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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

versão impressa ISSN 1415-711X

Bol. - Acad. Paul. Psicol. vol.36 no.90 São Paulo jan. 2016

 

TEORIAS, PESQUISAS E ESTUDOS DE CASOS

 

 

Envolvimento paterno em famílias de criança com transtorno do espectro autista: contribuições da teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano

 

Father involvement in families of child with autistic spectrum disorder: contributions of the Bioecological Theory of Human Development

 

Participación paterna en familias de niños con Trastorno del Espectro Autista (T.E.A.): Aportes de la Teoría Bioecológica del Desarrollo Humano

 

 

Maria Luiza Iusten da Silva1; Mauro Luís Vieira2; Daniela Ribeiro Schneider3

Universidade Federal de Santa Catarina

 

 


RESUMO

O envolvimento paterno pode ser descrito em termos de interação, disponibilidade e responsabilidade. Para estudá-lo, faz-se importante compreender o contexto em que o pai está inserido. No caso de famílias com filhos com Transtorno do Espectro Autista, o envolvimento será influenciado pelas características do transtorno, pelo impacto do diagnóstico na família, pelo contexto mais amplo que envolve as políticas públicas e apoio da rede social, pelo trabalho do pai, pelo relacionamento do casal e pelas próprias crenças em torno da deficiência. Uma das teorias que auxilia essa compreensão é a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano, pois ela compreende o desenvolvimento como um processo multideterminado, influenciado por inúmeros fatores inter-relacionados. Neste artigo, objetiva-se realizar algumas considerações teóricas e epistemológicas dessa perspectiva teórica considerando o envolvimento paterno com crianças com transtorno do Espectro Autista como objeto de estudo. Além disso, essa teoria compreende a realidade a partir da dialogia entre objetivo e subjetivo, pensa o homem como ser interrelacional, e concebe diferentes modos de produção do conhecimento sobre o envolvimento paterno.

Palavras-chave: Paternidade; Transtorno do Espectro Autista; Bioecologia.


ABSTRACT

Father involvement can be described in terms of interaction, availability and responsibility. In order to study it, it is important to understand the context in which the father is inserted. In the case of families with children with Autism Spectrum Disorder, involvement will be influenced by the syndrome‘s characteristics, the impact of the diagnosis in the family, the broader context in which public policies and support social are involved, by the father's work, the couple's relationship and the own beliefs about disability. One theory that aids in this understanding is the Bioecological Theory of Human Development, because it understands development as a multidetermined process, influenced by many interrelated factors. In this article, the objective is to carry out some theoretical and epistemological considerations of this theoretical perspective, considering the father involvement with children with ASD as the object of study. Moreover, this theory includes the reality from the dialogism between objective and subjective, thinks man as an interrelational being, and conceives different modes of knowledge production about the involvement of the father.

Keywords: Fatherhood; Autism Spectrum Disorder; Bioecology.


RESUMEN

La participación de los padres puede ser descrito en términos de interacción, disponibilidad y responsabilidad. Para tener esta compresión es importante entender el contexto en el que se encuentra inserido el padre. En el caso de familias con niños con T.E.A., la participación se verá influenciada por las características del trastorno, el impacto del diagnóstico en la familia, el contexto de forma más amplia en el que se incluyen las políticas públicas y el apoyo de redes sociales, por el trabajo del padre, la relación de pareja y las propias creencias acerca de la discapacidad. Una de las teorías que ayuda en este entendimiento es la Teoría Bioecológica de Desarrollo Humano, ya que entiende el desarrollo como un proceso multideterminado, influenciado por muchos factores interrelacionados. En este artículo, el objetivo es llevar a cabo algunas consideraciones teóricas y epistemológicas de esta perspectiva teórica, considerando la participación paterna con niños con T.E.A como objeto de estudio. Por otra parte, esta teoría incluye la realidad dialéctica entre lo objetivo y lo subjetivo, pensando al hombre como ser interrelacional, conciendo diferentes modos de producción de conocimiento sobre la participación del padre.

Palabras clave: Paternidad; Trastorno del Espectro Autista; Bioecologia.


 

 

Introdução

O nascimento de um bebê com alguma característica atípica causa um choque para os pais, frustrando todos os seus anseios, causando reações e sentimentos que interferem na interação com o filho. Prado (2005) salienta que ter um filho com deficiência não é algo desejável, pois todos os membros da família podem se desestabilizar e precisam se adaptar a uma nova forma de funcionar. Os pais da criança com Transtornos do Espectro Autista (TEA) ao se confrontarem com o diagnóstico podem experimentar um sentimento de perda da criança idealizada e vivenciar um processo de luto do filho "perdido". Este processo pode ser atravessado por uma dificuldade de estabelecimento de vínculo com a criança, na medida em que os genitores tendem a enxergar apenas a deficiência do filho e os problemas decorrentes dela. Superar esse período é fundamental para que toda a família consiga estabelecer vínculos afetivos verdadeiros com o bebê real (Buscaglia, 2006).

O pressuposto de que a família é o contexto primário do desenvolvimento humano, cuja função é proporcionar proteção, suporte econômico, emocional e psicossocial aos seus membros (Sprovieri & Jr, 2001) torna-se ainda mais significativo em um contexto permeado por fatores de risco que são inerentes às características da síndrome da criança. Dessa forma, além do processo de luto vivenciado, a família com indivíduos portadores de TEA se vê frente ao desafio de ajustar seus planos e expectativas quanto ao futuro, às limitações desta condição e também à necessidade de se adaptar à intensa dedicação e prestação de cuidados das necessidades específicas do filho (Schmidt & Bosa, 2003).

Com as mudanças nos arranjos familiares e nas expectativas de desempenho dos papéis parentais (Bossardi & Vieira, 2010; Staudt & Wagner, 2008), e também com a intensificação da participação feminina no mercado de trabalho e o aumento no número de divórcios foi necessário uma reconfiguração nos papéis parentais e na constituição familiar, o que possivelmente contribuiu para o maior envolvimento paterno (Bossardi, 2011). Dessa forma, tem havido um interesse crescente no papel do pai e os efeitos do seu envolvimento no desenvolvimento da criança.

De acordo com Baruffi (2000), o pai é figura importante para o desenvolvimento psicoafetivo dos filhos, indo além do papel de provedor e mantenedor da família para, por meio de seu afeto e de sua atitude, ser referência na construção da personalidade dos filhos e ser o primeiro transmissor da autoridade social: "o pai personifica autoridade e segurança, ideais e valores" (Baruffi, 2000, p. 4). Ainda é pouco relatado sobre o papel dos pais com crianças com atraso de desenvolvimento, como o autismo (Braunstein, Peniston, Perelman, & Cassano, 2013; Elder, Valcante, Won, & Zylis, 2003). Estudos sobre o envolvimento paterno ou a participação do pai no cuidado e interação com filhos portadores da TEA têm evidenciado a importância do pai tanto para o funcionamento familiar e bem-estar materno, como também para o desenvolvimento de algumas habilidades na criança (Boyraz & Sayger, 2011; Donaldson, Elder, Self, & Christie, 2011).

Para entender esse envolvimento, se faz importante compreender o contexto em que o pai e a criança estão inseridos, a influência das características da criança na interação pai-filho, a relação entre o casal, entre outros aspectos. Ressalta-se que este pai pode ser tanto pai biológico, não biológico, quanto outra pessoa que exerça essa função na vida da criança. Uma das teorias que auxilia na compreensão do contexto é a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano (Schultz, Duque, Silva, Souza, Assini, Carneiro, 2012). Ela explora os aspectos ambientais, pessoais, bem como a relação da pessoa com o ambiente. Seu principal pressuposto se refere ao fato de que o desenvolvimento humano está sujeito à influência de fatores individuais e ambientais que se relacionam de forma mútua.

Esta teoria foi reformulada e reestruturada diversas vezes por seu precursor Urie Bronfenbrenner (Prati, Couto, Moura, Poletto, & Koller, 2005). O seu primeiro modelo teórico, publicado em 1979, denominado de Ecologia do Desenvolvimento Humano, enfocava principalmente o ambiente. Em 1992, Bronfenbrenner chamou suas propostas de Teoria dos Sistemas Ecológicos (Prati e outros, 2005). Bronfenbrenner utilizava os termos "ecologia" e "ecológico" para enfatizar a interdependência entre a pessoa e o contexto (Tudge, 2008). Com a evolução e ampliação da teoria, o autor passou a entender o desenvolvimento não apenas de forma contextual, mas também ancorado em quatro aspectos interrelacionados, o que ficou conhecido como Modelo Processo-Pessoa-Contexto-Tempo (PPCT). As modificações desse modelo levaram ao Modelo Bioecológico de Desenvolvimento Humano e, atualmente, à Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano (Prati e outros, 2005).

Assim, neste artigo, objetiva-se realizar algumas considerações teóricas e epistemológicas da Perspectiva Bioecológica do Desenvolvimento Humano considerando o envolvimento paterno com crianças com TEA como objeto de estudo. Não se pretende esgotar as discussões sobre a epistemologia da Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano ou o envolvimento paterno no desenvolvimento atípico. Busca-se investigar um fenômeno verificando os aspectos epistemológicos nos quais a teoria que embasa o estudo está fundamentada. Essa compreensão é importante porque é a partir dela que se pode ter uma sustentação teórica aprofundada no que se refere ao fenômeno a ser estudado.

Desse modo, é fundamental ter o conhecimento de como a teoria com a qual se trabalha compreende e interpreta o mundo, como a mesma pensa o homem, produz conhecimento e como o faz para tal finalidade. Paralelo a essa reflexão e análise, é essencial associar e compreender o fenômeno a ser investigado dentro dessa perspectiva teórica. Esse exercício será feito nesse artigo, tendo como perspectiva teórica a bioecologia e como fenômeno o envolvimento paterno com crianças com TEA.

 

Envolvimento paterno com crianças autistas

Diferentes conceitos do envolvimento paterno remetem a diferentes formas de compreender a relação pai-criança. No presente artigo será considerado o conceito de envolvimento paterno proposto por Lamb, Pleck, Charnov e Levine (1985), os quais definem envolvimento paterno através de três dimensões: interação, que é o contato direto do pai com o filho através de cuidados, compartilhamento de atividades e brincadeiras; disponibilidade, a qual diz respeito ao potencial de acessibilidade física e psicológica do pai para interação; e responsabilidade, que se refere ao papel que o pai assume em garantir cuidados à criança e providenciando para que recursos estejam disponíveis para a mesma (Lamb e outros, 1985; Lamb, 1997).

Muitos fatores podem interferir no envolvimento paterno, dentre eles: a motivação em se envolver; suas habilidades; o suporte e incentivo que as pessoas lhe dão; as características da criança; a influência do trabalho (Lamb e outros, 1985; Lamb, 1997; Pleck, 1997); as características sociodemográficas (Cabrera, Tamis-LeMonda, Lamb, & Boller, 1999) e o relacionamento conjugal (Bossardi, 2011; Cabrera & Bradley, 2012; Gabriel, 2012; Hohmann-Marriott, 2011; Pleck, 1997; Schober, 2012; Simões, Isabel, & Maroco, 2010; Wagner, Predebon, Mosmann, & Verza, 2005). Assim, verifica-se que tanto os aspectos pessoais (como motivação, habilidades, características da criança e características sociodemográficas) quanto contextuais (como suporte, trabalho e relacionamentos) exercem grande influência sobre o envolvimento do pai com o filho.

Com relação a famílias com filhos com TEA, faz-se necessário considerar as dimensões do envolvimento paterno sendo atravessadas pelas especificidades e características do transtorno. O Transtorno do Espectro Autista constitui uma classificação determinada pela DSM-V que inclui o transtorno autista, o transtorno de Asperger e o transtorno invasivo do desenvolvimento. Caracterizam-se por déficit na interação social, determinando inabilidade na relação com o outro, além de prejuízos na linguagem e alterações de comportamento. Seus sintomas representam um contínuo de leves a graves comprometimentos em três áreas: 1) habilidades de interação social recíproca; 2) habilidades de comunicação e; 3) presença de comportamentos e interesses restritos e repetitivos e atividades estereotipadas. Por tais características, é possível supor que a gratificação por meio da parentalidade é fraturada diante do nascimento de um filho com desenvolvimento atípico, no qual, a troca afetiva e a comunicação são prejudicadas.

Estudos que investigaram o envolvimento paterno com crianças TEA tendem a enfatizar a importância do pai nos programas de intervenção precoce (Seung, Ashwell, Elder, & Valcante, 2006; Wieder & Greenspan, 2003); o papel da brincadeira entre pai e filho para o desenvolvimento das competências sociais e da linguagem (Cohen e outros, 2013; Sanini, Sifuentes, & Bosa, 2013); e a importância do envolvimento paterno para a diminuição do estresse e de sintomas depressivos nas mães (Laxman e outros, 2014).

Em seguida, será discutida a perspectiva Bioecológica, associando-se os aspectos teóricos com o envolvimento paterno com crianças com transtorno do espectro autista. Quando possível, serão mencionados alguns estudos relacionados ao conteúdo abordado, uma vez que teoria e prática não devem ser dissociadas. Ressalta-se que os estudos mencionados sobre o pai, nesse artigo, não utilizaram a bioecologia como seu referencial teórico. Contudo, eles serão usados para exemplificar concepções teóricas da bioecologia e analisar como a mesma contribuiria para o entendimento do fenômeno de envolvimento paterno neste contexto.

 

Compreensão Bioecológica sobre o envolvimento paterno com filhos TEA

A Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano é explicada através do Modelo PPCT. Desse modo, o envolvimento paterno com filho com transtorno do espectro autista será aqui discutido e relacionado aos elementos da Teoria Bioecológica: Processo, Pessoa, Contexto e Tempo.

Processo: a relação entre pai e filho com TEA

Na Teoria Bioecológica, o desenvolvimento ocorre ao longo do tempo através de processos de interação recíproca progressivamente mais complexos entre a pessoa em desenvolvimento e o contexto (Bronfenbrenner, 1994, 1999; Bronfenbrenner & Ceci, 1994; Bronfenbrenner & Evans, 2000). Essa interação se refere aos "processos proximais", os quais envolvem transferência de energia entre o ser humano em desenvolvimento e as pessoas, objetos e símbolos do ambiente. Como exemplo, tem-se o relacionamento entre pai e filho, relação esta que ocorre ao longo do tempo e cuja interação se torna progressivamente mais complexa. São os processos proximais, isto é, essa relação com o outro e com o ambiente, que promove o desenvolvimento, no caso, tanto do pai quanto do filho.

Os processos proximais podem ser diferenciados em dois principais tipos de resultados: competência (aquisição e desenvolvimento de conhecimento, habilidade ou capacidade de governar o próprio comportamento) e disfunção (dificuldades em controlar o comportamento em diferentes situações e domínios do desenvolvimento). A exposição é um dos fatores indiretos que interfere no resultado, e ela pode ser avaliada através da duração, da frequência, se é previsível ou se ocorre interrupção, o momento em que ocorre, e através da intensidade da exposição (Bronfenbrenner & Evans, 2000). Assim, a interação pai-filho não necessariamente irá produzir resultados positivos, uma vez que não é uma relação de causa (interação pai-filho) e efeito (positivo no desenvolvimento). Inúmeros fatores devem ser considerados e analisados, os quais interferem no resultado (desenvolvimento).

A forma (como o pai interage), o poder (quanto ele interage), o conteúdo (o que o pai faz com a criança) e a direção dos processos proximais (se a interação é recíproca, ou se é apenas o pai buscando se relacionar com o filho sem este corresponder) variam sistematicamente. Essa variação está relacionada a um conjunto de características da pessoa em desenvolvimento, do contexto ambiental, das continuidades e mudanças que ocorrem ao longo do tempo, do período histórico, e da natureza dos resultados desenvolvimentais (Bronfenbrenner, 1994, 1999; Bronfenbrenner & Evans, 2000). Desse modo, pode-se pensar que o envolvimento paterno irá receber influências de um conjunto de variáveis como as características do próprio filho, do contexto em que estarão inseridos e do período histórico, as quais irão direcionar a forma como o mesmo irá se envolver, o conteúdo e até mesmo a intensidade desse envolvimento, ou o tempo que esse pai irá interagir com o seu filho.

Os processos proximais são fundamentais para o desenvolvimento das capacidades biológicas e do potencial genético de cada pessoa, pois, possibilita que os recursos pessoais sejam estimulados e desenvolvidos (Bronfenbrenner & Ceci, 1994). Assim, é na interação com o outro que cada pessoa vivencia experiências, pode ampliar suas habilidades, enfim, se desenvolver.

Para que esses processos proximais ocorram, faz-se necessário a presença dos seguintes aspectos: 1) a pessoa precisa se engajar em uma atividade; 2) essa atividade precisa ocorrer regularmente ao longo do tempo; 3) a atividade deve ser cada vez mais complexa; 4) as relações interpessoais devem ser recíprocas; 5) os processos proximais vão além das interações interpessoais, pois, podem envolver a interação com objetos e símbolos (Bronfenbrenner, 1999). Dessa forma, para que o envolvimento paterno ocorra, o pai precisa, por exemplo, interagir com a criança, essa interação necessita ocorrer com certa regularidade, deve ser cada vez mais complexa e recíproca.

Considerando as três dimensões do envolvimento paterno, esse elemento está mais diretamente relacionado à interação, embora também remeta à disponibilidade e à responsabilidade. Os processos proximais se referem ao que o pai faz com o filho, e isto diz respeito à dimensão da interação.

Pais e mães interagem de forma diferente com a criança (Elder e outros, 2003). Os pais tendem a ser mais diretivos, respondem às iniciativas da criança com menos consistência e se engajam em mais jogos paralelos. Diante disso, os autores sugerem que sejam produzidas mais pesquisas sobre a forma como os pais interagem com seus filhos com espectro autista, e sobre a importância da reciprocidade social na aquisição da linguagem.

Laxman e outros (2014) realizaram um estudo que examinou a relação entre o envolvimento paterno na rotina de cuidados, na alfabetização, na brincadeira com os sintomas depressivos da mãe. Encontraram que quanto mais o pai se envolve nestas atividades e, especialmente, no cuidado responsivo, menor é o nível de sintomas depressivos em mães de crianças com autismo. Um estudo realizado por MacDonald & Hastings (2010) verificou que os pais que estão mais conscientes do seu papel parental, isto é, apresentam maior atenção centrada no relacionamento com seu filho, tendem a ser menos evasivos em relação ao seu filho com deficiência, e mais envolvidos nos cuidados infantis.

Smeha (2010) buscou conhecer as vivências paternas de homens que são pais de filho com diagnóstico de autismo na cidade de Porto Alegre. Por meio de entrevistas semiestruturadas, investigou as vivências a partir de três categorias temáticas: paternidade (expectativas, significado), o autismo (gestação, diagnóstico, compreensão) e "paternando" (criando) o filho com diagnóstico de autismo. No que se refere a esta última encontrou relatos sobre o envolvimento paterno na rotina de cuidados do filho com autismo. Os pais descreveram sua participação predominantemente por meio de atividades fora de casa como passear de carro, ouvir música, brincar, ficar observando para que a criança não se machuque ou levar à terapia. Observou-se que a dedicação aos cuidados com o filho, ainda que preponderantemente ocorra no âmbito das atividades de lazer, parece ser motivada pela responsabilidade, pelas cobranças da mãe e por sentimento de culpa e não, propriamente, pela satisfação decorrente das atividades desenvolvidas com o filho.

Relacionando estes estudos com as dimensões que definem o envolvimento paterno, supõe-se que a dimensão da interação, do contato direto será moldada pelas possibilidades de interação e de comunicação da criança. No estudo realizado por (Smeha, 2010) os pais dizem-se frustrados, pois os filhos geralmente não respondem às iniciativas de interação tomadas por eles e porque não podem fazer nada para reverter o diagnóstico. A dificuldade de compreensão e a restrita capacidade responsiva, diante das tentativas de interação do pai, determinam sentimentos de frustração que podem causar prejuízos na qualidade da relação pai e filho. Este dado também foi observado na pesquisa de Glat & Duque (2003), na qual os pais apontaram que a maior dificuldade na interação é a presença de comportamentos agressivos, autodestrutivos e repetitivos que também prejudicam a qualidade da relação pai-filho.

Apesar das dificuldades singulares a essa paternidade, os pais entrevistados demonstraram um sentimento forte de afeto e carinho presente na relação, o que mostra certa disponibilidade para se envolverem com a criança. Apontaram como fatores que favorecem a paternidade: o desenvolvimento do filho com o comportamento mais próximo ao padrão considerado normal, isto é, um menor comprometimento na interação social; beleza na aparência física, acesso à informação e o estabelecimento de um bom vínculo precoce (Smeha, 2010). No entanto Sprovieri & Jr (2001) relatam que a dificuldade de expressão do afeto e o déficit nas interações sociais, característicos do transtorno, podem repercutir no comportamento dos genitores que, muitas vezes, passam a manifestar a afetividade de maneira deficitária e intelectualizada.

No que se refere a dimensão da responsabilidade, esta geralmente é assumida pelos pais. Os estudos (Antónia & Pereira, 2012; Milgram & Atzil, 1988; Nunes, Silva, & Aiello, 2008) mostram que é comum as mães deixarem de trabalhar para cuidar integralmente da criança, a qual exige cuidados diários, supervisão e monitoração constantes. Dessa forma, e também com os custos para tratamento, terapias e medicamentos, os pais tendem a assumir as responsabilidades financeiras e ocupacionais. Milgram e Atzil (1988) descrevem que os pais consideram justa sua menor participação nos cuidados gerais da criança, devido ao peso dessas responsabilidades já desempenhadas junto à família. Porém, outros estudos revelam que estas tarefas tendem a acarretar tensão emocional e financeira significativas, o que pode dificultar a contribuição destes para com os cuidados da criança (Bristol & Gallagher, 1986; DeMyer, 1979 apud Schmidt & Bosa, 2003).

Portanto, os processos proximais que ocorrem na interação pai-filho com TEA devem ser olhados de forma singular, pois as características desse transtorno variam de criança para criança e vão influenciar a forma como o pai vai interagir. Além disso, considerando que estes processos são bidirecionais, é importante considerar que as características do pai, que neste caso tendem a envolver o stress e sentimento de frustração e tristeza vão influenciar também as possibilidades de interação entre pai e filho.

Núcleo Pessoa: o pai e o filho com TEA

O ser humano é um ser biológico e psicológico, que interage constantemente com seu contexto, e é produto desta interação (Bronfenbrenner, 2005). Essa interação é dinâmica, e se altera ao longo do tempo. Bronfenbrenner também ressalta o ser humano como ativo em seu desenvolvimento, pois, não apenas recebe influências do ambiente, mas o influencia (Sifuentes, Dessen & Oliveira, 2007). Essa influência também pode ser passiva, já que a pessoa altera o ambiente apenas por estar inserida nele (Tudge, 2008). Se um membro de uma díade sofre uma mudança no desenvolvimento, é possível que o outro também mude (Bronfenbrenner, 1996), sendo assim, pai e filho influenciam-se mutuamente.

Bronfenbrenner também reconheceu a relevância dos aspectos genéticos da pessoa, e ressaltou que as características das pessoas influenciam os processos proximais e atuam no desenvolvimento (Tudge, Mokrova, Hatfield & Karnik, 2009). Para o autor, esses aspectos genéticos podem influenciar as características pessoais, as quais são divididas em três tipos: demanda, recurso e disposição (Tudge e outros, 2009).

A demanda se refere aos "estímulos pessoais" que influenciarão as interações, como, por exemplo, a aparência física (atratividade, semelhança física), e é ela que favorece ou desencoraja as reações do ambiente (o pai pode se interessar mais em interagir com a criança se ela for atrativa ou parecida com ele), proporcionando ou não os processos proximais. Isto é confirmado no estudo realizado por Smeha (2010), no qual os pais de crianças com TEA apontaram como fatores que favorecem a interação pai e filho a beleza na aparência física da criança.

Os recursos são as experiências, habilidades e inteligência da pessoa, bem como os recursos materiais que a mesma possui. Os recursos são necessários para o funcionamento eficaz dos processos proximais no desenvolvimento da pessoa. No caso de crianças TEA, os recursos são prejudicados pelos comprometimentos na interação social e na comunicação. Pode-se observar dificuldades na espontaneidade, imitação e jogos sociais, bem como uma inabilidade em desenvolver amizades com companheiros da mesma idade. Além disso, o comprometimento na comunicação tende a produzir atraso na aquisição da fala, uso estereotipado e repetitivo da linguagem, marcado por inversão pronominal (falar sobre si na terceira pessoa), ecolalia imediata e uma inabilidade em iniciar e manter uma conversação (Schmidt & Bosa, 2003).

Já a disposição, a qual movimenta e sustenta os processos proximais, diz respeito às diferenças de temperamento, motivação, persistência e gostos (Tudge e outros, 2009; Yunes & Juliano, 2010). Verifica-se, por exemplo, que se o pai gosta de crianças, já teve a experiência de cuidar de uma, e se a criança facilita essa aproximação correspondendo às investidas do pai, é possível que o envolvimento paterno seja maior. Em virtude da presença de comprometimento comportamental, o indivíduo com TEA pode apresentar temperamento instável, caracterizado pela adesão inflexível a rotinas e rituais específicos, não funcionais, além de, em alguns casos, apresentar uma insistência na mesmice, bem como a manifestação de sofrimento e resistência frente a mudanças (Schmidt & Bosa, 2003). Portanto, é plausível supor que essas características exerçam um impacto no cotidiano das famílias, na relação entre seus membros e no envolvimento dos pais com seus filhos.

Contexto: da família à sociedade

O ser humano é um ser de relações e está inserido em diversos contextos. Ele, por exemplo, faz parte de uma família, possui amigos com os quais se relaciona, possui funções em seu trabalho ou estudo. Em cada um dos contextos, a pessoa possui um papel e uma função, as quais irão determinar a forma como ela se relaciona com as pessoas, objetos e símbolos que fazem parte daquele contexto.

O contexto influencia o desenvolvimento em termos de extensão e suas consequências. A relação da pessoa com o ambiente é multidirecional, ou seja, se influenciam mutuamente (Prati e outros, 2005). O ambiente se refere ao contexto social maior e não apenas o ambiente no qual a pessoa está inserida (Cerqueira-Silva, Dessen & Júnior, 2011). Ele é fundamental no desenvolvimento, e é compreendido em termos físicos, sociais e culturais (Prati e outros, 2005).

O contexto, na Teoria Bioecológica, foi subdividido em quatro níveis de interação: microssistema, mesossistema, exossistema e macrossistema. Como a pessoa está inserida em mais de um microssistema, Bronfenbrenner descreveu a relação entre os mesmos (Tudge e outros, 2009), e além dos contextos estarem relacionados, as propriedades das pessoas e dos ambientes e os processos que neles ocorrem estão interconectados (Bronfenbrenner, 1996).

O microssistema se refere ao ambiente imediato onde a pessoa se encontra e no qual ocorrem as interações face a face. Está também relacionado às atividades, papéis sociais e relacionamentos interpessoais vivenciados pela pessoa em desenvolvimento num dado ambiente com características físicas e materiais específicas (Bronfenbrenner, 1994, 1996, 1999). Os papéis sociais são definidos como uma série de atividades e relações que se espera de uma pessoa em uma determinada situação em relação à outra pessoa (Bronfenbrenner, 1996). Um exemplo de microssistema é a família, na qual o pai, ao interagir com seu filho desempenha um papel de cuidador, e ao interagir com sua esposa desempenha papel de marido. Porém, se sua mãe vier visitá-los, ele desempenhará também um papel de filho. Assim, diferentes configurações de ambiente e de pessoas nele presentes ativarão papéis que a pessoa irá desempenhar.

No que concerne ao microssistema familiar de uma criança com TEA, devese considerar a influência não somente das características da criança nas interações, mas também o próprio funcionamento familiar e sua capacidade de se adaptar às mudanças. Neste contexto todas as dimensões do envolvimento paterno - interação, disponibilidade e responsabilidade - estarão presentes e serão influenciadas pelas características das pessoas e pelos outros contextos interconectados que serão descritos a seguir.

O mesossistema diz respeito à relação entre dois ou mais ambientes onde a pessoa em desenvolvimento participa ativamente (Bronfenbrenner, 1996). É um sistema de microssistemas (Bronfenbrenner, 1994). Como exemplo, tem-se a relação entre a família e a escola, a qual tem grande importância quando há a presença de um filho com TEA, já que o processo de inclusão não depende apenas da escola, mas da participação e persistência da família. Outro exemplo seriam as relações que o pai estabelece com sua família, trabalho e amigos, convidando seus colegas de trabalho e amigos para irem à sua casa, confraternizar com sua família.

O exossistema compreende a relação entre dois ou mais ambientes, sendo que em um deles não há participação ativa da pessoa em desenvolvimento. Porém, os eventos que acontecem nesse ambiente influenciam indiretamente os contextos imediatos nos quais se encontra a pessoa em desenvolvimento (Bronfenbrenner, 1994, 1996). Um exemplo de exossistema, tendo como foco a criança, é o trabalho do pai, que poderá influenciar a qualidade do seu envolvimento com o filho, já que depois de um dia de trabalho, pode chegar estressado e cansado em casa. Relacionado a isso, Henn & Piccinini (2010) verificaram que a disponibilidade dos pais para com a criança se encontrava relacionada com o trabalho, o que foi evidenciado no exemplo de um pai que estava desempregado e que por isso, estava mais disponível para cuidar da criança. No entanto, a quantidade de tempo despendido com a criança não significa necessariamente um maior envolvimento com esta (Parke, 1996).

Os pais de crianças com deficiência tendem a se sentir isolados tanto por parte de contextos próximos como por parte da sociedade (Seligman & Darling, 2007). Outro exemplo de exossistema presente nestas famílias são os grupos de apoio social. Por meio da participação de grupos de pais podem se sentir acolhidos e compreendidos em suas necessidades e sentimentos, assim como obter orientação informativa, ajuda emocional e psicológica, aspectos que vão interagir com fatores intra e interpessoais, os quais influenciarão o funcionamento da família, do pai e consequentemente o seu envolvimento com os filhos.

O macrossistema se refere aos demais sistemas interconectados (micro, meso e exossistema) que existem ou poderiam existir dentro de uma cultura ou subcultura (Bronfenbrenner, 1996). Também alude aos estilos de vida, costumes, sistemas de crenças, entre outros (Bronfenbrenner, 1994; Sifuentes e outros, 2007). Como exemplo, um pai que mora no Brasil possivelmente tem algumas crenças, valores e expectativas quanto ao desenvolvimento de seu filho portador do TEA, que será diferente de um pai de outro lugar do mundo (Huang, Chen, & Tsai, 2012; Tudge, 2008). Podem também ser incluídas as leis que apoiam as crianças com TEA, assim como as crenças sociais, os estigmas e os preconceitos relacionados aos Transtornos do Espectro Autista, que podem permear a cultura e a sociedade na qual a família está inserida.

Dessa forma, para investigar o desenvolvimento da criança, do pai, e a forma como se dará o relacionamento entre eles, deve-se considerar os diferentes contextos que os atravessam, assim como as características de cada um deles e das pessoas envolvidas. Ressalta-se, assim, que o relacionamento pai e filho é transpassado por múltiplas influências, advindas de diferentes sistemas.

 

Tempo

Deparando-se com a questão do tempo, Bronfenbrenner desenvolveu o conceito de cronossistema, inserindo uma terceira dimensão no ambiente. O cronossistema examina as influências do tempo no desenvolvimento da pessoa e as mudanças que ocorrem ao longo do tempo no ambiente (Bronfenbrenner, 1994; Prati e outros, 2005).

O cronossistema é dividido em microtempo, mesotempo e macrotempo. O microtempo se caracteriza por ocorrer durante o curso de uma atividade específica ou interação. O mesotempo se refere às atividades e interações que ocorrem com alguma periodicidade no ambiente da pessoa em desenvolvimento. O macrotempo abrange as mudanças na sociedade através das gerações, assim como a forma que esses eventos afetam o desenvolvimento humano no ciclo de vida (Tudge, 2008). Assim, por exemplo, o pai jogar futebol com o filho se refere ao microtempo, o pai levar todos os dias o filho para a escola alude ao mesotempo, e o macrotempo está relacionado à forma como o pai do pai lhe educou, que vai interferir, dentre outros aspectos, na forma do pai se relacionar com seu filho.

Há quatro aspectos a serem considerados no elemento tempo: 1) o desenvolvimento ocorre ao longo do tempo, dentro de um período histórico; 2) o desenvolvimento é o que culturalmente se espera em cada idade de cada papel e das oportunidades que surgem para cada pessoa ao longo da vida; 3) os membros da família são interdependentes e por isso se influenciam em seu desenvolvimento; 4) os seres humanos influenciam seu próprio desenvolvimento com suas escolhas e ações (Bronfenbrenner, 1999). Assim, o núcleo tempo refere-se às continuidades/ descontinuidades e às mudanças que ocorrem ao longo do ciclo vital do indivíduo e sua família (Schultz e outros, 2012).

Pode-se dizer que o elemento tempo interfere diretamente nas três dimensões do envolvimento paterno. Pode-se avaliar, por exemplo, o tempo que o pai passa com a criança e interage com ela, o tempo que o pai está disponível para a mesma, ou ainda, o tempo em que o pai leva a criança todos os dias para a escola ou é o responsável por dar banho na mesma nos finais de semana. Além desses aspectos, deve-se considerar a construção histórica em torno da deficiência e do autismo. Se considerarmos o cronossistema, ou seja, as mudanças ao longo do tempo, percebe-se que antigamente as iniciativas voltadas para a população com deficiência previam a sua assistência, mas de modo a segregá-la, baseandose no preconceito e na discriminação, o que hoje vem mudando para um movimento de inclusão (Portes, Vieira, Crepaldi, More, & Motta, 2013).

Esses aspectos teóricos da Perspectiva Bioecológica auxiliam a entender o envolvimento paterno como fenômeno de estudo. Contudo, como cada perspectiva teórica possui uma forma de ver a realidade, conceber o homem e produzir conhecimento, se faz necessário conhecer essas considerações epistemológicas e que implicações isso tem no estudo sobre o envolvimento paterno.

 

Ontologia, Antropologia, Epistemologia

Com base nos aspectos teóricos anteriormente mencionados, elucida-se as considerações epistemológicas da perspectiva bioecológica. Menciona-se primeiramente a ontologia, para em seguida a antropologia, a epistemologia e então, a metodologia utilizada sob essa perspectiva teórica.

A ontologia (teoria geral sobre o ser da realidade) da Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano, da forma como hoje a teoria está formulada, é sustentada em uma perspectiva dialógica (Vasconcellos, 2010), embora Tudge (2008) afirme que seja dialética, visto que o ser bioecológico está em uma relação com o psicológico e o social, e nenhum fenômeno pode ser compreendido isoladamente. Isso significa que é a dialogia entre os opostos que importa, pois, a lógica de compreensão sistêmica é uma lógica aditiva: a realidade é constituída por aspectos da ordem da materialidade e objetividade, e também por aspectos da subjetividade e do racionalismo.

Verifica-se que a antropologia da Teoria Bioecológica, ou seja, a teoria geral acerca do ser do homem se refere a um homem interrelacional, na integração das dimensões biológica, psicológica, social, sendo ativo em seu processo de desenvolvimento. Ou seja, para essa teoria, o homem é um ser de relações, em constante interação com outras pessoas, objetos e com símbolos do contexto. Assim, o desenvolvimento resulta da interrelação do indivíduo e do contexto em suas várias ordens de sistemas (Tudge, 2008). A forma como a Teoria Bioecológica concebe o envolvimento paterno é, assim, de um interacionismo dialógico, ou seja, a interação pai-filho é mediada objetivamente pelos objetos e símbolos do contexto, mas também é subjetiva, dependendo da reciprocidade, que definirá o direcionamento dos processos proximais envolvendo esses dois sujeitos.

A epistemologia da Teoria Bioecológica, ou seja, a teoria sobre o modo de produção do conhecimento é construtivista-interacionista, pois, o "conhecimento é entendido como uma construção social e o que é visto como ‘realidade' depende, em parte, da cultura, da história e do poder econômico que está em jogo no momento. Não há, portanto, uma única realidade para ser conhecida, mas múltiplas realidades" (Tudge, 2008, p. 2). Para serem estudadas, as pessoas não podem ser separadas dos contextos em que estão inseridas, e o conhecimento é obtido por meio de um processo co-construtivo, que envolve o pesquisador e o participante da pesquisa (Tudge, 2008).

Essa perspectiva epistemológica proporciona um método de abordagem dos fenômenos estudados que implica variados procedimentos e instrumentos, com características de triangulação de métodos. Utiliza-se o termo "validade ecológica" por se considerar como a situação de pesquisa foi percebida e interpretada pelos participantes do estudo. Esse conceito está relacionado a se conseguir diferentes estratégias para a obtenção e confirmação dos dados. Assim, para estudar o envolvimento paterno, pode-se aplicar diversos instrumentos, como entrevistas, questionários, inventários e escalas, realizar observações, entre outros, buscando compreender os resultados a luz da abordagem teórica da bioecologia. É também usual o pesquisador efetuar anotações ("diários de campo") para relatar suas impressões e percepções.

Bronfenbrenner nunca propôs um método de pesquisa diretivo e operacionalizado. Porém, para se realizar uma pesquisa baseada nessa teoria, deve-se delinear a pesquisa com base nos quatro elementos do Modelo PPCT (Prati e outros, 2005). Como teoria e método se articulam, novas sistematizações vão sendo desenvolvidas, e uma dessas propostas metodológicas que emergiu no Brasil é a Inserção Ecológica, desenvolvida por Cecconello e Koller (2003).

A Inserção Ecológica ancora-se nos aspectos necessários para o estabelecimento dos processos proximais e exige que os pesquisadores considerem, ao longo do tempo, as alterações no desenvolvimento de todos os envolvidos. Ela difere da pesquisa participante e da observação participante por focar nos elementos PPCT. Na Inserção Ecológica, os membros da equipe de pesquisa devem se envolver com o contexto e o nível de inserção deve estar ligado ao problema de pesquisa (Prati e outros, 2005).

No caso de uma investigação sobre o envolvimento paterno com crianças TEA utilizando a inserção ecológica, os pesquisadores iriam observar a interação pai-filho no contexto familiar diversas vezes, ter conversas informais com o(s) mesmo(s), quando possível, e realizar entrevistas. Dúvidas e contradições sobre o que fosse conversado seria esclarecido nas próximas conversas. Pesquisas que utilizam esse método, como a de Cecconello (2003), relatam que o mesmo se mostra útil em atingir seus objetivos.

 

Considerações Finais

Partiu-se do pressuposto de que homem e contexto se influenciam mutuamente e, por isso, há a necessidade de ampliação do foco a ser estudado, como por exemplo, não apenas olhar para o envolvimento paterno, mas verificar em que contexto ele ocorre e também as características das pessoas em interação. Além disso, considera-se que não é possível prever os fenômenos e nem os controlar, e que é importante considerar a presença do pesquisador no contexto a ser pesquisado, o que implica a existência de múltiplas versões da realidade, construídas de modo conjunto entre participante da pesquisa e pesquisador. Assim, a realidade para um mesmo fenômeno, no caso o envolvimento paterno com crianças com Transtorno do Espectro Autista, pode ser múltipla, dependendo de quem olha, do foco e da forma como o fenômeno é estudado.

Os elementos do Modelo PPCT podem ser facilmente identificados no estudo do envolvimento paterno: os processos proximais estariam mais relacionados à dimensão interação entre pai e filho; a pessoa seria o pai, a criança e suas características pessoais. O contexto estaria relacionado ao ambiente que a criança e o pai fazem ou não parte, mas recebem influência. O tempo pode ser desde o momento em que o pai se envolve com o filho até o período histórico no qual esse pai faz parte, e também as próprias crenças em torno da deficiência que foram construídas sócio-historicamente. Assim, os quatro elementos do modelo PPCT podem estar relacionados e interferir nas dimensões (interação, disponibilidade e responsabilidade) do envolvimento do pai com a criança com transtorno do espectro autista.

Deste modo, mesmo que a proposta do presente artigo tenha sido desenvolver um ponto de partida, tem-se como limitação o não aprofundamento em alguns aspectos. No entanto, a articulação do modelo bioecológico com as características do TEA e do envolvimento paterno mostra relevância para se pensar em intervenções que considerem o desenvolvimento humano como um processo multideterminado e atravessado por todos os fatores contextuais e individuais que envolvem a pessoa em desenvolvimento.

Assim, a fim de promover a saúde de famílias com filhos autistas, pode-se pensar em intervenções que busquem estimular o envolvimento do pai, expandir a rede de apoio social e as fontes de informação sobre o transtorno, visando diminuir o estresse familiar, melhorar as relações entre os membros e garantir um melhor desenvolvimento para a criança e para aqueles que se relacionam com ela.

Portanto, verifica-se que os aspectos teóricos e epistemológicos da Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano se revelam úteis no estudo e compreensão do envolvimento paterno com crianças TEA. Sugere-se, para estudos futuros, que mais produções relacionadas ao envolvimento paterno com filhos com TEA sejam realizadas, utilizando-se esta perspectiva teórica.

 

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Recebido: 20/10/2015 / Corrigido: 04/02/2016; 07/02/2016 / Aceito: 10/03/2016.

 

 

1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Psicologia, na Universidade Federal de Santa Catarina. Telefone: (48) 9867-7698; e-mail: marialuiza.iusten@gmail.com. Programa de Pós-Graduação em Psicologia - Departamento de Psicologia - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Campus Reitor João Davi Ferreira Lima, Trindade, CEP: 88040-900, Florianópolis, SC -Brasil. Tel: (48) 9867-7698. E-mail: marialuiza.iusten@gmai.com
2 Doutor em Psicologia Experimental pela USP. Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina. Contato: Programa de Pós-Graduação em Psicologia - Departamento de Psicologia - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Campus Reitor João Davi Ferreira Lima, Trindade, CEP: 88040-900, Florianópolis, SC - Brasil. Tel / Fax: (48) 3721-9984. E-mail: maurolvieira@gmail.com
3 Doutora em Psicologia Clínica (PUC-SP), Professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina. Contato: Psiclin - Núcleo de Psicologia Clínica. Universidade Federal de Santa Catarina. Campus Universitário - Trindade - Caixa postal 476, Sala 214 - Bloco D - CFH, CEP: 88040-900 - Florianópolis - SC - Brasil. Fone: 048-37218607. E-mail: danis@cfh.ufsc.br

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