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Estilos da Clinica

versão impressa ISSN 1415-7128

Estilos clin. vol.20 no.3 São Paulo dez. 2015

http://dx.doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v20i3p459-474 

ARTIGOS

 

Adolescência e síndrome de down na tela

 

Adolescence and down syndrome on the screen

 

Adolescencia y síndrome de down en la pantalla

 

 

Camilla ZachelloI; Fernanda Mantese PaulII; Roselene GurskiIII

IGraduanda de psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Rio Grande do Sul, RS, Brasil.
IIGraduanda de psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Rio Grande do Sul, RS, Brasil.
IIIPsicanalista. Membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (APPOA), professora e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Psicanálise, Educação e Cultura (NUPPEC) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenadora do Núcleo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Infância e Adolescência (NEPÉIA/UFRGS), Rio Grande do Sul, RS, Brasil.

Correspondência

 

 


RESUMO

Este artigo, escrito na forma de ensaio, propõe-se a discutir algumas nuances da passagem adolescente vivida pelos sujeitos portadores da síndrome de Down, a partir de uma leitura/escuta (Iribarry, 2003) da narrativa do filme Colegas (Galvão, 2013). Entendemos que, ao desvelar alguns traços presentes na narrativa, estamos contribuindo para a reflexão acerca da passagem da adolescência com tais sujeitos. Trata-se de um modo de investigação que, ao partir do enlace da tríade psicanálise, educação e cinema, toma as produções da cultura como elementos passíveis de serem lidos/escutados e de produzirem alguma algo novo sobre o campo ao qual se debruça – o tema da adolescência e a síndrome de Down.

DESCRITORES: psicanálise; adolescência; síndrome de Down.


ABSTRACT

This article, written in essay form, aims to discuss some aspects of the adolescence transition experienced by Down syndrome individuals, from a reading/listening approach (Iribarry, 2003) of the narrative of the film Colegas (Galvão, 2013). We understand that by unveiling some traits present in the narrative we are contributing to the reflection on the adolescence transition of these subjects. It is a research method that, from the triad psychoanalysis, education and cinema, considers the cultural productions as elements capable of being read/heard and to produce some new elements on the field that this article discusses – of the relationship between adolescence and Down syndrome.

INDEX TERMS: psychoanalysis; adolescence; Down syndrome.


RESUMEN

Este artículo, escrito en forma de ensayo, se propone a discutir algunos matices de la adolescencia vivida por las personas portadoras del síndrome de Down a partir de una lectura/escucha (Iribarry, 2003) de la narrativa de la película Colegas (Galvão, 2013). Entendemos que, al desvelar algunos rasgos que se encuentran en la narrativa, contribuiremos con la reflexión acerca de la adolescencia de estos sujetos. Se refiere a un tipo de investigación que, a partir del enlace de la tríade psicoanálisis, educación y cinema, toma las producciones de la cultura como elementos capaces de ser leídos/oídos y de producir algo de nuevo acerca del campo en cuestión – la adolescencia y el síndrome de Down.

PALABRAS CLAVE: psicoanálisis; adolescencia; síndrome de Down.


 

 

A pesquisa e suas formas de escrita: uma breve introdução

Este artigo é efeito de uma investigação maior que o Núcleo de Pesquisa em Psicanálise, Educação e Cultura (NUPPEC/UFRGS) vem desenvolvendo acerca dos diálogos possíveis entre Psicanálise, Educação e Cinema. Buscamos, através de uma espécie de leitura/escuta das produções da cultura (Caon, 1994; Iribarry, 2003), tensionar aquilo que se desvela como problematizações em diferentes narrativas culturais, como filmes, videoclipes, literatura, entre outros. Dito de outro modo, temos tentado avançar na pergunta de como a dimensão daquilo que "vemos e que nos olha" (Didi-Huberman, 1998) na tela do cinema, por exemplo, pode ter uma função de revelação de questões acerca das subjetividades de nosso tempo.

Para tal, do ponto de vista metodológico, nos apoiamos na noção de que uma experiência (Erfahrung) que inquieta um pesquisador psicanalista pode ser transformada em um problema de pesquisa, não sendo necessário que tais dados sejam provenientes somente da clínica. Freud (1996), em "Breves escritos", revela, através de pequenas anotações, um procedimento de registro de suas experiências (Efarhung) e observações que pode ser tomado como um modo de coleta de dados.

Lembramos também que Walter Benjamin, o filósofo-poeta alemão, costumava carregar sempre com ele um caderno de anotações, no qual registrava suas observações e associações cotidianas. Nelas incluía, sem saber, o conceito de atenção flutuante, já que não selecionava o que escrevia, simplesmente anotava tudo que lhe ocorria na esfera das vivências, sensações e observações (Arendt, 1987). Tal postura parece ter lhe possibilitado revelar alguns enigmas e sintomas de seu tempo social, culminando com a construção, na década de 1930, de alguns textos que ficaram conhecidos como uma espécie de "arqueologia da modernidade" (Benjamin, 1989; Benjamin, 1933/1994; 1936/1994).

Da mesma forma, o pesquisador psicanalista, ao fazer o registro textual de suas impressões, transformando em experiência suas observações, possibilita o trabalho de investigação. Utilizamos, neste escrito, a noção de que não somente o material clínico das sessões serve ao pesquisador psicanalista, mas também lhe são úteis "histórias clínicas, biografias e autobiografias literárias, bem como obras de arte (cinema, pintura, fotografia, escultura, literatura...)" (Iribarry, 2003, p. 125).

Nesse sentido, escolhemos o ensaio como inspiração de escrita especialmente porque não temos a pretensão de chegar a uma verdade tácita da temática em questão. Entendemos que o estilo do ensaio se aproxima da psicanálise na medida em que lida com a fragmentação, com o resto, o vazio, com o detalhe presente em cada fenômeno e narrativa. No ensaio não há pretensão de objetividade. Iribarry (2003) diz que para a escrita ensaística interessa o conjunto da experiência individual e sua potência criadora e instaladora de aprendizagem. É desse modo que se abre a dimensão da polissemia, dos múltiplos sentidos. Nas palavras de Larrosa, filósofo espanhol, "o ensaísta seleciona um corpus, uma citação, um acontecimento, uma paisagem, uma sensação, algo que lhe parece expressivo e sintomático e a isso dá uma grande expressividade" (2003, p. 111).

Escolhemos, portanto, neste escrito, utilizar a ferramenta da leitura/escuta do filme Colegas (Galvão, 2013) a fim de buscar, na narrativa, questões enunciadas sobre a problemática do campo da adolescência e da síndrome de Down.

 

Síndrome de Down e adolescência

Não raro em nossa sociedade, os sujeitos com síndrome de Down tornam-se vítimas de uma espécie de aprisionamento, como se o dano orgânico reduzisse suas possibilidades subjetivas às limitações que apresentam. Quando se trata da adolescência desses sujeitos, a situação acaba sendo ainda mais problemática, já que as tarefas de passagem do período tornam-se duplamente árduas: além de terem de se posicionar frente às condições de aprisionamento, têm de enfrentar os mesmos conflitos psíquicos de jovens de sua idade – elaborar o real1 pelas mudanças corporais e dar conta do desejo sexual emergente, isso em meio a certa eternização da infância, condição, infelizmente, ainda muito predominante nas demandas parentais e sociais a eles dirigidas (Gurski, Ferrari, & Silva, 2013).

A partir dessas questões, propomos discutir as nuances psíquicas da adolescência vivida pelos portadores da síndrome de Down. Buscamos refletir sobre a configuração da adolescência na vida desses sujeitos, à luz de uma narrativa fílmica nacional que ousou trazer para as telas o tema da adolescência dos portadores da síndrome acima mencionada. Referimo-nos ao filme Colegas (Galvão, 2013), cuja narrativa inicia com uma estrutura fabular que conta a história de três jovens amigos com semelhanças que iam muito além de suas aparências.

Stallone, Aninha e Márcio tinham sido rejeitados por seus familiares, ainda quando bebês, em função de terem nascido portadores da síndrome de Down. Pois é justamente na instituição em que foram deixados que suas vidas se cruzam e eles se tornam grandes amigos. Entediados com a rotina regrada a qual eram submetidos e tendo suas vidas limitadas pelos muros da instituição, resolvem se aventurar para além desses muros, inspirados no clássico Thelma & Louise (Scott, 1991) – um dos filmes favoritos do grupo.

É interessante problematizar, inicialmente, o modo como o diretor apresenta o desejo dos três amigos de explorar o mundo. A narrativa, que revela em diversos momentos uma estrutura fabular, parece contar um filme dentro do filme. A paixão pela sétima arte e a busca pela realização dos sonhos parece mover as ações e as vidas dos protagonistas. Desde a escolha dos nomes, o diretor evoca os clichês do cinema como um recurso narrativo: Stallone, o líder, queria ver o mar para reencontrar a mãe que morava em "Atlântida", uma suposta cidade imaginária; Márcio, por sua vez, desejava voar para ajudar os pais – que nunca conheceu – a construírem uma casa na lua; e Aninha, a representante feminina do trio, buscava um marido que soubesse cantar, porém, para tal, "precisava casar no dia de São Judas Tadeu", pois só assim teria a chance de finalmente "conhecer os pais".

De certa mirada, poderíamos pensar que são três jovens, cheios de utopias, que decidem desafiar o mundo adulto em busca de condições mínimas para viverem a passagem adolescente. Contudo, diferente de outros sujeitos de mesma idade, que também se jogam vorazmente no social em busca de alguma espécie de novo em suas vidas, o trio é literalmente tomado como impossível, "ninguém pode com eles", nem mesmo a polícia. Enquanto a sequência de venturas e aventuras acontece, eles se tornam foco da mídia e, consequentemente, da sociedade.

Importa sublinhar que, apesar de o diretor abordar a adolescência de jovens sindrômicos, a história de seus sonhos é completamente atrelada aos (supostos) desejos de seus pais. Mesmo durante a busca por maior independência, os adolescentes são retratados como meras produções coladas aos discursos parentais. Tanto o mar, quanto o casamento e o voo são, na verdade, representações de um possível reencontro com aqueles que os abandonaram. Sair da instituição, como uma representação da passagem adolescente, parece restringir-se à busca pela família, não havendo a evocação, no filme, de uma efetiva transição ao laço social, em geral típica desse período de passagem.

Além disso, a história dos jovens, narrada como uma fábula, acaba por dar um tom inverossímil aos atos deles. O trio vive suas aventuras usando vestimentas de fantasia circense, evocando ainda mais que a busca por liberdade e por espaço no mundo comum não passa de um delírio de adolescentes que não apresentam condições de ocupar outras posições. Resta, por essas evocações, a noção de que sua inserção no laço social parece praticamente impossível, visto que seus comportamentos são sempre tomados como expressão de agressão, delírio ou infantilidade de pessoas desprovidas de "razão". A inquietação da sociedade frente à atitude rebelde de um grupo de Downs parece ser um dos efeitos da ausência de condições que o imaginário social e familiar lança a esses jovens.

Essa história, apresentada no filme dirigido por Marcelo Galvão e vencedora do Festival de Gramado de 2012, inicia com a narração do personagem de Lima Duarte, no filme, ele é quem gerencia o instituto no qual vivem os amigos. A fala do narrador está presente em várias cenas, nomeando e explicando os desejos, aventuras e sentimentos dos protagonistas, dos quais muito se fala, mas pouco se ouve. Destacamos a passividade que se desvela no modo como esses jovens vivem suas adolescências e na escolha narrativa do filme: em ambos, os sujeitos são falados, mas pouco falam. Nos perguntamos acerca da significação desse silêncio: de que modo os adolescentes Down vivem essa passagem? Por que a estrutura fabular acabou sendo a escolha narrativa do filme Colegas (Galvão, 2013)?

Comecemos retomando alguns conceitos acerca da adolescência como operação psíquica para abrir a pergunta: em que condições pode um Down adolescer?

 

A passagem adolescente

Sabemos que a adolescência é uma construção sócio-histórica, nomeada e reconhecida a partir do século XX como um período de passagem entre a infância e a idade adulta. No entanto, ao se considerar esse momento da constituição psíquica como uma ponte entre esses dois períodos, não se deve subestimá-la, pois não se trata de uma mera passagem, visto que convoca o sujeito a enfrentar decisões e desafios complexos e desconhecidos até então.

O boom hormonal da puberdade emerge indicando uma nova condição para a criança: o anúncio de que a adolescência está próxima. O corpo infantil é deixado de lado e as mudanças físicas e hormonais tornam o corpo apto para a realização de fantasias que foram recalcadas após o Édipo, no período da latência. Surgem, assim, sentimentos de ansiedade e medo, pois os impulsos anteriormente reprimidos são desvelados e, com eles, a sensação de descontrole sobre o corpo e o desejo.

A necessidade de dar conta de si, em meio a todo o mal-estar que produz o si-mesmo nesse período, é uma das situações injuntivas que pressionam os recentes ex-púberes. Assim, os jovens não medirão esforços na busca pela redescoberta de sua imagem; todavia, para obter êxito nesse processo, irão recorrer a outros laços, especialmente o laço com o grupo de amigos. O grupo parece emprestar traços para que o jovem possa construir um lugar identitário distante dos pais e da família.

Na busca de um novo lugar desde o qual se fazer representar, o adolescente vive em constante procura por modos de representação de si, diversos daqueles da infância. Por esse motivo, valer-se-á dos grupos para assegurar-se. Nessa passagem, as figuras parentais são destituídas do lugar de representação do Outro2 simbólico, o qual passa a ser ocupado pelos amigos. Esse novo referencial, portanto, cumprirá a função de um "outro" espelho no qual se mirar.

Conforme diz Rassial (1997), se a criança brinca e o adulto trabalha, ao adolescente resta um não lugar. Parece que é em vista desse não lugar que se dá a tentação adolescente por um estilo de vida nômade, pois ao transitar por diversos lugares, experimentar inúmeros papéis e conhecer sensações inusitadas, o jovem busca reencontrar-se. As fugas, tão presentes nos processos do adolescer, além de denunciarem uma ruptura com o laço familiar, revelam-se como uma tentativa de sentir-se real.

Corso (2002) sublinha que, nos contos de fadas, sempre há um momento em que o personagem encontra-se em uma espécie de limbo, representado geralmente por uma floresta. A floresta bem pode ser a metáfora para falar do lugar no qual os jovens protagonistas se refugiam ao sair do laço institucional/familiar que já não lhes satisfaz como antes, ela é, portanto, a passagem necessária para a vida adulta, a fundação de um novo lugar psíquico que ocorre a partir da transmissão gradual desde o laço familiar ao laço social.

Da mesma forma, nos contos de fadas, a passagem pela floresta também proporciona um ambiente de ressignificação aos personagens e, assim, os valores passados no âmbito familiar passam a ser questionados. Conforme coloca Corso (1995), esse é um tempo de moratória da vida, o qual tem sido uma definição já clássica da adolescência. Nesse período, o jovem costuma viver aventuras e enfrentar situações arriscadas, comportamentos que refletem o desejo típico do adolescente pela experimentação. Assim, apesar de serem vistas com maus olhos pelos pais ou pela sociedade, tais vivências também produzem condições para o jovem encontrar um novo lugar para si (Rassial, 1995).

Toda existência, bem como a confirmação de um lugar no mundo, está sempre atravessada pelo campo do Outro e isso fica ainda mais evidente na adolescência. Há uma dependência constante do outro e do Outro, isso se faz presente desde a constituição primordial quando, no estádio do espelho3, a mãe com seu olhar e sua voz dirige-se ao filho e o reconhece, fundando a matriz subjetiva na qual o pequeno irá se reconhecer.

Ocorre que todo o exercício de apropriação do corpo e do sentimento de integração do sujeito é abalado com a chegada do real da puberdade. Nesse contexto, as modificações corporais são, primeiramente, encaradas como uma catástrofe. O jovem inicialmente não sabe como lidar com esse novo corpo e, assim, precisará armar um jogo de identificações até que "se reaproprie de um corpo que, por outro lado, nunca deixou de ser seu" (Backes, 2002, p. 37).

De certa forma, podemos dizer que a garantia da infância se dá pela impotência do ato em todos seus sentidos (Jerusalinsky, 2004). Por essa razão, a criança poderá brincar, terminando por ocupar diversos lugares sem o compromisso efetivo de exercê-los em ato (Corso, 1995). Na adolescência, no entanto, essa garantia se vê abalada, pois as transformações corporais advindas da puberdade autorizam o sujeito ao ato, especialmente ao ato sexual. A pane na relação com o Outro, que se expressa através de certo "assassinato" dos pais como referência suprema, representa a morte do sujeito da infância. Todavia, entre essa morte e vida, há o espaço da floresta, esse não lugar adolescente, no qual o sujeito passará por um período de ostracismo que abrirá espaço para a ocorrência da iniciação sexual (Corso, 1995). Podemos pensar que adolescência convoca a uma noção de ostracismo e de exílio. O caráter deste, porém, será diferente, pois o jovem, ao exilar-se da família, irá refugiar-se no laço social.

O trabalho pelo qual passa o adolescente, portanto, não é nada fácil. Ele terá que enfrentar um duplo luto, o de sua própria posição infantil e o da posição que as figuras parentais ocuparam na infância. Logo, sua relação com o mundo sofrerá mudanças, pois ele terá que construir uma nova posição e isso exige que seus pais também estejam implicados nesta mudança de lugar (Rassial, 1997). Além disso, a constatação de que os pais são falíveis e mortais irá transformar intensamente a relação com as figuras parentais. Como saída para essa questão, o jovem irá buscar "outro referente último que seja dessa vez infalível e que possa garantir eficaz e duravelmente sua identidade adolescente" (Rassial, 1997, p. 79).

Assim, o jovem ao se deparar com a chegada da puberdade irá, gradativamente, se apropriar dos atributos do adulto. Ou seja, a diferença corporal, que antes impunha alguma autoridade ao adulto, será dissolvida e ele irá se sentir no direito de contestar a tudo e a todos. O discurso parental mostrar-se-á frágil e perderá muito de seu valor, pois a existência de outros discursos possíveis irá emergir. É por isso que o grupo passa a ser tão importante durante essa fase da vida: haverá uma fuga para o laço social, ou para a "floresta", onde o adolescente será convocado a transitar por diversos papéis e lugares e a ter a autonomia que seus pais, muitas vezes, relutam em viabilizar.

É interessante notar que os questionamentos feitos pelo adolescente não se referem apenas à postura dos pais, mas também ao mundo que o cerca e, principalmente, a ele próprio. Há uma insegurança típica dessa fase, em função da qual cresce a importância do olhar de seus amigos, amores e semelhantes. Agora não é mais o olhar da mãe que garante a imagem corporal, mas sim "o que verão e dirão os seus pares, e, sobretudo, os eventuais parceiros" (Rassial, 1997, p. 77).

A labilidade identificatória é característica do adolescente, tanto é que ele experimenta vários traços e estilos até descobrir o seu. No filme Colegas (Galvão, 2013), já referido, os jovens acreditam que não precisam responder pelas consequências de seus atos, por isso encaram todos os tipos de aventuras. Essa busca por sensações inusitadas é própria do adolescente e pode ser vista como uma maneira de evitar sentimentos catastróficos de vazio e desintegração.

A fuga operada pelos jovens do filme foi muito além da realização de seus desejos. A saída da instituição na qual os protagonistas encontravam-se pode representar a saída de suas zonas de conforto, ou então, uma tentativa de se desvencilhar das posições que lhes foram concedidas. Esse é um movimento típico da adolescência, mas o modo como essa transição foi representada, no filme, demonstra a visão infantilizada que, muitas vezes, é direcionada aos jovens Downs ou mesmo portadores de outros danos orgânicos.

Nesse sentido, perguntamos: será que a dificuldade no trato com a autonomia e a sexualidade dos sujeitos portadores da síndrome de Down, por parte da família e da sociedade como um todo, poderia levá-los à inibição de algumas das condições da passagem adolescente?

 

A operação psíquica da adolescência e a síndrome de Down

"Minha adolescência começou quando eu arranjei minha primeira namorada." L., 23 anos, 2013

O dono da fala que abre essa sessão é L., um jovem adulto de 23 anos, portador de síndrome de Down, em uma entrevista informal, refere-se a sua adolescência como um período de vida ainda inacabado, marcado especialmente pelas relações com amigos. Cidadão comprometido com as causas políticas e incluído no mercado de trabalho, L. encontrou modos de se fazer representar no laço social. Através de sua narrativa, percebemos que a construção de um lugar para si no campo social está diretamente relacionada à possibilidade de autonomia em relação à família. As temáticas da sexualidade e do trabalho também aparecem em seu discurso como pontos importantes para a inscrição no mundo adulto:

"Sonho em um dia morar com a minha namorada... me sinto mais adulto agora... penso no futuro e como eu já estou trabalhando isso é um passo a frente" (L., 2013)

O destaque para o amor e o trabalho estão presentes para qualquer adolescente. Nesse sentido, lembramos da famosa colocação de Freud sobre o que constitui uma posição interessante do ponto de vista da saúde mental: a capacidade de amar e trabalhar. Ocorre que tais condições são efeitos de uma construção que se dá ao longo da infância, desde as apostas e expectativas dos pais. As nuances do "agora eu era", o tempo do futuro anterior, tempo supremo da infância, é o que costuma pontilhar a fina trilha da possibilidade de um futuro desenhar-se. A criança, no campo do faz de conta, arma suas significações futuras, deslizando os sentidos, de modo simbólico, a partir do que recebe desde a demanda do Outro.

Entretanto, quando se tratam de crianças e jovens sindrômicos, em relação aos quais os pais não sabem o que esperar, podemos supor que se faz um estado de suspensão dessas expectativas e apostas (Jerusalinsky, 1989). Nesse sentido, ficariam jogados no abismo da ausência de significação e de uma perspectiva de vir-a-ser. O interessante é que tal fechamento não ocorre somente com a pequena criança ao nascer; Jerusalinsky (1989) sublinha que vemos tal fechamento também na chegada da adolescência, quando o apagamento da dimensão da sexualidade, por exemplo, obtura o futuro do sujeito e induz a família a antecipar uma criança pequena mesmo quando se trata de um jovem adulto.

Em adolescentes portadores de alguma deficiência mental, é comum surgirem sintomas relacionados ao encarceramento do corpo, como conversões, somatizações, hipocondria e quadros depressivos graves (Coriat, 1997). A deficiência, quando impedida de ser simbolizada, passa a ser uma espécie de real. No caso da síndrome de Down, isso é ainda mais evidente em função das características físicas próprias dessa condição. O corpo torna-se a expressão da diferença que o sujeito carrega consigo.

A infantilização do adolescente sindrômico remonta ao exercício da função paterna e às relações iniciais entre mãe e bebê. A mãe, ou cuidadora, ao deparar-se com um recém-nascido que não corresponde ao objeto de desejo imaginado terá de iniciar um processo de renúncia e de redescoberta. A renúncia está relacionada ao abandono de antigos desejos destinados ao filho imaginário e a redescoberta refere-se à criação de novas expectativas em relação ao bebê que nasceu. Esses dois movimentos influenciam bastante a relação inicial mãe-bebê e desencadeiam, ou não, luto pelo filho ideal. Assim, podemos referir que, em um primeiro momento, o bebê deficiente será sentido como um intruso, e isso dificultará o afastamento da mãe e do bebê, em função de um sentimento de culpa. O corte ordenador, o qual deveria ser realizado pela função paterna, frequentemente não se consuma e o filho deficiente acaba se tornando "um assunto da mãe" (Schmidt, 2008, p. 72).

Pensamos que tais casos configuram-se como um risco à constituição psíquica do sujeito. São casos em que a ausência do pai, como função, não produz corte na dupla mãe e filho, e consequentemente, a dimensão simbólica da falta não se inscreve. Dessa forma, o sujeito é acometido por uma sensação de onipotência, pois já que nada lhe falta, não há nada que precise buscar.

Ora, a função paterna, segundo Lacan (1999), é uma função simbólica da Lei, responsável por realizar a interdição na relação fusional da mãe com a criança, impedindo o gozo mortífero do Outro. Ao elaborar os três tempos lógicos do Édipo, Lacan esclarece como se dá a entrada do sujeito na dialética desejante 4. Segundo seus apontamentos, é o pai, portanto, que introduz o sujeito na castração simbólica e que funda a lei no Outro, castrando a mãe e resgatando o filho da posição objetal.

A ausência dessa operação é típica nos casos de estruturação da psicose. O fato de o psicótico não ter simbolizado um significante que faça função de suposto saber integrador, implica que a tarefa de sustentar algum saber caberá a ele próprio, e por isso a produção de tantas errâncias como efeito da ausência do nome do pai como ordenador. A falha no processo de simbolização do psicótico não possibilita que ele desenvolva uma relação mediada por um terceiro, como no caso do neurótico com o Outro, questão que traz como efeito a dificuldade de inserir-se no laço social (Goidanich, 2003).

Na clínica, vemos que tal configuração captura o sujeito em um estado de infantilização eternizada, mesmo quando não se trata de um quadro de psicose estabelecido. São sujeitos cujas vidas ficam marcadas, muitas vezes, por um silêncio absoluto no que se refere à própria sexualidade e a outros traços evocativos de inserção social. Tal silêncio produz certo apagamento da dimensão da curiosidade que, geralmente, as crianças e os adolescentes apresentam com relação ao tema.

O silêncio ao qual são submetidos muitos jovens sindrômicos também está presente no filme, pois o protagonismo desses adolescentes é limitado: suas ações e, principalmente, suas falas são reproduções de filmes famosos; seus desejos estão atrelados aos desejos de seus pais; suas crenças são fantásticas e seus modos de agir dentro do instituto são padronizados, restando pouco espaço para as manifestações singulares. Interessante perceber que, mesmo durante a busca por maior independência, eles são retratados como meras reproduções dos discursos de outros.

Interessa-nos problematizar esse apagamento simbólico como mote da eternização no espaço da infância, especialmente à luz da potência que tem a inscrição no campo da sexualidade e do trabalho para o sujeito adolescente (Gurski et al., 2013). Ora, o exercício do amor e da sexualidade e a capacidade de trabalho realmente servem como uma espécie de passaporte simbólico, demarcando o ingresso de todo e qualquer sujeito no "mundo adulto". O caráter da adultez, cada vez mais fugidio em nosso laço social, parece se estabelecer ainda muito por conta desses movimentos. No cenário social, a importância da sexualidade é tal que muito antes das crianças conseguirem responder pelo ato, já são convocados a se posicionar como menino ou menina. Dada a importância da questão, perguntamo-nos: o que será que se produz em sujeitos que, muitas vezes, são colocados à margem desses processos?

A inexistência de expectativas para o jovem assumir a posição adulta, seja por meio do trabalho, seja por meio da realização amorosa, além de mantê-lo em um estado de infantilização eternizada, revela a dificuldade dos pais, ou mesmo da sociedade, em abrir espaço para o surgimento de um sujeito de fato; impera uma situação na qual se destaca somente o significante da síndrome. No momento em que há uma identificação com um único significante, o do portador de uma síndrome, apaga-se a dimensão de sujeito.

 

À guisa de conclusão

É de suma importância considerar que "a causa do sujeito não reside no dano orgânico" (Coriat, 1997, p.151). Isso não significa que devemos ignorar os efeitos que este produz para a constituição do sujeito, mas o dano orgânico em si não condiciona o surgimento do sujeito do desejo. As premissas para a constituição psíquica do sujeito portador de deficiência são as mesmas para as crianças ditas normais. A inscrição feita pelo Outro terá o mesmo papel fundamental em ambos os casos.

O campo simbólico não é afetado pela deficiência, pelo contrário, ele a afeta. O sujeito é uma condição suposta a partir da incidência do significante. Ou seja, serão os significantes ofertados pelas funções parentais que determinarão o modo de a deficiência ser significada. Uma criança da qual pouco se espera, ou uma criança que tem seu comportamento e seus desejos interpretados sempre como expressão de um dano orgânico, ou ainda, como efeito de um delírio, certamente terá mais dificuldade para constituir, já que suas atitudes serão continuamente encaradas como patológicas ou infantis.

Uma mudança de olhar em relação a esses jovens é necessária, a fim de que estes encontrem seu lugar no laço social, questão que concerne tanto à sociedade, como à família. Para iniciar o esboço do que seria seu sintoma pessoal, o jovem terá de assassinar os chamados pais reais, construir seu próprio discurso e sobreviver a isso, o que ocorrerá se alguma dose de autonomia lhe for permitida (Corso, 2001).

Rassial (2005) coloca que a adolescência dos filhos provoca uma crise necessária na organização familiar e que esta obriga os pais a reinventarem seus lugares. Se essa reinvenção já é uma tarefa difícil para pais de adolescentes ditos normais, imagina-se que seja ainda mais complicada para pais de adolescentes com algum comprometimento físico ou psíquico.

Em uma espécie de desabafo, uma adolescente portadora da síndrome de Down revela seus sentimentos ao ver o filme Colegas (Galvão, 2013). Segundo ela, sente-se muito mal ao ver a forma como os protagonistas são "feitos de bobo" durante o longa inteiro (SIC, 27 de novembro de 2012). Ela refere também a sua preocupação diante das repercussões que isso poderia levar acerca da forma como o Down é visto pela sociedade: "Fazer um sonho de um Down ser apenas algo irreal" (SIC, 27 de novembro de 2012). A fala da jovem mostra sua indignação com o fato de que, muitas vezes, os sonhos de jovens sindrômicos são tomados como delírio, como se para eles não houvesse também promessa de futuro. Ora, como pode um sonho tornar-se real se nele não acreditarmos?

Um grande exemplo de que as particularidades da síndrome não são uma barreira para a realização pessoal são as experiências amorosas e laborais que apareceram diversas vezes na entrevista com L. O amor e o trabalho surgem como campos de possibilidades, nos quais novas inscrições podem ser feitas. O jovem entrevistado expõe seu interesse por morar a sós com sua namorada e reconhece que o trabalho é uma conquista em sua vida. Diferentemente dos adolescentes do filme Colegas (Galvão, 2013), ele parece não ter sido tomado como "impossível". L. conseguiu experimentar diferentes lugares no laço social, não restringindo sua circulação e possibilidades ao âmbito da família.

Muitos adolescentes portadores de danos orgânicos acabam vivendo um eterno tempo de moratória, marcado por um "ainda não", o qual insiste em barrá-los no investimento de suas potencialidades. Esse tempo é essencial na trajetória do sujeito para que ele possa se experimentar e caminhar em busca de seu próprio desejo, todavia, não deve ser eterno. A partir do momento em que se insiste na marca que falha em suas funções, surge um empecilho nessa busca, pois se desvaloriza todas as possibilidades que esses sujeitos possuem, confinando-os à moratória, ou ainda, ao espaço lúdico da infância.

Pensar a adolescência de um jovem portador da síndrome de Down é, antes de tudo, pensar a adolescência de um sujeito. A implicação da psicanálise torna-se importante nesse contexto porque ela permite a criação de um espaço não limitado por um único significante. A psicanálise intervém para que o sujeito surja em lugares nos quais ainda não foi chamado, isto é, criam-se condições para a autonomia do adolescente portador da síndrome de Down. Enxergar e escutar o sujeito para além de sua condição orgânica é o primeiro passo e também o movimento mais fundamental para tratarmos sobre a adolescência de um jovem sindrômico. Ao tomarmos a adolescência como um fenômeno também de ordem psíquica, fica clara a importância de lidar com a constituição do sujeito para além do real do corpo.

 

REFERÊNCIAS

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Recebido em julho/2014.
Aceito em agosto/2015.

 

NOTAS

1 O real é um dos três registros que, junto ao simbólico e ao imaginário, fundam o que Lacan denominou de RSI – as instâncias indissociáveis ligadas pelo nó borromeu, que dão conta da relação do sujeito com a falta. O real designa o impossível de ser simbolizado; o simbólico seria o lugar do significante e da função paterna, e o imaginário, o lugar supremo das identificações, lugar das ilusões do eu, da alienação do sujeito. (Roudinesco & Plon,1998).
2 Para tratar da constituição psíquica, Lacan diferencia duas instâncias: o chamado "pequeno outro", que seria o semelhante, o parceiro imaginário, e o "Outro" (grande Outro), que ele conceitualiza como a instância simbólica e, portanto, da linguagem, que determina o sujeito, sendo de natureza anterior e exterior a ele; lugar da palavra, do tesouro dos significantes (Lacan, 1985, p. 297).
3 Conceito elaborado por J. Lacan em 1936 para explicar o narcisismo primário, o primeiro esboço do Eu e as identificações secundárias (Chemama, 1995).
4 O autor descreve um primeiro tempo no qual o filho é identificado como falo materno e a mãe representa para a criança um Outro onipotente, absoluto. Nesse momento, o pai circula como significante no discurso materno, mas sua presença como terceiro se dará no segundo tempo lógico do Édipo, quando efetivará o corte na relação indiferenciada entre mãe e filho, inscrevendo este no universo da falta e do desejo (Lacan, 1995).

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