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Estilos da Clinica

versão impressa ISSN 1415-7128

Estilos clin. vol.19 no.1 São Paulo abr. 2014

 

Editorial

 

 

A revista Estilos da Clínica traz neste número uma diversidade de textos que se dedicam a pensar a relação mãe-bebê, seja abordando os cuidados necessários para o exercício da maternagem, seja tomando o bebê como foco da atenção ao supô-lo como sujeito a ser escutado.

Sabe-se que o bebê humano constitui-se na relação com o outro e que a mãe seria por excelência este outro significativo para o bebê. Ao trazermos à cena essa relação primordial, colocamos o bebê em primeiro plano, tendo a mãe e todo o entorno que os envolve como pano de fundo. É nessa alternância de figura e fundo que a teoria psicanalítica nos permite intervir ao ouvir os sujeitos em suas idiossincrasias.

Para além de uma teoria consistente e consagrada acerca do nascimento do sujeito, a psicanálise também sustenta um método para o tratamento na infância. Os textos reunidos neste número possibilitam que o leitor percorra o caminho realizado, até os dias de hoje, na clínica psicanalítica com crianças, o que fundamenta a escuta dos pequeninos e daqueles que chegam com eles: família, creche, hospital.

Os cuidados para com crianças pequenas e as instituições que delas se ocupam ganharam força nos últimos anos. A clínica dos transtornos graves ensinou aos psicanalistas que quanto mais precoce a intervenção terapêutica maiores são as chances de um não recrudescimento das defesas psíquicas no futuro.

Isso poderia nos conduzir a um dilema: o que teria vindo antes, a suspeita do problema ou o próprio problema? Essa compreensão propõe um paradoxo interessante que possibilita aos psicanalistas se posicionarem acerca da temática da prevenção em psicanálise.

A prevenção, pensada em termos psicanalíticos, está atrelada à possibilidade de promoção de condições favoráveis à subjetivação dos bebês. Dessa perspectiva, não se antecipam os problemas, mas se acompanha o processo de constituição subjetiva de modo a intervir favorecendo-o.

Seguindo essa esteira, está em curso, desde 2010, a pesquisa intitulada “Metodologia IRDI: uma intervenção com educadores de creche a partir da psicanálise”, coordenada pela professora Maria Cristina Kupfer, com o objetivo de intervir na relação entre o educador e o bebê nas creches. A pesquisa parte da constatação de que, atualmente, os bebês passam grande parte do dia acompanhados de outros adultos que não necessariamente são seus familiares. A metodologia IRDI pretende servir como um guia de leitura do que acontece na relação entre o educador e o bebê, uma vez que o educador pode ocupar o lugar de outro significativo. Por meio dessa intervenção, balizada pela psicanálise, almeja-se que o educador possa se responsabilizar pelo laço subjetivante ofertado ao bebê na creche.

O dossiê “A criança, sua mãe e os outros” vem adensar as discussões neste campo e reforçar a importância dos psicanalistas aprofundarem suas investigações de modo a fundamentar essa prática clínica. O título do dossiê faz referência ao livro A criança, sua doença e os outros, de Maud Mannoni (1999), no qual a autora situa o sintoma da criança em relação aos outros, ressaltando o papel do discurso parental e escolar.

A psicanálise, ao encontrar o infans, encontra também seu entorno, os que dele se ocupam. Isso possibilita que o psicanalista interrogue a psicanálise, seguindo a tradição da experiência freudiana.

Boa leitura! E que ela sirva de inspiração para futuros trabalhos!

 

Paula Fontana Fonseca
Psicanalista. Doutoranda em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). Psicóloga do Serviço de Psicologia Escolar do Instituto de Psicologia (IPUSP).