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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

versão impressa ISSN 1415-711X

Bol. - Acad. Paul. Psicol. vol.40 no.98 São Paulo jan./jun. 2020

 

II. RESENHAS DE LIVROS

 

Sakamoto, C. K. & Andreucci Júnior, S.J. (Orgs.) (2019). Estudos sobre a criatividade: comunicação e inovação em debate. São Paulo: Gênio Criador

 

 

Hilda Rosa Capelão AvogliaI

IProfessora Doutora pelo Instituto de Psicologia da USP. Docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Desenvolvimento e Políticas Públicas – Universidade Católica de Santos e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde – Universidade Metodista de São Paulo. Rua José Benedetti, 237. São Caetano do Sul, SP. CEP 09531-000. E-mail: hildaavoglia@terra.com.br

 

 

A obra Estudos sobre a Criatividade, organizada por Sakamoto e Andreucci (2019), retrata não apenas a iniciativa empreendedora de seus organizadores, mas também representa o trabalho intelectual realizado pelo Grupo de Pesquisa CNPq-Fapcom Criatividade e Inovação na Comunicação e, nesse caso, contempla pesquisadores de diversas Universidades, o que favorece a divulgação de novos conhecimentos, enriquecendo a produção científica brasileira acerca do assunto. O percurso textual da obra ora resenhada se inscreve no âmbito da temática da Criatividade e da Inovação como uma referência de grande valia, embora seja possível identificar ao longo dos capítulos o foco na Comunicação como área central, os capítulos se valem dos aportes da Arte, Filosofia, Psicanálise e Psicologia transitando em cenários contemporâneos singulares e complexos que caracterizam a diversidade do momento sociopolítico com o qual convivemos. A criatividade é a temática central da obra, tratada ao longo de 22 capítulos que lhe creditam densidade e sustentam o desejo dos organizadores de alavancar o surgimento de novas ideias para o desenvolvimento de pesquisas e fomentar um prolífero diálogo a partir da amplitude das dimensões abarcadas pelo texto. O início do trabalho, no capítulo 1, já leva o leitor a ideia da cultura das redes que se impõem em um contexto interativo desencadeando o comportamento de trocas, transformando as práticas de consumo, o controle e a consciência social, apontando para o consumo colaborativo, a partir do papel dos algoritmos. Ainda nessa perspectiva, o capítulo 2 discute criticamente a sociedade do cansaço e propõe um contraponto a partir de uma nova pedagogia, a pedagogia do silêncio que propõe o uso da cultura, do lazer e dos processos criativos. Novos paradigmas na Educação são tratados no capítulo 3, sinalizando as transformações nos veículos de conhecimento e na trajetória dos profissionais envolvidos no processo educativo. A cibercultura, as novas tecnologias e a produção editorial digital são abarcadas como novos instrumentos de suporte para o acesso aos conteúdos programáticos, à vida ocupacional, científica e cotidiana. De uma maneira arrojada, o capítulo 4 apresenta ao leitor o projeto digital CAPA - a primeira página que você não vê no jornal que você lê, como resultado criativo que dá visibilidade a crítica social, política e econômica a partir do uso replicável do meme digital. A diversidade, marca que enriquece o livro, em questão pode ser confirmada em seu capítulo 5, que entrelaça o tema da criatividade com um reconhecido personagem do mundo atual, qual seja, o Papa Francisco, destacado em função de sua capacidade de diálogo diante dos mais diversificados setores da sociedade, seu humor positivo e sua criatividade, entendida como a matriz de sua personalidade que, segundo os autores, vai além do olhar midiático. O capítulo 6 se dedica a narrativa crítica e articulada das transformações históricas e permanentes experimentadas pela comunicação até os dias de hoje, com ênfase no debate dos conceitos atribuídos a internet. A linguagem enquanto forma de comunicação é ponto de partida para o desenvolvimento do capítulo 7, no qual as dificuldades encontradas pelo estudante de idiomas, em especial no que tange ao contato com os falantes nativos é aliviada pela criatividade, que sugere formas de utilização de ferramentas como fóruns on line, atenuando a distância física e promovendo a expressão da linguagem pela comunicação. O processo criativo nesta obra é também centrado na figura do artista e, para tanto, o capítulo 8 brinda o leitor com a apresentação de Luiz Martins, artista voltado a pintura e escultura, encadeando conceitos de memória e criatividade que, apesar de sua complexidade, manifestam-se por meio do repertório e do contexto sociocultural vivido pelo artista. O capítulo 9 refuta a ideia de uma teoria universal e aborda a necessidade de compreensão da cultura Nobrow. Resgata a condição de "extremamente nova" da Teoria da Comunicação, mesmo no cenário de uma sociedade hipermidiática, argumentando que a teoria contemporânea da comunicação e a cultura Nobrow são marcadas pelos elementos dessas teorias. O capítulo 10 é dotado de um caráter informativo acerca da análise das diferentes formas de tráfico humano, apresentando dados de uma pesquisa que assinala a relevância do tema e subsidia a proposição de ações criativas de sensibilização. A criatividade pode também provocar transformações sociais no universo do trabalho, como explicado no capítulo 11, ao tratar da Economia do Bem Comum que prioriza a dignidade humana e a fraternidade, propondo que para a geração de lucros é imprescindível a ajuda mútua e o compromisso social. O fazer artístico é tratado no capítulo 12 para além de sua função estética e cognitiva, mas como elemento de investigação do agravamento de problemas sociais relevantes, como refúgio e migrações forçadas, trazendo à baila temas que assolam as preocupações humanas, associando a Arte e denúncia social na perspectiva da liberdade de expressão. Michel Foucault é o pensador que norteia a reflexão do capítulo 13, ou seja, expõe a estética da existência intrincada com a ética, para entender os processos de subjetivação, conjecturando pensar a vida criativa. Os novos modelos de interação humana permeados pela conectividade das redes sociais digitais são alvos da temática apresentada no capítulo 14 e, nesse sentido, seus impactos são debatidos apontando, por um lado o valor da ciência atribuindo sentido e valor social e, por outro espírito comunitário do todo harmônico. O capítulo 15 demonstra o papel do Estado Democr&aacut e;tico de Direito garantindo a proteção à liberdade de expressão e manifestação do pensamento, contudo, o texto esclarece que nem sempre foi assim, e documenta os prejuízos ocasionados com a proibição de se falar em outro idioma. O aperfeiçoamento da vida comunitária, com núcleos de colonização e de novas condutas comunicacionais são apontadas como caminhos para a superação. A complexidade experimentada pela humanidade é discutida no capítulo 16, não sob prisma teórico, mas como fato da vida cotidiana marcada pela interação em redes e sistemas. A modernidade líquida é trazida ao texto, sinalizando seu impacto no modo reducionista e simplificado de compreender o mundo, denunciando a necessidade do ser criativo e inovador para adaptar-se a essas profundas transformações. O capítulo 17 desvenda ao leitor o percurso de desenvolvimento do pensamento criativo e imagético em meios da animação 3D, relacionando o funcionamento do cérebro inserido na cultura como elemento de transformação de informações imagéticas em signos gráficos, desenhos e códigos computacionais. O capítulo 18 se ocupa do relato de uma experiência de ensino, apoiada no uso de metodologia ativa e transmidiática ocorrida na ECA -USP, tendo como objetivo pensar a identidade da referia escola no que diz respeito a seus cursos, seus conteúdos e suas pessoas articulando-os ao momento digital. A requalificação profissional pode garantir a atualização de novas competências e habilidades as pessoas e, para tanto, o capítulo 19 apresenta a Educação Continuada como possibilidade para formação do adulto com ênfase na aquisição de conhecimento através da interação, desvelando o conservadorismo como propulsor de práticas educativas ultrapassadas. As mudanças criativas que envolvem as relações da mulher no mercado de trabalho extrapolam as condições de pobreza e discriminação, pois conforme a autora discute no capítulo 20, considera a reprodução social por meio de comportamentos construídos, discursos estereotipados de papeis e gênero. O capítulo 21 trata do acompanhamento de casos de projetos socioeducativos voltados para crianças e adolescentes, apoiados pela Lei Federal de incentivo à Cultura, explicitando criticamente a real contribuição social desses projetos. Reconhece a cultura como promotora do desenvolvimento social, geradora de renda e manifestada nas relações cotidianas diante do mundo, nesse sentido, prioritária enquanto política pública. Por fim, o capítulo 22 redimensiona o videoclipe como uma forma de comunicação criativa utilizada como plataforma de conteúdo midiático e inovador conforme proposta de Branded Content, aproximando conteúdo e a marca que este representa, impactando no consumidor e enaltecendo a importância do videoclipe como recurso transmidiático. A leitura permitirá ao leitor se deparar com muitos caminhos apontados como respostas, sendo algumas reflexivas, apoiadas no saber libertador de pensadores, outras operacionais, que não descartam a irreversibilidade da tecnologia, mas que sustentam a necessidade de uma adaptação ativa à essa realidade. De qualquer modo, a obra Estudos sobre a Criatividade – comunicação e inovação em debate, amplia e enriquece nossos recursos em busca do enfrentamento das adversidades impostas pela desumanização nas relações interpessoais. Recursos esses instigados pela criatividade e inovação.

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