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Estilos da Clinica

versão impressa ISSN 1415-7128

Estilos clin. vol.18 no.1 São Paulo abr. 2013

 

EDITORIAL

 

 

Em 2013, Estilos da Clínica completa 18 anos de existência e quer brindar com seus leitores apresentando uma importante conquista editorial: a partir do volume 18, teremos três fascículos anuais, que estarão disponíveis online no final dos meses de abril, agosto e dezembro.

É isso mesmo, caro leitor: a revista chega à maioridade com o compromisso de ser um periódico quadrimestral, o que amplia as possibilidades de publicação para os pesquisadores que buscam um espaço editorial de natureza interdisciplinar, em torno do eixo da psicanálise, para divulgar suas pesquisas sobre a infância com problemas.

E nada mais oportuno para celebrar a entrada nesse novo "ciclo de vida" que poder retomar a temática da conexão psicanálise-educação, presente no dossiê número 2 (Ano II – 1997) e que, já naquela época, indicava a importância deste espaço para manter o debate sobre a (im)possibilidade dessa conexão, presente, não poucas vezes, nos textos freudianos.

Estilos da Clínica, volume 18, número 1 apresenta, no dossiê Psicanálise e educação (im)possível, artigos que discutem a posição da psicanálise no campo educativo, não como proposição de uma pedagogia psicanaliticamente orientada, mas como questionamento da pedagogia hegemônica, que se apresenta como discurso de mestria e exclusividade sobre o campo da educação.

Refletindo acerca do que Freud já apontava sobre a precariedade inevitável de todo ato educativo (e, nesse sentido, a educação como uma das quatro profissões impossíveis), os autores desse dossiê apresentam seus trabalhos na esteira das indicações freudianas de poder substituir as pretensões pedagógicas de um ideal educativo por discussões sobre as condições possíveis de qualquer educação.

Paulo Padilla-Petry e Fernando Hernández-Hernández apresentam um estudo sobre a evasão escolar no ensino secundário espanhol a partir da relação dos jovens com o saber e advertem que um discurso que faz referências a um jovem genérico ("O Jovem") cria um fantasma que serve para ignorarmos os jovens que temos diante de nós, uma vez que esse jovem genérico passa a ocupar um lugar idealizado que impede a leitura das diferenças e da singularidade. Os autores discutem o lugar do Outro ocupado pelos pesquisadores e pelos jovens no cerne da pesquisa e debatem o papel dos ideais dos pesquisadores nessa relação com os jovens. Assinalam, assim, a implicação subjetiva inevitável dos pesquisadores nesse campo.

Nádia Laguárdia de Lima e Alice Oliveira Rezende partem de entrevistas realizadas com professores de escolas públicas que indicam um discurso comum de que haveria um declínio do poder e da autoridade nos ambientes escolar e familiar, responsável pela produção de diversos sintomas escolares. As autoras investigam a questão tomando como referência os trabalhos de Foucault sobre as relações de poder na instituição escolar e de autores da psicanálise. Defendem a hipótese de não haver declínio, mas uma nova forma de poder nas escolas: o poder normativo. Identificam que esse poder, determinado pelo discurso médico-científico, toma os sujeitos como objetos de medidas reguladoras e corretivas e produzem segregação. "Ao manter o aluno na posição de objeto, o que a escola obtém como resposta é a violência". O aumento do controle, porém, não consegue silenciar os sujeitos, que insistem em ser ouvidos em seus sintomas escolares. Consideram, portanto, que só a escuta da singularidade pode oferecer uma resposta ao fracasso da educação escolar.

Eric Ferdinando Kanai Passone segue essa mesma linha ao interrogar o discurso sobre o "fracasso da política educacional" como um sintoma associado aos discursos do mestre, do capitalismo e da universidade, implicando a presença do inconsciente nos laços sociais instituídos no campo das políticas educacionais na contemporaneidade. O autor assinala a importância de uma reflexão mais ampla em torno da questão "Por que as políticas educacionais fracassam?" e sustenta a hipótese de que o fracasso retrata o acontecimento do sujeito na estrutura discursiva. Nesse sentido, seu estudo enfatiza a importância de incluir o sujeito desejante no campo de análise das políticas educacionais.

Thomas Massao Fairchild apresenta sua tese de que o ensino de língua vem perdendo sua capacidade de fazer laços discursivos em decorrência da ruptura da cadeia dos significantes que sustentam o discurso do professor, e isso seria um efeito da multiplicação das demandas sociais que recaem sobre os docentes, convocando-os a tratar de questões externas à sua área de formação. O autor propõe que a formação dos professores deveria conduzir o estudante de Letras à histerização do discurso e, posteriormente, ao Discurso do Mestre, para que os futuros docentes possam "pôr de si no que fazem".

Estilos da Clínica traz, ainda, cinco trabalhos na seção Artigos, uma Experiência Institucional, um trabalho em Fundamentos e uma Resenha.

O leitor está convidado a partilhar conosco essa comemoração editorial.

 

Marise Bastos
Editora executiva