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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

Print version ISSN 1415-711X

Bol. - Acad. Paul. Psicol. vol.35 no.89 São Paulo July 2015

 

TEORIAS, PESQUISAS E ESTUDOS DE CASOS

 

 

Estetização do self e elaboração psíquica: repercussões das redes sociais na subjetividade

 

Aestheticization of the self and psychic elaboration: effects of social networks on subjectivity

 

Estilización del Self y elaboración psíquica: repercusiones de las redes sociales en la subjetividad

 

 

Gabriel Artur Marra e Rosa1

Universidad del Salvador (USAL) Buenos Aires - Argentina

 

 


RESUMO

O objetivo deste artigo é analisar as possíveis repercussões das redes sociais de Internet na subjetividade dos usuários. As concepções e significados simbólicos subjacentes à vivência dos participantes (autoapresentação e interação nesse ambiente) constituíram-se no objeto de estudo desta investigação. A metodologia fundamentou-se na pesquisa qualitativa com base em entrevistas semiestruturadas com dezesseis participantes do Facebook, de ambos os sexos, de diferentes idades, etnias e níveis socioeconômicos, todos residentes em Brasília-DF. Partindo da concepção de Negociação de Identidades, elaborada por Rosa e Santos (2013), a interpretação dos dados foi efetuada a partir de uma perspectiva interdisciplinar, particularmente respaldada por teorias interpretativas oriundas da Psicanálise e da Antropologia Sociocultural. Como resultado, constatou-se a existência de um processo dialético de produção subjetiva e de elaboração psíquica entre os usuários das redes sociais que ocorre mediante o fenômeno da estetização do self. Este resultado demonstra os primeiros indícios da condição de possibilidade de que as redes sociais de Internet sejam consideradas como "um lugar de escritura", demarcando novos horizontes para a Psicologia na atualidade.

Palavras-chave: Redes Sociais; Negociação de Identidades; Estetização do Self; Repercussões na Subjetividade.


ABSTRACT

The objective of this paper is to analyze the potential impact of online social networks on the subjectivity of its users. The conceptions and the underlying symbolic meanings from the experiences of the participants (self-presentation and interaction in this environment) constituted the object of study of this investigation. The methodology was based on a qualitative study with basis on semi-structured interviews with sixteen Facebook users, of both sexes, different ages, ethnicities, and socioeconomic levels, all residents in Brasilia. Starting from the concept of Identity Negotiation, developed by Rosa and Santos (2013), the data interpretation was performed through an interdisciplinary perspective, particularly supported by interpretative theories arising from Psychoanalysis and Sociocultural Anthropology. As a result, the existence of a dialectical process of subjective production and psychic elaboration between users of social networks was detected, which occurs through the phenomenon of the aestheticization of the self. This result shows the first signs of the condition of possibility that Internet social networks could be considered as "a place of scripture," staking out new horizons for the Psychology today.

Keywords: Social Networks; Negotiation of Identities; Aestheticization of the Self; Repercussions on Subjectivity.


RESUMEN

El objetivo de este trabajo es analizar las posibles repercusiones de las redes sociales de Internet en la subjetividad de los usuarios. Las concepciones y significados simbólicos que subyacen a la experiencia de los participantes (auto presentación e interacción en este entorno) se constituyen como objeto de estudio de esta investigación. La metodología empleada fue de tipo investigación cualitativa basada en entrevistas semi-estructuradas con dieciséis participantes de Facebook, de ambos sexos, de diferentes edades, etnias y niveles socioeconómicos, todos los residentes en Brasilia-DF. Partiendo del concepto de Negociación de Identidades, desarrollado por Rose y Santos (2013), la interpretación de los datos fue realizada desde una perspectiva interdisciplinaria, principalmente respaldada por las teorías interpretativas derivadas del Psicoanálisis y la Antropología Sociocultural. Como resultado, se encontró que hay un proceso dialéctico de producción subjetiva y de elaboración psíquica entre los usuarios de las redes sociales que ocurre a través del fenómeno de la Estilización del self. Este resultado muestra los primeros indicios de la posible condición de que las redes sociales de Internet son considerados como "un lugar de la Escritura," replanteando nuevos horizontes para la psicología en la actualidad.

Palabras clave: Redes Sociales; Negociación de identidades; Estilización del self; Repercusiones en la subjetividad.


 

 

Introdução

A possibilidade de que as redes sociais gerem efeitos ou repercussões na subjetividade dos usuários tem se tornado um tema controverso e desafiador para a Psicologia na atualidade. Em um mundo cada vez mais populoso e com fronteiras cada vez mais tênues, somos convidados a repensar as relações humanas. Surge a Internet e com ela as redes sociais virtuais. Neste contexto, há pessoas conectadas independentemente das fronteiras de tempo e de espaço. E do Teocentrismo ao Antropocentrismo, nos deparamos com a Era do Tecnocentrismo. Por isso, a Psicologia, como ciência e profissão, precisa se debruçar sobre as particularidades e, principalmente, sobre as vicissitudes que compõem o espírito do nosso tempo (zeitgeist) para que possamos compreender se existem e quais são, de fato, as possíveis repercussões desse fenômeno na subjetividade do sujeito contemporâneo.

De forma imediata, o mundo se entrecruza. Expande-se e se reduz. Diferentemente do que postulou Platão, na Alegoria da Caverna, hoje é possível que a magnitude do mundo exterior esteja disponível para cada um dentro de sua caverna, ou seja, dentro dos lares das famílias contemporâneas, nos celulares dos adolescentes e no interior do nosso mundo íntimo. Naqueles tempos remotos, compreendíamos o que havia fora do nosso universo referencial a partir da inserção do corpo físico no mundo externo, por meio do contato direto e da abertura que essa conexão entre o mundo obscuro do interior da caverna e a imensidão do mundo exterior proporcionava. Atualmente, o suporte de textos e imagens dá vazão ao universo íntimo do sujeito que se expressa numa rede social. Os gestos, a prosódia e as reações de uma pessoa permanecem em um segundo plano, nos bastidores. No entanto, as atividades realizadas no chamado mundo presencial, fora das redes, se remetem constantemente às redes e vice-versa. As pessoas se encontram e se desencontram nas redes e fora delas. Assim, o que se vivencia no cotidiano é captado em fotos e em vídeos e, logo, registrado e comentado. O sujeito, portanto, não se encontra somente desvendado, mas também diante de um canal aberto para expor o que quiser. Alétheia?

A representação da vida e, por conseguinte, do si mesmo encontra seu resplendor nos perfis e nas postagens. Todos querem se expressar. Opinar, ver, mostrar, esconder, participar e ser. Esse é o ambiente das redes sociais da Internet. Mimeses, tal como na formulação de Aristóteles (344 a. C./2007), como o mediador que efetua a passagem do arrebatamento poético à encarnação exuberante da forma, neste contexto, pode ter um "efeito boomerang". Isto é, a representação, efetuada no reflexo de um espelho interativo, pode vir a converter-se em criação, em poieses. Nesta perspectiva, a intersubjetividade de indivíduos conectados oferece o suporte necessário para que o que se posta, se comenta e se registra em fotos, textos e em vídeos não somente expresse o que acontece com as pessoas, mas também atualize a virtualidade "invisível".

Em tempos de Tecnocentrismo e de um contexto inovador, as pesquisas sobre essa temática ressaltam diferentes tipos de repercussões deste fenômeno, como é o caso do surgimento de uma subjetividade exteriorizada, solitária e sem tempo para a autorreflexão (Moreira, 2010) e do nascimento de uma subjetividade mais interativa, que abrange um maior número de possibilidades e que também conta com uma maior criatividade que a subjetividade prévia à interação propiciada por tais dispositivos da Internet (Sakamoto & Fernandes, 2012). Entretanto, não obstante os avanços neste profícuo campo de pesquisa, evidencia-se que o debate sobre os possíveis efeitos dessas redes na subjetividade do sujeito contemporâneo e sobre o posicionamento da Psicologia diante dessas supostas novidades ainda encontra-se em estado incipiente.

Os sites de redes sociais de internet surgiram no final da década de 1990 e, com uma acelerada expansão, se desenvolveram e passaram a conectar milhares de usuários oriundos de diferentes rincões do globo terrestre (Rosa & Santos, 2013). A principal característica desses sites é a conformação de redes sociais que conglomeram atores (pessoas, grupos e instituições) e suas respectivas conexões (Recuero, 2005). Essas redes também permitem que cada usuário elabore um perfil público ou semipúblico e possa ver e integrar-se a uma lista de outros usuários com os quais compartilham conexões (Boyd & Ellison, 2007). Com efeito, por intermédio de investigações acerca da variabilidade de efeitos que as redes podem vir a engendrar na sociedade e na produção subjetiva contemporânea, esse campo de estudos adquiriu institucionalidade acadêmica e, de modo concomitante ao crescente interesse popular por esses dispositivos da Internet, os efeitos das redes sociais têm se tornado um dos principais temas de discussão em diferentes âmbitos. De acordo com Lewis, Kaufman, Wimmer e Christakis (2008), esse fenômeno alcançou o ápice com o surgimento de publicações e de conferências especializadas em redes sociais, tais como o periódico Social Networks e a The International Sunbelt Social Network Conference.

Ao longo do trajeto de desenvolvimento desse campo de estudos, surge uma área de convergência no que diz respeito aos possíveis efeitos das redes sociais na subjetividade de seus usuários, cujo pressuposto fundamental é o de que a nova modalidade de apresentação e de interação que as pessoas efetuam nas redes se converteu em uma prática social propícia para se analisar os fenômenos relacionados à identidade e à personalidade dos usuários (Zhao, Grasmuck, & Martin, 2008; Mehdizadeh, 2010). No que se refere, especificamente, à identidade, em geral, o objetivo das pesquisas tem sido desvendar a lógica subjacente a este fenômeno e suas possíveis implicações (Zarghooni, 2007). Sendo assim, seguindo por essa linha de raciocínio, o presente trabalho se circunscreve neste âmbito de estudo dos fenômenos identitários nas redes sociais e se fundamenta na perspectiva que considera que a apresentação e a interação neste ambiente podem repercutir diretamente na subjetividade dos participantes (Turkle, 1997; Zhao e outros, 2008; Raleiras, 2009).

 

Contribuições bibliográficas

Tendo como referência a noção de negociação de identidades (Rosa & Santos, 2013, 2014a; 2014b; Rosa 2012, 2014), a qual postula que cada usuário seleciona o que publica nas redes sociais a partir das circunstâncias, das pessoas com as quais interage e dos interesses contrapostos na continuidade das atividades que ocorrem dentro o fora do ambiente das redes sociais, o presente trabalho tem o objetivo de analisar as principais repercussões das redes sociais de internet na subjetividade dos participantes. Para tanto, realizou-se uma pesquisa acurada, no âmbito do Doutorado em Psicologia, cujo foco foi a apreciação dos sentidos e dos significados que os próprios usuários atribuem aos efeitos ou às repercussões das redes sociais na subjetividade dos participantes. Deste modo, demarcando novas perspectivas para o posicionamento da Psicologia diante deste fenômeno complexo e global, no presente artigo, demonstrar-se-ão os principais resultados desta pesquisa e suas implicações na subjetividade do sujeito contemporâneo.

 

Método

Para contemplar o objetivo proposto, adotou-se, nesta pesquisa, um delineamento qualitativo (Creswell, 2014) que teve, como estratégia de coleta de dados, a observação participante nos sites de redes sociais e a realização de entrevistas semiestruturadas (Groeben, 1990) com usuários dessas redes. O site Facebook foi escolhido como base empírica para observar as atividades destes participantes nas redes em virtude de sua representatividade em relação às demais redes sociais de Internet.

Participaram da pesquisa 16 usuários do Facebook selecionados por conveniência com base nos seguintes critérios de inclusão: sexo e etnia/cor de pele, nível socioeconômico e idade. Os participantes, após convite do pesquisador, se voluntariaram e indicaram outros possíveis candidatos para participaram da pesquisa, procedimento esse denominado "bola de neve" por Biernacki e Waldorf (1981).

Com a finalidade de comparar os relatos, os participantes foram subdivididos em dois segmentos: 8 homens e 8 mulheres, destes 4 se autodeclararam brancos e 4 negros, 4 possuíam nível socioeconômico baixo e 4 possuíam nível socioeconômico alto. Quanto ao nascimento, 8 nasceram antes e 8 nasceram depois da década de 1990, marco histórico reconhecido como o advento do primeiro site de rede social, o SixDegrees (Lemos & Lévy, 2010).Os participantes que nasceram antes do advento das redes sociais tinham idade entre 24 e 35 anos e tinham como profissão: servidor público, diarista, gerente administrativo, profissional autônomo, professora, desempregado, recepcionista e agente de viagem. Aqueles que nasceram após o surgimento das redes tinham idade entre 8 e 20 anos, sendo que apenas um participante não era estudante.

A categorização dos níveis socioeconômicos ocorreu por meio do Critério Brasil de Classificação Econômica (Abep, 2012), sendo as classes A1, A2, B1, B2 consideradas como nível socioeconômico alto, e as classes C1, C2, D e E consideradas de baixo nível socioeconômico. As entrevistas foram gravadas em áudio, transcritas e analisadas pelo pesquisador. O material derivado da transcrição e da análise preliminar foi encaminhado por email aos entrevistados com a finalidade de obter feedback dos participantes com respeito a apreciações de suas respostas. Todos os participantes assinaram o Consentimento Livre e Esclarecido. Os nomes utilizados para representar os participantes neste artigo são fictícios e a pesquisa que originou o presente trabalho foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Católica de Brasília, sob o número de protocolo: CEP/UCB: 13451013.9.000.00.029.

A análise e a interpretação dos dados ocorreram de forma interdisciplinar, tendo como base o método elaborado por Geertz (1988/2008), intitulado Descrição Densa ou Thick Description. Neste, pressupõe-se que a produção subjetiva ocorre com base na cultura enquanto "teia de sentidos" que, neste caso, trata-se da cultura das redes sociais de Internet, circunscrita no campo mais amplo da chamada Cibercultura. Partindo desse pressuposto, sinalizamos que, tal como propõe Geertz (1988/2008), as teorias nos servem para lançar luz por sobre alguns aspectos do fenômeno em questão, sendo a possibilidade de elaborá-las, de abandoná-las e de acrescentar novas teorias a um determinado objeto de estudo o maior desafio do pesquisador que, segundo Becker (1998/2007), não busca somente comprovar, mas tornar inteligível e explicar o que se pretende demonstrar.

Com o intuito de interpretar os dados sob essa perspectiva interdisciplinar, particularmente respaldada por teorias interpretativas, optou-se pelo estabelecimento de um diálogo entre referenciais teóricos provenientes da Psicanálise (Freud, 1914/1991, 1926/1976, Lacan, 1961-62) e da Antropologia Sociocultural (Geertz, 1988/2008; Godelier, 2014; De Certeau, 1988).

 

Resultados

Compartilhado por todos os segmentos, o consenso de que as redes sociais de Internet constituem uma nova modalidade de comunicação e de interação esteve presente em todas as narrativas. De forma unânime, os usuários entrevistados alegaram que vivenciam as redes sociais como nova forma ou nova modalidade de se comunicar e de interagir; uma maneira diferente, eficaz, imediata e mais econômica em relação aos outros meios de comunicação convencionais.

Embora não tenha havido discrepâncias significativas no que concerne às opiniões dos usuários dos diferentes segmentos de análise, as possíveis derivações dessa noção compartilhada por todos são as de que, ao utilizar as redes, "estamos mais em contato com os nossos amigos e parentes", "estamos em contato com mais pessoas", "podemos acompanhar a vida dos outros", "reencontramos pessoas", "estamos mais visíveis" e "temos mais facilidade para falar". Entre essas atribuições de sentido às redes sociais e aos seus efeitos, destaca-se a percepção de que elas são uma nova forma ou modalidade de interação e, portanto, diferem daquela considerada tradicional. O efeito dessa nova forma de comunicação e de interação prática, dinâmica e acessível adquire, por conseguinte, um sentido subjacente de socialização. Socializar-se, deste modo, tem grande relevância para as pessoas, pois, tal como considera Valentina, envolve poder ou não se comunicar e interagir:

[O Facebook mudou algo na sua vida?] A comunicação, porque, quando a pessoa não tem Face, ela não pode se comunicar com as pessoas que passam tempo juntas porque elas querem conversar, compartilhar. Por exemplo, eu conheci uma pessoa num evento que a minha mãe fez e eu adicionei ela no Face porque talvez nunca mais a gente se veja. [Como seria a sua vida sem o Facebook?] Chata. Poderia ser menos comunicativa.

Indo além das fronteiras de tempo e de espaço e da comunicação presencial, tal como relatou Valentina e também a literatura (Rosa & Santos, 2013), essa nova forma de comunicação e interação constitui-se uma ferramenta ou um dispositivo importante para os usuários no que se refere a estar em contato com os outros. Como resultado, o efeito derivado dessa prática social de interagir e de se comunicar pelas redes é o sentido subsequente de empoderamento e de aprendizagem.

O sentido de empoderamento, de forma geral, se refere ao fato de poder ver, de poder saber, de poder achar, de poder estar em contato, de poder se expressar, de poder influenciar e, consequentemente, de poder fazer atividades variadas. Destarte, o significado deste tipo de poder, na esteira dos sentidos atribuídos pelos entrevistados, desdobra-se em poder fazer e, por conseguinte, ser diferente daquilo se é e se faz na chamada vida off-line ou fora das redes. A partir desta constatação, evidenciou-se o incremento no capital social dos participantes (Ellison, Steinfield & Lampe, 2007; Recuero, 2005) e o advento de um sentido subsequente de aprendizagem. Este sentido de está relacionado com o aprimoramento das aptidões comunicativas e interacionais, bem como do capital social oriundo do suporte emocional e social que pode contribuir na inserção social dos usuários (Mendonça, 2007), tal como explicam, respectivamente, os entrevistados Gustavo e Verônica: "Antes, eu era tímido e não falava muito. Agora eu falo mais"; "Você começa a falar melhor porque você aprende palavras novas. Eu leio as frases e vejo palavra que eu não conheço, procuro significado e treino a pronúncia".

Os sentidos de empoderamento e de aprendizagem foram evidenciados com maior expressão nas narrativas dos usuários de níveis socioeconômicos mais baixos (classes C1, C2), especialmente, entre aqueles que nasceram depois da Internet e das redes sociais. Por outro lado, ainda no eixo de análise composto pelos núcleos de sentido explicitados - nova modalidade de comunicação e de interação, aprendizagem e empoderamento-, surgiu outro núcleo de sentido relevante no que diz respeito à produção subjetiva dos usuários das redes virtuais: o de vigiar.

O sentido de vigiar alude ao que se considerou vigiar e ser vigiado: uma modalidade de controle omnipotente do que fazem, do que pensam e do que dizem os contatos a respeito do usuário. Isto é, por saberem que estão sendo observados pelos demais usuários das redes, todos os participantes desta pesquisa entendem que, de certa forma, estão expostos e que é possível vigiarse mutuamente nas redes sociais. Neste contexto de análise, a literatura especializada demonstra, por um lado, que as redes sociais criaram uma noção ambígua da antiga dicotomia entre público e privado (West, Lewis & Currie, 2009) e que existe uma grande quantidade de informação pessoal publicada em sites como o Facebook, o que torna os usuários vulneráveis aos estigmas sociais (Nosko, Wood & Molema, 2010). Por outro lado, demonstra também que os participantes sentem medo da violência devido ao elevado nível de exposição (Rosa & Santos, 2014b) e que eles próprios utilizam estratégias para ter mais segurança e para se expor menos nesses ambientes (Livingstone, 2009). Apesar disso, poder vigiar os demais e ser vigiado por eles foi o que alegaram, de forma tácita, os entrevistados desta pesquisa. Essa evidência também foi observada de forma similar em uma entrevista-piloto realizada previamente à investigação que originou o presente trabalho, na qual a entrevistada Gisela explicou que as pessoas estão, o tempo inteiro, pensando no que pode ser reportado:

O Facebook muda a forma de relacionamento com o mundo e com as pessoas e, consequentemente, a sua forma de ser. Penso sempre no que pode ser publicado, estou ali, mas não estou, estou sempre pesando em reportar o presente ou em ser reportada. Parece uma vida mais superficial. Há coisas que são para serem vividas e não para serem reportadas. As pessoas estão o tempo todo pensando no que pode ser reportado [...] Todo esse desdobramento on-line talvez me influencie nas minhas escolhas, [no] como vou aparecer. (grifo nosso)

Aparecer e ser reportado, em suas palavras, tonam-se características que podemos analisar como a síntese e a antítese do que seria uma aparição espontânea, pensada e até proposital, por um lado, e uma aparição inusitada, desavisada e até forçada, por outro. Com efeito, em uma espécie de panoptismo (Foucault, 1975/2014), os entrevistados relatam que se percebem vigiados e vigiadores em um ambiente onde supostamente pode-se controlar o que será visto. Percebe-se, neste ponto, uma sutil diferença entre esse modo de vigiar e o controle da chamada sociedade de controle (Deleuze & Parnet, 1977/2004), uma vez que a autonomia dos usuários lhes adjudica um sentido que vai além do mero vigiado ou controlado.

No transcorrer das entrevistas, os participantes relataram que no ambiente das redes eles têm maior autonomia para vigiar os outros usuários e para coibir os supostos vigiadores utilizando as opções de privacidade e evitando postar o que não querem. Todavia, a qualquer momento, alguém pode realizar um comentário não desejado, e os usuários podem também, a despeito de suas vontades, figurar nas redes sociais alheias em fotografias, em compartilhamentos e em comentários. Por isso, o sentido de ser vigiado e de poder vigiar os demais sobrevém sob a concepção de visibilidade constante de si mesmo, como menciona Claudio:

Com o Facebook, mesmo eu sendo um pouco mais regrado em questão de comentários e postagens... ele me deu mais visibilidade. Visibilidade das pessoas com relação a mim, sim. De mim em relação às pessoas também.

Diante dessa constatação, pode-se observar que o sentido de vigiar e ser vigiado engendra uma noção de visibilidade e varia entre os segmentos de análise; no entanto, as mulheres, em geral, demonstraram maior interesse em saber da vida de amigos, de familiares, de parceiros românticos e sexuais e até de desconhecidos pelas redes sociais. Os homens, por seu turno, apresentaram maior interesse em não expor suas vidas pessoais nas redes e, eventualmente, em saber mais a respeito da vida dos demais. Sendo assim, corroboramos a maior prevalência do sentido de poder vigiar nas participantes do sexo feminino e de ser vigiado nos participantes do sexo masculino. Não obstante essa evidência, não se pode descartar a possibilidade de que haja possíveis variações entre homens e mulheres no que concerne a tenderem mais a vigiar ou a se sentiremse vigiados devido aos interesses e às finalidades pelas quais cada usuário, em particular, utiliza as redes sociais (Rosa & Santos, 2014a). Em que pese essa possibilidade de variação entre vigiados e vigiadores, o sentido de vigiar, compartilhado por todos, não é alterado em sua concepção mais ampla.

Com menor incidência nos relatos dos entrevistados, houve um núcleo de sentido derivado da noção de perda de tempo, tal como um suposto risco de inversão do tempo produtivo e do tempo de socialização por causa do uso cotidiano das redes. Por um lado, uma participante alegou que "sente necessidade" de estar conectada permanentemente às redes sociais e que isso afeta a sua vida pessoal. Pelo outro, um entrevistado mencionou o risco de se construírem "barreiras" para os relacionamentos presenciais por consequência do tempo que as pessoas dedicam às redes sociais. Tal como um desejo irresistível de usar a rede (Fortin & Araújo, 2013), esse núcleo de sentido assumiu conotações negativas, sobretudo, ao significar o distanciamento das pessoas com as quais se interage no cotidiano (Turkle, 2011) e a deturpação do laço social em decorrência do fenômeno da aceleração do tempo, provocado pelas novas tecnologias (Virilio, 2000). Ainda que sem consenso entre os usuários entrevistados, esse sentido de perda de tempo emanou de maneira discreta nas respostas e teve uma maior explicitação através da seguinte narrativa de Mariana: "Eu viveria sem. Mas tem gente viciada, não consegue ficar nem uma hora sem entrar, isso é um vício". Considerando que, embora os participantes desta pesquisa não tenham enfatizado a questão do vício, esse é um tema delicado e que requer uma análise mais acurada. Assim, cumpre assinalar a relação indireta entre o "desejo irresistível de estar conectado" e a utilização compulsiva do computador, do celular e da Internet (Razzouk, 1998).

Por fim, ainda no eixo de análise composto pelos principais núcleos de sentido já abordados neste estudo - nova modalidade de comunicação e de interação, aprendizagem e empoderamento, vigiar e ser vigiado-, advém mais um núcleo de sentido relevante da produção subjetiva dos usuários das redes virtuais. Presente nas narrativas dos participantes, ele demarca um novo manancial a ser explorado pela Psicologia e converge com a concepção de empoderamento, embora se distancie da vertente de sentidos do vigiar e ser vigiado. Esse novo núcleo é o que chamaremos elaboração psíquica. Elaboração porque alguns participantes mencionaram utilizar as redes não somente como uma via de livre autoexpressão ou até mesmo como uma "válvula de escape", como relataram alguns deles, mas, também, como um recurso que lhes permite elaborar conflitos e dificuldades que possuem e que são reconhecidas por eles mesmos como próprias.

A noção de elaboração psíquica deriva do sentido de empoderamento, o qual se refere, grosso modo, a poder ir além das possibilidades da vida off-line, e adquire o sentido de poder não apenas afrontar as situações difíceis e os dramas vitais, mas também elaborar aspectos que geram conflitos internos, como bem elucida Rafaela:

Mas isso me ajudou a elaborar. Isso porque tenho dificuldade de sentir a idade que tenho, até porque eu não aparento ter essa idade, sempre aparentei ser mais nova. Bom, e postando essa contagem regressiva eu consegui elaborar e me senti preparada.

Rafaela, entre o que supostamente aparenta ter e o que sente, expressa a sua vivência de elaboração, como ela mesma a denominou. Elaboração, neste caso, pode ser pensada como reedição e, de certa forma, como tramitação de conteúdos internos ou, em outras palavras, de índole psíquica. No caso de Rafaela, o fato de haver podido trazer esse conflito à tona, dar-se conta do que ele implica e interagir com os demais usuários na rede lhe propiciou o que ela mesma chamou de elaboração. Como resultado, ela pôde se sentir preparada para lidar com as suas dificuldades.

Um caso similar, porém mais vinculado ao desencadeamento de um conflito devido a situações difíceis e ao luto, é o da entrevistada Joana. Em suas palavras, Joana mencionou como a utilização da rede a ajudou a elaborar o luto em duas situações diferentes:

[Você mencionou antes que, de alguma forma, o Face te ajudou a elaborar o luto. Como foi isso?] Elaboração de luto porque não é só o belo... isso de a ‘vida é bela' tem o drástico também. Eu tive que fazer uma cirurgia e eu tinha que elaborar que eu tinha que ficar quieta vinte dias de cama, tendo um sol escaldante lá fora. Isso porque eu não podia nem me mexer, e as pessoas só postam no Facebook biquíni, praia e caipirinha. Então, me dava muita agonia entrar no Face. Eu tive que elaborar isso. Outra situação foi a da morte do meu irmão. Foi uma morte drástica, inesperada, ninguém imaginava. Sabe aquele negócio ‘crônica de uma morte esperada' que, na verdade não foi tão esperada, mas, sim? Bom, ele morreu, e eu, brasileira, já viu né?!Tive que passar oito horas no I.M.L. para reconhecer o corpo dele e não podia sair porque senão eu perderia o serviço de funerária que tinha contratado. Daí, as pessoas, pelo Facebook, perguntavam se eu precisava de alguma coisa, manifestavam apoio, solidariedade. Depois, na missa de sétimo dia, eu fiz uma homenagem a ele. Fiz um levantamento fotográfico e subi um monte de foto no Face para mostrar para as pessoas que ele tinha filhos, que era um bom pai. Depois, a minha sobrinha me pediu para que eu postasse uma carta que ela tinha escrito para ele. Tudo isso foi muito bacana, me ajudou muito. Então, eu acho que é isso. Tem o lado do belo, do lúdico, mas também do drástico e do apoio, da solidariedade. Isso te faz sentir segura, ancorada.

Sentir-se segura e ancorada diante de situações de luto e nas quais se deve renunciar a fazer o que se quer, como mencionado por Joana, tem relação com o que se concebe como elaboração de conflitos psíquicos. Não menos importante, ela ressalta o apoio e a solidariedade de seus contatos nas redes sociais, bem como a utilidade de postar fotos e cartas em momentos de dificuldade. Neste contexto, a diversidade de sentimentos expressos por meio das redes permite aos seus usuários tratarem de assuntos e tabus até então privados e que dificilmente são tratados abertamente, como a morte e o processo de morrer (Bousso, Ramos, Figueiredo, Santos & Bousso, 2014). Sendo assim, surge um novo campo de estudos sobre as redes sociais que requer não apenas de mais investigações, mas, sobretudo, de uma presença eminente da Psicologia.

 

Discussão

As ferramentas das redes sociais de Internet permitem que os usuários efetuem diversas atividades e desfrutem de seus benefícios. Contudo, após a análise dos principais sentidos atribuídos pelos participantes desta pesquisa às repercussões dessas redes em suas vidas e na subjetividade, destaca-se, primeiramente, a noção subjacente de que há maior visibilidade no que diz respeito às pessoas. Procedente do núcleo de sentido vigiar e ser vigiado, a concepção de que estamos expostos e de que, a qualquer momento, podemos figurar nas redes sociais, permeia grande parte das atividades realizadas tanto no ambiente das redes como na chamada vida off-line. Do mesmo modo, a opção de controlar essa visibilidade, estabelecendo táticas para regular a exposição pessoal, também emerge como uma característica relevante para analisar as implicações desses efeitos na subjetiva contemporânea.

Partindo do pressuposto de que cada pessoa escolhe o que vai publicar sobre si mesmo e, portanto, tende a selecionar aspectos próprios considerados positivos de acordo com as circunstâncias, com as pessoas e com os interesses envolvidos nas interações mediadas pelas redes (Rosa & Santos, 2013, 2014a), pode-se asseverar que a visibilidade ou a exposição em relação ao que os usuários pensam, sentem e fazem ocorre por meio de textos, imagens e vídeos selecionados. Sendo assim, a partir do momento em que a pessoa se representa (Goffman, 1975/2009) a si mesma na rede como usuário numa rede social, ela "estetiza" a sua apresentação e as suas interações pelo fato de que ela pode selecionar o que expõe sobre si mesma e, portanto, pode escolher o que melhor lhe convém expor. Embora exista a também possibilidade de que haja interferências nessas interações e de que alguns aspectos omitidos possam vir à baila, entre mostrar e esconder, ver e comentar, infere-se que o processo de negociação de identidades nas redes sociais culmina com o fenômeno da estetização do self. Isto é, na medida em que os textos, as imagens e os vídeos postados passam a representar os usuários que se autoapresentam e que interagem entre si, há uma estética da existência no ambiente virtual das redes. Estética essa que revela o que acontece no universo relacional e, consequentemente, intersubjetivo dos usuários.

No plano simbólico, pode-se interpretar que, de modo geral, as representações efetuadas nas redes se convertem em um conjunto de meios e de processos através dos quais as realidades imaginárias podem se encarnar em realidades materiais e em práticas, o que lhes confere um modo de existência social manifesta e visível (Godelier, 2014). Ou seja, além de oferecer suporte audiovisual para se poder estar e interagir nas redes, o fenômeno da estetização do self, sob esta perspectiva, vincula os participantes entre si e engendra um processo dialético de produção subjetiva que pode vir a ratificar, a retificar ou simplesmente a propagar o que se publica nesses ambientes. Com efeito, esse fenômeno pode vir a ser positivo ou negativo no que concerne à subjetividade dos usuários porque, tal como relataram os entrevistados, a estetização do self pode engendrar o empoderamento, o processo de aprendizagem, a elaboração psíquica ou, então, fomentar o distanciamento das pessoas com as quais se interage presencialmente, a perda de tempo e até mesmo condutas compulsivas, como é o caso do "vício".

Seguindo por essa linha de raciocínio, ao propiciar um modo de existência social manifesta e visível para o mundo intersubjetivo dos usuários, sobrevém a condição de possibilidade de que haja alteração na subjetividade, ou seja, de que o ser possa acontecer e converter-se em outro sem deixar de ser si mesmo, em que pese a perda de certo número de qualidade e a aquisição de outras (Hornstein, 2013). Nesse sentido, a elaboração psíquica de conflitos internos e de situações difíceis por intermédio da utilização das redes sociais de Internet é, de fato, uma novidade esplendorosa para a Psicologia na atualidade. Todavia, a partir desta constatação, sobrevém um questionamento inevitável: será, realmente, possível elaborar conflitos psíquicos e situações difíceis por meio da utilização de redes sociais de Internet?

Segundo Freud ([1926]/1976), conflito psíquico, lato sensu, refere-se à existência de exigências antagônicas que podem gerar inibições, sintomas e angústia. Para elaborá-los, nesta perspectiva, é preciso ter acesso ao material inconsciente que permita ao sujeito repetir, recordar e elaborar (Freud, 1914/ 1991).

Destarte, os resultados obtidos nesta pesquisa ratificam que o fenômeno da estetização do self no ambiente das redes constitui-se em receptáculo ou em imagem contendedora que pode trazer, à baila, certos elementos não ditos, não percebidos e, inclusive, inconscientes de um suposto telespectador emancipado (Rancière, 2012). Esses elementos, ao serem visualizados e ao entrarem em contato com a interferência causada pelos outros usuários, podem trazer, consigo, aspectos ocultados, despercebidos e até dissimulados. E, a partir do momento em que o sujeito entra em contato com esses aspectos através da visualização dos mesmos no ambiente virtual das redes, torna-se possível, portanto, o acesso ao material inconsciente.

Com uma perspectiva similar, a teoria lacaniana postula que a elaboração psíquica ocorre por meio da expressão da possibilidade de equívoco; de que aquilo que havia permanecido fora da cadeia de significantes encontre um lugar metafórico ou metonímico e possa, então, dar lugar a uma dimensão discursiva do desejo e frear o gozo absoluto (Lacan, 1961-62/2003). Nesse sentido, inferese que a expressão dos sujeitos nas redes sociais pode acrescentar um plus de prazer que, ainda que possa ser considerado por algumas pessoas como superficial ou alienante, pode vir a conter o impulso thanático que visa à descarga total (Moreira, 1995). Desse modo, tal modalidade de expressão, que envolve a apresentação e a interação nesse ambiente das redes, pode oferecer um suporte para a elaboração de dificuldades pessoais, de luto e de situações difíceis. Não seria inverossímil nem tampouco ingênuo pensar dessa forma. Pelo contrário, diante do exposto, ressalta-se que: esses são os primeiros indícios da condição de possibilidade de que as redes sociais sejam consideradas também como "um lugar de escritura" (Lacan, 1961-62/2003). Um lugar de onde emana a condição de possibilidade de equívoco, de affectio, e, por conseguinte, de repetir, recordar e elaborar.

Em síntese, ao considerar que, por um lado, a autopoiesis do corpo social tem tanta importância quanto o maquinário interno e, por outro, que as aparências operam como o pivô em torno do qual vai se ordenar em círculos concêntricos toda a vida social (Maffesoli, 1996/2010), pode-se concluir afirmando que a estetização do self é um fenômeno propulsor da produção subjetiva na atualidade. Sendo assim, cabe à Psicologia desvelar e compreender a configuração do aparelho psíquico do sujeito contemporâneo, cujos primeiros indícios foram demonstrados por Nicolaci-da-Costa (2005). Nesse sentido, o presente trabalho contribui com a introdução de dados empíricos relevantes e com uma fundamentação teórica consistente para afrontar os desafios hodiernos.

 

Considerações finais

A subjetividade tornou-se visível e articulada. Será desmedido pensar assim? Alguns a pensaram como privatizada (Sennet, 1977/1999; Adorno, 1987/1983). Porém, no presente trabalho evidenciou-se que a subjetividade contemporânea converteu-se em publicada. Pensamentos, sentimentos e atos são transvestidos em postagens: mensagem de textos, fotos, vídeos e comentários. O universo intersubjetivo do ser humano atravessou algumas barreiras de tempo e de espaço e, como resultado, o "material" procedente desse atravessamento, agora, se fez evidente. Exemplos desse fenômeno foram oferecidos pelos entrevistados nesta pesquisa. Assim, ainda que se duvide dessa asserção, não se pode negar que, ao se sentirem vigiados e vigiadores, os participantes revelam o fato de que, ao invés de enclausurados, eles se veem e se percebem como expostos. Expostos a todos e a eles mesmos. Esse fato é irrefutável. Embora exista a possibilidade de abster-se e de permanecer na "surdina", uma simples foto capturada e postada nas redes ou um comentário realizado neste ambiente pode "transportar" o sujeito diretamente para lá.

Uma vez inserida no ambiente virtual das redes sociais, a subjetividade contemporânea se presta às mais variadas mutações, cujos verdadeiros articuladores dessas transformações são as pessoas que interagem no dia-a-dia. Deste modo, torna-se previsível que cada sujeito possa vir a vivenciar essas transformações com angústia ou com regozijo no interior de seu psiquismo. No entanto, o que é realmente inovador para nós, os seres humanos, é o fato de que esse fenômeno tem a capacidade de fomentar o desenvolvimento de afecções ou a elaboração de conflitos psíquicos. Portanto, é fundamental compreender como esses efeitos na subjetividade contemporânea podem implicar desafios para a Psicologia em seus diferentes âmbitos de atuação, tais como o clínico, o educacional e o social. Nesse sentido, vale ressaltar que principal limitação no momento de afrontar esses desafios é a escassez de referencial teórico que, embasado em investigações empíricas e em sólida fundamentação conceitual, respalde a prática cotidiana dos psicólogos que exercem o nobre ofício de lidar com as pessoas no mundo contemporâneo.

 

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Recebido: 02/07/2015 / Corrigido: 09/07/2015 / Aceito: 10/07/2015.

 

 

1 Doutor e mestre em Psicologia pela Universidade Católica de Brasília. Especialista em Psicologia clínica pelo Conselho Federal de Psicologia. É Professor Titular na Faculdade de Psicología e de Psicopedagia da Universidad del Salvador, em Buenos Aires-Argentina. Contato: 25 de mayo 675 "B", Vicente López, CEP: 1638, Buenos Aires-Argentina, Telefone: (00XX54911) 5108-8178. E-mail: gabriel_marra@hotmail.com

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