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Estilos da Clinica

versión impresa ISSN 1415-7128versión On-line ISSN 1981-1624

Estilos clin. v.12 n.22 São Paulo jun. 2007

 

EDITORIAL

Mais uma vez, Estilos traz em seu dossiê textos reunidos em torno do debate entre tratar e educar. Mas não se trata de repetição: os textos aqui apresentados atestam que esse campo de discussão renova-se e está em grande florescimento. As novas idéias abundam.

Bernard Pechberty, psicanalista e pesquisador de Paris 5 que vem contribuindo, significativamente, para essa discussão, introduz, ao refletir sobre o educativo na clínica psicanalítica de crianças, um movimento surpreendente e novo: a escuta dos pais também pode funcionar como uma abordagem terapêutica de sua função educativa, nos casos em que ela se encontra abalada diante das dificuldades das crianças. Eis aí mais um campo a ser pesquisado e ampliado, no qual o tratar e o educar entrelaçam-se. E é também nele que se situa o texto de Leda Bernardino, professora da PUC-Paraná e psicanalista com vasta experiência no trabalho com crianças. Ao discutir a escuta psicanalítica dos pais de crianças ditas diferentes, Bernardino mostra como essa escuta permite o resgate das significa ções de seus filhos, perdidas quando o “o atributo que marca a sua diferença” aprisionou aquelas crianças em significações dessubjetivadas, como a da deficiência mental, por exemplo. Uma escuta que será tamb ém, em última instância, uma escuta da função parental educativa, caso se tome a perspectiva do que Bernardino chamou de alargamento do conceito de Educação.

Já Rogério Lerner, do Instituto de Psicologia da USP, aplica-se em discutir a heterogeneidade dos discursos (psicanálise, educação e inclusão social) que comp õem uma instituição de atendimento a crianças, apontando os impasses no prosseguimento de um trabalho psicanalítico, que advêm justamente dessa heterogeneidade. Ou seja, a posição discursiva da psicanálise em meio a discursos heterogêneos como os do tratar e do educar não se sustenta facilmente, segundo esse autor, e por isso a instituição precisa estar avisada dessa permanente tensão. Finalmente, Flávia Flach, docente da Faculdade de Psicologia da UNIJUÍ, e Regina Orgler Sordi, da UFRGS, levam o olhar da psicanálise para o espaço das Escolas de Educação Infantil, para perguntar sobre as possibilidades de constitui- ção subjetiva das crianças nesses espaços. Esse é um outro campo que vem se abrindo gradativamente para o olhar da psicanálise.

Com a apresentação desses textos, Estilos buscou trazer mais uma vez para a discussão a perspectiva de que a psican álise não precisa exercer-se apenas no enquadre clássico do tratamento padrão e pode “ explodir” seus muros, derramando- se, para o melhor ou para o pior, sobre a cultura.

Estilos da Clínica apresenta neste número uma nova se- ção: Depoimento. A exemplo de inúmeras revistas científicas, Estilos buscou abrir espaço para o texto em primeira pessoa. Em Depoimento, um pesquisador poderá relatar sua experiência sob forma de testemunho, de modo a revelar como um sujeito foi por ela atravessado. Atravessado no sentido de atingido, tomado, sacudido e transformado. Um sujeito não é mais o mesmo depois de ter vivido uma experiência profissional ou acadêmica significativa, e fazer esse relato, como fez Claudine Blanchard-Laville – professora da Faculdade de Educação de Paris 10 – neste número, pode ressoar em cada leitor, que também terá de se perguntar pelos efeitos do próprio exercício profissional em sua história.

Maria Cristina Kupfer

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