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Estilos da Clinica

versão impressa ISSN 1415-7128versão On-line ISSN 1981-1624

Estilos clin. vol.21 no.3 São Paulo dez. 2016

http://dx.doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v21i3p639-656 

DOI: http//dx.doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v21i3p639-656

ARTIGO

 

Compreender a subjetividade dos adolescentes acolhidos no instituto médico-educativo: interesses, limites e perspectivas sobre ferramentas de psicologia clínica

 

Understanding the subjectivity of adolescents received in the institut médico-éducatif: interests, limits and perspectives on clinical psychology tools

 

Comprender la subjetividad de adolescentes acogidos en el institut médico-éducatif: intereses, límites y perspectivas sobre herramientas de psicología clínica

 

 

Marie-Anne Ecotière

Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de Rouen (PSY-NCA), Mont-Saint-Aignan, França

Correspondência

 

 


RESUMO

Interessar-se pelo ponto de vista subjetivo das pessoas como parte da investigação em psicologia clínica inclui indiscutíveis questões éticas. Há ainda a questão de saber quais ferramentas permitem, na melhor das hipóteses, compreendê-los quando os sujeitos tratados têm limitações cognitivas. Este artigo se propõe a discutir os interesses e os limites das ferramentas de psicologia clínica para capturar, da forma mais minuciosa possível, as representações singulares e subjetivas das pessoas, a partir da ilustração de um trabalho de doutoramento realizado com adolescentes acolhidos em ambiente especializado.

Descritores: prática de pesquisa; deficiência intelectual; subjetividade; psicologia clínica; adolescentes.


ABSTRACT

To get interested by people's subjective point of view as part of the research in clinical psychology includes indisputable ethical issues. There is also the question of which tools allow, at best, to understand them when treated individuals have cognitive limitations. This study proposes a discussion about the interests and limits of the clinical psychology's tools to capture, in the most meticulous aspect, the people's singular and subjective representations, from the illustration of a doctoral study done with adolescents received in a specialized environment.

Index terms: research practice; intellectual disability; subjectivity; clinical psychology; adolescents.


RESUMEN

El interés por el punto de vista subjetivo de las personas como parte de la investigación de psicología clínica incluye cuestiones éticas evidentes. Además, está la cuestión de saber cuáles son las herramientas que permitan comprender los sujetos con limitaciones cognitivas. Desde un trabajo de doctorado con adolescentes acogidos en una institución especializada, este artículo tiene como objetivo discutir los intereses y los límites de las herramientas de psicología clínica para capturar, de la forma más exhaustiva posible, las representaciones singulares y subjetivas de las personas.

Palabras clave: práctica de investigación; deficiencia intelectual; subjetividad; psicología clínica; adolescentes.


 

 

Introdução

Este artigo propõe uma reflexão, nascida de um trabalho de doutoramento em psicologia clínica, sobre os interesses, os limites e as perspectivas das ferramentas de psicologia clínica para compreender a subjetividade dos adolescentes acolhidos em um Institut Médico-Éducatif1 (IME).

As questões centrais deste trabalho de investigação foram o significado e a função dos episódios de sofrimento psíquico em relação ao processo adolescente para as chamadas "pessoa com deficiência intelectual".

São poucos ainda os trabalhos da literatura sobre o tema da deficiência intelectual na adolescência, particularmente quando o interesse recai em questões psicodinâmicas de episódios de sofrimento psíquico. Se estas são amplamente descritas na literatura psicanalítica sobre o processo adolescente "normal", atualmente há uma falta de representações e conhecimentos sobre o sentido que o sujeito designado "pessoa com deficiência intelectual" atribui a tais episódios (Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale, 2016). É essencial – em uma perspectiva ética do aumento do conhecimento, mas também de propostas para acompanhamento desses adolescentes – melhor entender como eles experimentam subjetivamente essa fase da vida potencialmente maturativa.

Interessar-se pelo ponto de vista subjetivo das pessoas inclui indiscutíveis questões éticas. Ainda há a questão de saber quais ferramentas permitem, compreendê-los quando os sujeitos tratados têm limitações cognitivas. A literatura aponta que as entrevistas, uma das principais ferramentas para acesso a representações singulares e ao mundo interno dos sujeitos, apresentam mais dificuldades quando realizadas e, pessoas com limitações cognitivas do que aquelas com pessoas não afetadas por essa condição. (Guillemette & Boisvert, 2003).

Depois de ter apresentado o quadro de investigação e salientado as diferenças que o caracterizam de forma comparativa com um dispositivo terapêutico, serão discutidas as questões para promover uma participação livre e informada dos adolescentes. Estes pontos preliminares permitem, em um segundo momento, discutir os interesses e os limites relacionados ao corpus por meio de entrevistas clínicas e análise do material obtido. A reflexão em torno das ferramentas, privilegiando o acesso à subjetividade da pessoa, é essencial aqui, antes de considerar, finalmente, os benefícios que podem resultar da participação na busca de adolescentes da causa.

 

Preâmbulo: as entrevistas de investigação

Entrevistas terapêuticas e entrevistas de investigação se distinguem em vários pontos, incluindo a temporalidade das reuniões, o local da aplicação e os objetivos buscados.

Para entrevistas terapêuticas, "a demanda por cuidados inicia a missão terapêutica do clínico". (Matot & Frisch-Desmarez, 2007, p. 4). A natureza da demanda fornece informações sobre a posição em que a família ou o paciente colocam o clínico. O objetivo comum é o cuidado terapêutico e geralmente é parte de uma longa temporalidade.

Para as entrevistas de investigação, a demanda é feita pelo pesquisador, que pode alimentar fantasias em torno da "técnica de sedução", usada para incentivar as pessoas a participarem. Essa dinâmica é amplificada pela situação de imersão (Naepels, 1998) e pelo campo de pesquisa (Psicologia), o psicólogo tendo por hábito trabalhar a partir da demanda do sujeito e não para impor seu próprio desejo. O objetivo das entrevistas de investigação é coletar itens a serviço da questão colocada, itens que se desenvolvem em uma temporalidade pré-determinada e geralmente curta.

A posição do clínico pode ser considerada construída sobre dois eixos dinâmicos. O primeiro é contextual e é definido pela função que é atribuída ao psicólogo pela instituição, pelas recomendações e pelos discursos que esta veicula. O segundo é pessoal e é suportado na sua história pessoal e profissional, incluindo a ética, os referenciais teóricos e as dimensões afetivas que marcaram o seu percurso (De Buck & Frisch-Desmarez, 2007).

É apontada na literatura a importância de se apoiar nos conhecimentos prévios da população entrevistada (as pessoas com deficiência intelectual) para realizar uma pesquisa que busca seu ponto de vista subjetivo (Carrier & Fortin, 1994; Julien-Gauthier, Jourdan-Ionescu & Héroux, 2009). Esta recomendação refere-se então ao registro pessoal do psicólogo pesquisador. Para o eixo contextual, o pesquisador é encarregado pela instituição de pesquisa acadêmica. No entanto, ele pode, ao mesmo tempo, ser acolhido por uma instituição de cuidados, um IME, para realizar sua pesquisa. Esta dupla base institucional obriga o pesquisador a ser claro com seu status, sua estrutura e sua posição, que se caracterizam pela exterioridade (é acolhido pela instituição, não faz parte dela). Esta posição é, por vezes, dificilmente defensável e o obriga a ser lúcido para não gerar confusão entre os entrevistados. No seu cotidiano institucional, o psicólogo geralmente é bem visto e familiarizado, e a maioria dos adolescentes e profissionais já teve a oportunidade de experimentar entrevistas terapêuticas. Por outro lado, o status do pesquisador nem sempre é familiar. Por exemplo, o IME em que os adolescentes foram atendidos nunca havia participado de uma pesquisa antes.

 

Participação livre e informada

Para realizar uma pesquisa, é necessário recolher o termo de consentimento livre e esclarecido escrito, ou uma não objeção à participação na pesquisa (Associação Médica Mundial, 2008). O recolhimento é feito depois de passadas as informações sobre o objetivo da pesquisa, sua metodologia e sua duração, além dos benefícios esperados, bem como as restrições e os riscos previsíveis, incluindo a possibilidade de interrupção da investigação antes do tempo previsto.

Não só as dificuldades cognitivas, mas também a dinâmica da desejabilidade social, frequentemente encontradas em indivíduos com deficiência intelectual, complicam os objetivos de clareza e adesão plena necessários para o processo de investigação.

Quando a faculdade de discernimento da pessoa é comprometida, questiona-se a validade do acordo ou da decisão formulada. Até agora, e de um ponto de vista ético, não é questão de renunciar a inclusão de pessoas que têm deficiência intelectual às pesquisas, e não é questão também de renunciar o recolhimento do seu acordo. A ética é diferente da deontologia, que se refere à conformidade da ação à regra, enquanto do ponto de vista ético, o profissional é responsável pelas consequências de sua ação.

Essas considerações são especialmente para o trabalho quando se trata de garantir a clareza da abordagem de pesquisa ao público para o qual ela é proposta, mas também os meios pelos quais as pessoas se dispõem a aceitar ou recusar a participação.

 

Compreensão do processo de investigação

Tornar compreensível um processo de investigação para que o indivíduo possa aproveitar ao máximo supõe a reflexão sobre como esse processo será apresentado, com que vocabulário, onde e na presença de quem. Sobre este trabalho de doutorado, foi decidido construir a carta de informação em parceria com uma adolescente do IME e deixar os adolescentes livres para informar os seus responsáveis. Nossa hipótese é a de que esta liberdade de escolha de informação faz parte de um reconhecimento como sujeito engajado no "tornar-se adulto".

 

Carta de informação escrita em parceria com uma adolescente

Para que os adolescentes sejam apresentados da melhor maneira à situação e ao tema da pesquisa, a carta de informação foi trabalhada em colaboração com uma das jovens do Instituto Médico-Profissional (IMPro). Esta carta de informação serve para apoiar, durante a apresentação da pesquisa, o grupo de adolescentes. Serve também como pré-requisito para a introdução do consentimento esclarecido (que não foi alterado), igualmente apresentado e comentado em um grupo.

O tempo de trabalho com esta adolescente auxiliou na mudança do vocabulário utilizado e na simplificação das frases empregadas. Por exemplo, o termo "manifestações de ordem psicopatológica" foi substituído por "crise" e "perder a cabeça"; o termo "trabalhos de pesquisa" (tese e publicações) é especificado por "como um livro" e "um artigo em um jornal"; a noção de anonimato é definida por "você não será reconhecido, uma vez que seu nome será alterado".

Este apoio em um vocabulário familiar é mobilizador para os adolescentes. Durante a apresentação da pesquisa ao grupo, dois adolescentes de 18 e 19 anos, Amir e François, se mostraram animados quando foi usado o termo "perder a cabeça". Em contraste, a expressão "manifestações de ordem psicopatológicas" não produziu nenhuma reação nos adolescentes que têm uma postura de escuta atenta.

François, virando-se para Amir, comenta sobre a apresentação, com estas palavras: "francamente eu perco a cabeça", o que desencadeia uma gargalhada compartilhada. François continua a mímica de um colapso, encosta as costas na parede, olha para o céu fazendo caretas, e se deixa escorregar para o chão. Eles são então chamados à atenção para se comportarem por seu educador, que lhes pede calma e diz para Amir: "você deve ouvir, isso te diz respeito, você vai muito mal". Esse enunciado ressalta um fato enfatizado na literatura relacionado por vezes aos adolescentes, mas também às pessoas com deficiência intelectual: geralmente são as pessoas mais próximas (família e/ou educadores) quem dão nome ao sofrimento do adolescente, ao invés do próprio indivíduo.

 

Informar para quem?

Todos os adolescentes que participaram da pesquisa assinaram o consentimento já que eram maiores de idade, sem necessidade, portanto, da presença de um representante legal. Permitimos que fosse levado em conta seu compromisso legal , evitando a postura paradoxal de perguntar-lhes sobre o processo de se tornar um adulto enquanto solicitamos o seu estatuto de "crianças" recorrendo à responsabilidade de seus pais.

Apenas um dos adolescentes não tinha 18 anos na época das entrevistas; assim, foi acordado que ele assinaria o consentimento esclarecido quando adquirisse sua maioridade (algumas semanas mais tarde).

As cartas de informações foram passadas aos pais por meio dos adolescentes, deixando-lhes a possibilidade de entrar em contato com o pesquisador se quisessem mais informações. Entregando a carta para os adolescentes, em vez de enviá-la diretamente para os pais, os deixaríamos livres para mostra-la ou não a seus familiares, o que nos permitiria acompanhar seu eventual desejo de compartilhar essa experiência com a família ou de mantê-la na esfera da intimidade. O fato de que adolescentes sejam maiores de idade e não sejam legalmente referidos a um procedimento de curadoria permitiu que esta postura fosse facilmente implementada.

 

Especificidades ligadas às relações intersubjetivas e influência da situação de imersão

Para a maioria das pessoas denominadas "com deficiência intelectual", as relações intersubjetivas se caracterizam por uma sensibilidade significativa para o stress relativo ao novo, à novidade. A tendência para o consentimento está fortemente presente, o que pode ser ligado à vontade de corresponder às expectativas do interlocutor.

 

Desejabilidade social e participação na pesquisa

O desejo de agradar ao outro, de corresponder às suas expectativas levanta a questão da influência e do viés gerados pelo que a psicologia social chama de desejabilidade social, que aparece especialmente quando a representação de si está em jogo (Carrier & Fortin, 1994). Pessoas que têm uma deficiência intelectual são, ainda mais que o habitual, confrontadas com esse desejo de serem bem percebidas por seu interlocutor.

Se esses movimentos afetam a coconstrução das entrevistas de investigação, eles operam igualmente no tempo anterior a essa entrega, especialmente quando o pesquisador está imerso no âmbito da instituição, como foi o caso desta pesquisa. Imersão é estar regularmente presente no âmbito do cotidiano institucional dos indivíduos para que o pesquisador e os indivíduos entrevistados se familiarizem uns com os outros. Este dispositivo, no entanto, levanta a questão de saber se demasiada proximidade relacional dá a possibilidade aos adolescentes de recusarem a pesquisa a uma pessoa que eles conhecem e que, potencialmente, eles investem. O desejo de agradar e de não desagradar os familiares foi identificado previamente como um elemento que influencia significativamente as respostas dadas pelas pessoas com deficiência intelectual (Finlay & Lyons, 2002).

 

O dispositivo de imersão e a entrevista dos adolescentes dentro da instituição: interesses e limites

O período de imersão ajudou alguns adolescentes a terem confiança suficiente para aceitar a pesquisa, ou melhor, para não recusá-la espontaneamente. Esse período também ajudou a estabelecer um clima de confiança e a reduzir a ansiedade gerada pela situação de pesquisa para a maioria dos sujeitos entrevistados. O tempo gasto no campo permite adaptar o seu nível de linguagem referindo-se aos termos e ao vocabulário que a pessoa usa regularmente na sua vida diária (Julien-Gauthier, Jourdan-Ionescu & Héroux, 2009).

No entanto, a imersão contribui para recrutar indivíduos num contexto de "cativeiro", destacando a sua filiação institucional, designando-os como adolescentes acolhidos pelo IME.

Esta observação é certamente comum a todas as pesquisas: elas são acompanhadas de uma declaração especial para adolescentes com deficiência intelectual. Quais lugares são reservados para eles a fim de desenvolver sua adesão adolescente?

Em se tratando de adolescentes normais, espontaneamente, pensamos nos diferentes espaços que organizam seu cotidiano: espaços escolares, espaços de lazer, espaços de passeio (a cidade, parques, loja) e espaços virtuais com a proliferação dos blogs. No curso de nossa pesquisa, fomos surpreendidos tanto pela falta de diversidade nos lugares mencionados pelos adolescentes quanto pela presença constante de concepções adultas em seus cotidianos.

Outra especificidade relacionada ao contexto de "cativeiro" é que isto deixa menos oportunidades para os sujeitos implementarem estratégias de prevenção para recusar a sua participação na pesquisa. É fácil não responder a um e-mail ou uma mensagem de celular propondo uma participação, como também o fato de estar na presença regular do pesquisador envolve outras questões, como o fato da inscrição na desejabilidade social, como observado anteriormente.

 

As entrevistas de investigação: coconstrução e análise

Questões emocionais e problemas cognitivos influenciam a coconstrução da entrevista e a análise do material coletado. Para evitar os mal-entendidos e as dissimulações na comunicação, e para que não haja superinterpretação do material obtido, é essencial fornecer as ferramentas, tanto para apoiar o relacionamento e a comunicação durante as entrevistas, como também para apoiar o processo analítico. Fazer uma entrevista branca (entrevista pré-teste), propor suportes visuais ou recorrer a objetos concretos e familiares dos sujeitos representam meios de facilitar a realização de pesquisas e o acesso à subjetividade da pessoa.

 

A entrevista branca

A entrevista branca representa um momento importante na construção da metodologia (Carrier & Fortin, 1994). Ela permite assegurar a relevância da pesquisa e de seu dispositivo metodológico.

Para esta pesquisa, a entrevista branca foi realizada com a adolescente que participou da escrita da carta de informação (Laurine, 19 anos).

Esta entrevista prévia revelou um risco de mal-entendido na coconstrução do discurso, já que cada um dos protagonistas estava localizado em uma cena diferente do discurso sem nunca conseguir verdadeiramente se encontrar. Este contexto favoreceu as imprecisões temporais e a perda de sentido para um e outro. Parecia ser útil modificar as instruções e o conceito de adolescência – que pode ser muito abstrato para alguns adolescentes –, e útil também preferir a evocação de uma realidade atual e concreta: "como vão as coisas com você nesse momento? Com seus amigos, sua família... ", sua realidade presente como adolescente (pelo menos em termos de idade, se não em termos de processo).

 

Recursos para a comunicação e para o relacionamento

A literatura recomenda o uso de recursos visuais para facilitar o processo de entrevista e o discurso das pessoas com deficiência intelectual (Julien-Gauthier, Jourdan-Ionescu & Héroux, 2009).

Estes recursos ocupam, no entanto, outras funções, não correlacionadas com as capacidades de verbalização e de ancoragem temporal dos adolescentes.

Por um lado, os recursos visuais podem auxiliar e conter alguns temas fontes de ansiedade para o sujeito; por outro lado, recursos como os quadros e os objetos também permitem pensar os adolescentes, oferecendo uma abertura para o seu mundo interno.

A dimensão projetiva de tais recursos faz parte de um registro semelhante ao quadro proposto pela entrevista, porque é um local de recepção das projeções da vida psíquica do sujeito. No entanto, o objeto é um recurso facilitador, uma vez que é mais concreto que o único recurso para o verbal.

 

Os frisos das idades

Pessoas com deficiência intelectual têm uma relação particular com o tempo, com distúrbios de memória, de organização temporal de sua narrativa. Isso torna complexa, para eles e para o pesquisador, a evocação do passado, do presente e do futuro (Guillemette & Boisvert, 2003).

Esta falta de marcadores temporais pode ser uma fonte de mal-entendidos. Se do lado do pesquisador é usada uma temporalidade "cronológica", vamos tratar mais de uma "temporalidade afetiva e espacial" com pessoas que têm deficiência intelectual. Isto os leva a falar no presente de acontecimentos passados e a recuperar a sua infância não no tempo, mas por meio do lugar que eles frequentavam.

Nossa escolha, para a pesquisa, tendeu para os frisos das idades, usados principalmente pela equipe de Petitpierre na Suíça, para facilitar a localização temporal. Dois quadros foram selecionados, um com personagens femininas, outro com personagens masculinas, para promover o reconhecimento e a identificação das diferentes temporalidades do ciclo da vida. As personagens são desenhadas inspiradas em animes para aumentar a atratividade dos quadros para um público adolescente.

O uso destes frisos de idades é um suporte que supõe o seu emprego de forma clara. Estes recursos são relevantes tendo em conta as confusões temporais que às vezes surgem no decorrer das entrevistas, como é o caso de Amir, mas não para todos os adolescentes.

Recorrer repetidamente a um friso sem que o adolescente perceba a necessidade pode então remetê-lo à sua incapacidade de se fazer entender e dificultar sua narração.

A utilização livre do friso parece o meio mais eficiente a fim de evitar o risco do contra empregar. Conforme descrito na apresentação da pesquisa como parte do dispositivo, pode ser deixado ao alcance do adolescente e do pesquisador, que então escolhem o momento de aproveitá-lo.

A maneira pela qual o pesquisador verbaliza o uso da ferramenta é igualmente importante (ele pode alegar a própria incompreensão ou apontar as explicações confusas do adolescente).

No entanto, sua utilização também é consistente para mediar narrativas agonizantes, tais como a de Anne-Lise sobre a recusa de envelhecer, abordada a partir da manipulação do friso (que ela o toma em suas mãos, que ela observa, que se baseia).

Sobre a situação de Amir, o uso de ferramentas tais como os frisos, mas também as imagens representativas de situações adolescentes permitiram se libertar da experiência dolorosa e da apatia manifestadas durante as entrevistas.

O interesse dessas ferramentas não está correlacionado com o nível de comprometimento cognitivo ou habilidades de verbalização de adolescentes, dado que Anne-Lise, que tem um bom nível de linguagem e estava confortável na troca, teve tal recurso. Em uma leitura dinâmica em termos de experiências desorganizadas, essa confusão pode ser dos experientes. As ferramentas como mediação fazem sentido então, independentemente do nível de comprometimento cognitivo e das capacidades de verbalização.

 

O objeto pessoal escolhido pelo adolescente

A segunda entrevista começou a partir da narração do adolescente sobre o objeto que ele tinha escolhido trazer (as razões para sua escolha, o que representa...).

Esta proposta tem sido adotada a fim de gerar uma dinâmica diferente daquela produzida pelas instruções no início da entrevista. Os objetos facilitam a realização da entrevista, eles permitem iniciar a troca em um registro menos formal do que o gerado pelos dados de pesquisa. Neste sentido, eles encaixam a lógica de aprisionamento e estabelecem um vínculo de confiança, elementos considerados como favoráveis ao bom funcionamento da entrevista (Julien-Gauthier, Jourdan-Ionescu & Héroux, 2009). A narrativa em torno de um objeto específico ao adolescente também possibilita o desvio de discursos frequentemente artificiais e normativos propostos por alguns jovens.

No entanto, esses objetos representam não só uma ajuda para a narrativa, eles também são valiosos para entender os jovens. A capacidade de pensar, imaginar, sonhar e suas experiências singulares são facilitadas por esses objetos que eles amam. Como foi recordado por Lesourd, "objetos que manipulam o adolescente nos dizem mais do que as trocas verbais com eles." (Lesourd, 2007, p. 79).

Os objetos materiais de adolescentes também cobrem questões originais de construção de identidade. Eles mediam a relação íntima que o adolescente possui com sua identidade social, o Eu que ele exibe para os outros (Lesourd, 2007).

Mais do que o objeto em si, claramente é o discurso que o acompanha que é significativo. Os objetos trazidos por alguns adolescentes podem abordar temas novos, ausentes durante a primeira entrevista. Este é o caso de Anne-Lise (batom), que era capaz de abordar suas representações de feminilidade e uma antiga experiência de vergonha, e de Alban, que trouxe a foto de sua namorada, compartilhando sua resistência a ser ele mesmo fotografado porque ele se achava feio.

Esses objetos também cumprem uma função de apoio ao processo de transformações psíquicas e acompanham a representação dos eventos vividos (Tisseron, 2001).

É porque não somente a escolha do objeto pessoal se encaixa em uma lógica de facilitação da entrevista, como também numa lógica de triangulação dos dados. O postulado é que o objeto relatado pelo adolescente remete à sua realidade psíquica, dirige-se especificamente a si, e assim ao tema do estudo.

 

Dificuldades no processo de análise e triangulação das ferramentas

A dinâmica exploratória que caracterizava a nossa pesquisa alimentou muitas reflexões e adaptações, incluindo sobre como analisar os dados coletados.

 

O risco de superinterpretação dos dados

Os riscos de superinterpretação do corpus estão relacionados com a complexidade da interpretação dos discursos. Esta complexidade refere-se ao fato de ter que estimar qual o lugar dado ao déficit cognitivo e/ou a dinâmica psíquica em nossas hipóteses interpretativas. A questão central que orienta e influencia a análise das situações destes jovens é a necessidade de pensar os adolescentes sem ocultar o impacto e a influência da relação subjetiva para a pessoa com deficiência, e também aquelas de limitações cognitivas em sua jornada.

Para lidar com essas dificuldades nas interpretações, mantivemos um processo analítico que atribui um lugar de destaque aos elementos não verbais e aos movimentos de desejabilidade social presentes nas entrevistas. Os sentimentos próprios ao clínico e gerados pela situação da entrevista representam também um pivô importante na análise dos dados. Se esses sentimentos podem se apreender no registro dos movimentos contratransferenciais, ferramentas essenciais do psicólogo clínico, é importante distinguir a dinâmica transferencial  teorizada como parte da cura e estabelecida em uma temporalidade longa, da dinâmica interacional operada em dispositivos limitados no tempo, como a situação da entrevista de pesquisa/investigação ou de passagem projetiva por exemplo (Chabert, 2013).

 

A triangulação das ferramentas a serviço do processo analítico

Juntamente com a tomada em consideração das dinâmicas intrassubjetivas dessas dimensões verbais e não verbais, o programa NVivo2, que ajuda na análise qualitativa dos dados, tem sido usado para promover uma distância em relação ao corpus. O uso desse programa não separa o pesquisador do trabalho de análise, uma vez que o NVivo não propõe análise completa do corpus. É o pesquisador que constrói a matriz analítica a partir da qual o programa irá organizar os dados. Nesse sentido, o uso do NVivo oferece a oportunidade de testar sua matriz analítica e de variar os ângulos de interpretação. Este programa é um recurso ativo no processo científico de análise de dados textuais, oferecendo representações sugestivas ao trabalho de interpretação.

Essas interpretações devem ser testadas com os outros elementos relativos à entrevista, à análise da cena da entrevista em particular. É por meio deste trabalho detalhado de atenção, de reflexão e do uso alternado das ferramentas à disposição (Ecotière, Poujol & Scelles, 2015) que o pesquisador pode formular hipóteses o mais próximo da clínica da entrevista.

A leitura das primeiras entrevistas mostrou que o apoio sobre as palavras isoladas dos adolescentes representava um risco substancial de interpretação escassa e parcial de sua realidade subjetiva. É por isso que quatro tempos de observações foram realizados durante momentos informais, exceto tempo de aprendizagem em que o adulto tem uma contribuição central. Tratava-se de estudar, em momentos de interstício sem regras institucionais bastante arbitrárias, como os jovens estabelecem relações entre eles e como eles aceitam, procuram, recusam a intervenção do adulto. Então, não temos realizado uma análise sistematizada das observações. Elas não foram filmadas; tomamos notas e é a partir dessas notas que as análises foram realizadas. Esta maneira de proceder é defendida nas abordagens antropológicas e clínicas (Ciccone, 1998). Observações e imersão ajudam a ter em conta o contexto global da aquisição das entrevistas.

O fato de triangular os métodos de coleta de dados destina-se a melhorar a confiabilidade dos resultados obtidos, e a triangulação das ferramentas analíticas possibilita a proposição de interpretações pertinentes (Julien-Gauthier, Jourdan & Héroux, 2009).

 

Questões subjetivas para os indivíduos participantes

Se as entrevistas de pesquisa diferem em muitos pontos das entrevistas com uma finalidade terapêutica, não obstante elas são oferecidas somente na condição única de respeitar as defesas psíquicas e de não alimentar a dor do sujeito participante. Sua estrutura é considerada como havendo potencialmente efeitos terapêuticos, mesmo se esses efeitos não são necessariamente investigados.

A pessoa que concorda em participar da pesquisa se engaja ativamente em um processo do qual ela pretende tirar proveitos. Como parte deste trabalho de doutorado, indicou-se aos adolescentes a questão que representava, para a compreensão e a reflexão sobre futuros acompanhamentos, o fato de melhor compreender as especificidades desse tempo de transição, os elementos que podem facilitá-lo ou mesmo dificultá-lo.

Todo adolescente toma de forma singular a proposta de participar da pesquisa. Frédéric, por exemplo, ofereceu-se imediatamente para participar. É o único de seu grupo, composto por sete rapazes, que espontaneamente manifestou seu desejo de participar, verbalizando o seu acordo. Ele também é o único a intervir na apresentação da pesquisa para o grupo, inclusive a ponto de questionar o meu estatuto de psicólogo, argumentando que uma proposta de duas reuniões apenas não corresponde a uma proposta de psicólogo. Após minhas explicações, ele explicou a outro jovem, algumas semanas depois, minha presença no IME da seguinte forma: "ela está escrevendo um livro, ela tem problemas e nós podemos ajudá-la". Ele demonstrou o mesmo entusiasmo nas entrevistas, explicando que ele gosta de falar com psicólogos e que já está acostumado. Ele também virá sozinho, e no horário e local das entrevistas, enquanto os outros preferem que eu vá procurá-los em seu grupo. As entrevistas de Frédéric se caracterizaram, contudo, pela evocação de experiências particularmente dolorosas, seja em suas relações de filiação ou afiliação. Depois de ter concluído as entrevistas, ele destacou o seu prazer e sua capacidade de falar, e garantiu ter "realmente" me ajudado.

Este exemplo mostra o sentido subjetivo que Frédéric associa à sua participação (ajudar o outro), postura que evoca aquela que geralmente ocorre nos pares femininos e que justifica seus vínculos de afiliações. Esses vínculos lhe dão a oportunidade de "contar a sua história" e de ser ouvido em seu sofrimento, como ele diz sobre ele mesmo: "Eu contei a elas a minha história [para as meninas], como eu te contei. E é lá que eu era feliz". Esta declaração destaca a importância que pode revestir, para adolescentes frequentemente colocados em situação de pessoas para ajudar e acompanhar, o fato de atingir a reciprocidade na interação, de ser colocado no lugar daquele que pode ajudar o outro.

O fato de compartilhar sua história em um espaço intersubjetivo também oferece a possibilidade de se apropriar de elementos da sua experiência, o que é uma proposta real de transformação significativa.

Jimmy aborda, por ocasião das duas entrevistas de investigação, um dos eventos que o marcou no colégio. Ele tentou, durante um tempo de aprendizagem, ajudar um dos seus colegas a desenhar uma linha em uma parede e, para isso, manteve a régua no ar. Seu professor, então, interveio e lhe disse para deixar seu companheiro quieto. A narração de Jimmy, no entanto, varia de uma entrevista para outra: na primeira entrevista, a intimação do professor ("deixe ele quieto") é acompanhada por um ato físico (o professor o empurra contra a parede). Na segunda entrevista somente a ordem verbal está presente. A representação de um professor "ruim" é proposta nas duas entrevistas. No segundo encontro esta maldade não é mais simplesmente dirigida a Jimmy, mas ao grupo (ele tampouco gosta do meu irmão).

Este exemplo mostra uma atenuação da violência do evento vivido de uma entrevista sobre outra, e uma mudança no significado atribuído. Não é mais simplesmente Jimmy, individualmente, que suscita a maldade de seu professor, mas seu grupo familiar. Essa evolução permite a Jimmy se proteger de uma contestação individual, utilizando o grupo fraternal.

Essas ilustrações clínicas mostram a importância de não negligenciar e de considerar, antes da pesquisa, os efeitos subjetivos potenciais contidos no âmbito do que propomos aos indivíduos.

 

Conclusão

Interessar-se pela subjetividade das pessoas com dificuldades cognitivas é uma postura ética que coloca o clínico pesquisador em confronto com dificuldades que questionam sua postura, suas ferramentas e seu ambiente de trabalho.

Por isso, é imperativo propor ferramentas que auxiliem a coconstrução do discurso. Quanto mais essas ferramentas forem consistentes com a realidade dos sujeitos, mais elas lhe oferecerão um espaço de ator em sua abordagem e de locutor privilegiado, e mais eles são suscetíveis de orientar a capacidade do clínico para pensar e delinear a realidade subjetiva do sujeito.

Esta necessidade é também sobre o momento de análise dos dados coletados. O método de triangulação dos dados e a pluralidade das modalidades de análise (temática, assistida por programa) são, por essa perspectiva, recursos inegáveis para a coerência e a relevância das interpretações propostas.

Os momentos de flutuação, mal-entendidos e perda de sentidos experimentados nas entrevistas são alimentados pela dinâmica da desejabilidade social, mas são também uma consequência do pouco hábito que têm esses jovens de serem colocados no lugar de locutores. Eles também têm a ver com as "rupturas" na escuta, as representações e o narcisismo do pesquisador.

A observação clínica, os movimentos contratransferenciais e a curiosidade relacionada com a alteridade percebida no outro são elementos transversais de três momentos da entrevista, ou seja, a pré-cena (composta de conhecimentos e representações anteriores), a cena do encontro propriamente dita com o sujeito e a pós-cena (momento da análise).

Interessar-se pelos pontos de vista das pessoas leva a uma verdadeira reflexão para o psicólogo pesquisador quanto às suas próprias representações, ferramentas disponíveis para se aproximar da experiência subjetiva do sujeito. No entanto, esta abordagem é rica do ponto de vista educativo e pode trazer muito para o nosso conhecimento do humano e para as reflexões relativas ao seu acompanhamento no que diz respeito à sua singularidade.

 

REFERÊNCIAS

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Endereço para correspondência
Rue Lavoisier
76821 – Mont Saint Aignan Cedex – France.
maeecotiere@gmail.com

Recebido em julho/2016.
Aceito em outubro/2016.

 

 

NOTAS

1. Os institutos médico-educativos, também designados pela sigla IME, são instituições de acolhimento francesas para crianças e adolescentes com deficiência intelectual relacionada a distúrbios neuropsiquiátricos. A maioria dessas instituições foi fundada por associações, quer por iniciativa de famílias de crianças afetadas, profissionais, ativistas ou organizações humanitárias
2. Ecotière M.-A. (2016). Processus d'adolescence et souffrance psychique chez des sujets accueillis en Institut Médico-Educatif : au regard des liens aux pairs. Tese de doutorado em Psicologia, Universidade de Rouen, Mont-Saint-Aignan, França.
3. Programa publicado por QSR Internacional. Recuperado de www.qsrinternational.com

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