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Estilos da Clinica

versão impressa ISSN 1415-7128versão On-line ISSN 1981-1624

Estilos clin. v.13 n.24 São Paulo jun. 2008

 

DOSSIÊ

 

Considerações sobre a interpretação de escritas sintomáticas de crianças

 

On the interpretation of children's symptomatic writing

 

Consideraciones acerca de la interpretación de escrituras sintomáticas de niños

 

 

Maria Francisca Lier-De VittoI; Lourdes AndradeII

ILingüista, docente do Programa de Estudos Pós-Graduados em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (LAEL/ PUCSP). Coordenadora do Comitê de Pesquisa da Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação (DERDIC/PUCSP)
IIFonoaudióloga e pesquisadora do Serviço de Patologia da Linguagem da Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação (DERDIC/ PUCSP). Coordenadora e docente do Curso de Aprimoramento em Clínica de Linguagem com crianças

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este trabalho problematiza a concepção de escrita como representação da fala, posição teórica que prevalece no tratamento de crianças com problemas de leitura e escrita. Apresenta, também, uma abordagem alternativa que considera, na interpretação da relação criança-escrita, a incidência do funcionamento da linguagem. Discute, ainda, com base em materiais de sessões clínicas, implicações/ efeitos dessa mudança de paradigma na movimentação de algumas questões centrais para o atendimento na Clínica de Linguagem como, por exemplo, a relação oralidade- escrita.

Palavras-chave: distúrbios de leitura e escrita; escritas sintomáticas; Clínica de Linguagem; clínica fonoaudiológica


ABSTRACT

This paper offers critical considerations against the widespread conception of language found both in theoretical and clinical approaches to children's difficulties in reading and writing, i.e., the latter is conceived of as direct representation of speech. Such a discussion leads to the development of an alternative point of view which takes into account the effects of the functioning of language in the interpretation on the relationship child-writing. Finally, this paper focuses on central issues in the field of Speech Clinic, such as relation between speech and writing.

Keywords: children's reading and writing difficulties; symptomatic writings; language clinic; speech therapy


RESUMEN

Ese artículo discute, inicialmente, la noción de escritura como representación de la habla – noción que prevalece en el tratamiento de niños con problemas de lectura y de escritura. Propone, a partir de ese momento, una visión alternativa que considera la incidencia estructurante del funcionamiento del lenguaje en la relación niño-escritura. Discute, a la continuación, cuestiones teóricas y clínicas centrales en la Clínica de Lenguaje tal como la relación habla-escritura.

Palabras clave: dificultades de lectura y escritura; escritura sintomática de niños; clínica de lenguaje; tratamiento de problemas de lenguaje


 

 

Discutiremos, neste trabalho, problemas de leitura e escrita que chegam à Clínica de Linguagem. Abordaremos, também, descrições e explicações que são usualmente oferecidas a essas "produções desviantes" de crianças. Na verdade, o exercício crítico sobre o modo como elas são tradicionalmente concebidas e analisadas servirá como ponto de partida para introduzir uma perspectiva alternativa apoiada no reconhecimento do jogo significante que instaura e governa a relação da criança com a escrita.

Anunciamos a implicação do jogo significante nesta discussão para deixar clara, de início, a posição teórica aqui assumida – posição essa alinhada a uma leitura particular de Saussure1, que considera a articulação tensa entre funcionamento da língua na fala/escrita e que dá lugar a uma reflexão sobre o sujeito, que implica a hipótese do inconsciente2. Não é objetivo, portanto, desenvolver críticas extensas ou exaustivas às outras visões, nem nos propomos a abranger todas as questões que os materiais clínicos possam suscitar – ao contrário disso, destacamos um ponto nuclear: há indeterminação na escrita de crianças. Outras questões serão, a partir daí, contempladas, por exemplo: a relação fala-escrita que comporta, ela mesma, a densidade de temas como o da relação percepção-representação, que é um divisor de águas, i.e., um marcador de fronteiras teóricas e clínicas, como se pretende mostrar.

Em parte significativa dos estudos voltados para a escrita de crianças (lingüísticos, fonoaudiológicos, pedagógicos/psicopedagógicos) e em práticas clínicas, assume-se que a escrita tem o estatuto de representação gráfica da pauta sonora da linguagem. A aquisição da escrita seria, então, decorrente de uma construção conceitual da relação fonema-grafema, que ocorreria em situação escolar. Fracassos, falhas e desvios nesse processo levam, inexoravelmente, à suposição de uma dificuldade inerente à criança – o que determina seu encaminhamento para a clínica (psicopedagógica e fonoaudiológica, predominantemente). Se o insucesso, no processo de alfabetização, é atribuído à criança, ao chegar à clínica fonoaudiológica, tal suposição ganha força ao ser encapsulada no interior do discurso organicista em que ela é circunscrita à dificuldade de ordem perceptual e/ou cognitiva. Dá suporte a esta afirmação a natureza dos aparatos diagnósticos e de reabilitação do campo da Fonoaudiologia, que são notadamente derivados de uma concepção centrada em capacidades do indivíduo. Entende-se, dessa forma, a adesão da clínica fonoaudiológica à noção de escrita como representação – noção que, como afirma Andrade (2003, 2006): "é bem ajustada à idéia de que a linguagem é diretamente acessível/transmissível: um objeto que pode, por isso, ser naturalmente apreendido/aprendido por um indivíduo devidamente dotado de capacidades cognitivo-perceptuais." (2006, p. 349).

Na mesma direção desse argumento, Rees (1982) – uma pesquisadora do campo da Patologia de Linguagem, que realiza uma extensa revisão da literatura voltada, como ela diz, para "problemas de linguagem e de aprendizagem" – aponta para uma tendência descritivo-explicativa, bastante difundida, que ela qualifica como "procustiana". Vejamos por quê. Procusto, personagem da mitologia grega, prometia aos seus hóspedes uma cama mágica na qual todos caberiam perfeitamente. Seu método para cumprir a promessa consistia em, de acordo com a necessidade de cada caso, ou esticar o hóspede, ou cortar suas pernas. Diz ela: "Distúrbios do processamento auditivo tornaram-se a cama de ferro na qual todo tipo de problemas de linguagem e aprendizagem é forçado a caber. A popularidade dessa explicação persiste apesar de críticas significativas a ela e apesar, também, de falta de evidência sobre a eficácia de programas de intervenção baseados [no treinamento] do processamento auditivo." (1982, p.94, tradução e itálico nossos).

Essa citação poupa comentários e não poderia ser mais adequada para dar força ao nosso argumento sobre a ampla adesão à idéia de naturalidade e transparência da relação entre os domínios perceptual e lingüístico. Cabe assinalar que essa posição, tão difundida, circunscreve concepções de linguagem e de sujeito mutuamente determinantes. Com efeito, a idéia de "transparência entre o perceptual e o lingüístico" supõe uma lógica dualista da relação sujeito-linguagem: de um lado, tem-se um sujeito dotado de capacidades perceptuais e mentais suficientes para apreender e segmentar o objeto e, de outro lado, tem-se um objeto com propriedades empiricamente discerníveis e disponíveis para serem internalizadas. Note-se que a esfera mental/cognitiva é, via de regra, chamada a fazer complemento à esfera perceptual nessa epistemologia sujeito-objeto. Não é diferente o que se vê acontecer na abordagem da fala/ escrita. Sublinhamos que é esse acordo entre capacidades perceptuais e cognitivas que caracteriza o sujeito epistêmico – esse mesmo acordo reduz a linguagem a uma matéria bruta passível de ser recortada por um aparto perceptual categorial.

Submetido ao rigor teórico, porém, tal acordo entre percepção-cognição parece-nos insustentável. De fato, atesta-se na literatura, cuja meta é definir unidades positivas/objetivas de percepção, filiação a uma perspectiva empirista clássica. Ocorre que a tentativa de correlacionar tais unidades a realidades psicológicas expõe inconsistência teórica e contradições insuperáveis, uma vez que propostas empiristas deveriam, logicamente, excluir considerações sobre um espaço mental. Lemos (2002) apontou para o fato de que tais empreendimentos embaralham empirismo e mentalismo. As afirmações retiradas de Andrade, Rees e Lemos apresentam um constrangimento, já que nos colocam frente a um arranjo paradoxal em que a popularidade de uma tendência é inversamente proporcional à sustentação que retira de suas proposições empíricas/clínicas. Em outras palavras, há difusão de um ponto de vista que não encontra apoio em justificativas empíricas ou no testemunho da clínica. Antes de encerrarmos esta parte do artigo, enfatizamos que a assunção da transparência do mundo e do outro, para a criança, é instituída no interior da epistemologia sujeito-objeto. O mesmo acontece com o peso atribuído à idéia de representação, vista como produto de internalização daquilo que foi antes percebido/recortado.

Gostaríamos, finalmente, de chamar a atenção para a persistência da fé perceptual, no campo das Patologias de Linguagem, que vai de encontro, não só às evidências presentes no próprio campo, como também à sua queda no âmbito da ciência moderna, inaugurada no século XVII. A esse respeito, comenta Soler (2007): "A questão da percepção e de seus distúrbios atravessou séculos de Filosofia, evidentemente com transformações, sobretudo com a grande guinada que foi o surgimento da ciência – a verdadeira, a física –, a qual, no dizer de Lacan [com Koyré] cortou todas as amarras com o problema da percepção. A partir do aparecimento da ciência [galileana], a questão da percepção refugiou-se nas chamadas ciências humanas, especialmente a Psicologia e a Psiquiatria – sem esquecer, é claro, as ciências do organismo e, em particular, as neurociências." (p.23).

Convém, neste ponto, girar o foco para a questão que nos ocupa neste trabalho e ligá-la à discussão realizada. Se a transparência de unidades da matéria acústica (que chega à criança como um fluxo contínuo) não é questionada, menos ainda o é a transparência da matéria gráfica (que a criança recebe numa pauta demarcada: com intervalos, segmentos e sinais estáveis). A escrita é erigida, nesse contexto, como representação de segunda ordem, ou seja, representação gráfica de uma representação sonora do mundo. A esse respeito, caminhamos com Bennington e Derrida (1993, p.43): "a escrita não tem referente imediato [ela] se refere ao significante fônico do qual não seria mais do que uma transcrição". A fala como "transcrição" é já externa e secundária, assim: "a escrita [é] ainda mais secundária..., mais exatamente, significante (gráfico) do significante (fônico)." (1993, p.43).

A exigência imposta a quem toma distância dessa concepção cronificada de linguagem como representação e, conseqüentemente, de criança como instância orgânico-cognitiva, é explicitar argumentos e proposições que fundamentem uma direção teórica alternativa – passo que daremos a seguir.

 

Sobre o jogo significante

Fazer menção ao jogo significante é trazer à tona Saussure e a fundação da Lingüística como ciência moderna: "a Lingüística propriamente dita, consciente de seu objeto... é uma ciência [que pode ser definida] como 'estudo científico das línguas', o que é satisfatório, mas é nessa palavra científico que está a distinção com todo estudo anterior." (CEC, pp. 1 e 3-4, itálico nosso)3.

Vemos, nessas afirmações de Saussure, que a Lingüística Científica só poderia ser estabelecida como científica a partir da definição de seu objeto próprio e é, exatamente, o que Saussure faz: retira da "realidade heteróclita e multiforme" da linguagem o objeto da ciência lingüística. Ele estabelece a bifurcação da linguagem em Língua e fala, sendo a primeira definida como "princípio de classificação." (1916/1968). Enfim, a Língua é o "objeto integral" da Lingüística4, quer dizer, seu funcionamento "perene e universal" (p.13) e, por isso, o "princípio de organização de todas as manifestações da linguagem humana." (p.17). Saussure rompe a longa tradição de estudos lingüísticos que, embora voltada para os fatos de língua (faits de langue), não chegou a instituir um objeto científico. Ele estabelece o primado do teórico ao criar a Língua e produz uma descontinuidade no campo, reconhecida como la coupure saussurienne (o corte saussuriano). Rodrigues afirma que a obra saussuriana "representa não a continuação nem a convergência, mas o ponto de fuga em relação aos estudos anteriores". (1975, p.8, itálico nosso). Segundo esse autor: "a grande novidade de Saussure será justamente a de rejeitar a visão de um 'objeto dado' e postular uma nova perspectiva teórica: o objeto lingüístico não é o objetodado, mas 'objeto posto', constituído, produzido pelo trabalho de investigação." (1975, p.9).

A partir desse objeto posto, as línguas deixam de ser realidades em si, ou seja, realidades passíveis de serem desvendadas pela percepção/observação. Saussure propõe uma perspectiva não-indutiva/observacional: "não será no objeto imediatamente dado que buscaremos o que há de geral na linguagem." (CEC, p. 6). Vê-se que a guinada introduzida por ele remete à implementação de um raciocínio dedutivo no campo dos estudos da linguagem. Como pontuou De Mauro (1967), Saussure foi, sem dúvida, um homem de fundamentos. A esse respeito, afirma Rodrigues: "a obra de Saussure faz um giro nos estudos lingüísticos, para perguntar não apenas sobre dados elementares da linguagem, mas especialmente sobre os fundamentos que nos levam a determiná-los... O que se julgava "um dado" a partir do qual se deveria construir a ciência, apresenta-se para Saussure como a própria questão – a questão primeira da ciência." (1975, p.38, itálicos nossos).

Resumidamente, a ciência da linguagem nasce do afastamento de métodos indutivos e de sua crença no poder da observação (segmentação e generalização). Saussure suspeitou da positividade de unidades elementares dadas e foi em direção à explicitação de sua determinação enquanto efeito de relações numa cadeia concreta de significantes (De Lemos, Lier-DeVitto, Andrade & Silveira, 2004). Chegamos, com isso, ao ponto que nos interessa de perto: unidades são, em Saussure, efeitos de relações, i.e., do jogo significante. Unidades não são, portanto, apreensíveis a "olhos (ouvidos) nus".

Tendo em vista os objetivos deste trabalho, discutiremos o movimento de Saussure referente à problemática da determinação de unidades: Ele começa por observar que: "a língua apresenta este caráter estranho e surpreendente de não oferecer unidades perceptíveis à primeira vista." (1916/1968, p.124, itálico nosso), ou seja, "a língua não se apresenta como um conjunto de signos delimitados de antemão, dos quais bastasse estudar as significações e a disposição." (p. 120).

A determinação de unidades é reconhecida, por Saussure, comoum problema complexo: "É dificílimo desenredar, numa cadeia fônica, o jogo das unidades nela contidas e dizer sobre quais elementos concretos a língua opera" (p. 123). Por aí, pode-se ver que Saussure insiste na afirmação de que unidades não são categorias abstratas – as unidades são concretas, embora não sejam transparentes: "as entidades concretas da língua não se apresentam por si mesmas à nossa observação." (p. 127) A saída que ele oferece para o problema da delimitação das unidades é "pelo aspecto do valor." (p.128).

Tocamos no ponto fundamental da novidade saussuriana. Ela aparece precisamente no momento em que há modificação conceitual na definição de língua: o objeto passa de "um sistema de signos" ao estatuto de "um sistema de valores puros" (p.130). Cabe alertar que, caso se ignore tal transformação da concepção de Língua (que, como vimos, passa pela discussão da unidade), não se chegará perto da novidade saussuriana e, portanto, da contribuição de Saussure para o pensamento no século XX. Ele diz: "a idéia de valor nos mostra que é uma grande ilusão considerar um termo simplesmente como a união de certo som com certo sentido. Defini-lo assim seria isolá-lo do sistema do qual faz parte; seria acreditar que é possível começar pelos termos e construir o sistema fazendo a soma deles." (p. 132, itálicos nossos).

Mas, o que é o valor? Partamos do seguinte: valor é efeito. Na seqüência, deve-se interrogar: efeito de quê? De relações e diferenças estabelecidas entre elementos na cadeia lingüística concreta. Migramos, assim, para um raciocínio conduzido pelo primado da diferença e de operações. Logicamente, ficamos em terreno oposto ao do pensamento indutivo, que mira o estabelecimento de categorias estáveis pela via da determinação de semelhanças, de analogias. Se a delimitação de unidades é uma questão relacionada ao "valor", há que se indicar qual é o seu modo de operação. Saussure dirá que as relações e as diferenças entre termos lingüísticos se desenvolvem em duas esferas distintas, mas solidárias (ver sua representação em cruz / p.95):

– esfera das relações sintagmáticas (operações in praesentia)

– esfera das relações associativas (operações in absentia).

Tal é o funcionamento da Língua, motor do jogo significante e, como se lê em Normand, a Língua "passa seu tempo a interpretar e a decompor... essa é sua carreira." (2000, p.121).

Tendo procurado destacar o essencial da reviravolta introduzida no ambiente dos estudos sobre a linguagem (e não só), resta-nos dirigir o olhar para a tensão língua-fala. Em Saussure, a fala está presente em todos os passos de sua reflexão, é invocada de modos diversos e tem diferentes funções na arquitetura teórica. Saussure (1916/1968) afirma, por exemplo, que a língua é "um tesouro depositado pela prática da fala em todos os indivíduos." (p. 21). A fala comparece, também, como problema no estabelecimento da delimitação entre o que é da língua e o que é da fala (a esse respeito, ver De Lemos, 1995). Não se pode afirmar, porém, que Saussure tenha realizado uma articulação entre língua e fala – seu objetivo foi outro: "estabelecer a teoria da linguagem" e, para isso, foi preciso "escolher entre dois caminhos impossíveis de trilhar ao mesmo tempo [o da língua e o da fala]". Saussure admite "pedir luzes aos estudos da fala". Ele funda a ciência da linguagem ao tomar o partido da língua e deixa tensões e questões – sobre a fala e sobre a relação língua-fala – que serão retomadas, mais tarde, nas obras de Benveniste, Jakobson e Lacan, por exemplo.

Para nós, a exigência de articulação língua/fala/falante é imperativa, uma vez que no horizonte de uma Clínica de Linguagem está a singularidade de cada falante e de cada fala/ escrita sintomática. Parte do esforço de articulação entre a esfera da Língua e a esfera da fala foi realizado por Jakobson (1960 e outros). Ele, de fato, aproximou o universal do funcionamento da Língua do particular de falas (afasia, poesia, fala da criança), mas não tocou na problemática da singularidade (Andrade, 2003). Esse movimento tem sido perseguido por Cláudia de Lemos (1992, 1998, 2002, 2006, entre outros) e por pesquisadores envolvidos, com ela, nessa discussão (Castro, 1998, 2006; Figueira, 1985, 1995, 2006; Lier-De Vitto, 1998, 2004, 2006; Carvalho, 1995, 2006; Mota, 1995, entre outros).

Na Aquisição da Linguagem, a questão da fala assume também caráter essencial e premente – não se pode prever, nem imaginar falas de crianças. O Interacionismo enfrenta a fala e chega ao reconhecimento do retorno, nos enunciados da criança, de fragmentos da fala de seu interlocutor. Retira daí o argumento da indeterminação categorial da fala da criança (e a impossibilidade de atribuição de conhecimento à criança). Impossibilidade que é, também, sustentada pelos erros, que indiciam distanciamento da fala do outro e, principalmente, a carência de um aparato cognitivo-perceptual guiando a relação com a linguagem.

O Interacionismo, apoiado nesses argumentos, aproxima-se da hipótese do inconsciente e explora a noção de que a criança é capturada pela linguagem, como propôs Lacan, depois de Freud. Nesta proposta não há lugar para um sujeito epistêmico e isso porque operações da Língua são implicadas na estruturação da linguagem e do sujeito. Pode-se entender o alcance do termo captura no Interacionismo: não se supõe à criança nem saber, nem capacidade perceptual ou cognitiva prévios, que governem seu acesso à linguagem. Assim, nem indivíduo da espécie (do inatismo), nem sujeito psicológico.

Foi ao corpo teórico apresentado até aqui que se filiou o Projeto Aquisição, patologias e clínica de linguagem, instituído por Maria Francisca Lier-De Vitto, no final dos anos de 1990. Questões singulares e uma outra empiria – as falas sintomáticas – são exploradas numa discussão que envolve outros campos clínicos. O compromisso com a ordem própria da Língua afastou os pesquisadores deste Projeto de abordagens da fala como coisa-em-si, como auto-evidente/transparente. Trata-se de uma proposta teoricamente orientada pela teorização saussuriana, pela contribuição de Jakobson na articulação língua-fala/ escrita e a de De Lemos, pela suspensão do sujeito epistêmico e enfrentamento da fala da criança.

Esperamos que este pano de fundo teórico tenha mostrado a relevância da problemática da unidade (sonora ou gráfica) e de sua indeterminação. Queremos assinalar que as diferenças entre as modalidades fala e escrita não abalam o assento teórico aqui assumido.

 

A indeterminação na escrita de crianças

Para trazer à discussão os deslocamentos interpretativos no tratamento de materiais de crianças com dificuldades de leitura e escrita, apresentaremos dois episódios de segmentos de sessões clínicas de dois meninos.

Episódio 1:

Leitura de um menino de 13, após cerca de três meses de atendimento. Ele chega à clínica com a queixa de que "não sabe ler, nem escrever", mesmo depois de anos de acompanhamento pedagógico. A pedido da terapeuta, ele começa a ler um texto em voz alta. Sua leitura caracteriza-se por uma sucessão de vocalizações de pedaços do texto que ora correspondem a sílabas, ora a fonemas, e, ainda, a seqüências do tipo:

p -a // pa

Tal produção, expressiva de certa relação ao texto escrito, inviabiliza qualquer possibilidade de atribuição de sentido à sua leitura – o que não impede que esse menino continue a ler. Trata-se de uma "leitura" que caminha aos solavancos e sem interrupção – caminha num compasso truncado e insistente que parece indicativo de que ela não afeta a escuta da criança. De fato, o menino não dá sinais de estranhar sua leitura de decodificação de unidades. Lendo unidades, ele segue em frente, respondendo à proposta feita.

No sentido de cortar esse automatismo alienante, a terapeuta introduz num texto escrito, uma palavra (aeroporto) que cria uma espécie de nonsense. O menino é perturbado pela presença dessa palavra. Ele hesita e sua leitura muda: o menino a interrompe, momentaneamente e diz:

ar / aéreo / aro / a –r-ra

Quando ele começa a se perder na leitura da palavra, pede ajuda (pergunta como se lê aquela palavra). A terapeuta instiga: "Não sabe?... chuta, inventa". O menino, autorizado a sustentar posição na leitura (não como alguém que reproduz a relação sintomática que tem com a escrita e a situação escolar), imediatamente lança a questão:

"Pode ser saguão?".

Importa assinalar que nem todas as "palavras provocativas" da terapeuta surtem esse efeito – aliás, no caso desse menino, aeroporto foi a primeira a surpreendê-lo e a promover uma hesitação indicativa de leitura efetiva, leitura muito diferente daquela de cadência truncada, de uma letra depois da outra e da tentativa de somá-las. Quer dizer: houve mudança de posição subjetiva frente ao escrito, como atestam a hesitação e a pergunta dirigida à terapeuta. A palavra aeroporto não era qualquer para esse menino – ele pôde reconhecê-la porque nela se reconheceu – aeroporto condensa vivências nada indiferentes para ele.

Quanto ao acontecimento enunciativo, note-se o desencadeamento de articulações significantes inesperadas e de sua mobilidade reflexiva, ou seja, do jogo produtivo da linguagem sobre a própria linguagem. Uma jogada que gera unidades sígnicas (ar /aéreo / aro) antes do retorno a uma leitura de decodificação, que anula o texto e o sujeito. Falamos, aqui, de operações da linguagem. Note-se que aeroporto é palavra que irrompe como um significante porque está inserida na grade de relações que desencadeia – não apenas aquelas com as quais compartilha os mesmos elementos sonoros (ar / aéreo / aro), como também aquela de natureza textual que articula aeroporto e saguão. Vimos neste segmento a Língua em operação na fala de um falante no instante em que um significante irrompe e captura o leitor. Nesse movimento, o significante coloca in praesentia elementos concretos que, em torno dele, "flutuavam" in absentia, como diz Saussure.

Nesse instante de captura pelo significante, o menino hesita5, e a leitura de decodificação, de tentativa de estabelecimento de relações entre imagens gráficas e sonoras, é abalada. Aeroporto marca um deslocamento dessa relação e sua substituição por outra. Como nos indica Pommier, ao contrário do que usualmente se pensa, a escrita alfabética exige suspensão do valor icônico (da imagem) e do valor sonoro dos grafemas isolados. Vale lembrar, a esse respeito e em favor da interpretação da leitura do episódio acima, a afirmação do autor de que: "A leitura roda sobre si mesma graças à repressão sucessiva do que se vê e do que se ouve, de modo que um vocábulo escrito não se resume nunca à sua fonética e nem tampouco à sua imagem. O pictórico e o sonoro rodam um sobre o outro graças a uma falta única, aquela na qual o leitor pode se reconhecer.... O som não compreende a imagem, e a imagem não compreende o som. Sem dúvida, é só pelo lado do que falta a cada uma das consistências sonora e visual, que estas se associam e podem ser lidas." (1996, pp. 289-90, tradução nossa).

Passemos, agora, à discussão do segundo episódio, desta vez envolvendo diretamente a escrita.

 

Episódio 26

Trata-se de um menino de sete anos cuja produção escrita ficava resumida ao próprio nome e a alguns fragmentos gráficos vinculados a textos/temas de videogames e seus personagens (Mário Bros, Nintendo, 007 etc). Essa escrita cristalizada, aprisionada nesse ambiente simbólico restrito, não era diferente da natureza "monolítica" de seus traçados: blocos rígidos que, mesmo contendo letras e compreendendo o que se concebe como "palavra", não adquiriam valor de escrita, em sentido estrito. Suas produções tinham as características de um desenho – de imagens sem mobilidade significante, espalhadas aleatoriamente sobre o papel. Borges (1995/2006) e Bosco (2004) mostraram que as escritas de crianças em processo de alfabetização partem do nome próprio e que é dele que outras composições e redes significantes se desdobram. Ou seja: a entrada no espaço da escrita parte de um mesmo conjunto de letras, mas cria combinações imprevisíveis. Borges (1995/ 2006) assinala não ser por acaso que crianças comecem por aí. Bosco (2004) focaliza essa questão em sua tese A errância da letra - o nome próprio na escrita da criança. Esta pesquisadora aproxima-se de Allouch (1994) e sustenta que, de fato, as letras das primeiras escritas de crianças não são quaisquer. Isto porque é o nome próprio que as insere na rede significante: "as séries compostas pelas letras do nome da criança,... tomadas como significantes, vão se revelar suscetíveis de entrar em conexão com outros significantes, forjando novas séries." (Bosco, 2004, p.275).

Como dissemos, a escrita desse menino (Episódio 2) parte do traçado do "próprio nome", mas tem características de semblante – é fixa, repetitiva e rígida. O nome próprio, neste caso, não tem a mobilidade e a circulação da matéria significante: ele não se decompõe e recompõe (De Lemos, inédito), apesar de invocar outros blocos de nomes próprios que, como o seu, não se quebram. Essa situação perdura por meses. Vejamos o registro do instante da mudança na escrita, em três segmentos da mesma sessão clínica.

Segmento 1

 

 

A criança começa a escrever "Nintendo". Antes de terminar, a terapeuta lê, na escrita ainda incompleta, "Nintendo". A criança fala "Nintendos" e, pela primeira vez, acrescenta mais um "o" ao final do segmento. A terapeuta, surpresa, repete: "Nintendos?!" e o menino acrescenta um "s" sob "Nintendo" (não havia espaço disponível no papel para que o "s" fosse acrescentado na seqüência do segmento "Nintendoo"). Logo em seguida e em "outra linha", escreve a primeira parte de seu nome ("Luiz") e, em seguida, "Mário" (personagem de jogo eletrônico). Cabe esclarecer que até esse momento ambos os nomes eram escritos em sua forma composta: "Luiz X" e "Mário Bros".

Assistimos, no segmento acima, às primeiras descristalizações que dão margem a uma mobilidade significante apreensível nos acréscimos a "Nintendo" e na segmentação/reconexão de segmentos dos nomes que foram desmembrados. Após a terapeuta ler a nova combinação ("Luiz Mário"), a criança pega outro papel e escreve:

Segmento 2

 

 

A criança escreve "Marioo". Depois de um curto intervalo, volta para o papel e acrescenta "7" – esse acréscimo cria embaraço à interpretação, torna o segmento equívoco: estariam grafados dois "os" ou dois"zeros"? É fato que podemos apreender um deslizamento metonímico dos dois "o" de "Nintendoo" para "Marioo", mas a criança acrescenta "7" - outro significante emerge dessa composição amalgamada ("Marioo7"). Poderíamos pensar que "007" estava antecipado como possibilidade (in absentia) sob Nintendoo"? É fato que a duplicação da letra "o" (?) / do número "0" (?), relacionada ao "S" (escrito e falado pela criança no segmento 1), levam numa direção que favorece sua interpretação como marcação de número. Aliás, como a leitura da criança virá a confirmar: ela lerá "zero", como veremos abaixo.

Após escrever "Marioo7", o menino escreve "Luiz" e começa a traçar "Mário". Ela pára em "Ma" e lê pausadamente a linha superior, como se fosse copiá-la: "Zé – ro ...Zé" e interrompe: diz "Zé! Minino!" e escreve "Zé". O resultado é "LUIZMAZE". Importa, para a interpretação desse segmento, dizer que essa criança pedia para brincar, em todas as sessões, com um pequeno boneco, referido como "o menino" e nomeado "Zé". No entanto, até esta sessão, a criança não havia escrito "menino" ou "Zé". Podemos suspeitar que esse acontecimento inusitado foi suscitado pela segmentação de "zero", em que "Zé", como significante, invoca outra cena.

O segmento 3, deste Episódio, foi produzido depois dos acima comentados:

Segmento 3

 

 

A escrita da criança é iniciada com "pp" (mais uma vez uma duplicação). No mesmo momento, ela diz "três porquinhos". Em seguida, ela escreve "3", como podemos ver no texto acima. Note-se que essa escrita não é, em si, legível, mas é preciso reconhecer que já está submetida a algumas restrições da escrita constituída. A legibilidade da primeira seqüência - PP3 - decorre da relação fala-escrita: a fala gera "3" na escrita e "3" funcionará como uma dobradiça: articula-se tanto com o segmento anterior, quanto com aquele que o sucede. Ou seja, "3" lê "pp" (como "p" de porquinhos) e impulsiona o texto: a seqüência "POR" (ou "P6R"?). A criança a lê de modo silabado: "por-qui-nhos", fazendo corresponder cada elemento a uma sílaba. Não seria esse um indício de que ela começa a se insinuar no intervalo entre fala e escrita? Não estaria a própria criança no lugar de dobradiça?

Há cruzamentos entre essas duas modalidades e eles são promovidos sob o regime do equívoco e não de correspondências analógicas. É ainda de equivocidade que se trata quando se aborda a instabilidade do traçado dessa criança. Chamamos a atenção para os segmentos abaixo e para os efeitos de indeterminação instaurados.

 

 

No primeiro fragmento, a indeterminação é efeito da imprecisão da forma gráfica que aproxima "O" e "6". Tal indeterminação é amparada, também, pela presença de "3" no texto. Contribui, ainda, para o estabelecimento de uma "região movediça" entre letras e números, o traçado de "S" (segmento 1) e seu retorno posterior como "FS" (segmento 2). Essa nova combinação remetenos, outra vez, para o espaço da indeterminação entre letra "S" e número "5", dado que "F5" vai aparecer, em outra sessão, no desenho de um teclado de computador, feito pela criança.

Observe-se, ainda, que "Mario", do primeiro segmento, vai perdendo "precisão" de traçado nos segmentos posteriores. "PEIXINHO", que vem destacado, encapsulado, tem, por sua vez, traçado preciso – trata-se de segmento intensamente trabalhado na escola em atividades de reconhecimento de palavras na letra de uma música (pede-se à criança para circundar determinadas palavras ouvidas numa música). Esse menino ficou fixado numa dessas palavras ("peixinho") através da qual ele realizava a tarefa proposta. Note-se que é circundada e como um bloco que essa palavra é grafada no texto – não há instabilidade, nem equívoco; apenas uma reprodução –, o que permite pensar que o "sintomático" está do lado "acerto".

Encerramos estes comentários, assinalando que a equivocidade não está ligada apenas às composições subversivas, tramadas na relação dessa criança com a escrita mas, também, devem ser atribuídas à plasticidade/instabilidade do traçado impressa na substância gráfica, ela mesma. De fato, como diz Saussure, o suporte tangível (sonoridade ou grafia) é "matéria que a língua põe em jogo" (1916/1968, p. 137), como procuramos mostrar nos episódios apresentados.

A partir das discussões realizadas neste artigo e das interpretações de materiais clínicos, procuramos circunscrever uma perspectiva teórico-metodológica que viabiliza uma abordagem particular da relação criança-escrita ou criança-fala-escrita. Procuramos questionar, na primeira parte, a noção de linguagem como código e representação mental e a noção de sujeito como suporte de capacidades perceptuais e cognitivas. Na seqüência de materiais clínicos interpretados, pudemos apreender cruzamentos, rearranjos e traçados tecendo uma trama complexa que, supomos, ilumina o caráter de equivocidade do jogo significante e a fugacidade das unidades produzidas. Esse movimento, quando acolhido pela escuta do terapeuta, produz uma posição clínica radicalmente distinta das práticas que se inserem na "tradição behaviorista- reflexológica" (Lajonquière, 1992, p.12). Em linhas gerais, é possível afirmar que os acontecimentos, surpreendidos na análise apresentada, tiveram lugar numa clínica que pode suportar e recolher movimentos e impasses da relação criança-linguagem e que pode escutar, nos equívocos, índices de mudanças importantes na trajetória clínica da criança.

Este artigo representa uma tentativa das autoras de responder, na medida do possível, ao que Merleau-Ponty considera ser o legado de Saussure: "o que aprendemos com Saussure", diz ele, "é que os signos um a um nada significam, que cada um deles expressa menos um sentido do que marca um desvio de sentido entre si mesmo e os outros." (2004, p.67).

 

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Endereço para correspondência
E-mail: f.lier@uol.com.br
E-mail: lourdesandrade@pucsp.br

Recebido em maio/ 2008.
Aceito em junho /2008.

 

 

NOTAS

1 Saussure teve leitores que são, eles mesmos, autores destacados da Lingüística. As obras de Roman Jakobson e Émile Benveniste são essenciais e participam do conjunto de produções do Estruturalismo Europeu, tributário do pensamento saussuriano. Os trabalhos desses lingüistas são, portanto, também objeto da referida re-leitura de Saussure.
2 Deve-se referir esta direção de leitura a Lacan e, depois, a J-C Milner (1978/1987, 1989). De Lemos, a partir de 1992, insere-se nessa vertente, declara filiação ao pensamento de Saussure ("ao Estruturalismo Europeu", como ela diz), inclui na sua teorização sobre aquisição da linguagem a "ordem própria da língua" (Saussure, 1916/1968) e, por necessidade teórica e empírica, aproxima-se da Psicanálise para refletir sobre a solidariedade entre estruturação da linguagem e do sujeito falante. Lier-DeVitto, formada no interior dessa reflexão, em 1998, propôs e coordena o Projeto Aquisição, Patologias e Clínica de Linguagem no LAEL/PUCSP. Esse projeto, pioneiro no Brasil, voltado para as Patologias da linguagem, não se detém nas considerações sobre a aquisição da linguagem, mas reconhece a especificidade das produções sintomáticas de fala/escrita e delas retira material para o desenvolvimento de reflexões teóricas e clínicas.
3 CEC – Cahiers Émile Constantin (Komatsu, E. & Harris, R. (Eds.), 1993).
4 Utilizaremos Língua com maiúscula sempre que fizermos referência ao objeto da Lingüística. Trata-se de palavra que, como um nome próprio, não recebe flexão de plural. Não se confunda, portanto, Língua (uma construção conceitual) com uma língua ou línguas particulares.
5 Lier-De Vitto (2006) desenvolveu em artigo (Letras de Hoje, no prelo) uma discussão sobre hesitação e subjetividade.
6 Esclarecemos que este episódio clínico foi analisado antes em outro artigo (Andrade, no prelo). No presente trabalho ele sofreu deslocamento interpretativo.

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