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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

versión impresa ISSN 1415-711X

Bol. - Acad. Paul. Psicol. vol.39 no.97 São Paulo jul./dic. 2019

 

I. TEORIAS, PESQUISAS E ESTUDOS DE CASO

 

Bem estar subjetivo: um estudo comparativo entre crianças dotadas e talentosas e crianças não dotadas

 

Subjective well-being: a comparative study between gifted children and not gifted children

 

Bienestar Subjetivo: Un estudio comparativo entre niños talentosos y niños no talentosos

 

 

Maria Luiza Pontes de França-FreitasI; Almir Del PretteII; Zilda A. P. Del PretteIII

IMaria Luiza Pontes de França-Freitas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil – Doutora em Psicologia. Escola de Ciências e Tecnologia – UFRN - Campus Universitário, Av. Senador Salgado Filho, s/n - Lagoa Nova, Natal-RN. CEP: 59078-970 - Telefone: (84)99681-9872, E-mail: mluizapf@yahoo.com.br. https://orcid.org/0000-0003-1173-1530.
IIAlmir Del Prette, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil - Doutor em Psicologia. Programa de Pós-Graduação em Psicologia – PPGPSI - Universidade Federal de São Carlos - Rodovia Washington Luís, km 235 - SP-310, São Carlos - São Paulo – Brasil - CEP 13565-905. Telefone: (16) 98111-6956 - E-mail: adprette@ufscar.br. https://orcid.org/0000-0003-2051-1214.
IIIZilda A. P. Del Prette, Universidade Federal de São Carlos – Pós-Doutora em Psicologia. Programa de Pós-Graduação em Psicologia – PPGPSI - Universidade Federal de São Carlos - Rodovia Washington Luís, km 235 - SP-310, São Carlos - São Paulo – Brasil - CEP 13565-905. Telefone: (16) 98111-6956 - E-mail: zdprette@ufscar.br - https://orcid.org/0000-0002-0130-2911

 

 


RESUMO

Existe uma carência de pesquisas investigando os aspectos socioemocionais de indivíduos dotados e talentosos, especificamente o bem-estar subjetivo. Diante disso, o objetivo desse estudo foi comparar o nível de bem-estar subjetivo de crianças dotadas e talentosas com o de crianças não dotadas. Participaram 394 crianças na faixa-etária de oito a doze anos. Dessa amostra geral, 269 crianças eram sinalizadas como dotadas e talentosas e 125 crianças eram identificadas como não dotadas. Os participantes responderam aos seguintes instrumentos: Escala Multidimensional de Satisfação de Vida para Crianças (EMSVC); Escala de Afeto Positivo e Negativo para Crianças. A partir de análises descritivas e inferenciais foi possível verificar que as crianças dotadas apresentaram maior nível de bem-estar subjetivo do que as crianças não dotadas. Pode-se afirmar que esta pesquisa contribui com informações para compreender melhor quais as características e reais necessidades socioemocionais das crianças dotadas e talentosas.

Palavras-chave: bem-estar subjetivo; dotação; talento.


ABSTRACT

There is a clear lack of studies about the socio-emotional characteristics of gifted and talented children, especially about subjective well-being. Therefore, the aim of this study was to compare the subjective well-being level of gifted and talented children with those who were ungifted. 394 children with age range between eight and twelve years participated. From this overall sample, 269 children were signed as gifted and talented children and 125 were identified as ungifted children. Participants completed the following questionnaires: Multidimensional Life Satisfaction Scale for Children (MLSSC), Positive and Negative Affect Scale for Children. From descriptive and inferential analyzes it was possible to verify that the gifted children showed higher levels of subjective well-being than the ungifted children. It can be said that this research contributes with information to better understand the characteristics and real socio-emotional needs of gifted and talented children.

Keywords: subjective well-being; giftedness; talent.


RESUMEN

Existe una falta de investigaciones que aborden los aspectos socioemocionales de las personas talentosas, específicamente el bienestar subjetivo. Dado esto, el objetivo de este estudio fue comparar el nivel de bienestar subjetivo de los niños talentosos con el de los niños no talentosos. Participaron 394 niños de 8 a 12 años. De esta muestra general, 269 niños fueron señalados como talentosos y 125 niños fueron identificados como no talentosos. Los participantes respondieron a los siguientes instrumentos: Escala de satisfacción de vida multidimensional para niños (EMSVC); Escala de afecto positivo y negativo para niños. A partir de análisis descriptivos e inferenciales, fue posible verificar que los niños identificados como talentosos tenían un mayor nivel de bienestar subjetivo que los niños identificados como no talentosos. Podemos afirmar que esta investigación aporta información para comprender mejor las características y las necesidades socioemocionales reales de los niños identificados como talentosos.

Palabras clave: bienestar subjetivo; niños talentosos


 

 

Introdução

Diferentes correntes filosóficas embasam as pesquisas sobre o bem-estar, resultando em variadas concepções a respeito desse constructo (Lima e Morais, 2018), como a do bem-estar subjetivo (paradigma hedônico), centrada em experiências de prazer versus desprazer, resultantes de julgamentos pessoais sobre os aspectos positivos e negativos da vida (Diener, 1984), bem como a do bem-estar psicológico (eudaimônico), centrada no desenvolvimento das potencialidades humanas, autorrealização e desenvolvimento pessoal (Ryff, 1989).

Diener, Oishi e Tay (2018) afirmam que recentemente, os cientistas comportamentais voltaram sua atenção para o tema bem-estar e se concentraram não em definir o que uma vida boa deveria ser, mas sim nos fatores que levam as pessoas a vivenciar subjetivamente suas vidas como valiosas e recompensadoras. Segundo esses autores, enquanto os filósofos e líderes religiosos procuram prescrever o que a boa vida implica, os cientistas comportamentais observam os fatores que levam as pessoas a pensar e experimentar suas vidas de maneiras positivas versus negativas, denominando como bem-estar subjetivo.

O estudo do bem-estar subjetivo cresceu imensamente ao longo das últimas décadas, de uma área estagnada e com poucos estudos para um grande empreendimento ocupando muitos cientistas em diferentes áreas (Diener, Oishi, & Tay, 2018). Essa temática tem sido estudada com as mais diversas nomeações como felicidade, satisfação com a vida, afetos positivos, estado de espírito, qualidade de vida subjetiva e outras (Albuquerque, & Tróccoli, 2004; Eddington, & Shuman, 2005; Sariçam, 2015). Autores têm sugerido a utilização do termo bem-estar subjetivo principalmente em substituição ao termo felicidade devido às diversas conotações encontradas na literatura geral referentes a este último (Eddington, & Shuman, 2005).

O que há em comum entre esses termos é que todos fazem parte das características socioemocionais de um indivíduo e ao se perguntar a respeito da felicidade de crianças dotadas e talentosas a resposta pode partir dos estudos sobre essas características socioemocionais. Na revisão de estudos realizada por Neihart (1999, 2016), Webb (1993) e Richards, Encel e Shute (2003), os autores afirmam que predominam duas visões contrastantes a respeito dessa temática. Em relação à primeira visão, considera-se que as crianças dotadas apresentam geralmente melhor ajustamento socioemocional que seus colegas não dotados e que a dotação protege essas crianças do mau ajustamento. Na segunda perspectiva considera-se que as crianças dotadas são mais propensas aos problemas de ajustamento socioemocional do que seus colegas não dotados e que a dotação aumenta a vulnerabilidade da criança para dificuldades de ajustamento.

O mau ajustamento de crianças dotadas vem ganhando disseminação na literatura por inúmeras razões, como as mencionadas por Richards et al. (2003). Um dos primeiros fatores, citado pelos autores, que contribui para esta visão é que os pesquisadores identificam suas amostras na população de jovens dotados que já são considerados populações especiais de elevado risco em relação ao mau ajustamento, como por exemplo, jovens com deficiências, adolescentes do gênero feminino e adolescentes com experiências culturais e linguísticas diversas ou com baixo nível socioeconômico. Essas populações especiais de jovens dotados intelectualmente podem ser mais vulneráveis às dificuldades de ajustamento emocional não pelo fato da dotação, mas sim pelas condições, como as citadas, que os tornam especiais.

Autores têm relatado que não existem evidências confiáveis para mostrar que a capacidade excepcionalmente elevada, por si só está associada a problemas emocionais e que alguns estudos com indivíduos dotados têm encontrado resultados contrários, ou seja, que esses indivíduos são emocionalmente mais "fortes" do que indivíduos não dotados, apresentam melhor e maior produtividade, maior motivação e menores níveis de ansiedade (Freeman, 1998; Goodhew, 2009). Merrell, Gil, McFarland, & McFarland (1996) também defendem que as crianças dotadas apresentam melhor ajustamento socioemocional, no geral, por apresentarem menos sintomas internalizantes. Com o intuito de investigar esses sintomas em crianças dotadas, os autores compararam 65 crianças identificadas como dotadas com um grupo de crianças identificadas como não dotadas, a partir do preenchimento da Escala de Sintomas Internalizantes para crianças, ISSC (Merrell, & Walters, 1996). Neste estudo, a maioria das crianças dotadas relatou menores níveis de sofrimento emocional e afeto negativo quando comparadas aos seus pares não dotados. Os indivíduos dotados lidam melhor, por exemplo, com o estresse e com os conflitos do que seus colegas não dotados (Neihart, 1999). Além disso, outros pesquisadores têm confirmado que as crianças dotadas demonstram melhor ajustamento socioemocional que seus pares não dotados (Bain, & Bell, 2004; Howard-Hamilton & Franks, 1995; Litster, & Roberts, 2011; McCallister, Nash, & Meckestroth, 1996; Nail, & Evan, 1997; Versteynen, 2001).

Nesse sentido, ao considerar os diferentes resultados apresentados por pesquisadores no contexto internacional, destaca-se que dentro da temática geral das características socioemocionais dessas crianças, bem-estar subjetivo é uma variável que contribui para compreensão de alguns aspectos emocionais da vida das mesmas. Diener, Lucas e Oishi (2005) definem o bem-estar subjetivo como a avaliação cognitiva e afetiva que a pessoa faz sobre a própria vida. Em outras palavras, bem-estar subjetivo refere-se ao que as pessoas pensam e como elas se sentem sobre suas vidas (Giacomoni, 2002).

Pode-se entender que o bem-estar é composto por três dimensões: satisfação com a vida, afeto positivo e afeto negativo (Diener, & Lucas, 2000). Esses três componentes formam um fator global de variáveis inter-relacionadas (Giacomoni, 2002). Os afetos positivo e negativo estão relacionados com a avaliação afetiva, e satisfação com a vida está relacionada com a avaliação cognitiva. Como exemplo de avaliação afetiva é mencionada a situação em que a pessoa experiencia humores e emoções prazerosas ou desprazerosas (Giacomoni, 2002). Dentre os afetos positivos pode-se destacar como exemplos sentimentos de alegria, satisfação, amor, diversão, força e com relação aos afetos negativos relata-se sentimentos de medo, culpa, depressão, desânimo, preocupação, tristeza, humilhação entre outros. É considerada uma avaliação cognitiva da pessoa sobre a sua própria vida quando esta faz um julgamento avaliativo consciente sobre a sua vida como um todo, ou quando faz julgamentos sobre aspectos específicos como o lazer, a família ou a escola (Giacomoni, 2002; Giacomoni, & Hutz, 2008). Em outras palavras, ao avaliar sua satisfação de vida, o indivíduo examina e pesa os aspectos reais da sua vida, bons e ruins, e chega a um julgamento de satisfação de vida geral e de áreas específicas (Lucas, Diener, & Suh, 1996). Esse julgamento mais global, ou seja, sobre a vida como um todo, é caracterizado pela estabilidade temporal e pelo fato de não ser totalmente dependente do estado emocional da pessoa no momento da avaliação (Giacomoni, 2002).

A satisfação com áreas específicas também contribuem para o bem-estar subjetivo. Apesar de estar satisfeita com a sua vida em geral, o indivíduo pode não estar satisfeito com algum desses aspectos específicos da vida (Diener, Scollon, & Lucas, 2003). Nesta pesquisa são considerados os indicadores de satisfação com a vida apresentados por Giacomoni (2002) em seu estudo de construção e de validação concorrente das escalas para medida do bem-estar subjetivo infantil:

  • Self: este indicador é composto por características positivas (autoestima, bom-humor, capacidade de relacionar-se, capacidade de demonstrar afeto, e outras) que descrevem o self como positivo.
  • Self Comparado: o que caracteriza este indicador é o agrupamento de itens de caráter comparativo. A partir dele são realizadas avaliações comparativas com os pares referentes ao lazer, à amizade e à satisfação de desejos e afetos.
  • Não-Violência: este indicador possui características associadas a comportamentos agressivos;
  • Família: o conteúdo deste indicador específico envolve um ambiente familiar saudável, harmônico, afetivo, de relacionamentos satisfatórios, além de indicações de satisfação quanto à diversão;
  • Amizade: os relacionamentos com pares, nível de satisfação desses relacionamentos e algumas indicações ao lazer, situações de diversão e apoio são aspectos que compõem este indicador;
  • Escola: este indicador aborda a importância da escola, o ambiente escolar, os relacionamentos interpessoais nesse espaço e nível de satisfação com relação a esse ambiente.

Em relação ao bem-estar subjetivo infantil Giacomoni (2002) o define como:

estando vinculado à vivência de afetos prazerosos, a um ambiente familiar acolhedor, a oportunidades de lazer, aos vínculos com pares, à satisfação de necessidades básicas materiais, à satisfação de alguns desejos, a um ambiente harmônico sem violência, à possibilidade de estudar e se desenvolver cognitivamente e, por fim, às possibilidades de desenvolvimento que promovam um self com características positivas (p.148).

Os principais eventos de vida positivos relacionados ao bem-estar subjetivo ou felicidade são os eventos familiares (Argyle, 1999; Giacomoni, 1998, 2002), seguidos pelo lazer, ao ganhar presentes, ao brincar e à escola (Giacomoni, 1998). Entre os indicadores de satisfação de vida, aqueles voltados para o relacionamento interpessoal, como, por exemplo, satisfação com a família, têm sido os mais significativos para a satisfação de vida global das crianças e adolescentes, apresentando mais importância do que a satisfação com amigos (Huebner, 1991; Sarriera et al., 2015).  Ao considerar as pesquisas com a população de crianças dotadas também tem sido identificada a mesma importância dada à família. Hébert (2019) afirma que apoio familiar serve de base para o desenvolvimento psicossocial, bem como que relacionamentos familiares amorosos são uma base sólida para desenvolver seus dons e talentos. Resultados de uma pesquisa revelaram que alunos dotados classificaram suas famílias como coesas e flexíveis, com altos níveis de satisfação e comunicação entre os membros da família (Olszewski-Kubilius, Lee, & Thomson, 2014).

Garces-Bacsal (2010) enfatiza que estudos têm identificado que os relacionamentos familiares são os principais eventos positivos que geram satisfação no relato de crianças dotadas e talentosas. Ash e Huebner (1998) afirmam que a satisfação com a vida de crianças dotadas é predita por relações familiares. Aspesi (2007) afirma que, de um modo geral, as famílias de crianças com potencial elevado são descritas pela literatura como famílias harmoniosas, afetivas, coesas e com menos conflitos do que as famílias de crianças que não demonstram potencial elevado. Além disso, na família das crianças dotadas verifica-se uma forte sensação de união sentida entre os familiares (Garces-Bacsal, 2010). Com o objetivo de descrever as características individuais e familiares de adolescentes talentosos a partir da percepção dos próprios adolescentes, seus familiares e professores, Chagas (2008) desenvolveu um estudo utilizando instrumentos e entrevistas. Dentre os resultados obtidos destaca-se que referente às características afetivas, sociais e emocionais uma das mais percebidas nos relatos foi a responsabilidade na execução das atividades e bom humor. Em relação as características familiares, as famílias das crianças priorizavam a educação e o desenvolvimento do talento dos filhos e estavam envolvidas em um leque variado de atividades rotineiras e de lazer.

O lazer e o fornecimento de atividades diversificadas e enriquecidas também desempenham um importante papel para o bem-estar subjetivo das crianças. Estudos demonstraram que o lazer prediz aumento nos níveis de bem-estar (Giacomoni, 2002). Atividades de lazer podem ser fornecidas tanto pela família como pela escola. A escola é um meio que possibilita atividades diversificadas de lazer e promoção da socialização das crianças, além de desenvolver suas capacidades. Giacomoni (2002) afirma que o contexto educacional apresenta efeitos sobre o lazer, uma vez que esse contexto é fonte de muitos tipos de lazer, proporcionando o contato com a arte, a música, a leitura e os esportes. No caso das crianças dotadas e talentosas, ao considerar o contexto escolar, destaca-se que a maioria dessas crianças apresenta elevado sucesso acadêmico e ao alto nível de auto eficácia em relação às atividades escolares (Hallahan, & Kauffman, 2003). Provavelmente elas também tenham objetivos pessoais com ênfase no sucesso acadêmico, e também provavelmente recebem reforço substancial para o alto sucesso acadêmico (Ash, & Huebner, 1998). Apesar do papel significativo da escola, no que diz respeito ao desenvolvimento da competência escolar, entre outras competências, estudos (Ash, & Huebner, 1998; Garces-Bacsal, 2010; Huebner, 1991) indicam que os relacionamentos interpessoais são mais importantes para a satisfação de vida global de crianças dotadas.

Referente aos relacionamentos interpessoais com os pares subentende-se que as crianças dotadas apresentam alto nível de satisfação com a amizade uma vez que estudos indicam que essas crianças são aceitas, se relacionam bem com os colegas e são competentes socialmente (Bain et al., 2006; França-Freitas, 2012; França-Freitas, Del Prette, & Del Prette, 2014; Galloway, & Porath, 1997; Goméz-Peréz, 2014; Hallahan, & Kauffman, 2003; McCallister, et al., 1996; Norman, et al., 2000). A relação com os pares e a competência social constituem dois fatores frequentemente incluídos em uma avaliação do ajustamento psicológico da criança (Neihart, 1999). Czeschlik e Rost (1995) investigaram crianças dotadas no domínio da inteligência a partir da análise de cinco categorias sociométricas: 'popular', 'rejeitado', 'negligenciado', 'polêmico' e 'médio'. Foram utilizados testes de inteligência em uma amostra de 5861 crianças pertencentes a 317 turmas da terceira série. Esses autores identificaram que alunos com quocientes de inteligência mais altos foram identificados como mais populares e queridos entre os colegas.

Ao considerar a relação do bem-estar subjetivo com o construto dotação e talento é importante mencionar que existe uma carência de pesquisas investigando formalmente as características do bem-estar subjetivo de indivíduos dotados (Boazman, 2006; Wirthwein, & Rost, 2011). A maioria dos estudos encontrados na literatura da área abordam características mais gerais apresentadas por diferentes autores com a denominação de ajustamento socioemocional, psicossocial, emocional, psicológico e outros (Nail, & Evans, 1997; Richards et al., 2003). Considerando especificamente as pesquisas nacionais, destaca-se que prevalece no país a falta de maior conhecimento da comunidade científica e de pesquisas empíricas a respeito dessa variável, bem-estar subjetivo, na população de crianças dotadas e talentosas, uma vez que predominam as publicações sobre as características cognitivas e necessidades educacionais dessas crianças. A partir dessas considerações, o objetivo geral desse estudo foi comparar o nível de bem-estar subjetivo de crianças dotadas e talentosas com o de crianças não dotadas.

 

Método

Participantes

A amostra deste estudo era composta por 394 crianças na faixa-etária de 8 a 12 anos, de ambos os sexos. Dessa amostra, 269 crianças eram identificadas como dotadas e talentosas e 125 crianças eram sinalizadas como não dotadas. No caso dos sujeitos dotados e talentosos foi adotado um critério para a composição da amostra: dotação em pelo menos um dos domínios da capacidade humana (inteligência geral, criatividade, capacidade socioafetiva e capacidade sensoriomotora). Foram excluídos indivíduos dotados e talentosos que não frequentavam ou que não foram submetidos ao processo padrão de identificação de dotação e talento dos Centros para desenvolvimento do potencial e talento onde foram coletados os dados.

A maioria das crianças dotadas e talentosas foi do gênero feminino (53,2%) com uma mediana de idade de 11 anos (DP = 0,911; amplitude de 8 a 12) de escolas públicas (91,1%), cursando a 5ª série do ensino fundamental (50,9%). As 125 crianças identificadas como não dotadas estavam matriculadas em escolas regulares da rede pública de ensino que eram vinculadas à um dos centros para desenvolvimento do potencial e talento. A maioria das crianças não dotadas pertencia ao gênero feminino (63%), tinha uma mediana de idade de 11 anos (DP = 0,54) e cursava a quinta série do ensino fundamental. Essas crianças frequentavam as mesmas salas de aulas, na escola regular, que as crianças dotadas identificadas pelo centro e durante o processo de identificação realizado por esse centro nas escolas regulares essas 125 crianças não foram sinalizadas como dotadas, ou seja, não foram sinalizadas durante a observação dos professores no período de dois anos.

 

Instrumentos

Os participantes da pesquisa responderam a duas escalas para medir o bem-estar subjetivo, uma referente à satisfação com a vida e outra ao afeto positivo e negativo. Além desses instrumentos, os participantes responderam a algumas questões voltadas para a caracterização da amostra deste estudo, como, por exemplo, idade, gênero, ano de escolaridade.

A Escala Multidimensional de Satisfação de Vida para Crianças (EMSVC), elaborada por Giacomoni e Hutz (2008), é uma escala tipo likert, que varia de 1 (nem um pouco) a 5 (muitíssimo), composta por 50 itens distribuídos em seis fatores, que explicam 46, 5% da variância total, caracterizados como: self (exemplo de item: Eu sou alegre),  self comparado (exemplo de item: Meus amigos são mais alegres do que eu), não violência (exemplo de item: Brigo muito com meus amigos), família (exemplo de item: Meus pais são carinhosos comigo), amizade (exemplo de item: Estou satisfeito com os amigos que tenho) e escola (exemplo de item: Eu gosto de ir à escola). Os autores encontraram consistências internas adequadas para cada subescalas (0,82 a 0,86), assim como para a escala total (0,93). A validade concorrente foi confirmada por correlações médias com medidas critério.

A Escala de Afeto Positivo e Negativo para Crianças, elaborada por Giacomoni e Hutz (2006), é composta por 30 termos nos quais o respondente pontua diferentes sentimentos e emoções (15 itens de afeto positivo e 15 de afeto negativo). Exemplos de alguns dos termos que compõem a escala utilizada são: alegre, impaciente, feliz, envergonhado, amoroso, irritado, triste. A escala também é tipo likert e varia de1 (nem um pouco) a 5 (muitíssimo). Os coeficientes alfa de Cronbach das subescalas de Afeto Positivo (0,88) e de Afeto Negativo (0,84) apontam evidências de confiabilidade e a escala apresenta boas evidências de validação concorrente. A partir de análises fatoriais os autores confirmaram a estrutura da escala por meio da solução de dois fatores em ambos os estudos.

 

Procedimento

A aplicação dos questionários na amostra de crianças dotadas e não dotadas foi realizada nas escolas e centros, um localizado em Minas Gerais e o outro em São Paulo. Antes de iniciar a coleta de dados foram atendidos os critérios éticos4, garantido o anonimato, bem como repassadas as informações sobre as pesquisas para diretoras, pais e crianças. Para tabulação e análise dos dados contidos nos questionários foi utilizada a versão 18.0 do pacote estatístico Predictive Analytics Software Statistics (PASW Statistics Base for Windows). Para comparação do nível de bem-estar subjetivo das crianças dotadas e talentosas foi realizada análise de Teste t de Student para amostras independentes comparando o nível de bem-estar subjetivo de crianças dotadas (N=269) com a amostra de crianças não dotadas (N=125).

 

Resultados e Discussão

Ao comparar as médias das duas amostras, crianças dotadas e crianças não dotadas, pode-se verificar (ver Tabela 1) diferença estatisticamente significativa para a maioria dos indicadores de bem-estar subjetivo.

 

 

A pontuação no escore geral de bem-estar subjetivo foi mais alta para as crianças dotadas (M = 353,45; DP = 33,91) do que para as crianças não dotadas (M = 328,56; DP = 41,35) [t (204,4) = -5,87; p < 0,001]. Apesar de não serem encontrados estudos sobre o nível de bem-estar subjetivo comparando crianças dotadas com as crianças não dotadas, estudos evidenciam que as primeiras têm um melhor ajustamento socioemocional no geral (Bain, & Bell, 2004; Howard-Hamilton, & Franks, 1995; McCallister, Nash, & Meckestroth, 1996; Merrell, Gil, McFarland, & McFarland, 1996; Nail, & Evan, 1997; Neihart, 1999; Versteynen, 2001).

Considerando os escores fatoriais, as crianças dotadas, quando comparadas às crianças não dotadas, relataram maior frequência de ocorrência para os seguintes indicadores: satisfação global (M = 213,88; DP = 20,52) [t (192,41) = -5,96, p < 0,001]; self (M = 41,45; DP = 5,41) [t (197,52) = -2,53, p = 0,012]; selfcomparado (M = 30,69; DP = 5,95) [t (199,2) = -3,14, p = 0,002]; não violência (M = 17,82; DP = 2,29) [t (198,24) = -16,02, p < 0,001]; família (M = 50,42; DP = 4,87) [t (163,66) = -2,40, p = 0,017]; amizade (M = 43,33; DP = 6,08) [t (206,3) = -2,96, p = 0,003] e escola (M = 30,16; DP = 3,86) [t (181,79) = -5,71, p < 0,001].

Como esperado na literatura (Bain, & Bell, 2004; Hallahan, & Kauffman, 2003) as crianças dotadas apresentaram maior nível no indicador self. Alguns estudos têm encontrado evidências em relação aos indivíduos dotados que podem corroborar esse resultado: têm autoestima mais elevada (Bain, & Bell, 2004), são emocionalmente mais fortes e menos ansiosos (Freeman, 1998), são mais autoconscientes e autoconfiantes (Hallahan, & Kauffman, 2003), dentre outros.

Referente à satisfação com amizade destaca-se que o fato das crianças dotadas terem relatado maior nível neste indicador do que as crianças não dotadas pode ser um resultado previsto. Isso porque se subtendem que essas crianças sintam-se satisfeitas justamente por se relacionarem bem com os colegas, serem competentes socialmente (Galloway, & Porath, 1997; Hallahan, & Kauffman, 2003; McCallister, et al., 1996) e serem mais populares e queridos entre os colegas (Czeschlik, & Rost, 1995).

A diferença verificada entre as crianças dotadas e não dotadas para o indicador satisfação com escola pode ser devido ao elevado sucesso acadêmico e ao alto nível de auto eficácia em relação às atividades escolares, que são algumas das características de crianças dotadas (Hallahan, & Kauffman, 2003). Ash e Huebner (1998) afirmam que a maioria dos alunos dotados provavelmente tem objetivos pessoais com ênfase no sucesso acadêmico, bem como recebem reforço substancial para o alto sucesso acadêmico. Esses indícios possivelmente podem contribuir para maior satisfação das crianças dotadas referente ao contexto escolar.

Referente ao indicador afeto positivo, não foi verificada diferença significativa [t (392) = -1,45, p = 0,146] entre a amostra de crianças dotadas (M = 69,32; DP = 8,93) e não dotadas (M =67,86; DP = 9,85). Todavia, em relação ao indicador afeto negativo, as crianças não dotadas apresentaram maior média (M = 38,74; DP = 13,22) [t (392) = 5,41, p < 0,001], ou seja, as crianças dotadas relataram menor nível de afeto negativo. Esse último resultado foi semelhante ao obtido por Merrell et al. (1996) que constataram que a maioria das crianças dotadas relatou menores níveis de sofrimento emocional e afeto negativo quando comparadas aos seus pares não dotados.

A hierarquia das pontuações nos indicadores de bem-estar subjetivo, para a amostra de crianças dotadas e de crianças não dotadas, obtida a partir da análise das médias ponderadas, pode ser verificada na Tabela 2. As duas amostras relataram maior nível de satisfação com a família e menor nível de afeto negativo. A diferença observada ao comparar as duas amostras é que o indicador não violência apresentou o segundo posto da hierarquia para a amostra de crianças dotadas e sétima colocação para a amostra de crianças não dotadas. Ao considerar a Tabela 2, verifica-se que afeto positivo foi o terceiro indicador na hierarquia para a amostra de crianças não dotadas e o sexto na amostra de crianças dotadas.

 

 

Apesar das duas amostras apresentarem como primeiro posto da hierarquia o indicador satisfação com a família, quando comparadas verificou-se que as crianças dotadas relataram maior nívelneste indicador do que as crianças não dotadas. De acordo com Ash e Huebner (1998) e Garces-Bacsal (2010), as crianças dotadas atribuem maior importância a esse indicador, dentre outros indicadores de bem-estar subjetivo. Garces-Bacsal (2010) alegou também que as crianças dotadas relataram maior nível de satisfação com a família do que as crianças não dotadas. Uma possível explicação, para as crianças dotadas sentirem maior satisfação com as suas famílias, pode estar relacionada às características dessas famílias, descritas na literatura como harmoniosas, afetivas, coesas, com menos conflitos (Aspesi, 2007) e com maior sensação de união (Garces-Bacsal, 2010) do que as famílias de crianças não dotadas, além de estarem envolvidas em um leque variado de atividades rotineiras e de lazer (Chagas, 2008) contribuindo para atender algumas das necessidades dessas crianças.

 

Considerações Finais

A partir da realização deste estudo de caráter descritivo, afirma-se que, no geral, os resultados obtidos, em relação aos componentes do bem-estar subjetivo (satisfação com a vida, afeto positivo e afeto negativo), confirmam os resultados encontrados por pesquisadores como Aspesi (2007), Bain e Bell (2004), Chagas (2008), Czeschlik e Rost (1995), Garces-Bacsal (2010), Hallahan e Kauffman (2003) e Merrell et al. (1996). Nesse sentido, a partir da verificação de que as crianças dotadas e talentosas relataram alto nível de bem-estar subjetivo, afirma-se que este trabalho contribui com informações que podem ser somadas aos resultados de outras pesquisas que apontam evidências que comprovam empiricamente que a ideia amplamente divulgada nos meios de comunicação de que as crianças dotadas e talentosas possuem problemas de ajustamento emocional trata-se de um mito.

O fato de realizar esse estudo com uma amostra de crianças dotadas advindas da população geral, ou seja, que não fazem parte da população especial de elevado risco de mau ajustamento, como, por exemplo, crianças dotadas encaminhadas por profissionais da saúde e por clínicas-escola, tornam os resultados mais representativos, permitindo contribuir para a compreensão de alguns aspectos emocionais da vida de crianças dotadas e talentosas.

O nível mais alto de satisfação das crianças dotadas, comparadas com as crianças não dotadas, em relação aos principais interlocutores de convívio social, como a família, membros da escola e amigos fortalecem o argumento contrário a crença de que as dificuldades interpessoais e desajustamento socioemocional são características de crianças dotadas e talentosas. Acrescenta-se que os resultados alcançados podem ser considerados como indicadores auxiliando na identificação de crianças que se destacam no domínio socioafetivo, dado que poucos programas selecionam crianças dotadas baseados em suas características emocionais, sua competência social e variáveis relacionadas.

Apesar dos resultados encontrados, sugere-se a realização de pesquisas futuras no intuito de avaliar e comparar o nível de bem-estar subjetivo em indivíduos dotados e talentosos em outra faixa-etária, como, por exemplo, adolescentes e adultos. Como limitação desta pesquisa destaca-se a ausência de relatos de outros significantes (familiares, professores e pares), o que pode comprometer a generalização dos resultados, pois o autorrelato, instrumento de medida utilizado na presente pesquisa descrita, está aberto a fontes de erros como, por exemplo, desejabilidade social e interpretação diferenciada dos itens.

 

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Recebido: 23.01.2019 / Corrigido: 02.08.2019 / Aprovado: 03.09.2019

 

 

4 Pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética da UFSCAR com protocolo 0668.0.000.135-09.

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