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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

versão impressa ISSN 1415-711X

Bol. - Acad. Paul. Psicol. vol.36 no.90 São Paulo jan. 2016

 

TEORIAS, PESQUISAS E ESTUDOS DE CASOS

 

 

Significados e influências do Facebook na rede relacional de adultos

 

Meanings and influences of Facebook in the relational network of adults

 

Significado e influencia del Facebook en la red relacional de adultos

 

 

Elizabele Maria Sobrinho1; Maria Cristina Antunes2; Ana Claudia Nunes de Souza Wanderbrook3

Universidade Tuiuti do Paraná- Curitiba, PR

 

 


RESUMO

Este estudo tem como finalidade analisar o significado do Facebook e como esta ferramenta influencia a rede de relações de adultos. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com 10 usuários (5 homens e 5 mulheres) com idade entre 41 e 59 anos. São realizadas entrevistas semiestruturadas e os resultados submetidos à análise de conteúdo com base em três categorias: características do uso, significados do Facebook e influências nas relações sociais. Conclui-se que para os entrevistados, o Facebook significa ter notícias das pessoas da sua rede relacional na vida real, possibilitando o contato, sendo também uma forma de liberdade de expressão, entretenimento e recordações. Verificase através das narrativas uma preocupação com a superficialidade das relações, o uso do tempo e a privacidade. Na perspectiva dos participantes, a utilização do site impacta positivamente nos relacionamentos.

Palavras-chave: Facebook, redes sociais, comunidade virtual, pesquisa qualitativa.


ABSTRACT

This study analyzes the meaning of Facebook and how it influences the Adults' relations network. A qualitative study was conducted with 10 Adult Facebook users (5 men and 5 women), aged between 41 and 59 Years. It was conducted through semi-structured interviews and the results submitted to content analysis. Data analysis was based on three categories: features of the use, Facebook meaning, and influences on social relationships. In conclusion, for the participants, Facebook means to have news from people of your relational network in real life, enabling contact, and is also a form of freedom of expression, entertainment and memory recall. It was found through the narrative a concern about the superficiality of relations, the use of time and privacy. From the perspective of the participants, Facebook has a positive impact on relationships.

Keywords: Facebook, social networks, online community, qualitative research.


RESUMEN

Este estudio tiene como objetivo analizar el significado del Facebook y cómo ésta herramienta impacta la red de relaciones de los adultos. Se trata de una investigación cualitativa, con 10 usuários (5 hombres y 5 mujeres) con edades comprendidas entre 41 y 59 años. Son realizadas entrevistas semi- estructuradas y los resultados fueron sometidos a análisis de contenido basado en tres categorías: características del uso, significado del Facebook e influencias en las relaciones sociales. En conclusión para los entrevistados, Facebook significa tener noticias de las personas de su red de relaciones en la vida real, permitiendo el contacto, también es una forma de libertad de expresión, entretenimiento y recuerdos. Es verificado a través de las narraciones preocupación con la superficialidad de las relaciones, el uso del tiempo y la privacidad. Desde la perspectiva de los participantes, el uso del Facebook impacta positivamente en las relaciones.

Palabras clave: Facebook, redes sociales, comunidad virtual, investigación cualitativa.


 

 

Introdução

No século XXI, com o advento da internet, novas formas de relacionamento vêm se configurando. No Brasil, a internet tem modificado os hábitos culturais dos brasileiros e as redes sociais de relacionamentos nela apoiadas ganham cada vez mais adeptos. Segundo o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE, 2013), o acesso à internet atingiu 102,3 milhões de pessoas no segundo trimestre de 2013. A maior parte dessa navegação é feita em sites de redes sociais e o Facebook vem se destacando, já atingindo em agosto de 2011, 68,2% dos internautas que acessam a internet no trabalho e em domicílios (IBOPE, 2011). De acordo com esses números, pode-se observar que o Brasil se consolida como um mercado com elevada utilização dos sites sociais. Neste mesmo período (agosto de 2011), cada usuário brasileiro de redes sociais conectou-se a esses sites em média 7 horas e 14 minutos por mês.

De acordo com Barbosa e outros (2010), a internet hoje em dia é uma rede de comunidades que permite a formação das redes sociais de relacionamento. Estas propiciam o compartilhamento de ideias e de valores entre pessoas e organizações que possuem interesses e objetivos comuns, sendo importante instrumento de participação e de mediação no diálogo social e político estabelecido em diferentes planos da vida social: individual, social, governamental e empresarial. A interação social visa construção coletiva, à mútua colaboração, a transformação e compartilhamento de ideias em torno de interesses comuns dos atores sociais que as compõem. A internet potencializa o poder dessas redes, devido à velocidade da divulgação e absorção de ideias entre os usuários que participam da rede.

Segundo Recuero (2010), uma rede "é uma metáfora para observar os padrões de conexão de um determinado grupo social, a partir das conexões estabelecidas entre os diversos atores" (p. 24). Esta abordagem de rede denota seu foco na estrutura social, onde não é possível isolar os atores sociais e nem as conexões efetuadas. As redes sociais no mundo virtual possuem elementos característicos, que servem de base para que a rede seja percebida e as informações sobre elas sejam apreendidas. Para isso, é preciso analisar os atores, representados pelos nós (ou nodos) e as conexões que são constituídas dos laços sociais formados através da interação social entre os atores. De acordo com a autora, as conexões são o principal foco de estudo das redes sociais, pois a variação destas conexões é que alteram as estruturas desses grupos.

As redes sociais na internet possibilitam fazer uso da comunicação mediada pelo computador para criar novos laços ou manter os já existentes. A rede está centrada principalmente nos atores sociais, ou seja, em pessoas com desejos, aspirações e interesses, que têm papel ativo na formação de suas conexões sociais. Neste sentido, os sites de redes sociais atuam como suporte para as interações, mas não são por si só redes sociais. São apenas sistemas que facilitam a interação. São os atores sociais, que utilizam essas redes, que as constituem e as formam.

Para Lemos (2004), a internet criou uma revolução sem precedentes na história da humanidade. Pela primeira vez o homem pode trocar informações de diferentes formas, de maneira instantânea, fazendo com que a ideia de aldeia global se tornasse uma realidade. Segundo Castells (2003), a internet é um meio que permite a comunicação em uma escala global. A tecnologia da informação é hoje o que a eletricidade foi na era industrial. A era da informação tem a internet como base tecnológica, formando o que chamamos de rede. Estas redes podem ser compreendidas como um conjunto de nós interconectados. A formação de redes é uma prática humana antiga, mas as redes ganharam nova vida na contemporaneidade.

De acordo com Leitão e Nicolaci-da-Costa (2000), o uso comercial da internet se intensificou no Brasil em 1995. Milhões de pessoas, além de trabalhar on-line, começaram a designar algumas horas de seu lazer, utilizando os computadores para pesquisar e "bater papo" através da rede.

Em 2009 foi realizada no Brasil uma pesquisa sobre o uso das tecnologias de comunicação e informação nos domicílios em áreas urbanas e rurais, com indivíduos a partir dos 10 anos (Barbosa e outros, 2010). Foram entrevistados 21.500 pessoas, para analisar os hábitos de "navegação" e utilização da web, e foi analisado o perfil de 6.737 "internautas" que declararam participar de redes sociais na internet. Observou-se que 43% dos entrevistados de regiões urbanas são usuários de Internet e apenas 18% nas regiões rurais; concentram-se mais na faixa etária entre 10 e 24 anos; 87% daqueles que tem nível superior usam a Internet e apenas 36% do com ensino fundamental; pessoas das classes A e B acessam mais a Internet do que aquelas das classes D e E. Essas redes foram classificadas por três diferentes tipos de atividades desenvolvidas na web: participação em sites de relacionamento, participação em fóruns e listas de distribuição, criação e atualização de blogs. A pesquisa constatou que a participação em redes sociais na internet cresceu de forma significativa no Brasil entre 2005 e 2009. A participação em sites de relacionamento era a atividade mais realizada pelos brasileiros e era a principal responsável pela expansão das comunidades virtuais na internet, aumentando de 22% dos internautas que utilizavam tais sites em 2005, para 67% em 2009.

Entre os sites de relacionamento, o Facebook é o mais comumente utilizado. Conforme Fonseca (2010), o Facebook foi criado em 2004, por Mark Zuckerberg, aluno de Harvard University. Inicialmente estava disponível apenas para estudantes da própria universidade, expandindo-se mais tarde para outras universidades americanas. Em 2005 com a empresa Facebook já constituída, foi possível disponibilizar o uso ao público geral, estando hoje ao alcance de qualquer pessoa com acesso à internet. O Facebook é uma plataforma de comunicação on-line, caracterizada pela mídia como rede social, que tem como objetivo promover o contato entre os atores sociais nela inseridas. Por intermédio deste site, os atores podem trocar mensagens com objetivos variados. O programa é caracterizado por uma multiplicidade de possibilidades de interação: lúdicas, profissionais, políticas e de cidadania.

De acordo com o Facebook (2012), a plataforma oferece os seguintes recursos: mural, feed de notícias, central de mensagens privativas, "bate-papo" on-line, chamada de vídeo, assinar páginas de pessoas que não sejam amigos, curtir o conteúdo que os amigos publicam ou uma página, cutucar seus amigos, usar jogos e aplicativos, compartilhar fotos e vídeos, compartilhar sua localização, organizar eventos e grupos de discussão.

O Facebook, segundo Kirkpatrick (2011), é o segundo site mais visitado do mundo, ficando atrás apenas do Google e já opera em 75 idiomas. Segundo o Socialbakers (2013), o Facebook em janeiro de 2013 tinha 981.438.160 usuários no mundo, sendo 143.047.640 na América do Sul, especificamente no Brasil 65.301.560 usuários, sendo 54% de mulheres e 46% de homens. Quanto à idade, 32% estão entre 18-24 anos, 28% entre 25-34 anos, 14% entre 35-44 anos, 8% entre 45-54 anos, 7% entre 16-17 anos, 7% entre 13-15 anos, 3% entre 55-64 e 1% acima de 65 anos.

O Facebook está unindo o mundo. Tornou-se uma abrangente experiência cultural partilhada por pessoas em todo o planeta, especialmente jovens.(…) Ele muda a forma como as pessoas se comunicam e interagem, como os comerciantes vendem seus produtos, como os governos chegam aos cidadãos e até como as pessoas operam. Está alterando a natureza do ativismo político e, em alguns países, está começando afetar o processo da própria democracia. Já não é apenas um brinquedo para estudantes universitários (Kirkpatrick, 2011, p. 24).

Segundo Kirkpatrick (2011), o Facebook nunca pretendeu substituir a comunicação face a face, pois é um site de relacionamento concebido e projetado para incrementar a interação entre as pessoas. Os efeitos do Facebook estão refletidos no cotidiano, tornando a comunicação mais eficiente, cultivando a familiaridade e aumentando a intimidade entre os seus usuários. É uma plataforma on-line que se baseia na verdadeira identidade das pessoas, não é um espaço para o anonimato, identidades falsas e pseudônimos, o que muitas vezes valida a veracidade das informações e a identidade da pessoa é a sua lista de amigos e neste processo de validação circular o usuário precisa então, usar o seu nome real.

Apesar de os sites de relacionamento terem o seu uso associado a pessoas mais jovens, sabe-se que cada vez mais pessoas adultas vem utilizando esta ferramenta para o trabalho, lazer e relacionamentos sociais. Desta forma, esta pesquisa tem como objetivos identificar os significados atribuídos ao facebook e quais as influências percebidas na sua rede relacional a partir da utilização da ferramenta. Optou-se por estudar o uso do Facebook por pessoas adultas uma vez que, para as pessoas nesta faixa etária, outras formas de relacionamento antes do surgimento da internet e das redes sociais virtuais foram usuais; portanto, os pareceres poderão ter caráter comparativo, além de oferecer a possibilidade de compreender como o uso desta ferramenta vem influenciando os relacionamentos nesta etapa da vida.

 

Método

Participantes

Esta pesquisa contou com a participação de 10 usuários do Facebook de uma Capital da região sul do Brasil, sendo 5 homens e 5 mulheres, com idade igual ou superior a 35 anos, escolhidos por conveniência.

Participaram dez pessoas de ambos os sexos, com idades entre 41 e 59 anos. Com relação ao estado civil, sete eram casados e três separados. Nove participantes possuíam curso superior completo (alguns com mestrado e doutorado) e um superior incompleto. Quanto à profissão, observou-se que alguns eram administradores de empresa, consultor empresarial, humorista e colunista, empresário, estudante e professor universitário (Tabela 1).

Instrumento

Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, com um roteiro voltado para as seguintes questões: levantamento de dados sociodemográficos, o tipo de utilização do Facebook, significados do Facebook, influências nas redes de relações e vantagens ou desvantagens do uso da ferramenta.

Procedimentos

O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Sociedade Evangélica Beneficente de Curitiba. Após sua aprovação, o estudo foi realizado com um delineamento transversal, com uma única coleta de dados através de uma entrevista qualitativa. Foi realizada uma amostra de conveniência, selecionando os participantes para a entrevista. A ideia inicial era que cada participante indicasse um amigo da sua rede de relações para participar da pesquisa e assim sucessivamente até que fossem entrevistadas 10 pessoas. Foram encontradas algumas dificuldades em realizar a pesquisa dessa forma, pois as pessoas demonstraram uma certa resistência e constrangimento ao indicar alguém. Sendo assim, uma das pesquisadoras escolheu aleatoriamente os outros participantes a partir de sua rede relacional e fez o convite via Facebook e telefone, até completar um total de 10 entrevistados, de ambos os sexos. As pessoas convidadas responderam prontamente, demonstrando interesse e curiosidade em participar da pesquisa. As entrevistas foram realizadas em local escolhido pelos participantes, em um único encontro e percorreu os seguintes passos: convite conforme os critérios de inclusão; obtenção da assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido para participar da pesquisa, preconizando o anonimato e o sigilo; realização de entrevista semiestruturada, gravada com autorização prévia do participante.

Instrumento e Análise de Dado

As entrevistas foram integralmente transcritas e submetidas à técnica de análise de conteúdo. Os passos da análise seguiram a orientação de Bardin (2011): 1) Pré-análise, foi realizada a organização do material a ser analisado, feito a leitura flutuante e elaborado os indicadores para a interpretação dos dados. Na presente pesquisa, os indicadores foram estabelecidos com base nos objetivos do estudo. 2) Exploração do material, nesta fase de categorização, o conteúdo das entrevistas foram agregados em unidades correspondentes que permitiram a descrição de suas características. As categorias analisadas foram: características do uso em relação ao Facebook; significados do Facebook; influências do Facebook nas relações sociais. 3) Tratamento dos resultados e interpretação, os dados de cada categoria foram discutidos com base na literatura.

 

Resultados e Discussão

No momento que as entrevistas ocorreram, os participantes faziam uso do site de relacionamento Facebook entre sete meses e três anos, o que denotou uma certa familiaridade com a ferramenta. O tempo médio de utilização do site variou bastante, a maioria (seis participantes) utilizou várias vezes ao dia, todos os dias, e ficaram conectados de vinte minutos a cinco horas ou mais. Alguns afirmaram que realizavam outras atividades ao mesmo tempo em que permaneciam on-line.

De acordo com os entrevistados, o número de amigos adicionados no Facebook variou de 140 a 5.000 pessoas, que é a capacidade máxima possível. Os critérios para a escolha dos amigos será explicitado mais adiante, no decorrer da análise. Todos os participantes disseram usar o Facebook principalmente para entretenimento, ou seja: reencontrar pessoas, saber notícias dos amigos e da família, e lembrar de aniversários. Apenas três usuários, além do entretenimento utilizavam também para divulgação profissional. As ferramentas que mais faziam uso no site eram e-mail, escrever no próprio mural e no dos amigos, postar fotos, bate-papo on-line, curtir e comentar as publicações de pessoas da rede e compartilhar músicas, poemas, fotos, citações e links de interesse com os amigos. Somente dois entrevistados faziam uso de jogos.

 

 

As entrevistas indicam que maioria dos participantes da pesquisa (oito pessoas) soube da existência desta plataforma tecnológica por meio de seus amigos e familiares. Curiosidade, motivação profissional, divulgação de blog, convites, encontrar pessoas conhecidas, muitos parecem ser os motivos pelos quais os atores sociais ingressaram no site. Sum, Mathew, Pourghasem e Hughes (2008) da Universidade de Sidney, realizaram uma pesquisa com 222 pessoas com idade superior a 55 anos sobre o uso da internet, capital social e bem estar. Os respondentes relataram usar a internet para várias finalidades como: busca de informação, entretenimento, compras pela internet (comércio eletrônico), comunicação e encontrar novas pessoas. O uso da internet permite que os usuários mais velhos se socializem sem restrição de fronteiras, mobilidade ou restrições físicas. As pessoas além de criar novos relacionamentos através da comunicação mediada pelo computador, também importam relações pré-existentes para o mundo virtual. Os resultados do estudo revelaram que o uso da internet diminui a solidão quando usada para busca de informações e comunicação, porém quando os adultos tentam utilizar a internet para conhecer novas pessoas, parecem sentir-se ainda mais solitários. Conclui-se, então, que os usuários nesta faixa etária que mais tiram proveito do uso da internet são os que utilizam esta tecnologia para apoiar as amizades já existentes.

Quando foi perguntado o significado do Facebook, os entrevistados associaram as seguintes palavras: contato, conexão, notícias, relacionamento, interação, informação, atualização, liberdade de expressão, encontro, amigos, família, ferramenta nova de relacionamento, entretenimento e recordações. A partir das narrativas, podemos agrupar as falas em cinco categorias quanto à motivação para uso: notícias, contato (relacionamento), liberdade de expressão, entretenimento e recordação.

De acordo com Lemos (2004), as comunidades virtuais propiciam agregação de pessoas, em torno de interesses comuns, independente de fronteiras ou demarcações territoriais fixas. Neste contexto, a rede pode agregar pessoas independentemente de localidade geográfica, formando coletivos mesmo que as pessoas vivam em cidades e culturas bem distintas. Criam-se assim territorialidades simbólicas. Na fala desta protagonista o que chama atenção é o sentir-se pertencendo a uma comunidade, que neste contexto chamamos de comunidade virtual:

É... uma maneira de eu dizer assim: ó, estou aqui também. Né? Pertenço é... é um posicionamento, né... você tá se posicionando ali, você acaba colocando sempre o melhor de si, né? Então você coloca... você coloca que fez uma viagem... aí as pessoas: ai, que legal... Enfim, é meio futilidade também, né? (usuário 2).

A narrativa de um dos participantes traz o espaço virtual como um facilitador para a liberdade de expressão, lugar onde é possível manifestar opiniões, ideias, pensamentos e compartilhar informações:

Primeira coisa que me vem à mente no Facebook é a liberdade de expressão. O Facebook, pra mim, permite que eu... mostre aquilo que eu sou, do jeito que eu sou... sem restrições. É... Não acho que isso seja um conceito genérico, né, pelo contrário, mas... eu acho que as redes sociais, independente se é o Facebook ou não, elas vieram pras pessoas que não têm o que esconder. É... ainda que ela seja utilizada muito mais pra personas do que por pessoas, né... é... você não vai conseguir enganar todo mundo o tempo todo. Então, mais cedo ou mais tarde, se você utilizar uma rede social de maneira equivocada... é... você tá simplesmente ampliando, é... exponencialmente o teu risco de frustração, de julgamento, de queda, de depressão e n outras coisas (usuário 7).

Segundo Lévy (1996), a palavra virtual vem do latim medieval virtualis, denota virtus, força, potência. "Na filosofia ecoclástica, é virtual o que existe em potência e não em ato. O virtual tende a atualizar-se, sem ter passado no entanto à concretização efetiva ou formal" (p. 15). Uma comunidade virtual pode organizarse sobre uma base de afinidades por intermédio de sistemas de comunicação telemáticos. Seus membros estão reunidos pelos mesmos núcleos de interesses e problemas e ainda que não seja presencial, essa comunidade está repleta de paixões, projetos, conflitos e amizades.

Para os usuários da pesquisa, o site é utilizado também com a finalidade de lazer, recreação, entretenimento, já que é possível fazer uso de jogos e aplicativos, reencontrar amigos, compartilhar mensagens, músicas, vídeos, fotos, bate-papo e criar eventos:

Significa um baita de um entretenimento. Acima de tudo (usuário 8).

Então é uma coisa muito interativa, muito legal, que eu me identificava muito com isso, tenho me divertido muito com isso (usuário 9).

As pessoas constroem a sua rede relacional no Facebook, em função de seus contatos off-line e, a partir daí, passam resgatar laços da infância, laços amorosos, contatos da época de colégio, faculdade e profissionais. Na fala do ator social abaixo, este espaço virtual denota principalmente uma possibilidade de recordar:

Ah... hummm... É... recordações. Ah... hummm... Facebook, pra mim, ele me... eu encontro pessoas de, de, de tempos atrás assim. Então é muito, é... pra mim é sempre, eu tô revendo situações da minha vida, assim, quando eu... é... entro no Facebook, assim. Eu não tenho... primeiro, eu não tenho paciência com o Facebook; não, não, eu, eu só... eu olho muito rapidamente, mas o que eu, que eu gosto é de rever pessoas. É o... é, assim... é o que... efetivamente assim de pessoas que há muito tempo eu não vejo e tudo... então é isso que eu gosto. Não... não tenho paciência de ficar vendo o dia a dia, assim, do que, do que tá sendo posto ali... Me chama atenção a... hummm... é... algum, algumas... é... alguns textos assim, isso que me faz... mas, assim, o mais importante pra mim é realmente rever (usuário 5).

Os participantes relatam escolher, para serem seus amigos no Facebook, pessoas com as quais tenham alguma afinidade e interesse comum. A maioria dos entrevistados (seis participantes) não aceitam pessoas desconhecidas na sua rede de amigos e esporadicamente aceitam amigos de amigos, mesmo os participantes que relataram aceitar pessoas desconhecidas, mostram uma certa preocupação em verificar o perfil de quem está sendo adicionado a sua lista de amigos. Essas questões corroboram com o resultado da pesquisa qualitativa de Amorim (2011) com 29 usuários do Facebook, homens e mulheres de idades variadas, convocados através do mural do próprio site para responder um questionário por e-mail. As perguntas aos participantes englobaram os seguintes assuntos: a entrada dos atores na rede, o que entendem por amizade, que tipo de amizade se constitui nesses laços e se essas amizades on-line se desdobram em amizades off-line. Os dados da pesquisa indicam que foram constituídos um novo tipo de vínculo a partir das redes sociais e acrescenta:

... o valor do amigo é sentido como algo fundamental para a existência humana. Uma grande parte dos entrevistados acredita ‘que essas ‘amizades virtuais'' podem ser consideradas úteis e prazerosas, enquanto outros se associam a partir de interesses comuns. As narrativas expressam a idéia do estreitamento de existências, de um companheirismo, às vezes gratuito, carregado de afinidades, numa relação de confiança que é capaz de constituir um vínculo forte de afeto. ... Assim, mediante elos fortes e fracos, todos estão ligados a todos, formando um diagrama de conexões. A idéia é que estamos todos unidos por uma rede de relações, formando uma grande conectividade (Amorin, 2011, p. 103-104).

A fala de um dos atores demonstra que o uso desta ferramenta acaba sendo necessário para não ficar excluído do que está acontecendo com as pessoas da sua rede relacional na vida real:

... é participar da vida social contemporânea assim, porque... é... se eu não tiver nisso, eu também tô fora de muita... de muitas é... relações mesmo sociais, né? Então... já que é por aí, eu vou... (usuário 5).

Metade dos participantes da pesquisa compartilham todas as informações do seu perfil com o público geral, não demonstrando preocupação com a privacidade. A outra metade das pessoas entrevistadas mostrou-se mais reservada e preocupada com a questão da exposição:

O meu perfil é público... no Facebook. Ele, ele é 100% aberto, né... porque... ... eu parto do princípio de que eu não tenho nada a esconder, né... Então, é... todos os meus dados; o Facebook tem meu telefone, tem meu endereço... tem a foto da minha casa... (usuário 7).

Eu... fico com bastante receio... sou bem, sou bem reservada com relação ao que vou publicar (usuário 2).

Kirkpatrick (2011) levanta a seguinte reflexão: quanto de nós mesmos devemos mostrar aos outros? Esta é uma importante questão que o Facebook nos leva a pensar e refletir. O Facebook tem como premissa social que uma transparência inevitável e generalizada tomará conta da vida moderna e redefinirá os limites da intimidade pessoal.

Um grande número de usuários do Facebook, em particular os mais jovens, deleita-se com a transparência total. Muitos usuários fornecem voluntariamente diversos detalhes sobre sua carreira, seus relacionamentos e interesses, sua história pessoal. Se você é amigo de alguém no Facebook, pode saber mais sobre esta pessoa do que em dez anos de amizade off-line (p. 216-217).

Os entrevistados sentem a rede como oportunidade principalmente de reencontrar pessoas e fazer novos contatos. Relatam também como vantagens a possibilidade de fazer contatos profissionais e o grande número de pessoas que podem fazer parte da sua rede relacional. Dois participantes dizem não ver desvantagem alguma, outros relatam que há mais vantagens do que desvantagens e alguns colocam a questão do uso tempo como algo a se pensar:

... diria que uma desvantagem... é a questão que você precisa tá muito atento a... entender a prioridade do teu tempo. É muito fácil ele... o Facebook te fazer é... te demandar um tempo muito grande ... O Facebook tem aí um... um lado de... futilidade... que é muito fácil de você acabar caindo, entendeu? Acho que isso é o grande, grande desvantagem (usuário 6).

Outra questão levantada é o fato das pessoas passarem uma imagem que muitas vezes não corresponde à realidade, mostrando sempre o lado bom de tudo e o melhor de si. A exposição também é vista como uma desvantagem:

E eu acho assim, eu tenho um pouco de medo dessas questões, das coisas ficarem muito impessoais, de você acabar é... passando uma imagem daquilo que você realmente não é ou daquilo que você não tá sentindo. Eu acho que reforça muito essa coisa do... do gozo, que tá todo mundo bem, tá todo mundo feliz e tá todo mundo legal. E na verdade ninguém tá bem, ninguém tá feliz e ninguém tá legal. ... a grande desvantagem é essa, de, da gente tá sempre mostrando... que a gente... que a nossa vida é plena. ... mas na verdade você tá dizendo assim: ó, mas tudo bem; mas o que que você fez por isso, por que que aconteceu aquilo... Então não é um canal de discussão, eu acho... Entendeu? É um canal de puro desabafo, assim, de... que se dane e pronto (usuário 1).

Segundo Kirkpatrick (2011), as pessoas ao exporem seu comportamento real no Facebook, podem aumentar a probabilidade de que algo precipitado ou estúpido que façam se torne público, abalando suas relações íntimas e profissionais. O Facebook incentiva que as pessoas utilizem os seus nomes reais. Os perfis falsos acabam sendo detectados, já que a identidade da pessoa é validada pelos amigos. Muitas pessoas já não trocam endereços de e-mail e números de telefone, elas se procuram no Facebook.

Para sete entrevistados a utilização do Facebook não ocasionou desentendimentos ou constrangimentos. As pessoas demonstram uma certa preocupação com o conteúdo que disponibilizam na rede. No entanto, outros participantes relatam ter passado por situações delicadas e complicadas, como se observa na narrativa a seguir:

Vários, sabe... de eu postar uma piadinha que foi mal interpretada... né... De pessoas que não gostaram de alguma coisa que eu coloquei e... reagiram de forma violenta, sabe, antipática, desagradável, bate-boca, sabe... Às vezes até uma ‘primeira' [?] bobagem foi em relação ao futebol... a disputa do Atletiba... Vira meio, né? Passa dos limites... e têm várias coisas. Eu já postei foto, que eu fui criticado por pessoas da Índia... (usuário 8).

De acordo com Recuero (2010), as redes sociais que se formam na internet, ao contrário das redes sociais off-line, não necessitam de interação para serem mantidas. Quando uma pessoa forma uma rede virtual, ela precisa apenas adicionar outros atores a sua rede, através de uma interação social reativa, ou seja: aceitar a "amizade" ou não. Com isso, percebe-se uma certa artificialidade nas estruturas sociais configuradas neste contexto.

Para os entrevistados a relação na vida real é totalmente diferente da relação que se estabelece através do site. Fonseca (2010) enfatiza esse mesmo aspecto em seu estudo, afirmando que a amizade no Facebook difere da amizade off-line, pois é uma rede de contatos, que engloba os ‘amigos' off-line, conhecidos e amigos criados no próprio site:

É, é claro que é diferente, ao vivo e a cores é bem melhor da gente conversar, mas como é impossível hoje em dia pela situação de tempo de cada um, então é legal ter essa conexão através do Facebook (usuário 4).

Os participantes concordam que com o uso desta ferramenta houve uma aproximação de pessoas que fizeram parte das suas vidas em algum momento e que estavam afastadas. Percebe-se que nas amizades mais próximos não ocorreram modificações, porém são unânimes em falar da aproximação de pessoas que não estão geograficamente próximas:

Ah, sim. ... De pessoas que estavam muito distantes e nem sabiam que eu estava fazendo, que eu... e voltamos a nos aproximar; mas muita gente. Uma coisa muito legal. Então, é uma ferramenta fantástica que eu tenho usado (usuário 9).

Nada. Com os meus amigos não mudou nada. Eu continuo indo na casa dos meus amigos, saindo com os meus amigos. ... O meu relacionamento com os meus amigos ele continua pessoal. Eu vou na casa deles, eles vão na minha; a gente tem telefone, um liga pro outro e a gente sai comer e beber e cozinhar junto. Eu me relaciono com as pessoas que não moram perto de mim, que moram em outras cidades ou que eu não tenho é... contato... possibilidade do contato físico... é... mas com os amigos que já, que eram amigos antes da existência disso... (usuário 7).

Alguns entrevistados relatam que, pela facilidade de estarem on-line, seja no computador ou através dos dispositivos móveis (celular, tablet), a qualquer momento podem interagir com as pessoas através do Facebook, ocasionando um sentimento de conexão com seus amigos, que é definida como: "maravilhosa", "uma delícia", "linda". Alguns não sentem esta conexão, pois fazem um uso mais esporádico e superficial do Facebook:

... isso sim, me sinto conectada até porque eu como eu to sempre conectada, quando uma pessoa me passa uma mensagem cai na hora pra mim, ou no meu celular, ou no iPad, ou no computador, ou em qualquer lugar eu to sempre conectada, então eu realmente, estou sempre conectada com eles. ... Às vezes é maravilhosa! Aquele dia que tu não tá muito legal, que tu tá se sentindo sozinha, que tu não tá se sentindo bem, que tu tá triste, tá não sei o que... que tu recebe um Tum Tum [risadas], na mensagem do celular, aquilo é maravilhoso, quer dizer alguém, alguém tá falando comigo, alguém lembrou de mim, né? Então eu acho que tem esse lado também, né? De tu postar alguma coisa e aquele monte de pessoas curtirem, isso é uma coisa legal. No dia do teu aniversário um monte de gente te mandar os parabéns, né? (usuário 3).

...pelo fato de tá no Facebook não... Como disse, não é... não considero que no Facebook seja um amigo amigo, é um contato, é uma pessoa com que tenho algum contato, que... compartilho algumas informações, às vezes um e-mail, uma mensagem que manda, uma coisa... uma curiosidade, mas... não é uma coisa que eu fique em contato, recebendo, mandando, conversando no Facebook. Não, isso eu não faço (usuário 10).

Vale salientar que apesar das transformações ocorridas nas sociedades contemporâneas, grande parte das pessoas que se encontram na idade adulta estão ocupadas principalmente com as questões pertinentes a vida familiar e ao trabalho. As amizades tendem a ser mais seletivas se comparado com a fase anterior da vida (Olds & Papalia, 2013), fato discutido pela psicologia do desenvolvimento e que os dados desta pesquisa confirmam. Desta forma, o Facebook pode ser visto como um meio eficiente de manter as pessoas em contato com os antigos amigos e conhecidos, manter a proximidade com os vínculos atuais e formar novos relacionamentos pautados em focos de interesse.

A fala de um usuário revela a preocupação com a superficialidade das relações no ambiente virtual:

Isso tem o lado bom é... mas me assusta às vezes um pouco o, o ser a... como que... se isso é realmente evolução; é evolução do ponto de vista tecnológico, não há dúvida, mas se isso é evolução do ponto de vista humano, do ponto de vista relacional. Aumenta o número de possibilidades, mas diminui a profundidade do relacionamento. Isso me assusta. (usuário 7).

Miller (2011) relata a história de 12 pessoas que faziam uso do Facebook na Ilha de Trinidad, no Caribe. O autor escolheu esta região por ser de grande diversidade cultural e étnica. Na sua pesquisa fica evidente que o Facebook está revitalizando e expandindo as comunidades. As pessoas não fazem distinção entre a comunidade off-line e o Facebook, referindo-se a ambas como comunidade. O Facebook é relatado como uma ferramenta que facilita o contato com as pessoas distantes ou com quem se havia perdido contato, possibilitando interação com um grande número de pessoas. Uma das entrevistadas, universitária de 25 anos, nascida e criada em uma pequena vila, reconhece o Facebook como semelhante em tudo à sua pequena vila no aspecto comunidade. Quando ela se reúne com os colegas da universidade diariamente através do Facebook, é claramente na sua perspectiva uma atividade grupal, comunitária. Segundo a entrevistada, não há qualquer evidência de que as pessoas passem menos tempo juntas, como resultado do uso do Facebook. Ao contrário, a ferramenta é usada para coordenar e organizar eventos off-line, como reuniões familiares e discussão dos trabalhos escolares. Segundo o autor, o Facebook ajuda quando as pessoas têm dificuldades em se reunirem pessoalmente.

Particularmente importantes são as observações feitas por Alana. Ela sugeriu que as pessoas que tem intensa convivência social pessoalmente em pequenas comunidades podem eventualmente refugiar-se na comunicação menos intensa e mais mediada no Facebook. Inversamente, aqueles com carências na vida social off-line vêm ao Facebook para ganhar algo do que perderam, mesmo que assim não recuperem todas as sensações do contato pessoal. (…) O Facebook funciona melhor quando usado para compensar as deficiências ou as situações estressantes de outras formas de comunicação. (p. 184, tradução nossa).

 

Considerações Finais

O Facebook atualmente é uma das redes sociais mais utilizadas em todo o mundo como um o espaço de interação social para encontrar pessoas, partilhar informações, discutir ideias e temas de interesse comum, independente da localidade geográfica. Essa ferramenta de comunicação mediada pelo computador passou a fazer parte do dia-a-dia de muitas pessoas. O Brasil foi o país que mais cresceu no Facebook em 2012, com quase 30 milhões de novos usuários ativos mensais.

Esta nova possibilidade de relacionamento virtual ampliou as possibilidades de as pessoas se relacionarem e interagirem. Sendo assim, este estudo teve como propósito contribuir para o entendimento de como um grupo de usuários adultos do site de relacionamento Facebook em uma Capital da região Sul do Brasil,, interage com a sua rede de amigos e qual o significado das amizades e relações neste contexto.

Os participantes da pesquisa cadastraram-se no site por motivações diversas: curiosidade, divulgação profissional, convite de amigos e familiares e principalmente para encontrar pessoas conhecidas. Os achados demonstram que para este grupo de usuários, o Facebook significa ter notícias das pessoas da sua rede relacional na vida real, possibilitando o contato, sendo também uma forma de liberdade de expressão, entretenimento e recordações. Na perspectiva dos atores, o uso desta rede social influenciou positivamente nas relações. A amizade através deste dispositivo tecnológico é vista como um canal para fazer contatos e interagir com as pessoas. Porém, são unânimes em dizer que estar com seus amigos na vida real é totalmente diferente de estar on-line, pois para os entrevistados, nada substitui a relação face a face. Não percebem os relacionamentos virtuais como sendo prejudiciais aos da vida off-line, pelo contrário, na maioria dos casos, houve uma aproximação das pessoas da vida real para a virtual e vice e versa. A comunicação e interação, nesta rede social, parecem aumentar a sensação de ligação entre as pessoas, rompendo de certa forma o isolamento social.

Verificou-se através das narrativas uma preocupação com a superficialidade das relações, já que os usuários disponibilizam na rede a melhor faceta de suas vidas através do perfil, fotos e comentários. Outra questão levantada pelos participantes dá-se quanto ao uso do tempo, muitos percebem que ficam horas navegando no site, enquanto poderiam realizar outras atividades. A privacidade também se torna relevante para alguns, à medida que se sentem expostos e vulneráveis a julgamentos.

A internet veio introduzir a metamorfose do conceito de território. São os interesses comuns que vão gerar a topologia das relações e não a geografia comum. O espaço antropológico que existe na internet é construído pela transferência simbólica e relacional, através da virtualização, ou seja, os símbolos e os processos relacionais são transferidos para o espaço infocomunicacional, a que se denomina espaço virtual. A rede promove a diluição das fronteiras geográficas, mas promove também a geração de novas práticas sociais, identidades e territórios. Fala-se em lugares e não lugares (espaços onde não se permanece), mas que exercem a função de enunciação de potenciais percursos para chegada a um objetivo, ou destino. A vivência do não lugar promove ao mesmo tempo a liberdade e a solidão (Silva, 2001).

Esta pesquisa não tem a pretensão de esgotar o assunto, trata-se de uma reflexão sobre esta nova forma de relacionamento que acontece através das comunidades virtuais e que influenciam as relações sociais e familiares. Os dados sugerem a importância de realizar mais pesquisas com usuários de outras faixas etárias e também para esclarecer as possíveis consequências do uso desta ferramenta na sociabilidade contemporânea, na rapidez com que as informações podem ser divulgadas, nos novos valores que poderão ser suscitados e na produção de subjetividades a partir desta prática.

 

Referências

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Recebido: 13/11/2015 / Corrigido: 26/01/2016 / Aceito: 10/03/2016.

 

 

1 Docente da Graduação em Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná; Rua Sydnei Antonio Rangel Santos, 238 - Santo Inacio, Curitiba - PR, 82010-330 Tel:(41) 3331-7655 elizabele.sobrinho@hotmail.com
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