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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

Print version ISSN 1415-711X

Bol. - Acad. Paul. Psicol. vol.40 no.98 São Paulo Jan./June 2020

 

III. MEMÓRIA

 

Academia

 

 

Geraldo José de PaivaI

IDepartamento de Psicologia Social e do Trabalho, Universidade de São Paulo. Linhas de pesquisa: Psicologia Social dos Fenômenos Histórico-Culturais. E-mail: gjdpaiva@usp.br

 

 

Honrado pelo convite para discorrer sobre o tema "Academia", fui socorrer-me de Junito de Souza Brandão para certificar-me da origem da palavra. Bem vindo socorro de alguém, que, professor da PUC do Rio de Janeiro, também foi membro da Academia Brasileira de Filologia."Academia", é um termo derivado de um nome próprio, a saber, Akademos, cujo significado é "o que age independentemente do povo", isto é, livre e poderosamente. Segundo o autor, de reconhecida competência no estudo da mitologia grega, Academo foi um herói ático que revelou aos irmãos Cástor e Pólux o local exato onde Teseu havia escolhido Helena, de Esparta e depois de Tróia, por ele raptada. E acrescenta: o túmulo de Academo ficava num subúrbio de Atenas (...) o sítio onde foi sepultado o herói, estava cercado por um bosque sagrado, onde Platão instalou sua escola, a Academia. A instituição perdurou até o século VI, quando o imperador Justiniano, construtor da Santa Sophia de Constantinopla, a extinguiu, por seu ensinamento pagão, ligado mais aos estoicos que a Plotino. Os continuadores da escola de Platão denominavam seu agrupamento de "Akademeía".

Eis aí a nobre origem do vocábulo "Academia".

A partir do Renascimento, no século XVI, começaram a proliferar as associações acadêmicas, inicialmente na Itália, onde se destacaram, em Roma, a Academia dei Lincei e, em Florença, a Academia Crusca, nascida como crítica à Academia Platônica da mesma cidade. O amplo objetivo dessas associações era congregar estudiosos da filosofia, da arte, da história, da literatura e da ciência. A Academia dei Lincei, os dos Linces, de que foi membro Galileu, perdura até hoje, como Pontíficia Academia de Ciências, do Vaticano. A Accademia Della Crusca, se destacou pelo cultivo da língua italiana da Toscana, representada por Dante e Petrarca, e publicou o primeiro vocabulário da língua italiana. Seu nome é curioso, pois, no dialeto local, "crusca" é a casca ou o farelo do grão, especialmente de trigo, e o nome foi dado ironicamente em oposição à Academia Platônica, considerada pedante. No século XVII criou-se, em Braga, Portugal, a Academia Bracarense, para o estudo da filosofia e da teologia, em Roma a Academia Romana de Santa Cecília, até hoje existente, dedicada à música, e a Academia da Arcádia, ao redor da rainha Cristina da Suécia. Ainda no século XVII surgiu a Académie des Sciences e a famosa Académie Française, que inspirou tantas outras Academias literárias, como a Academia Brasileira de Letras. No século seguinte, surgiram academias na Espanha, na Inglaterra, em Portugal e no Brasil, dedicadas às Letras, à Liturgia do culto, à história civil ou eclesiástica. No Brasil, em especial, essas eram Academias literárias, com nomes curiosos: Academia Brasílica dos Esquecidos, dos Renascidos, dos Seletos, dos Felizes, e outras. Nessa mesma época criaram-se, a partir de Minas, sob influência do Romantismo, associações literárias, com o nome de Arcádias, caracterizadas pelo bucolismo pastoral atribuído à Arcádia grega. No século XIX criaram-se, no Brasil, a Academia Brasileira de Letras, a Academia Imperial das Belas Artes, a Academia Nacional de Medicina.No século XX registra-se, na França, o nascimento da famosa Académie Goncourt, que confere, anualmente, o prêmio literário mais cobiçado das letras francesas. É também no século XX que proliferam, no Brasil, as "academias esportivas", com a prática de fitness, de lutas marciais, de exercícios ginásticos, e semelhantes. A palavra também é usada para escolas de samba, com os famosos "acadêmicos do Salgueiro"...

Porém, o termo "Academia", e seu adjetivo "acadêmico", refere-se, hoje, principalmente à instituição universitária de ensino, pesquisa e extensão. Trabalho acadêmico, estilo acadêmico, espírito acadêmico, querela acadêmica, e expressões similares, apontam para o que acontece nas instituições de ensino superior. No campus de nossa Universidade lê-se, por exemplo, Academia de Polícia, para indicar uma instituição de nível superior para a formação científica dos policiais.

A palavra usada para nossa Academia Paulista de Psicologia, abriga-se sob a definição tradicional de Academia, como uma sociedade constituída de estudiosos com o fito de favorecer o estudo das letras, das artes e das ciências. Goza, assim, de nobre ascendência e de ilustre história, o título que designa essa particular sociedade de estudiosos do Estado de São Paulo, dedicada à interlocução científica no campo da Psicologia, ao incentivo dos estudos nesse campo, e ao reconhecimento daqueles que neles se destacam.

100 anos, banzai!, à Academia Paulista de Psicologia!

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