionou principalmente como o conhecimento científico se transforma em senso comum. Segundo Marcová (2006) o autor foi contra o ponto de vista que afirmava: "o povo não pensa". Desta maneira, este autor separou sua teoria daquela que fora proposta por Durkheim, pois buscou compreender o processo de construção do saber não considerando o conhecimento como cumulativo e estático, que seria apreendido coercitivamente nas experiências sociais. Conforme Marcová (2006): "As representações sociais são fenômenos dinâmicos e abertos e o conceito da representação social é formado e retransformado juntamente com a transformação da sua teoria" (p. 173).

As representações sociais não se constituem em reflexos de objetos contidos no ambiente, mas sim construções dos sujeitos que possuem a capacidade de criar, além de dar sentido aos estímulos que recebem do meio social em que se encontram.

Moscovici (1978) afirma que as representações sociais são caracterizadas por serem uma modalidade de conhecimento que tem por função elaborar comportamentos e comunicação entre indivíduos. O autor afirma:

Portanto, se uma representação social é uma "preparação para a ação", ela não o é somente na medida em que guia o comportamento, mas sobretudo na medida em que remodela e reconstitui os elementos do meio ambiente em que o comportamento deve ter lugar. Ela consegue incutir um sentido ao comportamento, integrá-lo numa rede de relações em que está vinculado ao seu objeto, fornecendo ao mesmo tempo, as noções, as teorias e os fundos de observação que tornam essas relações estáveis e eficazes. (p. 49).

Moscovici (2011) também mostra como as representações sociais fazem a mediação entre algo que é estranho e não faz parte de nosso conhecimento, tornando-o familiar. Ele afirma que as representações sociais podem trazer à nossa propriedade um conhecimento que não temos. Moscovici (1978) explica que as representações sociais são capazes disso, pois possuem propriedades mistas, tanto cognitivas como culturais. Desta forma, podemos pensar na representação social como elemento mediador no processo de interiorização, ou seja, de tornar interno e individual o que está posto na cultura e na sociedade, seja por materialidades ou de forma simbólica:

Em suma, observa-se que representar um objeto é, ao mesmo tempo, conferir-lhe o status de um signo, é conhecê-lo, tornando-o significante. De um modo particular, dominamo-lo e interiorizamo-lo, fazemo-lo nosso. É verdadeiramente um modo particular, porque culmina em que todas as coisas são representação de alguma coisa. (Moscovici, 1978, p. 63 e 64)

Analisando alguns dos argumentos de Moscovici sobre as Representações Sociais, pode-mos verificar que elas não dão privilégio ao elemento individual ou ao social na constituição dos sujeitos e no entendimento dos comportamentos. É por possuir este caráter que a Teoria das Representações Sociais concilia o dilema cartesiano que divide o indivíduo e a sociedade. Portanto, esta teoria pode ser um ponto-chave para a psicologia social superar o reducionismo e o determinismo, buscando uma certa maneira de entender o sujeito em sua totalidade.

 

Considerações Finais

A história construída na sociedade tem uma influência direta sobre o desenvolvimento das ciências. Com a psicologia não foi diferente. Neste texto procurou-se entender o impacto das grandes guerras mundiais sobre o conhecimento psicológico. Além dos interesses ideológicos existentes por trás das guerras, estavam também os interesses teóricos do contexto acadêmico no século XIX. O imperativo positivista determinava a submissão de todas as formas de conhecimento ao modelo das ciências naturais.

Com isso, a psicologia também buscou limpar todos os rastros metafísicos deixados pela filosofia e circunscreveu seu campo de estudo e pesquisa, limitando-o aos processos psíquicos elementares que pudessem ser testados experimentalmente. Foi neste contexto que os principais estudiosos da psicologia e da sociologia dividiram seus saberes. De um lado estava uma psicologia psicofísica e de outro uma psicologia voltada para o estudo de questões mais complexas, como a cultura, a linguagem e a sociedade.

Ainda na sociologia esta divisão do positivismo se concretizou. Durkheim dividiu de forma cartesiana as representações coletivas das individuais e determinou que as representações individuais estivessem no campo de estudo da psicologia, pois eram constituídas unicamente de processos psíquicos e neurológicos. Por muito tempo foi perpetuada essa concepção durkheiniana de não-relação entre sociedade e indivíduo de maneira mútua. Somente no século XX Serge Moscovici trouxe uma solução para o dualismo proposto por Durkheim, relacionando o individual e o social com a teoria das representações sociais.

É interessante pensar que nenhum conhecimento está desvinculado de sua época. Certamente não se pode julgar os estudiosos olhando apenas por suas escolhas teóricas, pois estas não estão passíveis de uma neutralidade histórica. Ainda que Moscovici tenha dado solução à divisão durkheiniana não se pode esquecer que o momento histórico no qual ele estava inserido o impulsionou para isto. A relação entre o cientista e sua época histórica revela a construção de uma ciência.

REFERÊNCIAS

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Figueiredo, L. C. (2007). A invenção do psicológico: quatro décadas de subjetivação (1500 – 1900). São Paulo: Escuta.

Goodwin, C. J. (2005). História da Psicologia Moderna. São Paulo: Cultrix.         [ Links ]

Lane, S. T. M. (1991). A Psicologia Social e uma nova concepção do homem para a Psicologia. In: S. T. M. Lane & W. Codo (Org.), Psicologia Social: o homem em movimento (pp 10 a 19). São Paulo: Brasiliense.         [ Links ]

Marcová, I. (2006). Dialogicidade e Representações Sociais: As dinâmicas da mente. Petrópolis: Vozes.         [ Links ]

Moscovici, S. (1978). A representação social da psicanálise. Petrópolis: Zahar.         [ Links ]

Moscovici, S. (2011). Representações sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis: Vozes.         [ Links ]

Paéz, D.; Valencia, J.; Morales, J. F.; Sarabia, B.; Ursua, N. (1992) Teoria y método em psicologia social. Barcelona: Antrhopos Editorial Del Hombre.         [ Links ]

Palmonari, A., & Cerrato, J. Representações sociais e psicologia social. (2011). In: A. M. Oliveira, M. F. S. Santos & Z. A. Trindade (Org.), Teoria das Representações Sociais: 50 anos. Brasília: TechnoPolitik.         [ Links ]

 

Recebido: 03/05/2014 / Corrigido: 02/10/2014 / Aceito: 10/10/2014.

 

 

1. Mestranda em Psicologia do Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Correspondência: Rua Estevão Alves Ribeiro, nº 900, Piratininga, CEP 79081-130, Campo Grande, MS - Brasil. Telefone: (67) 9257-1523. E-mail: talita.mflores@gmail.com
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. Profa. Dra. do Programa de Pós-Graduação em Psicologia –Contato: Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Centro de Ciências Humanas e Sociais, Departamento de Ciências Humanas. Cidade Universitária, CEP 79000-000, Campo Grande, MS – Brasil. Telefone: (67) 33457585. E-mail:
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