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Estilos da Clinica

versão impressa ISSN 1415-7128

Estilos clin. vol.1 no.1 São Paulo  1996

 

Editorial

 

 

Um estilo pode ser um modo próprio, único, de escrever, de falar, de se posicionar. Neste caso, o estilo será a marca de um sujeito em sua singular maneira de enfrentar a impossibilidade de ser.

Pode ser também uma peculiar maneira de fazer clínica. A clínica, aqui, ganha um sentido bastante diverso do original cunhado pela Medicina. Fazer clínica era estar ao "lado do leito", expressão que designava não apenas o enquadre do tratamento - o hospital - como revelava concepções precisas de doença e de tratamento. A Psiquiatria e as práticas de tratamento das doenças mentais importaram o termo clínica e prosseguem utilizando-o, carregado ainda das ressonâncias ideológicas da Medicina. Este é, porém, um panorama em mutação: o tratamento não está mais restrito ao espaço ao lado do leito. Ganhou as ruas, no acompanhamento terapêutico, as instituições de vocação antimanicomial, e em certo sentido, os espaços educacionais. Temos agora outros modos de tratar, temos outro modo de clinicar. Outras práticas, outros estilos, para abordar não mais as "doenças mentais", mas as vicissitudes enfrentadas por um sujeito em sua constituição.

Nessa acepção de "estilo", ganham espaço também os que apontam para as diferentes especialidades: há o estilo psicopedagógico de abordar a criança com problemas, há o estilo fonoaudiológico, há o neurológico. Ganham ainda espaço o estilo winni-cottiano, o lacaniano, o de Frances Tustin.

Um estilo pode ser ainda um vaso. Na Antiguidade, alguns povos modelavam grandes recipientes de cerâmica e lá guardavam os documentos em que estavam registradas suas leis - o tesouro dos significantes daquela cultura. Então, um estilo pode ser, como disse Lacan, um tesouro de significantes.

A revista Estilos da Clínica, voltada para o tratamento de crianças com problemas de desenvolvimento, quer reunir todas as possibilidades que o termo estilo contém. Quer registrar as diferentes formas clínicas de tratamento atuais. Quer convocar para o debate os praticantes de outras disciplinas orientados pelo eixo da Psicanálise, que apostam na emergência de um sujeito, ou seja, que supõem, em seus pacientes, um estilo singular de fazer face à castração. Estilos da Clínica quer, finalmente, abrir espaço às abordagens teóricas com vocação para somar esforços e oferecer um lugar no qual guardar, como nos vasos antigos, uma produção do nosso tempo.

Comissão Editorial