SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.40 número98Trinca, Walter. (2019). Uma imagem pelo mundo. São Paulo: Editora Edgard Blucher LtdaAcademia índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Boletim - Academia Paulista de Psicologia

versão impressa ISSN 1415-711X

Bol. - Acad. Paul. Psicol. vol.40 no.98 São Paulo jan./jun. 2020

 

III. MEMÓRIA

 

Aprender e suas significações Re-

 

 

Lino de MacedoI

IInstituto de Psicologia, USP (Professor Emérito), Instituto de Estudos Avançados, USP - Instituto de Pesquisa PENSI, FJLES, membro da Academia Paulista de Psicologia, Cadeira nº22 "João Carvalhaes"

 

 

O Boletim da Academia Paulista de Psicologia – APP tem a satisfação de apresentar inicialmente o texto intitulado Aprender e suas significações Re-, pronunciado pelo Prof. Emérito do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Lino de Macedo, acadêmico da APP, durante a solenidade dos 40 anos da Academia Paulista de Psicologia, realizada no dia 07 de dezembro de 2019 na Biblioteca "Dante Moreira Leite", do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Nessa ocasião, o Prof. Lino de Macedo apresentou suas reflexões para o futuro do conhecimento psicológico e os desafios a serem enfrentados por este conhecimento. Ao fazer sua reflexão sobre a aprendizagem, destacou a importância dessa instância enquanto fundamental para a formação humana, para a construção dos valores que cultuamos na busca de uma vida com melhor qualidade e amplitude para novos possíveis e necessários. A seguir, também com imensa satisfação, este Boletim transcreve o texto Academia, apresentado na ocasião pelo Prof. Dr. Geraldo José de Paiva, do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da USP, que discorreu sobre o tema Academia, traçando a relevância de seu histórico em grandes linhas, ao longo do tempo, assim como salientando a significação atual de sua presença no campo da Psicologia. Vamos aos textos.

 

Resumo

Este texto tem por objetivo analisar significações que podem ser englobadas nas ações de aprender. De propósito, escolhemos aquelas que começam com o prefixo re-. A razão para isso é termos constatado que palavras frequentemente associadas ao aprender começam com re-, por exemplo, repetir, reconhecer, relacionar. Julgamos importante este exercício de reflexão sobre significações comuns ao aprender: nascemos ignorantes e indefesos para as coisas do mundo e de nós mesmos. Hoje, felizmente e em seu sentido pleno, aprender está se tornando um direito de todos, independentemente do momento de vida, saúde, profissão ou condição social.

 

Introdução

O objetivo deste artigo é analisar significações que podem ser englobadas nas ações de aprender. De propósito, escolhemos aquelas que começam com o prefixo re-. A razão para isso é termos constatado que palavras frequentemente associadas ao aprender começam com re-, por exemplo, repetir, reconhecer, relacionar. Julgamos importante este exercício de reflexão sobre significações ;comuns ao aprender: nascemos ignorantes e indefesos para as coisas do mundo e de nós mesmos. Hoje, felizmente e em seu sentido pleno, aprender está se tornando um direito de todos, independentemente do momento de vida, saúde, profissão ou condição social. Pensar significações e fazer delas uma oportunidade de rever perspectivas, atitudes ou condutas relativas ao aprender é, portanto, nossa intenção. O que fizemos foi buscar noções que, de um modo ou outro, qualificam, predicam o que é aprender e como agimos em favor dele. A hipótese é que, através destas significações do aprender, se poderá analisar tal noção e assim, quem sabe, deixarmos de usá-la como se todos soubessem o que estamos ou estão querendo dizer quando ela é pronunciada.

 

Repetir

Repetir é uma significação comumente associada à ideia de aprender. Supomos que para aprender é preciso repetir. De preferência, muitas e muitas vezes. O interessante é que sobre esta visão temos atitudes e condutas diferentes entre si. Muitos de nós, somos contra a ideia do aprender como repetir. Muitos de nós somos a favor. Além disso, nem sempre sabemos diferenciar e integrar o que é positivo ou negativo para o aprender nas ações de repetir.

A reflexão sobre o repetir como uma das significações para o aprender será feita buscando responder seis questões:

1 O que significa repetir?

2 Quando repetir é bom, ou não é, para se aprender alguma coisa?

3 Repetir o quê, a forma ou o conteúdo?

4 Qual a diferença de repetir com valor de aprender para crianças e adultos?

5 Como o repetir, para aprender, validar ou saborear, acontece nos campos das ciências e das artes?

6 Por que repetir é funcionalmente importante para o aprender da criança pequena?

1) Comecemos pela significação do prefixo re-. Ao longo deste artigo ele estará presente em todos os verbos que escolhemos para predicar ou qualificar o que é ou como aprender. Eis o que nos ensina Cunha (2012, p. 548):

Re- prefixo do latim re (red- antes de vogais), que se documenta em numerosíssimos vocábulos portugueses, com as noções básicas de: (i) 'volta, retorno, regresso'...; (ii) 'repetição, reiteração'...; (iii) 'oposição': reprovar não aprovar, opor-se a.

Para este autor (Cunha, 2012, p. 557), repetir é o mesmo que "tornar a dizer ou escrever, repisar". Consultando seu "Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa", verificamos que repetir vem do latim re- + peto (dirigir-se; buscar; pedir) que significa "atacar de novo; repetir, tornar a dizer; pedir outra vez, reivindicar, reclamar"; e que se generalizou significando não apenas "dirigir-se novamente ou pedir outra vez", mas tornar a executar qualquer ação, ou seja, expandiu a ideia de "repetição" expressa pelo prefixo re-.

Quero destacar o que acabamos de ler: repetir é "pedir outra vez", é "se dirigir novamente", é "voltar a executar qualquer ação". Jean Piaget, em "A formação do símbolo na criança", qualifica a estrutura do jogo de exercício, valorizando duas condições para ele: a repetição e o prazer funcional. Repetição, porque, quando observamos, por exemplo, no YouTube uma criança pequena (que já pode ficar sentada) brincando com os objetos de sua Cesta de Tesouros, constatamos que ela fica muitos minutos a repetir as mesmas ações: bater, balançar, por na boca, por, tirar, esconder, lamber, olhar, ... E ela faz isto pelo prazer funcional, ou seja, pelo gosto do repetir as mesmas ações, repetir não por uma necessidade externa, afinal ninguém está obrigando- a a fazer isto. Ela o faz por uma escolha própria, por sua condição de sujeito ativo que pode, nesta situação, fazer aquilo que tem a intenção ou o interesse de fazer. Daí se depreende que a criança aprende não apenas realizando as atividades do cotidiano impostas por suas necessidades orgânicas (comer, dormir, ...) ou sociais (aquilo que os adultos lhes "obrigam" a fazer), mas igualmente pelo seu brincar livre, pela possibilidade de exercitar suas ações da forma como lhes dá gosto, como sabe fazer. Não por acaso, ao menos para os primeiros anos de vida, há um consenso de que brincar é importante para o aprender – e, neste brincar, é possível fazer a mesma coisa quantas vezes e de quantos modos se quiser.

2) Como vimos, as dimensões cognitiva e afetiva ou emocional da repetição são muito importantes para o aprender. Mas, repetir, sobretudo quando justificado pelo seu valor de aprender, pode ocorrer de forma obrigatória, ser imposto de dentro para fora. É o caso, por exemplo, da cópia na escola. Deste tipo de cópia, em que o aluno deve "tornar a escrever" o que está na lousa, no livro, ou o que o professor disse. Nestas situações, muitas vezes repetir combina com reprovar e não aprender, pois o aluno experimenta uma situação de fracasso, de desgosto em ter de fazer algo que não lhe faz sentido. Mas, devemos considerar que, em outros casos, a cópia pode não ter essa dimensão negativa. As crianças gostam de copiar coisas que lhes causam interesse. Gostam de desenhar buscando repetir em seus traços aquilo que lhes parece o mais interessante da coisa copiada, seja uma figura, um nome ou um objeto. Trata-se, então, de não desmerecer o valor da cópia para o aprender, mas de observar as situações em que acontece.

3) Piaget, em "O Nascimento da Inteligência na Criança", analisa o valor da repetição para o desenvolvimento dos esquemas de ação. Ele caracteriza as formas de repetição como "reações circulares", que podem ser primárias, secundárias ou terciárias. Quando se referem às muitas e muitas vezes em que, pela repetição, a criança pode ir reunindo como em todas as diferentes partes de seu corpo elas são chamadas de primárias. São secundárias quando se relacionam às atividades e sentimentos que se repetem nas muitas e muitas vezes em que interagem com os objetos. Quando podem agora explorar novos meios de se relacionar com as mesmas, quando podem explorar novas possibilidades, são classificadas de terciárias. Este autor também nos ensina sobre um outro tipo de repetição, fundamental ao processo de aprender. Trata-se da repetição da forma, ou das coordenadas que presidem uma realização ou experiência. É o caso do jogo, não importa sua estrutura (jogo de exercício, simbólico, de regras ou de construção). Ao brincar no Cesto de Tesouros (jogo de exercício) a criança repete o chocalhar, por exemplo, de muitos e muitos modos, não importa qual seja o objeto, sua direção ou força. Não é o conteúdo da ação, mas sua forma ou esquema que está sendo desenvolvido e aperfeiçoado. Ou seja, é sobre ele que a criança está aprendendo. No brincar de casinha ou faz de conta, igualmente, o que repete é o jogo da imaginação, da criação de cenários, da composição de histórias ou narrativas do modo como quer e gosta. Daí que, nesta brincadeira, ela aprende a simbolizar (imitar, jogar, imaginar, representar, sonhar). O mesmo se dá em um jogo de regras. Os objetivos, os materiais do jogo, o regulamento são os mesmos, mas cada partida é diferente da outra. O que se repete é a forma, é o que estrutura o jogo, o que qualifica os procedimentos do jogar, os combinados que regulam as interações entre os jogadores. Um outro exemplo de repetição que pode ser positivo à aprendizagem se refere aos rituais do cotidiano da vida da criança em sua casa ou escola.

4) É interessante compararmos a perspectiva dos adultos e das crianças quanto ao valor do repetir para aprender. Para eles, repetir é uma oportunidade para corrigir erros e fixar, reforçar ou controlar aquilo que querem transmitir. Para elas, repetir é uma oportunidade para descobrir ou refinar acertos e para se alegrar com aquilo que lhes deu gosto em sentir, fazer ou compreender na primeira, na segunda, ou enésima vez. É que eles querem repetir para ensinar e elas querem repetir para aprender e... desfrutarem.

5) Concluímos este primeiro item sobre o aprender em suas significações re- apresentando duas outras noções relacionadas ao repetir, mas na perspectiva de quem, não sendo criança, quer aprender ou desfrutar. No mundo da pesquisa, por exemplo, é comum o uso da réplica como recurso metodológico para certificar a validade de um instrumento ou técnica, bem como de um resultado. Replicar é próximo a repetir. Repetir é pedir de novo. O radical "plicar" significa "dobrar outra vez", daí seus muitos usos na Matemática: duplicar, triplicar, multiplicar. Replicar são formas ou funções pelas quais algo, um número ou uma grandeza, por exemplo, é operado novamente, tendo como resultado seu dobro, triplo, múltiplo ou duplo. É assim também no plano de uma experiência, em si mesma única, pela irreversibilidade do tempo de sua ocorrência. Replicar é, então, repetir uma experiência em outro contexto ou circunstâncias cuidando para que, "objetivamente", as modificações sejam mínimas ou irrelevantes. Com isto, no âmbito da pesquisa, é possível treinar um pesquisador jovem para replicar algo conhecido por seus resultados e métodos verificar a validade ou generalidade de um resultado ou a eficácia de uma técnica em outras situações ou aplicações. No mundo das artes a réplica é, igualmente, um recurso valioso de repetição com função de aprendizagem ou gosto. Daí o valor que se atribui à cópia, ou seja, ao esforço de reproduzir com as mãos e alguns recursos materiais aquilo que só é dado experimentar através dos olhos, dos ouvidos, do paladar ou da imaginação. No âmbito da música, por exemplo, sabemos o quanto nos vale o "replay" para repetirmos a emoção, a maravilha ou tristeza que nos provocam uma canção, uma letra ou um canto!

 

Reconhecer

Podemos dizer que, na prática, uma das principais características do aprender é o reconhecer, como prova ou indicador de que ele aconteceu. Mas, além de recurso de avaliação ele, também, é de ensino. O saber reconhecer do aluno é um dos principais objetivos do professor em suas transmissões. Por que aprender? Para conhecer, para saber, para utilizar, para sentir. Como fazer para conseguir isto? Uma das formas, além do repetir, é através do reconhecimento, ou seja, do benefício de saber identificar, de não se sentir mais ignorante, do poder ser capaz, através do reconhecimento, de dizer: "- Isto, eu já sei o que é ou quem é, conheço seu nome ou sua função".

O prefixo re- de reconhecer é o mesmo que o re- de repetição. Repetir, porém, é diferente de reconhecer. Pode-se dizer que repetimos para aprender a reconhecer, que repetir é um bom recurso para identificar se ocorreu a aprendizagem, que expressa o mérito de seu uso ou posse. Mas, reconhecer refere-se melhor ao identificar, ao poder associar ou fazer uma correspondência entre uma coisa e outra. Insisto na diferença: repetir é fazer outra vez, reconhecer é identificar, dizer ou expressar o que é. Repetir favorece a produção de correspondências, associações, ou o estabelecimento de relações que permitem inferir que houve uma identificação. Associar, estabelecer correspondências ou relações favorece o reter, o guardar na memória. E reter, tal como repetir e reconhecer, é outra significação importante de aprendizagem, como veremos depois. Mas, há repetições que não geram correspondências, ou seja, não geram aprendizagens significativas, que não fazem sentido para quem aprendeu. Isso acontece, principalmente, quando repetimos conteúdos, sem saber o que significam. Em certas situações isso pode até ser positivo, agradável, como quando cantamos uma música em outra língua sem entender o significado de sua letra. Mas, em outras, sobretudo nas coisas da escola, isso pode ser negativo ou contraproducente. É que esses conteúdos, apenas repetidos, são os que mais facilmente esquecemos, são os que menos valiam têm para as nossas aprendizagens, se as entendermos como aquisições duradouras e relevantes para nós. Por isso, repetir para aprender há de implicar um reconhecer. Um dos sofrimentos de pais e professores é observar que, por mais que repitam suas instruções ou conselhos, os jovens não reconhecem na prática o que lhes foi transmitido ou explicado tantas vezes. Daí que repetir e reconhecer ou identificar são ações distintas. Reconhecer é reter na memória, é relacionar, e por isso tratar como familiar aquilo que se observa agora. Mais que isto, reconhecer implica abstrair (Macedo, 2011; Macedo, 2014) das ou nas repetições aquilo que identifica o que se repete. Refere-se, então, destacar uma parte de todas as outras e conferir-lhe uma unidade ou valor de todo. Movimentar-se, por exemplo, é diferente de andar, pegar, chocalhar, olhar para um lado ou para o outro. É claro que todas estas ações são formas de movimento, mas reconhecê-las como tal e, mais do que isto, diferenciá-las como sendo um andar e não outra coisa, supõe reconhecer um todo (o movimento) e uma de suas expressões, o andar. O mesmo vale para o próprio andar que, igualmente, pode acontecer em diferentes ritmos (mais depressa, mas devagar), formas (na ponta dos pés, com cuidado), direções (para se aproximar de, para se afastar de). Além disso, o que foi conhecido pela experiência em certo contexto, muitos vezes há de ser reconhecido por outra experiência, em outro contexto. Uma criança pequena, por exemplo, para reconhecer sua mãe precisa da repetição, isto é, das muitas e muitas diferentes vezes e versões com as quais ela interage com ela ao longo de um dia ou dos meses que marcam seus primeiros anos de vida. Mas, neste caso, a repetição é da mãe e o reconhecimento só pode ser da criança.

O mesmo se aplica para objetos e acontecimentos. Como reconhecê-los, mesmo que se repitam ou estejam presentes tantas vezes? O que é isto? Como se chama? Mas, como dissemos não se trata descrever o todo, abstrato, por exemplo, "é uma bola", se não soubermos de alguns detalhes que a tornam "mais bola" para nós (é uma bola para jogar futebol, é de borracha, de couro, é pequena, grande, é a bola de meu irmão). Temos de aprender tudo isto em uma aprendizagem que se expressa por ações de reconhecer, pelo jogo de correspondências entre uma coisa e outra (uma bola e seu nome, uma bola e o que fazemos com ela, uma bola e seu dono, uma bola e os momentos em que podemos brincar com ela). Um reconhecimento que não se esgota, que deve se alargar, generalizar para outros contextos e significações. Esta é uma prova cabal de que o aprender aconteceu: não importa onde esteja, como esteja, com quem esteja reconhecemos o que ou quem é, sabemos também o que fazer. Daí vermos sentido, ao menos em uma visão primeira ou superficial, na ideia de que repetir e reconhecer sejam iguais a aprender. Será isto suficiente? Podemos parar nestes dois re- e dar-nos por satisfeitos quanto ao que é e como aprender? Não! E sabem por quê? Deixemos que Nasrudin (Varella, 2009, p. 72) anuncie o problema.

 

O essencial

Certo dia Nasrudin entrou numa loja. O atendente dirigiu-se a ele, mas antes que pudesse dizer qualquer palavra o mulá falou:

– Vamos primeiro às primeiras coisas. Você me viu entrar na loja?

– Sim eu o vi - respondeu o homem.

– Já havia me visto antes? - inquiriu o mulá.

– Não, nunca o havia visto antes - disse o vendedor.

– Então como sabe que sou eu?

São interessantes as perguntas de Nasrudin: se você não me conhece (é a primeira vez) como me reconhece? Se não me reconhece, como me conhece? Talvez algo correspondente possa acontecer quando pensamos que aprender (uma das formas de conhecer) se reduza ao repetir e ao reconhecer. Passemos, pois, ao terceiro re-, que nos ajudará a sair, quem sabe, deste impasse.

 

Relacionar

Proponho que consideremos relacionar como terceira significação re-, de nossa lista sobre o que é importante ao processo de aprender. Qual é sua significação etimológica?

Relacionar "vem do latim relatio, restauração, ato de trazer de volta, de relatus, usado como particípio passado de reffere, formado por re-, "de novo", mais ferre, "portar, levar". <https://origemdapalavra.com.br/palavras/ relacionar/>.

Neste sentido, aprender é fazer relações. Uma repetição pouco vale se não observada ou não reconhecida como novamente a mesma coisa. É o que não acontece, por exemplo, em cópias sem sentido para quem copia. Nesse caso, a ação, que é a mesma, não se relaciona com a anterior. É como se fossem ações independentes, justapostas. Ao contrário, nos rituais do cotidiano, por exemplo, comer com os pais à mesa, há um conjunto de ações que se repetem e, por terem relação entre si, vão formando um padrão, um hábito ou costume. Ganham uma forma e a criança aprende o modo de comportar de sua família nessa situação. E aprende porque torna seu, assimila, porque organiza seu comportamento em relação a esse ato. O relacionar agrega uma terceira significação ao aprender, além do repetir e reconhecer, porque não se reduz ao trazer de volta apenas o conhecido, o já visto. É bom para aprender relacionar as repetições como sendo aspectos de uma mesma coisa. É bom, para aprender relacionar no sentido de reconhecer, ou seja, está diferente, em outro lugar, se expressa de de outro modo, mas é a mesma coisa. Esse é, por exemplo, um dos grandes problemas da criança pequena. Sua mãe, enquanto um dos objetos mais preciosos para ela, se expressa de muitos modos, veste roupas diferentes, aparece e desaparece aos seus olhos em muitos momentos, fala e interage com ela de muitos modos. Reconhecê-la como sendo a mesma pessoa é, portanto, um grande problema de identidade e de aprendizagem. A nova significação do aprender como aquilo que engloba o relacionar, que não é a mesma do repetir ou reconhecer, é a que nos possibilita sair do círculo vicioso proposto, lúcida e ludicamente, por Nasrudin. Podemos relacionar o conhecido com o desconhecido, o velho com o novo, e assim aprender de um jeito diferente daqueles proporcionados pela repetição ou reconhecimento. É que o relacionar não está diretamente nas coisas que se repetem ou que são reconhecidas, ele é o elo que as vincula entre si, ele está no entre, no intervalo, no vazio, que estabelece uma ligação. Daí que relacionar é um aprender que expressa inteligência naquele que aprende.

 

Inteligência (as escolhas diárias)

Saber escolher as melhores alternativas que se nos apresentam diariamente é ser inteligente: ler nas entrelinhas da vida - e das oportunidades. A palavra vem do latim intellegere, composta de inter-, "entre", e legere, que é "recolher", "fazer escolha" ou LER (este último sendo semanticamente "escolher e juntar as letras") . (Whitaker Salles, 2002, p. 129)

Não é por acaso que em provas de avaliação muitos itens comecem com a instrução relacionar tal coisa com tal coisa, e nas alternativas apenas uma indica a relação válida para o que se está propondo. Relacionar corresponde à função organizadora e reguladora do processo de aprender. Trata-se de conectar, com sentido, uma parte com as outras partes que formam um todo. Relacionar é juntar, formar nexo entre coisas que, sem isso, não formam partes. No caso da avaliação, por exemplo, trata-se de conectar o enunciado como apenas uma das alternativas que, reunida com ele, compõe um todo, encerra corretamente aquilo que o avaliador quis verificar. Por isso, nessas provas o relacionar é um indicador de que houve aprendizagem.

 

Refinar e retocar

Refinar e retocar podem ser duas outras significações que predicam o aprender. Refinar, deriva-se do Latim re + finis, "que passou a designar a parte mais perfeita de qualquer coisa, assumindo as acepções de 'perfeito' e, por extensão, as de 'refinado, astuto' 'delicado, amável'". (Cunha, 2012, p. 293). Em nossa experiência observamos que aprender, de forma plena, exige refinamentos e retoques. Pensemos, por exemplo, nas inovações tecnológicas, nos programas de computador, sejam eles aplicativos ou sistemas operacionais. Neles a versão anterior, sempre pede uma seguinte. Daí ser comum termos uma versão 1.0, 2.0, e, assim por diante. É que se aprende com o uso dos programas. Se observam erros ou problemas não suspeitados quando de seu lançamento. Os usuários fazem críticas e comentários, pedem revisões, enfim, refinamentos e retoques. Os fabricantes dos programas também apreciam apresentar tais melhorias, porque isto nos convida, mesmo sem dominar o modelo anterior nem fazer críticas a ele, a comprar e a utilizar sua nova versão. Pensemos, agora, na pesquisa científica. Uma descoberta ou invenção pede frequentemente aprofundamentos teóricos e metodológicos, pede novas aplicações ou replicações.

É certo que em nossa língua a palavra "refinamento" é pouco utilizada. O mais comum é dizer aperfeiçoamento. O mesmo vale para retoque. Dizemos correção, ajuste. Trata-se, sempre, de remover, substituir, melhorar a apresentação, mesmo que através de pequenas alterações.

Refinar e retocar expressam esse aspecto exigente do aprender que não se basta em adquirir, "apenas" repetindo, reconhecendo ou relacionando. Ele, quando legítimo e vivo, não se satisfaz com seu nível atual. Sua repetição, do ponto de vista funcional, pede melhorias, pede amplificações e correções. Do ponto estrutural, pede atualizações e ajustamentos em sua organização inicial. Daí que algo aprendido quando se torna padrão, quando se torna um hábito resistente às demandas das novas experiências e ao fluir do tempo, torna-se rígido, insuficiente e muitas vezes perde o valor ou a função que tinha no começo, quando foi estabelecido. Aliás, este é um grande problema para nós. No caso das crianças, trata-se de aprender ou construir algo novo e que pede refinamentos e retoques; no caso de nós, adultos, muitas vezes, trata-se de desaprender ou desconstruir, de ressignificar, o que pede mudança ou correção de visão, atitude ou conduta, portanto uma nova e complexa aprendizagem.

Outro aspecto interessante da etimologia do refinar, vinculada ao aprender, é que se refere à "intenção" . Refinar é, portanto, um recomeçar com o objetivo de se alcançar algo mais profundo ou extenso, algo mais burilado. Como é bom quando as aprendizagens não se bastem em si mesmas e reclamem, seja por suas necessidades de retoques, ou por seus interesses de aperfeiçoamento algo melhor do que já se sabia ou fazia! Retocar, por sua vez, é o mesmo que tocar novamente, acabar, corrigindo e/ou aperfeiçoando" .

 

Regozijar

Regozijar "se forma por re-, 'de novo', mais gozo, que vem do Latim gaudium, 'alegria, contentamento" <https://origemdapalavra.com.br/palavras/regozijar/>

Em nossa experiência sabemos o quanto aprender traz alegria e satisfação para aquele que aprende (e também para quem ensina), principalmente se a isto se atribuir valor. Todos nós nos sentimos bem quando aprendemos algo que queríamos aprender, quando obtemos uma informação que nos faltava, quando somos bem sucedidos, quando melhoramos ou aprofundamos aquilo que já sabíamos, quando nos observamos fazendo algo parecido ao que fazem as pessoas que nos servem de referência. Crianças pequenas são exemplos marcantes a esse respeito. Elas gostam de aprender e expressam seu contentamento por isso de muitas formas. O lugar da alegria, do se contentar ou regozijar como uma das significações do aprender, pode ocorrer pelo ato em si ou por seu resultado. Nós, adultos, muitas vezes nos regozijamos quando as crianças aprendem, sobretudo se são nossos alunos, filhos ou pertencentes à nossa comunidade. Gostamos do efeito de nossa intervenção. Fizemos ou esperávamos uma transmissão e ela aconteceu! A alegria está no reconhecer, por avaliação ou observação de um resultado.

As crianças e aqueles que de fato se entregam ao ato de aprender nos brindam com outra visão. Eles estão contentes com o próprio ato, com o processo, com o que acontece com uma experiência quando ela tem valor de aprendizagem. Eles estão contentes porque, ativos e concentrados na situação, se sentem livres para fazer experimentações, repetir, explorar novas possibilidades, não ficar na primeira solução, poder fazer retoques e refinamentos, começar de novo, testar hipóteses, apreciar e se regozijar com a alegria do fazer, sentir ou compreender. Nem mesmo, muitas vezes, se importam com a consequência, que é o aprender, porque é como se a tratassem como um meio para outro fim, traduzido em sua relação com os objetos, as pessoas ou tarefas que mobilizam e dão sentido a sua experiência. Atribuir regozijo ao aprender não implica dizer que ele ocorra sem obstáculos ou desafios. Aprender cansa, exige dar-se um pouco mais, desenvolver disciplina, conviver com sucessos e fracassos, ser paciente, contar e ser agradecido com a ajuda dos outros, suas informações, exemplos e contra exemplos, mas, igualmente, com suas críticas e não compreensões, sua pressa e expectativas. Mas, é aí mesmo que reside o regozijo. A alegria do tomar posse, do adquirir, do se pensar sabendo ou podendo um pouco mais, apesar de tudo isso. A lição da experiência é que todos podemos aprender. Basta querer e se entregar ao processo que resulta nele, que é ele mesmo, o aprender, não importa seu nível ou forma de expressão. Mas, pode haver regozijo se "aprender" ocorre em um contexto forçado, imposto, sem sentido, requerido por pessoas que também não querem ou não sabem aprender, que se sentem sufocadas, mal humoradas e mal tratadas? Se as tarefas que lhe dão contexto são pouco estimulantes ou desafiadoras? Certamente, não!

É pena que exemplos expressivos do aprender ocorram mais frequentemente em situações gratuitas e marginais em vez de acontecerem no lugar onde para nós é (ou deveria ser) o templo da aprendizagem, a escola! Mas não sejamos tão rigorosos. Se examinarmos bem, nela igualmente acontecem momentos ou situações em que aprender rima com regozijar!

 

Respeitar e rsponsabilizar

É tempo de concluirmos nossa lista de ações que podem ser, por suas significações re-, englobadas no processo de aprender, pois são predicativas dele. Para isso, vamos evocar dois últimos verbos que podem ser implicados nesse processo: o respeitar e o responsabilizar. Aprender, em seu sentido pleno, é respeitar e também assumir responsabilidades. Daí o poder transformador da aprendizagem, quando ela acontece de fato.

Quais são as etimologias de respeito e responsabilidade?

Respeitar é composto da palavra spectare ("observar") com o prefixo intensivo re- (de novo), significando "observar com atenção" (Whitaker Salles, 2002, p. 207-208). A ideia é que algo merecedor de um segundo olhar tem qualidades que levam a uma atitude de consideração e reverência.

Segundo Whitaker Salles (2002, p. 209-210) "responsabilidade" vem do Latim responsus, particípio passado de respondere, "responder, prometer em troca", de re-, "de volta, para trás", mais spondere, "garantir, prometer".

É, etimologicamente, a virtude daquele que sabe, pode e quer responder por seus atos. Vale a pena entrar um pouco mais no verbo latino: re-spondere, para além de "responder", significava também - e principalmente, pois era o sentido original - "comprometer-se", "garantir", "assegurar"; é formado de re, partícula reforçadora, e spondere, "prometer com solenidade". (p. 209)

Pelas definições etimológicas dessas duas ações, ambas iniciadas pelo prefixo re-, podemos inferir a força do aprender em nossa vida. Isso explica, penso, o quanto se investe nele, o quanto se espera dele, seja no contexto da escola, seja principalmente no da vida em geral. Destaco, também, a atitude de reverência para aquele que ou aquilo que nos permitiu alcançar a aprendizagem. Afinal, aprender traz consequências, nos transforma e nos envolve de forma diferente em relação ao que éramos ou pensávamos antes. De fato, aprender modifica comportamentos, altera formas de ser e agir implicam novas atitudes. Não somos mais os mesmos. Daí porque aprender às vezes amedronta e traz surpresas e novidades que nos transformam em outra pessoa. Aprender, por isso, implica em se desenvolver, transformar-se.

Com quem aprendemos? Quero lembrar apenas algumas referências para isto. Primeiro, aprendemos com os outros, que estão em posição diferenciada. São os adultos, nossos pais, professores ou referências. Pessoas a quem atribuímos um saber, pessoas a quem julgamos ter um conhecimento a ser transmido. Pessoas a quem supomos ter respostas. Em quem confiamos. Pode ser assim na escola ou em nossa casa. O que alunos e filhos observam em seus professores e pais ou responsáveis por sua educação, têm muita influência sobre eles. Ao seu modo, estão curiosos ou interessados no que falam. Estudam seu comportamento, modo de pensar e suas atitudes frente aos acontecimentos, às coisas da vida. Sentem-se satisfeitos quando aprendem com eles. Gostam, mesmo que às vezes suas ações indiquem o contrário, de conviver com eles. Acatam suas instruções ou proposição de tarefas. É importante que, pais e professores recuperem simbolicamente este lugar de importância, de reverência, de respeito que seus alunos e filhos lhes devotam. Afinal, eles são ou deveriam ser suas principais referências adultas. Julgar que personagens da mídia e de todas as formas de comunicação e interações visuais são mais relevantes do que pais e professores não corresponde, creio, ao desejo das crianças e jovens. É uma pena, pois, que eles - pais e professores - se deixem substituir por esses personagens, suas brincadeiras e sugestões, nem sempre positivas, ainda que sedutoras. É importante que eles - pais e professores - readquiram a responsabilidade e o lugar de seus papéis nos processos de aprender das crianças e jovens. A segunda fonte de respeito, reverência e responsabilidade é para com nossos pares, este outro com quem podemos manter uma relação horizontal, de igual para igual. É com eles que compartilhamos, muitas vezes, experiências de aprendizagem. Com eles, podemos brigar, duvidar, competir, conversar, entender e se sentir entendido. É que eles também não sabem, estão no mesmo caminho, têm possibilidades mais ou menos comparáveis, se interessam ou não pelo que está acontecendo. Não têm compromissos institucionais, como ocorre na relação anterior. Na situação de jogo, por exemplo, a relação com os pares, nossos adversários e parceiros, é muito importante, talvez mais importante que a relação com os professores. O jogo pede relações simétricas, condições iguais de competição, mesmas regras, objetivos e recursos de jogo. Disputar é buscar vencer o opositor, com a condição de observá-lo bem, adivinhar seus planos para se antecipar a eles, aprender suas estratégias, imitar ou aperfeiçoar seus procedimentos, se alegrar quando os vence, e ter esperanças na próxima partida, se nessa fomos perdedores.

É possível, porém, que não tenhamos pares com quem compartilhar uma experiência de aprendizagem. Que eles nos orientem para outros propósitos, que prefiram nos humilhar e achacar, fazer gracinhas e nos desmerecer frente aos outros colegas.

A terceira fonte de respeito, reverência e responsabilidade quanto ao processo de aprender se relaciona com a própria pessoa que aprende. Ela quer aprender? Gosta de aprender? Valoriza suas aprendizagens? Se sente bem sabendo mais sobre alguma coisa? Quanto tempo se dedica a isto? Aprende por interesse próprio ou só aprende quando provocada ou induzida pelos outros? É curiosa, experimentadora, observadora? Fica feliz quando aprende? O que faz quando ignora, esquece, se distrai, se confunde, pergunta sem saber as respostas? Toma iniciativas para aprender? Em outras palavras, que valor ou respeito ela concede aos seus comportamentos e atitudes que resultam em aprendizagem? Essas questões podem orientar uma prática de auto-gestão do aprender. Refletir sobre elas, responder com ações concretas, significa confiar no aprender como uma forma ou qualidade de vida. Uma quarta fonte de respeito, reverência e responsabilidade é para com os objetos, os recursos e as condições materiais que possibilitam a aprendizagem ou através dos quais ela pode acontecer. Por isso, penso ser importante observar e cuidar do modo como nos relacionamos com livros, cadernos, lápis, computador, mochila, enfim, com nossos recursos ou suportes de aprendizagem, no caso da escola. Eles guardam ou possibilitam uma forma qualificada de aprender. Organizam uma rotina no espaço e no tempo em que isso acontece. Em tempos laicos e desapegados como os atuais respeitos, reverências e responsabilidades são como que estranhos um ao outro. Respeito muitas vezes está mais associado a medo, possibilidade de repressão ou crítica, ameaça ou forma branda de atenção ou cordialidade que simula uma diferença social ou cultural para com os outros. Para com nós mesmos, é como se nada fosse devido. Auto- respeito é uma palavra que só dura e longamente aprendemos com o tempo, por suas conseqüências negativas sobre nossa saúde ou comportamento. Não se trata, nesse texto, de aprender a ser responsável, nem de aprender a respeitar, mas sim de pensar responsabilidade e respeito, e uma de suas consequências, a reverência, como características do aprender, de qualquer aprendizagem. Como vimos, responsabilidade significa "responder, prometer em troca". Esta é uma das consequências do aprender. Quem aprende, de fato, faz uma promessa, mesmo que não tenha consciência disto. Faz uma promessa a si mesmo, porque, afinal, tornou-se um pouco outra pessoa, que faz exigências diferentes da que era anteriormente. Faz, igualmente, uma promessa aos outros, testemunhas ou fonte desta aprendizagem. Afinal, quem aprende, sobretudo se aprende bem, passa a pertencer ou ser membro do grupo, às vezes privilegiado, de pessoas que possuem tal domínio ou gosto. Ganha mais autonomia. Daí porque aprender, mais do que adquirir informações ou conteúdos, é fonte de desenvolvimento, de mudança ou transformação. Refere-se a aquisições que dão forma e sentido à vida.

 

Referências

Cunha, A. G. (2012). Dicionário etimológico da língua portuguesa [recurso eletrônico]. Rio de Janeiro: Lexikon.         [ Links ]

Macedo, L. (2011). Formas e estruturas da abstração reflexionante e o problema do reconhecer. In: Roberta Gurgel Azzi; Mônica Helena Tieppo Alves Gianfaldoni. (Org.). Psicologia e Educação. Itatiba: Casa do Psicólogo, v. 1, p. 73-100.         [ Links ]

Macedo, L. (2014). Abstração e aprendizagem de matemática. In: Adriana Corder Molinari, Lia Leme Zaia, Mara Fernanda Alves Ortiz, Marta Rabioglio, Orly Zucatto Mantovani de Assis, Sonia Bessa. (Org.). Aprender matemática e conquistar autonomia - IV Seminário de Educação Matemática. Campinas: Book Editora, v. 1, p. 37-64.         [ Links ]

Piaget, J. (1945/1990) A formação do símbolo na criança: Imitação, jogo e sonho, imagem e representação. Rio de Janeiro: Editora LTC – Livros Técnicos e Científicos.         [ Links ]

Piaget, J. (1936/1970). O nascimento da inteligência na criança. Rio de Janeiro: Zahar.         [ Links ]

Varela, F. (Org.). (2009). Nasrudin: 99 contos. Rio de Janeiro: Caravana de Livros, p. 72.         [ Links ]

Whitaker Salles, M. F. (2002). Dentro do dentro: Os nomes das coisas. São Paulo: Mercuryo, p. 129.         [ Links ]

Creative Commons License