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Estilos da Clinica

versão impressa ISSN 1415-7128

Estilos clin. vol.7 no.13 São Paulo  2002

 

ARTIGO

 

A superdotação na neurose: uma articulação entre o desejo de saber e o gozo1

 

The gifted child on the neurosis: an articulation between the wish of knowing and the jouissance

 

 

Elizabeth dos Reis Sanada

Doutoranda e mestre em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da USP

 

 


RESUMO

O presente trabalho busca discutir um tema até então prevalecente no campo da psicologia e profundamente arraigado a uma concepção genética e determinista de homem - a superdotação. Num contraponto, propomos uma leitura psicanalítica do tema, enfocando preponderantemente casos de neurose, partindo da hipótese de que a constituição cognitiva se encontra em estreita relação com a constituição psíquica do sujeito. A partir dessa premissa, propomos uma articulação entre o desejo de saber em Freud e em Lacan, tendo como pressuposto que as questões referentes à inteligência, neste referencial, sofrem um deslocamento dos aspectos biológico, ambientalista e/ou interacionista, estabelecendo-se sob o primado da sexualidade, estando, em muito, associada ao modo como o sujeito se encontra referido à castração e à demanda do Outro.

Superdotação; psicanálise; desejo; saber; sexualidade


ABSTRACT

This work seeks for a discussion on a prevailing issue - until now, at least - in the field of Psychology, which is deeply rooted on a genetic and deterniinist concept of man: the gifted. On the other hand, we propose a Psycho-analytic reading on the issue focusing on the neurosis cases since the hypothesis that the cognitive constitution is closely related with the Psychic constitution of the subject. Starting from this premise, we propose an articulation between the wish of knowing on Freud and Lacan, presupposing that the issues concerning to intelligence, in this reference, suffer a displacement of the biologic, environmental and/or interactional factors, setting itself under the primacy of sexuality, and being strongly associated to the way the subject is referred to castration and the Other's demand.

Gifted child; Psycho-analysis; wish; knowing; sexuality


 

 

"O sujeito é levado a comportar-se de uma maneira essencialmente significante, repetindo indefinidamente algo que lhe é, propriamente falando, mortal."

Jacques Lacan

 

O presente trabalho busca discutir psicanaliticamente um tema até então prevalecente no campo da psicologia e profundamente arraigado a uma concepção genética e determinista de homem - a superdotação. Tendo em vista que a constituição cognitiva se encontra em estreita relação com a constituição psíquica, tentaremos demonstrar a necessidade de estabelecer uma nova leitura para a superdotação, capaz de abordar as questões referentes à singularidade do sujeito, apresentando-se para isso um estudo no referencial psicanalítico lacaniano.

É a partir desta proposição que discutiremos a concepção psicanalítica do processo de estruturação psíquica, dando ênfase exclusivamente à constituição neurótica, buscando abordar, entre outros, conceitos como o de demanda, desejo, alienação, separação, traço unário e metáfora paterna; a fim de circunscrever de que maneira o sujeito se encontra referido ao significante superdotado e como isso se refletirá em sua relação com o saber e o gozo.

Assim, para iniciar, nos remetemos ao instante em que a criança começa a interrogar de onde vêm os bebês, na teoria freudiana, para dizer que em Lacan esse momento eqüivaleria a um questionamento do sujeito sobre o lugar que ele ocupa no desejo do Outro - "O que ele quer de mim, além do que me demanda?"

Essa passagem corresponde ao momento da alienação significante, ao momento da carência do sujeito, no qual este aparece apagado sob o significante S2. A desaparição dar-se-á a partir do surgimento de Sj no campo do Outro que, por sua vez, representará o sujeito para outro significante - S2 -, condenando-o a desaparecer sob o mesmo.

Desta operação resulta o saber. Saber escandido pelo significante, marcando a divisão do sujeito.

Vejamos de que modo essa lógica se desenvolve no processo de estruturação do sujeito; para isso, comecemos por pensar como se dá a entrada desse sujeito no campo da linguagem.

Calligaris (1986) aborda essa questão colocando que o que se encontra, a princípio, no processo de estruturação é uma heterogeneidade entre o que ele demarcou como sendo o campo do Outro, o campo da linguagem, e o campo do sujeito - naquilo em que este se apresenta como real do corpo.

No primeiro caso, estaríamos frente ao campo da linguagem, do qual se pode dizer que "Isso fala". No segundo caso, encontrar-se-ia o sujeito ainda não constituído, puro corpo, objeto a, podendo-se designá-lo como nada.

O que fará o sujeito aceder à ordem significante, ao campo da linguagem? Uma questão sobre o desejo do Outro.

Se esse Outro, se esse Isso fala, Isso deseja. No entanto, o fato de que "Isso deseja" não significa ainda que deseje alguma coisa. O desejo não implica em nenhum objeto como alvo a ser alcançado: para que haja objeto é preciso que o desejo se transforme em demanda.

É preciso que esse Outro se constitua no lugar da fala que, ao ser enunciada pela primeira vez, venha a legiferar, conferindo, ao outro real, segundo Quinet (1998), sua obscura autoridade e provocando o fantasma (fantôme) da onipotência do Outro em que se instala a demanda do sujeito.

Assim, diríamos que a simples suposição de saber (S2 ) acerca do desejo do Outro já resulta numa operação crucial para a constituição subjetiva.

É essa suposição de saber que permitirá uma ligação entre o campo do Outro e o real do corpo, fazendo surgir o sujeito. É nesse momento lógico estrutural - situado por Lacan em diversos momentos de sua obra -, que se pode dizer que há um significante (S1) que produz sujeito ($) para um outro significante (S2 ), o primeiro significante existindo somente por um efeito retroativo deste último.

E, nesse sentido, pode-se falar desse primeiro significante, desse S1 como aquele que se constituirá como traço unário, tendo seu significado pautado no desejo materno, e encontrando-se metaforizado pelo Nome-do-Pai - S1 em torno do qual o sujeito articulará a cadeia significante -, sendo marcado por ele como sujeito dividido.

É desse trajeto que nasce alguma coisa, definida por Lacan (1970) como perda - o objeto a.

Em suma, é dessa operação que o sujeito extrai uma significação mínima capaz de introduzi-lo na linguagem. Sendo essa passagem correspondente ao efeito afânise, descrito por Lacan (1964), e que se refere ao momento da alienação significante, momento da carência do sujeito, no qual este aparece apagado sob o significante S2.

Embora se constitua em alienação, cabe marcar que esse efeito pressupõe a intervenção da função significante do Nome-do-Pai, por meio mesmo do ato de nomeação, o que permite ao sujeito reconhecer-se como não-todo, como barrado, e assim, expor sua carência. O que, no entanto, não significa condição suficiente para que ocorra a separação.

O que se obtém, como resultado dessa primeira operação, é um saber suposto - S2 - que se superpõe ao desejo do Outro, de modo que o sujeito que era nada - a - para esse desejo pode constituir-se como uma significação para esse saber. De qualquer forma, trata-se de um desejo que é indeterminado, sendo essa propriedade o que irá definir a significação do sujeito também como indeterminada.

Em outras palavras, poder-se-ia dizer que o sujeito que resulta dessa primeira metáfora - produto desse processo de recalcamento originário -, embora se encontre referido ao campo da linguagem, ainda não se constitui como um sujeito desejante. Encontra-se enlaçado à demanda absoluta e indeterminada do Outro materno. Demanda esta que surge a partir do próprio efeito imaginário, advindo da operação de recalcamento, e frente à qual o sujeito se coloca como objeto imaginário indeterminado, cuja significação é simbólica.

Como decorrência, ainda, desse processo, tem-se a articulação de um supereu, que vem falar do lugar dessa demanda indeterminada do Outro - supereu arcaico, representado pela figura materna -, e que é bem diferente daquele que se estabelece por ocasião do Complexo de Édipo, a partir do pai.

Apreende-se, no primeiro caso, um mandato de gozo, mas que difere do "Goza!" do segundo tempo edípico. Tratar-se-ia, antes, de tomar o próprio corpo da criança como pertencente ao corpo materno, não tendo o sujeito outra saída senão atender à exigência de gozo endereçada pela mãe. Ou seja, no lugar de "Goza!", encontrar-se-ia o imperativo "Me faça gozar com seu corpo!".

Nesse ponto, segundo Calligaris (1986), o que se estabelece por parte do sujeito são defesas empreendidas no sentido de protegê-lo da demanda terrificante do Outro. Segundo o autor, defesas autísticas, neuróticas, psicóticas, e diríamos também perversas, a partir das quais poderá se posicionar frente a tal demanda.

No caso da neurose, por exemplo, para que se dê a transposição da alienação à separação faz-se necessário que se produza o recobrimento de duas carências - a do sujeito e a do Outro - sendo esta a saída neurótica ideal.

Assim, para que o sujeito pudesse se ver livre dessa condição alienante, e constituir-se efetivamente como sujeito do desejo, haveria que entrar em cena uma segunda operação de recalque, uma nova metáfora. A partir da qual um terceiro viesse a se interpor na relação dual mãe-criança, sendo capaz de delimitar a demanda indeterminada do Outro. Alguém suposto saber sobre o desejo da mãe.

Estamos a falar do recalque secundário, no qual o pai surgirá com interditor, veiculado pelo desejo materno, a fim de instituir-lhe limites, que permitirão ao sujeito reconhecer sua própria falta, através da constatação da incompletude do Outro.

Dito de outro modo, trata-se aqui da função da metáfora paterna, função que irá circunscrever o saber, dar-lhe um limite que, conseqüentemente, se estenderá à demanda do Outro. Esta, a partir de então, se tornará uma demanda determinada, dominada pelo saber do pai.

A partir dessa intervenção, mudanças se verificarão também no nível do supereu que, uma vez alicerçada a metáfora paterna, continuará a consistir num imperativo de gozo, mas, como falávamos anteriormente, desta feita, será um imperativo endereçado ao próprio sujeito, como a lhe dizer "Goza!". Já não se referirá mais ao gozo do Outro, mas sim ao gozo fálico.

É por meio da intervenção da metáfora paterna que o sujeito poderá apreender a falta do Outro e, assim, sua própria falta.

Segundo Lacan (1966), será ao introduzir sua questão - acerca da origem dos bebês, por exemplo - que o sujeito atacará a cadeia significante do Outro, no seu ponto mais débil, o do intervalo entre os significantes de sua demanda, entre S1 e S2, ali onde se esconde sua falta, encontrando-se, assim, com o desejo do Outro.

Encontrar esse desejo no Outro e colocar-se nesse lugar, enquanto falo imaginário (- φ, é condição para que se produza a separação. É nesse momento que se passa do efeito afânise - efeito da alienação significante - para a função afânise, quando o sujeito se faz objeto da falta do Outro, e se libera do peso afanísico do S2, excluindo-se da cadeia significante e entrando como objeto a.

Vejamos, portanto, como esse momento crucial da constituição psíquica do sujeito pode contribuir para os enlaces de sua constituição cognitiva.

O conceito de inteligência, num referencial psicanalítico, sofre um deslocamento de ênfase nos aspectos biológicos, ambientais e/ou interacionistas para centralizar-se nas questões referentes à sexualidade e ao desejo, introduzindo questões relacionadas à linguagem e ao estabelecimento de uma ordem fálica, que permeia o ser falante.

Sendo assim, pautados no processo de estruturação do sujeito na neurose, passamos à discussão das vicissitudes da sexualidade infantil, começando por circunscrever a dimensão do falo nesse processo.

Nesse sentido, Lacan (1957) coloca que "o falo só pode ser posto em jogo na medida em que seja necessário, num dado momento, simbolizar algum acontecimento, seja este a vinda tardia de uma criança para alguém que esteja em relação imediata com ela ou, ainda, para o próprio sujeito, a questão levantada sobre a sua maternidade e a posse de uma criança" (p. 99).

Para explicarmos, mais detalhadamente, esse momento, recorreremos aos textos de Freud nos quais ele se põe a falar das investigações sexuais infantis, abrindo espaço para a formulação do desejo de saber e permitindo situar a superdotação em relação à sexualidade, naquilo que esta comporta de desejo e de gozo.

É a partir do texto sobre as Teorias sexuais infantis, publicado em 1908, que um caminho diferente começa a se construir, no qual Freud coloca o fator sexual como a mola propulsora do desenvolvimento intelectual.

Nesse texto, Freud (1908) começa a distinguir o que constitui o campo biológico e psíquico no que concerne à sexualidade, desvinculando-a de um fator meramente desenvolvimentista, e admitindo sua influência decisiva - sobretudo no que corresponde às teorias sexuais infantis -, para a formação dos sintomas.

A curiosidade sexual se estabelece, segundo Freud (1908), não por "alguma necessidade inata de causas estabelecidas; surge sob o aguilhão dos instintos egoístas que dominam a criança, quando é surpreendida - talvez ao fim do seu segundo ano - pela chegada de um novo bebê" (p. 215).

Ao se interpor um terceiro na relação entre a criança e os pais, coloca-se a ameaça de perda do amor parental, o que lhe desperta uma gama de sentimentos agressivos e de ciúmes em relação ao recém-chegado.

É nesse momento crucial de sua constituição que a criança verá aguçarem-se suas emoções e também sua capacidade de pensamento, o que lhe permitirá empreender-se em direção à busca de um sentido para sua existência - a princípio, através da formulação das teorias sexuais infantis e, posteriormente, por meio da sublimação, através de seu desenvolvimento intelectual.

Freud (1908) descreve que é "sob a instigação desses sentimentos e preocupações, que a criança começa a refletir sobre o primeiro grande problema da vida e perguntar a si mesma: 'De onde vêm os bebês?'" (p. 216).

Ao introduzir essa questão e endereçá-la aos adultos, sobretudo aos pais a quem supõe um saber, a criança não almeja apenas resolver o enigma do nascimento dos bebês. Trata-se antes de um momento no qual ela se vê confrontada como sujeito ao desejo do Outro parental, o que significa estender a questão inicial para: 'O que você quer de mim além daquilo que demanda?", ou ainda, "De que desejo eu nasci?".

Trata-se de um ponto concernente ao próprio processo de constituição do sujeito. Processo onde a criança passaria de um primeiro momento de puro narcisismo dual, de completa alienação ao Outro materno, para um segundo estádio, caracterizado pelo Complexo de Édipo, o que instituiria uma relação triádica, havendo a atuação de um terceiro elemento interditor da mônada mãe- criança, possibilitando, assim, a instauração do desejo.

É na passagem do primeiro momento desse processo à conclusão de seu segundo tempo, que irá se colocar por parte da criança uma série de perguntas endereçadas ao adulto e que refletem que o sujeito barrou, de alguma forma, o lugar do Outro até então absoluto. Nas palavras de Vidal (1999), "está aí a marca de origem do inconsciente como um saber barrado" (p. 22).

Freud nos traz a questão acerca da origem dos bebês, mas outras perguntas podem ser contadas como equivalentes simbólicos dessa primeira. As respostas obtidas pela criança, por sua vez, resultam falhas, sobretudo quando colocam o adulto defronte de sua própria falta em ser, diante de sua própria divisão em relação ao saber. Quando não são evasivas, são repressivas ou ainda mitológicas, gerando decepção e fazendo com que aquela prossiga cada vez mais em sua investigação, só que desta feita de modo velado.

No que diz respeito, mais diretamente, às questões acerca da sexualidade, Freud (1908) coloca que, a partir dessa "primeira decepção, as crianças começam a desconfiar dos adultos e a suspeitar que estes lhes escondem algo proibido, passando como resultado a manter em segredo suas investigações posteriores" (p. 217).

Segundo Lemérer (1999), as respostas dadas pelos adultos às questões dirigidas pelas crianças resultam insatisfatórias, por não fazerem outra coisa que rodear e escavar o lugar de uma falta, a falta de resposta que ofereceria ao sujeito o acesso ao saber e ao gozo sexuais.

Resultam insatisfatórias porque, quanto mais a criança busca esse saber, mais se defronta com a impossibilidade de saber sobre o sexo, produzindo-se, a cada tentativa de fechamento, um furo de saber.

Para Freud (1908), "essas hesitações e dúvidas tornam-se, entretanto, o protótipo de todo trabalho intelectual posterior aplicado à solução de problemas, tendo esse primeiro fracasso um efeito cerceante sobre todo o futuro da criança" (p. 222).

Em 1907, no texto O esclarecimento sexual da criança, Freud já assinalava os efeitos de verdade que se produzem sobre o sujeito cada vez que algo de seu saber fracassa e que, nesse caso, o levarão a sua primeira tentativa de autonomia intelectual a partir da criação das teorias sexuais infantis.

Quanto a isto, Nobre (1999) acrescenta que, na insuficiência de um saber, o desvelamento de uma verdade se impõe, empurrando o sujeito a buscar no Outro, pelas vias da suposição de um saber todo, a resposta que lhe falta.

Assim, segundo Lemérer (1999), as investigações sexuais infantis são efetivamente dirigidas a conquistar o saber proibido de que os adultos supostamente podem desfrutar. Visam ao gozo, isto é, à conquista de um saber que viria conjugar o sujeito com seu ser sexuado, o que é impossível.

Entretanto, ao deparar com essa impossibilidade, a criança se mantém na expectativa de que algum dia esse saber lhe seja concedido. E é o defrontamento com a incompletude do Outro, por sua vez, o que lhe suscitará uma insaciável sede de saber.

Como decorrência dessa operação, a atividade intelectual da criança não se limitará somente a corresponder ao desejo do Outro, à imagem esperada pelas figuras parentais, mas, sobretudo, encontrar-se-á agora a serviço do desejo de saber.

Conforme Lacan (1970) menciona ao discutir O poder dos impossíveis: "O efeito de verdade é apenas uma queda de saber. É essa queda que faz produção" (p. 178), cujo produto podemos verificar, por exemplo, através das teorias sexuais infantis.

Essas teorias se constituem basicamente na crença das crianças na indiferenciação sexual anatômica, que traz como conseqüência a atribuição da posse de um pênis tanto para homens como para mulheres; na teoria cloacal, a partir da qual os bebês seriam expelidos como excremento, numa evacuação e, ainda, na crença da concepção sádica do coito.

Segundo Freud (1908), embora essas teorias sejam falsas, "cada uma delas contém um fragmento de verdade". Donde podemos concluir que é dessa articulação entre um saber não-todo com uma verdade - verdade da impossibilidade, do impossível do sexo e, portanto, meia-verdade que se faz possível que o sujeito prossiga em sua busca de saber e que daí possa, inclusive, vir a produzir conhecimento.

Começa-se a perfazer o caminho que marca o sujeito - e lembramos que aqui se trata do sujeito neurótico -, a partir do momento que este é inserido no campo da linguagem e na dialética da castração, e que se constitui na prevalência da ordem fálica. O que pode ser visto, principalmente, se recorrermos à primeira teoria articulada pelas crianças, isto é, a atribuição de um pênis a todos os seres.

Essa questão se encontra colocada, de modo ainda mais enfático, por Freud (1923) em seu texto A organização genital infantil, ao dizer que, "em relação à organização infantil, para ambos os sexos, entra em consideração apenas um órgão genital, ou seja, o masculino". E acrescenta: "O que está presente, portanto, não é a primazia dos órgãos genitais, mas uma primazia do falo" (p. 180).

É ainda em 1908 que Freud menciona a ameaça de castração, associada nesse período à busca de prazer auto-erótico advindo da masturbação, menção que irá se repetir de um modo diferente em seu texto de 1910, Leonardo da Vinci e uma lembrança da sua infância, quando a ameaça de castração se encontrará mais claramente dissociada do órgão genital em si, e relacionada ao caráter de potência fálica que lhe é atribuído.

Freud (1908) situa que, no caso da menina, se estabelece uma equivalência entre pênis e clitóris, sendo este último o que "produz excitabilidade, conferindo à atividade sexual da menina um caráter masculino" (p. 220).

É importante marcar que a criança, embora já tenha deparado com a diferenciação sexual, acredita que sua mãe ainda é possuidora de um pênis, o que a impede de concluir satisfatoriamente suas hipóteses acerca da concepção dos bebês.

A esse respeito, Freud (1923) descreve que "mulheres a quem a criança respeita, como sua mãe, retêm o pênis por longo tempo. Para ela, ser mulher ainda não é sinônimo de não ter pênis. Mais tarde, quando a criança retoma os problemas da origem e nascimento dos bebês e advinha que apenas as mulheres podem dar-lhes nascimento, somente então também a mãe perde seu pênis" (p. 183).

Essa questão da dialética fálica, do ter ou não ter o falo permanece, mesmo após a dissolução do Complexo de Édipo, como o pivô de toda articulação da sexualidade e, inclusive, no que esta se associa ao interesse pela pesquisa e pelo conhecimento.

Em Leonardo da Vinci e uma lembrança da sua infância, por exemplo, Freud (1910) busca delimitar de que maneira o contato privilegiado de Leonardo com sua mãe e seu provável empreendimento em investigações sexuais durante a infância, mostraram-se cruciais para o desenvolvimento de sua genialidade artística e científica.

É nesse texto precisamente que Freud estreita a questão da sexualidade e da inteligência, o que nos põe na pista de algo que possa se colocar como peculiaridade no caso da superdotação. Ele nos diz que "a pesquisa psicanalítica oferece-nos a explicação completa mostrando que a maioria das crianças, ou pelo menos as mais inteligentes, atravessam um período de pesquisas sexuais infantis" (p. 72 - grifo nosso).

Freud (1910) acrescenta que, por ocasião das investigações sexuais, as crianças "já têm uma noção do ato sexual, que lhes parece ser alguma coisa hostil e violenta. Mas como a sua própria constituição sexual ainda não atingiu o ponto de fazer bebês, sua investigação sobre o problema da origem dos bebês acaba também sem solução, sendo finalmente abandonada" (p. 73).

Entretanto, haveria ainda nesse processo a transformação das forças psíquicas instintivas, o que possibilitaria à criança se enveredar pelos caminhos do desenvolvimento intelectual, agora por meio de investigações aceitas socialmente. A essa operação Freud denomina sublimação, o que consistiria na "substituição do objetivo imediato da pulsão por outros desprovidos de caráter sexual e que pudessem ser mais altamente valorizados" (p. 72).

Nesse sentido, cabe-nos citar ainda o que Kupfer (1990) discute acerca da associação da pulsão de saber à pulsão de domínio e à pulsão de ver, ambas citadas por Freud em seu texto.

Kupfer (1990) coloca que, ao final da época do conflito edipiano, parte da investigação sexual cai sob o domínio da repressão, sendo o restante sublimado em pulsão de domínio e pulsão de ver. Enfatiza, ainda, que essas pulsões serão os instrumentos fundamentais para o desenvolvimento intelectual da criança, a partir do momento em que, transformados pela sublimação, manifestam-se no prazer de pesquisar, no interesse pela observação da natureza, no gosto pela leitura, entre outros.

Sobre a pulsão escópica, Freud (1910) nos diz que ela se encontra atuante antes mesmo que a criança seja dominada pelo complexo de castração, o que a impele a mover sua curiosidade para o órgão sexual materno, que supõe ser um pênis. Segundo Freud, "com a descoberta que fará, mais tarde, de que as mulheres não possuem pênis, esse desejo muitas vezes se transforma no seu oposto, dando origem a um sentimento de repulsa..." (p. 89).

Freud (1910) situa essa repulsa como a causa futura de casos de impotência ou mesmo de homossexualidade, referindo-se nesse ponto à figura masculina.

No entanto, tomamos esse material como um importante fator para analisar os casos de superdotação acompanhados nessa pesquisa, onde o conhecimento surge como uma espécie de objeto tamponador da falta empreendida a partir do defrontamento com castração materna.

Nesse processo, vemos que muitas vezes se articula uma atitude reivindicatória ou mesmo de confronto por parte da criança em relação à mãe, sobretudo no caso das meninas. Embora, nos textos abordados até o momento, Freud privilegie a especificidade da estruturação edípica masculina, sabemos que seu direcionamento se modificará ao longo de sua obra. Em textos como A feminilidade, de 1923, e a Sexualidade feminina, de 1931, bem como nos estudos lacanianos, obtemos dados que nos permitirão verificar de que maneira a menina também se rebela contra a figura materna a partir da constatação de sua castração. O que a leva, muitas vezes, a colocar-se desde uma posição masculina no quadro da sexuação, buscando de alguma forma velar sua falta, sendo esse mecanismo bastante presente nos casos de meninas superdotadas.

É já a partir do texto A dissolução do Complexo de Édipo, que Freud (1924) começa a introduzir as especificidades no que se refere à organização sexual feminina. Se, por um lado, a ausência de um pênis coloca a questão da castração para a menina como um fato consumado, ao passo que para o menino se apresenta a constante ameaça frente à perda do órgão, por outro não é sem resistências que a menina se defronta com a falta de um pênis.

Nas palavras de Freud (1924), "a renúncia ao pênis não é tolerada pela menina sem alguma tentativa de compensação. Ela desliza - ao longo da linha de uma equação simbólica, poder-se-ia dizer - do pênis para um bebê. Seu Complexo de Édipo culmina em um desejo, mantido por muito tempo, de receber do pai um bebê como presente - de dar-lhe um filho" (p. 223).

Num trecho seguinte, Freud coloca que esses "dois desejos - possuir um pênis e um filho - permanecem fortemente catexizados no inconsciente e ajudam a preparar a criatura do sexo feminino para seu papel posterior" (pp. 223-4).

Essa citação de Freud permite situar a questão da superdotação a partir de dois vieses distintos. Primeiramente, pelo lado do sujeito superdotado. No caso, a menina, para a qual acrescentaríamos a posse de um conhecimento como um possível substituto do pênis. E, em segundo lugar, far-se-ia necessário considerar o que está em jogo na dialética do desejo de uma mãe que concebe um filho superdotado, e que o toma de algum modo por objeto suturador de sua falta. Trata-se de uma maneira muito peculiar de afirmar sua supremacia fálica e que, por sua vez, não é sem conseqüências para a criança.

Freud (1910) circunscreve essa questão ao abordar a relação mãe-criança, dizendo que "sua natureza é a de uma relação amorosa plenamente satisfatória que não somente gratifica todos os desejos mentais, mas também todas as necessidades físicas; e se isso representa uma das formas possíveis da felicidade humana, em parte será devido à possibilidade que oferece de satisfazer, sem reprovação, desejos impulsivos há muito tempo reprimidos e que podem ser considerados como perversos" (p. 106).

Cabe acrescentar que, ao usufruto desse amor incondicional, corresponde um preço - o de responder também incondicionalmente ao desejo materno.

Esse efeito que o desejo materno pode acarretar à criança é passível de ser verificado, por exemplo, ao abordar a sexualidade de Leonardo da Vinci - análise que Freud tece a partir da proximidade exacerbada de Leonardo com sua mãe -, colocando tal proximidade como um dos possíveis fatores relacionados à privação de sua vida sexual e à dedicação, ainda que platônica, a amores homossexuais.

Anos mais tarde, esse texto de Freud é retomado por Lacan (1957), que aponta, de maneira mais enfática, para o modo como Leonardo pôde se colocar frente ao desejo de uma mãe fálica e como também sua genialidade constituiu-se num modo de resposta a esse desejo.

No que se refere ainda à questão da sublimação, cabe-nos retomar o que Freud (1910) acentua ao dizer que essa "transformação da força psíquica instintiva, da mesma maneira que a transformação das forças físicas, não poderia se realizar sem prejuízo" (pp. 69-70). Essa perda se marca, sobretudo, no que tange à vida sexual do sujeito, que, em muitos casos, se torna extremamente restrita, assumindo um caráter secundário em prol do fator intelectual, o que se encontrava bastante marcante na vida de Leonardo da Vinci, e que também se encontra, de formas variadas, presente na vida dos superdotados.

Tendo em vista o que discutíamos há pouco, acerca da posição da criança frente às figuras parentais, cabe-nos interrogar ainda o que haveria oculto sob o predomínio e exacerbação do desempenho intelectual dos superdotados.

Poder-se-ia levantar a hipótese de haver embutido, nesse processo de recalque da sexualidade, uma carga de amor endereçada à mãe ou ao pai, que não pôde ser devidamente desviada para a escolha de um outro objeto sexual e que, portanto, afasta o sujeito de todo contato com a sexualidade, sob a ameaça de incesto.

Essa suposição parece confirmar-se no caso de Leonardo da Vinci, quando Freud (1910) nos diz que "uma parte muito menor de sua libido continuou orientada para fins sexuais e representa a atrofiada vida sexual do adulto. Porque o amor que tinha pela mãe foi reprimido, essa parte foi levada a tomar uma atitude homossexual e manifestou-se no amor ideal por rapazes. A fixação em sua mãe e nas felizes lembranças de suas relações com ela continuou preservada no inconsciente, permanecendo, porém, inativa por algum tempo. Desse modo, a repressão, a fixação e a sublimação desempenharam sua parte absorvendo as contribuições do instinto sexual para a vida mental de Leonardo" (p. 120).

Vejamos, portanto, de que maneira Freud descreve os possíveis caminhos a serem tomados pela pulsão de saber, após caírem sob a repressão sexual, a fim de obtermos mais dados para pensar a questão da superdotação.

Freud (1910) aponta três destinos para o desejo de saber, dentre os quais abordamos o terceiro tipo ao falarmos do caso de Leonardo da Vinci, e que consiste na sublimação da avidez de saber, da Wissbegierde, que escapa ao recalque, permitindo que a pesquisa intelectual não repita o fracasso das investigações sexuais infantis, já que ela desvia a pesquisa de seu fim sexual. A conseqüência desse processo também pôde ser abordada, isto é, o afastamento dos temas sexuais, seja do conteúdo da pesquisa ou da prática cotidiana do sujeito.

Uma outra possibilidade que se coloca é que o processo investigativo da criança se torne equivalente à sexualidade, devendo como tal ser também recalcado. O desejo de saber permanecerá desde então inibido e a livre atividade da inteligência limitada, talvez para sempre.

Há ainda uma terceira saída possível, isto é, que a atividade intelectual escape ao recalcamento, mas que permaneça secretamente ligada à busca do gozo sexual que era objetivo das primeiras investigações, levando o sujeito a repetir o fracasso experimentado quando da busca de resposta ao enigma de sua existência, empreendendo-se numa busca sem fim de algo que se coloca cada vez mais distante, mas que por outro lado se coloca como o motor de suas pesquisas. Esse parece ser um dos destinos adotados em alguns casos de superdotação.

Sublimação, inibição e compulsão seriam, então, as três vicissitudes da Wissbegierde após a repressão sexual.

Diante do levantamento desses dados, consideramos crucial a detenção mais acurada sobre alguns aspectos abordados anteriormente, a fim de vislumbrarmos uma possível leitura acerca dos processos constitutivos que envolvem o "sujeito superdotado".

Para iniciar essa difícil tarefa, propomos a análise de três pontos, a saber: primeiramente, a resposta incondicional do sujeito ao desejo materno; segundo, a escolha de um objeto sexual e, por último, a sublimação, sobretudo no que esta pode ser relacionada à transgressão.

Tomaremos, como eixo principal para essa articulação, a tese de doutorado de M. C. Kupfer (1990), intitulada O desejo de saber.

Quando optamos por enfocar, novamente, a questão da resposta dada pelo sujeito ao desejo do Outro, pretendemos, na verdade, (re)instalar a dimensão do próprio desejo do sujeito ou, ainda, abrir margem para que se conjugue algo de seu gozo.

A esse respeito é importante situar, por exemplo, a virada conceituai que Lacan (1962-3) introduz a partir do Seminário da Angústia, ao marcar que, se antes o sujeito se referia predominantemente em relação ao desejo do Outro, agora o cerne de seu questionamento se colocará frente ao que seja o gozo.

O que pretendemos, em última instância, é apontar para o fato de que, se o sujeito permanece numa determinada posição frente ao Outro, isto não se dá sem que haja um ganho. Secundário por suposto, como já assinalava Freud ao longo de sua obra no que se referia ao sintoma, mas, de qualquer forma, tratar-se-ia de um ganho.

Entretanto, há que se perguntar sobre que ganho estamos a falar, uma vez que o sujeito se encontra dividido em relação ao seu saber, sendo, portanto, toda impressão e conhecimentos formulados a partir do Eu, parciais, equivocados, dando ao sujeito, paradoxalmente, uma garantia ilusória acerca do que seja ganhar ou perder em termos de subjetividade.

Talvez nessa busca de garantias resida o que é da ordem do gozo, esse "termo designado por Lacan (1970) em sentido próprio, que necessita a repetição" (p. 43). E que traz à tona os estudos freudianos acerca da pulsão de morte e do objeto perdido. Assim, poder-se-ia dizer que, na verdade, o sujeito se encontra diante de uma perda assinalada a partir da própria operação de castração. A busca por um substituto do primeiro objeto de prazer é o que afirma a dimensão desse objeto como perdido para sempre.

Nesse sentido, Lacan (1970) coloca que, "em função de ser expressamente - e como tal - repetido, de ser marcado pela repetição, o que se repete não poderia estar de outro modo, em relação ao que repete, senão em perda. Em perda do que quiserem, em perda de velocidade, de força - há algo que é perda. Freud insiste desde a origem, desde a articulação que estou resumindo aqui, nessa perda - na própria repetição há desperdício de gozo" (p. 44).

E Lacan prossegue em sua articulação entre repetição e gozo, propondo-se a introduzir uma variante naquilo que anteriormente Freud colocara.

Quanto a isso, ele nos diz: "Aí tomo do texto de Freud para dar-lhe um sentido que lá não está apontado, a função do traço unário - quer dizer, da forma mais simples de marca, que é, falando propriamente, a origem do significante. E afirmo isso - que não se vê no texto de Freud, mas de modo algum poderia ser descartado, evitado, rejeitado pelo psicanalista -, que é no traço unário que tem origem tudo o que nos interessa, a nós analistas, como saber" (p. 44).

É nesse ponto que recorremos a uma questão posta anteriormente por Kupfer (1990) acerca de uma aparente dissonância, colocada por Lacan, entre o que tange ao conceito de saber e de desejo, e que nos impossibilitaria, a princípio, de falarmos da existência de um desejo de saber.

Para iniciarmos essa discussão, partimos, desta feita, do seminário O avesso da psicanálise, no qual Lacan (1970) nos diz literalmente que "o desejo de saber não tem qualquer relação com o saber". E acrescenta: "a menos, é claro, que nos contentemos com a mera palavra lúbrica da transgressão" (p. 21).

Segundo Lacan, os efeitos dessa "distinção radical tem suas conseqüências últimas do ponto de vista da pedagogia - o que conduz ao saber não é o desejo de saber. O que conduz ao saber é o discurso da histérica" (p. 21).

De que saber Lacan está a falar? Sabemos que ao longo de sua obra o saber se apresenta com duplo sentido, referindo-se ora ao conhecimento e podendo ser denominado por saberes, como bem o define Kupfer. E, ora sendo relacionado àquilo "que designa o conjunto das determinações que regem a vida do sujeito - um saber, porém que lhe escapa (...). É um saber que escapa ao sujeito no sentido de que ele o ignora. É, evidentemente, uma ignorância ambígua, pois incide sobre tudo o que constitui o tecido, o próprio ser do sujeito: o que ele esqueceu de sua história, dos acontecimentos por ele vividos, dos pensamentos e sentimentos que o constituíram e que ainda o constituem. É uma ignorância ativa, uma rejeição: o que ele prefere não saber" (Silvestre, apud Kupfer, 1990, p. 83).

Se considerarmos essa segunda definição, somos levados, num primeiro momento a concordar com o que Lacan coloca acerca do desejo de saber e de sua não-relação com o saber, sobretudo se tivermos em conta que o saber presente na pedagogia é da ordem do conhecimento e, portanto, referido ao campo dos saberes.

Entretanto, se o saber concernente ao inconsciente é o que enreda o sujeito em toda a sua história, determinando-o - ainda que este não o saiba conscientemente -, não estaria esse saber também envolvido no ato de apreender, incutido na busca de conhecimento?

Vários estudos e trabalhos foram desenvolvidos visando estabelecer as relações entre um campo e outro do saber. Para Vidal (1999), por exemplo, "a aprendizagem se sustenta na suposição de que o Outro sabe. O Outro é o lugar dos significantes que precedem o sujeito. Um sujeito se constitui a partir dos significantes desse corpo". E conclui: "Aprender é sempre apre(e)nder o significante do Outro; fazer próprias as palavras que formam o tesouro de uma língua" (p. 22).

Prossigamos, portanto, em nossa leitura do texto lacaniano para constatarmos que, embora este nos pareça contraditório em alguns momentos, em outros aponta para as questões mesmas que tentamos levantar, sobretudo no que diz respeito à articulação de saber, gozo e conhecimento.

Lacan (1970) coloca que "não há nada em comum entre o sujeito do conhecimento e o sujeito do significante". E acrescenta: "O significante, então, se articula por representar um sujeito junto a outro significante. É daí que partimos para dar sentido a essa repetição inaugural, na medida em que ela é repetição que visa ao gozo" (p. 45).

Trata-se de um gozo proibido, que Lacan insiste em diferenciar da transgressão. Ele nos remete à dimensão do Mehrlust, do mais-de-gozar, que se institui a partir de uma perda de gozo e de um trabalho entrópico do saber a fim de compensar essa perda.

Começa-se a entrever um ponto de consonância, isto porque Lacan descreve que é por meio do mais-de-gozar que podemos distinguir o que se dá no nível "dos saberes harmonizantes que ligam o Umwelt ao Innenwelt" (p. 48). Ou seja, o mundo externo ao interno.

Pensamos não só ser possível distinguir o que se passa nos dois campos, como, principalmente, traçar as margens, as balizas a partir das quais se encontram interligados, mutuamente sobredeterminados, lembrando-nos o modelo da banda de Moebius.

É dessa suposição que se depreende que o próprio conhecimento poderia fazer parte desse plus produzido entropicamente, por um saber inconsciente, cujo objetivo seria tentar responder a falta em ser do sujeito.

Corroborando esses dados, Lacan nos diz que "aí está o oco, a hiância, que de saída um certo número de objetos vem certamente preencher, objetos que são, de algum modo, pré-adaptados, feitos para servir de tampão" (p. 48).

O conhecimento nesse caso bem se adequa a essa definição de objeto. Trata-se, no mundo moderno, de algo veiculado por todos os meios de acesso ao sujeito, sendo considerado uma das fórmulas para obter sucesso e poder.

A maneira como as questões referentes à cognição têm sido abordadas na contemporaneidade realmente não deixa margem para que se possa apreender o que se passa sob o império, sob a prevalência do Eu. Tomado em seu sentido estrito, tratar- se-ia mesmo de um upokeimenon, muito diferente do sujeito dividido da psicanálise. No entanto, se considerarmos o processo na contramão, olhando justamente para aquilo que causaria a necessidade de se produzir um indivíduo desse padrão, um sujeito entificado, veremos que há algo de um outro saber ali presente.

Poderíamos dizer, com Lacan, que "tal saber é meio de gozo. E quando ele trabalha, repito, o que se produz é entropia, esse ponto de perda, é o único ponto, o único ponto regular por onde temos acesso ao que está em jogo no gozo. Nisso se traduz, se arremata e se motiva o que pertence à incidência do significante no destino do ser falante" (p. 48).

E Lacan conclui dizendo que "isso pouco tem a ver com a fala do ser falante, com sua palavra. Isso tem a ver com a estrutura, que se aparelha. O ser humano, que sem dúvida é assim chamado porque nada mais é que o húmus da linguagem, só tem que se emparelhar, digo, se apalavrar com esse aparelho" (p. 48).

Retomamos aqui o que Vidal (1999) colocava ao falar da aprendizagem e de sua relação ao apre(e)nder da incompletude do Outro, para questionar se não se trataria de um mesmo ponto de estrutura, tal como Lacan o marca acima.

De qualquer forma, faz-se necessário voltarmos ao texto de Kupfer (1990) a fim de precisarmos ainda algumas questões, sobretudo no que diz respeito ao desejo de saber.

Nesse trabalho, a autora situa o momento de defrontação da criança em relação ao desejo do Outro não a partir de "um acontecimento fortuito, uma percepção imposta pela realidade, o nascimento de um irmãozinho..." (p. 86). Mas a partir do desejo de ver, da pulsão de ver da qual a criança deveria estar imbuída. Uma vez colocado esse desejo para a criança, esta se encontraria diante de uma carência, diante de uma ignorância do saber.

Assim, segundo Kupfer, o descobrimento da criança no que se refere à ausência de pênis a leva, normalmente, "a atravessar o complexo de castração, a reconhecer a 'carência' como causa de seu desejo sexual. Mas também a leva a reconhecer sua 'carência de saber' como causa do desejo de ver que a levou a descobrir". Desse modo, ela conclui, citando Clavreul (1968), "o desejo de ver e de saber não é estruturalmente distinto do desejo sexual" (p. 87).

Como decorrência dessa equiparação o que temos é que "o desejo que emerge da operação de castração é um desejo de ver ou de saber, que se transforma em seguida em desejo de nada saber" (p. 87).

E, nesse sentido, Lacan (1972-3) nos diz: "... o inconsciente não é que o ser pense, como o implica, no entanto, o que dele se diz na ciência tradicional - o inconsciente é que o ser, falando, goze e, acrescento, não queira saber de mais nada. Acrescento que isso quer dizer - não saber de coisa alguma. (...) não há desejo de saber, esse famoso Wissentrieb que Freud aponta em algum lugar" (p. 143).

A partir dessa premissa, como se sustentariam então as teorias sexuais infantis?

Para Masotta (1986), citado por Kupfer (1990), não haveria coincidência entre o saber, em seu sentido estrito, e o que Freud propõe a respeito da investigação sexual infantil. "A criança, que é um investigador incansável de coisas sexuais, nada quer saber sobre aquilo mesmo que motiva sua investigação: a diferença dos sexos" (p. 89).

E conclui: "... o sujeito nada quer saber (e por isso recalca) sobre a estrutura mesma da pulsão, pois, se aceitá-la, terá também de admitir que seu objeto é lábil, indefinível e, portanto, inalcançável" (p. 89).

Deparamos, mais uma vez, com a noção de objeto perdido, o que funda toda a labilidade do objeto pulsional.

E, nesse sentido, Kupfer aponta na direção do que se marcava no texto freudiano, de 1910, como sendo um furo do conhecimento em relação ao saber, diante do que as investigações sexuais infantis se encontrariam fadadas ao fracasso, uma vez que o objeto procurado jamais seria encontrado. E, ainda que o fosse, isso se daria "de modo insatisfatório, incompleto, uma vez que algo sempre estaria sendo ocultado, mascarado, em benefício do próprio desejo do sujeito de não saber" (p. 91).

Traça-se, assim, uma disjunção entre saber e desejo, no que tange à leitura lacaniana.

A fim de dar suporte à teoria desenvolvida por Freud em relação à sexualidade infantil, Kupfer recorre novamente a Masotta (1986), dizendo que se verifica no referencial freudiano a presença de "um choque entre desejos: o da criança e o do Outro simbólico, representado pelos pais reais" (p. 90).

Choque ao qual já fazíamos menção, de outro modo, ao dizermos que as respostas dadas pelo adulto à criança não satisfaziam porque, ele mesmo, se encontrava desprovido de um saber sobre o gozo. Uma vez que, ao sujeito, é vedado responder por seu ser sexuado, responder como sujeito do sexo. Trata-se de uma impossibilidade própria da estrutura.

É por isso, por essa falta estruturante que marca o sujeito como sujeito barrado, alienado em relação ao seu saber, que a investigação sexual da criança tenderá a apagar-se sob o efeito do recalque, ainda que as questões sobre a sexualidade permaneçam de forma velada.

E, nesse enfoque, Cristina Kupfer distingue dois níveis de abordagem do sexual: o primeiro é circunscrito como o referente "às perguntas objetivas sobre a procriação, anatomia, e até sobre relações sexuais. E, o segundo, bem diferente, articulado com as interrogações sobre o sujeito que está implicado em realidades como as da castração, do desejo inconsciente, da diferença dos sexos - todos eles problemas registrados no plano do inconsciente" (p. 90). Sendo esses aos quais se refere ao dizer que as crianças nada querem saber a respeito.

Seria importante retomar a noção, colocada primeiramente, referida a um sexual restrito puramente a seu real biológico, pois falar a partir desse enunciado é característico não só das crianças em suas investigações, como também é pertinente para classificarmos as respostas dadas pelos adultos às perguntas infantis.

E, em última instância, é o que se apresenta no cerne de todo o desenvolvimento da ciência, isto é, uma total disjunção entre os campos do saber e da verdade, separação que funda um saber de certo modo absoluto, onisciente -sobrepondo-se ao saber divino da religião. Separação sobre a qual repousa, sobre a qual se sustenta todo o progresso científico.

Mas, recolocando nossa pergunta, se o sujeito nada quer saber acerca da falta, acerca da hiância que o funda, de que maneira podemos explicar seu empreendimento voraz nas questões sobre as origens e sobre a lógica que engendra o mundo e se arvora nas ciências, nas artes, entre outros?

O que estaria, então, implicado nas investigações sexuais infantis e em sua relação à atividade intelectual da criança?

Uma luz sobre essa questão surge a partir dos textos de Aulagner (1967-80), para quem "todo desejo de saber é um desejo de saber sobre o desejo".

Dessa forma, poder-se-ia dizer que se, num primeiro momento, a criança se descobre objeto do desejo da mãe, num segundo tempo, constatada a castração, o sujeito depara com o fato de haver um desejo que pré-existia ao seu nascimento e, que, ao mesmo tempo, o transcende na atualidade. Isto é, ele não é o único objeto capaz de responder à falta do Outro, e, pior, não há objeto passível de tal façanha. Sendo essa descoberta o que despertará seu desejo de saber sobre o desejo do Outro e sobre o que fundamenta o seu próprio desejo.

E, nesse sentido, vemos que o sujeito não faz outra coisa que confirmar o destino da pulsão, ou seja, o de retorno ao próprio eu.

A partir desse ponto, fazemos nossa a pergunta da autora: "Como é possível passar do primeiro desejo, do qual não se quer saber, para o desejo de saber sobre a ordem do mundo?"

Para responder a essa questão, encontramos referência, no texto aulagneriano, à demanda de saber, a qual viria em substituição ao desejo de saber - este inconsciente -, sendo esse o processo atuante nas perguntas articuladas pela criança e envolvido em seu desenvolvimento intelectual.

Sobre esse novo operador que nos é apresentado, Kupfer se detém em sua tese, dizendo que "é justamente porque não pode haver desejo de saber sobre o inconsciente que pode surgir, em seu lugar, uma demanda de saberes constituídos. O desejo não é enunciável, mas uma demanda o é, e o faz veiculando esse desejo. A noção de demanda é, então, o nosso x, a ponte que permite a passagem de um desejo de nada saber sobre o desejo inconsciente para um movimento de querer saber tudo sobre a ordem do mundo" (p. 101).

O que a demanda de saber visa é a dominação sobre o que se apresenta como desconhecido para o sujeito, sobre o que lhe escapa, sendo concernente a um real, que nenhum conhecimento é capaz de abarcar, mas ao qual se oferecem objetos ilusórios que, ao menos momentâneamente, parecem responder ao vazio, mas que logo se revelam insatisfatórios, levando o sujeito a demandar mais, e mais, saber. Trata-se, por isso, de um encontro fortuito, sempre faltoso. O que caracteriza, em grande parte, a busca desenfreada pelo conhecimento, no caso da superdotação, como um sintoma.

Caminho tortuoso onde o sujeito procura, em vão, uma trilha que lhe permita conciliar-se com a verdade de seu ser, sendo sempre dela, e por ela mesma, desviado.

Uma vez discutidos esses pontos, haveríamos que retomar ainda duas das três questões colocadas, anteriormente, ou seja, sobre a escolha de um objeto sexual e sobre a sublimação.

Pensamos que, de certa forma, ambas se encontram vinculadas, intrinsecamente. No que diz respeito à superdotação, já foi dito, no início deste trabalho, acerca do afastamento da sexualidade empreendido por esses sujeitos. E quando mencionamos sexual, aqui, logicamente damos ênfase ao que é da ordem da sexualidade genital, mas é sabido que, em alguns casos, esse afastamento se estende para os temas sexuais, de um modo mais amplo, ou seja, mesmo no interior das pesquisas intelectuais.

O sexual se constitui, dessa forma, como um tema totalmente desconhecido, quando não aterrorizador, para esses sujeitos. A própria prevalência do fator intelectual já aponta para uma tentativa de se resguardar desse contato, ponto no qual a sublimação vem cumprir um papel.

Dito nas palavras de Freud (1910), a partir da sublimação "parte do que seria a pulsão de investigação se sublima em pulsão de saber", desse processo decorre que há uma divisão entre o material sublimado e aquele que sofre ação do recalque.

Entendemos ser esse conteúdo recalcado o que se refere ao saber sexual, que remete o sujeito a um período de sua constituição, onde ainda não lhe era vedado o acesso ao primeiro objeto de seu amor, e, simultaneamente, ao advento da interdição desse amor.

Kupfer (1990) aborda esse momento dizendo que "o que o sujeito obtém diante de sua demanda de saber é o Nome-do-Pai, a Lei do Pai, o 'não tocarás nesta mulher' - colocado por Freud. Pedindo, ouve não. Eis a face 'castradora' da Lei que o pai veicula. Eis a ação do recalque sobre as investigações sexuais infantis. Eis o que produz um desejo de nada saber" (p. 104).

No entanto, para que o sujeito possa se enveredar no campo do conhecimento, torna-se necessário que ele desvincule seus objetos de pesquisa de qualquer relação com esse saber - causa de horror e provido de conotação incestuosa.

É nesse instante que se vê operar o fruto da sublimação, ou seja, a possibilidade de que um movimento transgressivo se articule no sentido de possibilitar ao sujeito aventurar-se no campo dos saberes, uma vez tendo subvertido de alguma forma a interdição, imobilizadora, do pai.

Sendo assim, nosso intuito, a partir de então, será refletir acerca do fantasma que paira sobre o superdotado, para quem essa questão do saber - acompanhado daquilo que ele porta de transgressão - está posta desde o princípio.

Nesse caso, ser superdotado corresponderia, num momento mítico da constituição subjetiva, a ser o objeto tamponador da falta materna e, como tal, merecedor absoluto de seu amor.

Entretanto, uma vez ocorrendo a intervenção do Nome-do-Pai, o sujeito se encontraria dividido. Instituir-se-ia, como resultado dessa interdição, uma situação bastante complexa, a saber: por um lado o sujeito estaria, de certa forma, resguardado da demanda indeterminada e absoluta do Outro materno, podendo constituir-se como desejante. Por outro, deixaria de ocupar o lugar de exclusividade anterior, tendo que arcar com o sofrimento narcísico que isso lhe inflige. E, ainda - e este é o ponto mais complexo -, conviver com uma marca que o remete a todo momento àquela primeira posição ocupada, colocando-o à mercê da ameaça da fúria paterna.

Embora esteja sacramentado o interdito, ao responder como superdotado, o sujeito não deixa de responder a um ideal narcísico. Sua inteligência lhe permite encurtar distâncias entre o que são seus objetivos e os meios para alcançá-lo, ao conferir-lhe uma capacidade de apreensão e leitura do mundo, que cria a ilusão, não só de que seja possível saber acerca do desejo do Outro, como ainda de que seja ele o detentor desse saber. Aparentemente, não havendo limites para sua ação.

Mas, ao mesmo tempo, paradoxalmente, será essa mesma capacidade que o colocará frente a frente com as questões concernentes à vida e à morte, escavando-lhe cada vez mais profunda a falta.

Esse ideal que é imputado ao sujeito, a princípio pela mãe, se estenderá, posteriormente, para o campo social, no qual também se encontrará presente, sob a esfera do sucesso, o risco de uma perda, de uma represália, de uma punição.

Os efeitos dessa ameaça podem se manifestar, no sujeito, das mais variadas formas: fobias, rituais obsessivos e, mesmo, na impossibilidade de obter êxito usufruindo seu próprio potencial intelectual.

Ainda que haja um mecanismo de transgressão envolvido na busca de conhecimento, a marca da castração estará sempre presente para o neurótico. E, o objeto suposto completá-lo jamais será encontrado, posto que está perdido desde sempre. Assim, mesmo que seja infindável sua demanda de saber, ele nunca esgotará sua busca, pois nada será capaz de satisfazê-lo completamente.

Em suma, saber fazer, saber decodificar os meios de acesso para desvendar mistérios e enigmas que resulta.m, para a grande maioria das pessoas, inacessíveis, não dá condições ao sujeito de que possa ser todo. Pois não é o fato de conhecer que resolverá sua questão acerca do que é ser, do falasser, de sua falta a ser... Para essa questão não há solução. E prosseguir nessa busca não é outra coisa que uma forma de manter-se vivo à medida que se caminha para morte.

 

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Recebido em abril/2002.

 

 

1 Este texto é parte integrante da Dissertação de Mestrado Superdotação e psicanálise: uma questão do desejo. Universidade de São Paulo, 2001.