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Estilos da Clinica

versión impresa ISSN 1415-7128

Estilos clin. vol.16 no.1 São Paulo jun. 2011

 

EDITORIAL

 

 

Quinze anos se passaram desde a primeira edição da revista Estilos da Clínica, muita coisa mudou durante esse período, mas sua abertura ao tratamento das psicoses e do autismo que os autores evidenciam continua viva. Hoje é o momento de celebrar, de relançar o olhar para o que já passou e pode ser chamado história e pensar no amanhã. Diversos autores em suas singulares posturas em relação à práxis psicanalítica formaram o corpo desta revista voltada à discussão das vicissitudes da infância. Alguns autores mais preocupados com o fundamento e consistência teórica, outros ávidos pela experiência que a pesquisa analítica permitiu esboçar, alguns situados em uma forma acadêmica de organizar seu discurso, outros os quais de modo simples conseguem transmitir um ensinamento que desloca o leitor de sua posição anterior, alguns que conseguem denunciar que nem tudo segue a ordem universal, etc. Desse modo, ao comemorarmos os quinze anos da revista Estilos propomos uma visada crítica em relação às palavras aqui escritas. Ao ler cada texto a pergunta do leitor pode ser enunciada da seguinte forma: como tais formulações me auxiliam em minha práxis?

Além de pensar na história, a celebração traz como efeito um número especial da Estilos, cujo dossiê será sobre fundamentos. Sem eles a prática torna-se vazia, não pode ser transmitida e cai no intuitivismo. Algo que a psicanálise ensina é que estamos sempre na contramão da intuição, trata-se de uma prática contra-intuitiva. Não respondemos as demandas a partir do senso comum, mas de um lugar infinitamente particular: o singular.

Nesse clima pode-se pensar como cada artigo é capaz de compor nosso saber-fazer em relação à demanda que cada criança faz quando encontra um analista. Nessa edição o foco recai sobre as psicoses e o autismo, tema recorrente e de certo modo origem da revista. Tal dossiê sintetiza alguns empecilhos, enfrentamentos e soluções que alguns analistas esbarram no dia a dia e os fundamentos necessários para a sustentação de sua clínica.

O amanhã da Estilos já pode ser apontado como hoje, no qual propomos a submissão online dos artigos pelo Sistema PePSIC de Publicação, módulo de gestão editorial do portal de Periódicos Eletrônicos em Psicologia – PePSIC. Desde março os artigos são submetidos por meio desse sistema no seguinte endereço: http://submissionpepsic.scielo.br/index.php/estic/index. Convidamos os leitores a formular suas questões, escolher um método, apontar resoluções e novos questionamentos em um texto e enviá-lo por meio da submissão online da revista Estilos da Clínica. Compor de modo singular as palavras que incidirão na práxis dos novos leitores do amanhã.

Aos leitores de hoje, oferecemos a oportunidade de ler o dossiê sobre psicoses e autismo, no qual diversos autores insistem na diferença que cada posicionamento frente a um texto teórico ou a um caso clínico pode nos conduzir.

Os autores Anahi Marfinati e Jorge Luis Abrão nos presenteiam com um texto que analisa os artigos da revista Estilos da Clínica, nos quais o tema do autismo é o foco principal. Essa pesquisa estado da arte permite-nos conhecer as vias por onde os autores que passaram por aqui situam o autismo.

O presente de Sandra Pavone e Yone Rafaeli é um texto sobre o diagnóstico diferencial entre psicoses e autismo. Elas ressaltam a distinção do impasses do transitivismo na constituição do Outro para apontar esta diferença diagnóstica. Remetem o leitor a vinhetas clínicas para mostrar como tais impasses no trasitivismo operam.

Luciana Souza discute os avanços teóricos de Rosine e Robert Lefort sobre a clínica do autismo. Tece, além disso, um comentário sobre David Tammet, um autista que inventou uma língua própria. Tal comentário convém à sustentação da autora de algumas conceituações que o casal Lefort deixou como herança.

Leda Bernardino explora o uso dos sonhos na clínica das psicoses não decididas no tempo da infância. Presenteia-nos com um caso no qual o uso dos sonhos possibilitou uma saída para encruzilhada estrutural em que seu paciente Walter se encontrava e a constituição de um estilo próprio para seu egresso da infância.

Ellen Klinger, Beatriz Reis e Ana Paula Souza situam o lugar dos pais na clínica das psicoses infantis. Insistem na importância da escuta aos pais para que um tratamento das psicoses infantis seja possível.

Patrick Almeida esclarece os fundamentos do delírio de influência na psicose. Conceituações pouco exploradas que fundamentam a escuta da psicose e sustentam uma direção do tratamento quando a via do imaginário não opera mais. Situa Victor Tausk como autor do conceito da máquina de influenciar e traz o caso do garoto Stanley de Margaret Mahler para marcar a diferença entre o adulto e a criança psicótica.

Michele Roman Faria propõe uma discussão do conceito de imaginário nos primeiros seminários de Lacan para abordar a psicose. O retorno a tal conceito permite a apropriação e afinação de conceitos mais complexos desenvolvidos por Lacan em seu último ensino. Trata-se de uma cuidadosa contextualização a partir do caso Dick de como tratar o real pelo imaginário.

Todas as conceituações aqui descritas precisam servir à sustentação de uma clínica, aqui tomada como uma posição ética frente às demandas que as crianças autistas e psicóticas nos impõem. Se tais conceituações não servirem a esse propósito é necessária uma crítica ao que aqui está descrito e a construção de novos textos como reposta a isso. Os autores cada um ao seu modo defendem uma posição desde a qual partem para sustentar sua clínica. As diferenças quanto à consideração do autismo como uma quarta estrutura, a falta ou excesso do Outro, sobre a existência ou não do sujeito na psicose, o insuportável que a iniciativa do Outro introduz para a criança, etc. devem servir apenas a crença do analista no tratamento que ele produz.

 

Beethoven Hortencio Rodrigues da Costa
Doutorando do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP) e integrante
do Laboratório de Estudos e Pesquisas Psicanalíticas e Educacionais sobre a Infância (LEPSI/USP).

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