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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

versão impressa ISSN 1415-711X

Bol. - Acad. Paul. Psicol. vol.39 no.97 São Paulo jul./dez. 2019

 

IV. MEMÓRIA

 

Vida e Obra de Luiz Washington Vita

 

 

Luís Washington Vita que teria completado em março deste ano, 79 anos, pois faleceu prematuramente aos 47 anos em 1968, nasceu em São Paulo (Capital), filho de Antonio Vita e Dna. Angelina Maffei Vita. Fez o curso primário com os Irmãos Maristas no Colégio Nossa Senhora da Glória, do bairro do Cambuci, na capital paulistana, e o secundário no Colégio Anglo-Latino. Bacharel em Filosofia pela Universidade de São Paulo; bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, concluiu seu Doutorado com distinção na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Foi também jornalista militante, atuando como redator dos Diários Associados de São Paulo.

Washington Vita ocupou vários cargos importantes em instituições, tanto públicas como particulares. Destacaremos algumas: secretário executivo do Fórum Roberto Simonsen, órgão promocional de Cultura do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, diretor-secretário do Instituto Brasileiro de Filosofia (secção de São Paulo) e procurador Chefe da Municipalidade de São Paulo, onde exerceu também o cargo e função de procurador assistente da diretoria de Assuntos Jurídicos da Prefeitura de São Paulo.

Em sua vida acadêmica, destaca-se seu trabalho como professor não só no Brasil como no exterior. Na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, ministrou as disciplinas, Filosofia e Filosofia Social (1964-1967), foi professor visitante da Universidade do Panamá e membro honorário das Universidades Nacionais Argentinas. Participou como professor e conferencista em várias instituições de outros países, como Estados Unidos e Canadá.

Numa época em que a Psicologia não gozava da expressividade de hoje, seus escritos e sua atuação como professor, funcionaram como verdadeiras sementes para o desenvolvimento dessa Ciência no Brasil — haja visto sua participação como membro da Sociedade de Psicologia de São Paulo.

Publicou cerca de 20 títulos sobre: história da filosofia, filosofia da arte e filosofia do direito. Muito contribuiu com seus estudos filosóficos para maior compreensão do papel do homem na sociedade. Numa de suas publicações intitulada "Momentos Decisivos do Pensamento Filosófico" de 1964, Washington Vita apresenta os textos mais significativos dos grandes pensadores, de Platão a Sartre, sistematicamente organizados e precedidos de sintéticas exposições a propósito das épocas filosóficas, bem como de breves dados bibliográficos dos autores apresentados. Essa é, sem dúvida uma obra que propicia um contato direto com o pensamento especulativo de todos os tempos, nos seus momentos mais decisivos e cruciais.

Outra publicação que merece destaque é sua obra póstuma "A Filosofia Contemporânea em São Paulo", publicada em 1969, na qual agrupa as influências recebidas de tradicionais correntes de pensamento universal como o positivismo, o liberalismo, o marxismo e o culturalismo, assinalando o importante papel do Instituto Brasileiro de Filosofia aliado à Revista Brasileira de Filosofia, centro irradiador da espiritualidade paulista para todo o país, a que se deve a instauração da filosofia no Brasil.

Referindo-se a Vita, o eminente jurista Miguel Reale o chama de historiador de ideias, pois para ele, a história tinha um significado imanente por ser a livre auto-realização e decisão do espírito, de tal modo que se cada descoberta da verdade tem uma data e um lugar certo, a verdade descoberta transcende o espaço e o tempo. Desta forma realizava um esforço constante na busca da razão histórica como superação do mero acontecer dos fatos, o que o levava a indagar do sentido subjacente mais profundo, do pensar brasileiro.

Luís Washington Vita foi surpreendido pela morte em 28 de outubro de 1968, quando se achava na plenitude de sua força criadora, numa fase de reelaboração das próprias ideias, após tantos anos de amoroso estudo dos pensamentos alheios. Seu trabalho ficou inacabado, mas sua memória permanece em todos os que o conheceram, ficando para nós sua imagem como um raro exemplo de homem de pensamento e de ação.

 

Edda Bomtempo
Cadeira 36, "Washington Vita"
(Boletim APP ano XX, nº 3-4/00, pp.7-8)

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