SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.24 issue2Regarding the notion of defence in the theory and technique of Sándor FerencziAnalysis of adolescents: clinical immersions in the realm of elasticity of the technique author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Estilos da Clinica

Print version ISSN 1415-7128On-line version ISSN 1981-1624

Estilos clin. vol.24 no.2 São Paulo May/Aug. 2019

http://dx.doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v24i2p205-216 

DOI: 10.11606/issn.1981-1624.v24i2p205-216

DOSSIÊ

 

Sándor Ferenczi: as passarelas criativas

 

Sándor Ferenczi: pasarelas creativas

 

Sándor Ferenczi: creative bridges

 

 

Bernard PechbertyI

IPsicanalista, Professor Emérito, membro do Laboratório EDA – Education, Discours et Apprentissage, Université Paris René Descartes, Paris, França. E-mail: pechbertyb@gmail.com

 

 


RESUMO

Este artigo discute algumas contribuições centrais de Sándor Ferenczi presentes na primeira parte de sua obra. Discípulo de Sigmund Freud, ele conquistou a sua independência e desenvolveu uma reflexão sobre o traumatismo. A partir de sua experiência clínica, ele acentua a dimensão terapêutica essencial à psicanálise, diante ao intelectualismo dominante dos praticantes. Ele define uma nova relação entre a criança e os adultos, em contraposição ao infantil freudiano. Em decorrência disso, resultaram em algumas consequências: a importância do corpo em um sujeito dividido, a convergência da psicanálise da criança e do adulto, a nova postura do praticante e a relevância de sua formação são colocadas em destaque. O papel essencial dos primeiros ambientes de humanização, a educação e a transmissão, também foram colocados em primeiro plano em sua reflexão.

Palavras-chave: traumatismo; a criança no adulto; ambientes; cuidado e psicanálise


RESUMEN

Este texto desarrolla algunas de las principales contribuciones de Sándor Ferenczi, presentes en la última parte de sus obras. Discípulo de S. Freud, tomará distancia de él y desarrollará una reflexión innovadora sobre el trauma. A partir de esta clínica, Ferenczi describe la dimensión terapéutica esencial del psicoanálisis, frente a la intelectualización dominante de los profesionales. Define una nueva relación del niño con el adulto, diferente del freudiano infantil. De esto se derivan varias consecuencias: la importancia del cuerpo en un sujeto escindido, la convergencia del psicoanálisis de niños y adultos, la nueva postura del profesional y la importancia de su entrenamiento que se destacan. El papel esencial de los primeros entornos de humanización, de la educación y la transmisión, se destacan en su reflexión.

Palabras clave: traumatismos; el niño en el adulto; entorno social; atención psicoanalítica. 


ABSTRACT

This text develops some of Sándor Ferenczi's major contributions of, present in the last part of his works. Once Freud's disciple, he takes his independence and develops an innovative reflection on trauma. From this clinic, he describes the essential therapeutic dimension of psychoanalysis, against the dominant intellectualization of practitioners. He gives a new definition of the child's relationship with adults, different from the Freudian infantile. As consequences of this, the importance of the body in a split subject, the convergence of child and adult psychoanalysis, the practitioner's new posture and the importance of his training are highlighted. The essential humanizing role of the first environments, of education and transmission also come to the fore in his reflection.

Keywords: trauma; the child within the adult; environments; care and psychoanalysis.


 

 

Tardiamente, demorou quase 50 anos após a sua morte, a contribuição de Sándor Ferenczi se tornou acessível e reconhecida pela sua criatividade clínica e teórica. Michel Balint, Judith Dupont, Wladimir Granoff, Jacques Lacan e outros autores, participaram dessa renovação na França. Os seminários regulares, desenvolvidos nas diversas escolas de psicanálise, mantiveram essa proposta, assim como a criação dos dossiês de revista de pesquisa, como este apresentado pela Estilos da Clínica, no qual são publicadas suas ideais, além dos colóquios onde lhe são consagrados. Esses eventos, por sua vez, demonstram a sua modernidade, pois propõe conexões entre o passado, o presente e o futuro da orientação psicanalítica. S. Ferenczi foi o primeiro aluno, considerado o discípulo muito próximo de Freud, que se tornou seu amigo, se colocando assim como um interlocutor privilegiado da psicanálise, mesmo tendo em vista o seu desacordo impetuoso e sua incompreensão ao final. Ao contrário de Carl Gustav Jung e Alfred Adler, ele permanecerá no movimento psicanalítico, no qual ele assume uma posição específica. Os trabalhos recentes reconstroem a cura que Ferenczi exigia de Freud e os seus efeitos possíveis para ele, levando em consideração o contexto de sua época (Lugrin, 2017). De modo similar, a originalidade de sua metapsicologia é também precisa (Avello, 2006). Ele afirma a sua diferença como um praticante inovador, um pesquisador clínico freudiano, em continuação ao próprio mestre, mas também em oposição a algumas de suas ideias, ou contra a algumas convenções mantidas por parte da maioria dos psicanalistas de sua época. Sobre esses aspectos, ele escreve um livro "Thalassa" e diversos artigos. 

Em seu Jornal Clínico, o qual decorre da cobertura dos anos de 1932 e 1933, publicado por M. Balint, e acessível depois de muitos impasses (Dupont, 2015), Ferenczi propõe suas críticas brilhantes sobre o modo de transmissão teórica e prática de Freud, em torno de seus discípulos, além dos próprios limites da teoria freudiana. Mais ainda, mostra a divergência estabelecida entre autores sobre a questão do lugar da terapêutica, do cuidado psíquico diante à intelectualização mantida no âmbito psicanalítico, e do qual a transmissão freudiana seria, em parte, responsável.

Nesse texto, especificamente, eu insistirei sobre os últimos escritos desse autor: eles descrevem uma nova concepção da relação traumática entre a criança e os adultos, segundo a formulação de Ferenczi. Propõem também uma crítica severa ao uso do saber psicanalítico pelos praticantes. Esses textos demonstram o sentido das inovações desse analista que transmite uma questão bem mais ampla do que somente estritamente a técnica: eles evocam a acolher o corpo e um sujeito clivado na cura, o reconhecimento da "criança no adulto", tanto com o paciente como no analista, e enfim, o interesse renovado de Ferenczi pela educação e a formação. 

 

Uma relação traumática

O celebre texto Confusão de língua entre os adultos e a criança – a linguagem da afeição e da paixão (1933/1982e), direciona à uma conferência na qual Ferenczi se opõe à opinião de Freud, no 12º Congresso Internacional de Psicanálise de Wiesbaden, em 1932. Ele foi precedido de vários escritos que desenvolvem a questão da presença da criança no adulto, em paralelo com as pesquisas técnicas de Ferenczi, a saber: A adaptação da família à criança (1928/1982a), A criança mal acolhida e a pulsão de morte (1929/1982b) e Análise das crianças com os adultos (1931/1982d). Esses textos descrevem a preocupação com o desejo terapêutico de Ferenczi, e propõem elementos radicalmente novos concernentes ao saber psicanalítico, a presença do corpo, ademais uma nova definição do infantil ou da clivagem (Pechberty, 2017).

Em seu texto Confusão da língua entre os adultos e a criança (1933/1982e), agrupam as descobertas de S.Ferenczi sobre o traumatismo –, este é considerado um momento, mais do que um evento –, vivido na infância. Ele desenvolve de um modo novo e lógico, uma crítica frente à atitude dominante dos analistas: o modo de suas conduções em direção a cura impede de reconhecer esse tempo do traumatismo, para que ele possa ser elaborado e transformado. Ele coloca em causa, a partir de sua clínica, uma atitude técnica e alguma relação ao saber psicanalítico que estava consolidado, o qual qualificava como "hipocrisia profissional" dos praticantes. Esta noção em relação ao saber que eu utilizo, compõe a literatura psicanalítica e também foi desenvolvida em um quadro de pesquisas clinicas em Ciências da Educação, na França (Beillerot, 2000). A crítica sobre a institucionalização de um setting e de uma atitude imutável do psicanalista –, que S. Ferenczi contradiz a partir de todas as suas pesquisas técnicas – está assim enodada ao uso de um saber fechado. Ele critica esta ritualização da cura, a qual conduz à uma repetição sem fim do traumatismo, tornando-se assim antiterapêutico; ademais, concebe que a interpretação se torna uma explicação, pois ela é intelectual, ou seja, na qual algumas são confirmadas, quando enunciadas. É importante destacar que, modificar radicalmente sua atitude profissional, e se dar conta, deve ser para o analista um modo de ser responsável pela cura, diante de uma clínica singular do traumatismo que fragmentou os pacientes. S. Ferenczi se torna então o primeiro psicanalista, ocupando assim um lugar eminente no movimento freudiano, que traz uma crítica implacável, oriunda de sua clínica, em oposição à transmissão dominante na psicanálise de seu tempo. Ademais, suas concepções sobre a análise didática que deve ser terapêutica, de modo algum deve ser separada da análise do analista, será uma consequência.   

Essas descobertas são revolucionárias: S. Ferenczi propõe uma nova definição do infantil psíquico por ele desenvolvida, mas sobretudo transforma as perspectivas de Freud. Desse modo, S. Ferenczi descreve não somente o equilíbrio individual precário de sobrevivência, o qual se instala depois do traumatismo, mas ele coloca este em uma relação efetiva, em outros termos: uma criança – moral ou psiquicamente traumatizada por um ou os adultos (esse é o título empregado no plural, os adultos) – imaturos ou perversos. Estes, por sua vez, passam ao ato, produzindo assim uma confusão sobre o corpo e a mente de uma criança. A criança com o seu gosto de viver, tomada pelo seu próprio erotismo espontâneo e sua ternura, se defronta com as paixões dos adultos e sua sexualidade: essas seduções são incestuosas e elas trazem em si a confusão das línguas. Neste caso, há em seguida uma negação evidente confirmada pelos adultos, uma espécie de transmissão de sua violência psíquica e sexual e também de sua culpabilidade que se fixa na criança. Nesse sentido S. Ferenczi (1931/1982d) mostra que "[...] este medo, quando ele atinge o seu ponto culminante, as obriga (as crianças) a se submeterem automaticamente à vontade do agressor, a tornar-se reduzida aos seus desejos, a obedecer, esquecendo-se de si mesma completamente e se identificando totalmente ao agressor" (p.130). Reconhecemos pela primeira vez, antes da explicação desse mecanismo feito por Anna Freud (1936/2001), que a identificação ao agressor, a qual dar significado a algumas catástrofes no laço social e político hoje –, que ela exerce um efeito na síndrome de Stockholm, ou nos engajamentos feitos pelos adolescentes em suas convicções religiosas e mortíferas contra o outro e sua cultura.

A identificação ao agressor se apoia sobre a introjeção, termo criado por S. Ferenczi, e incitando a clivagem: esses mecanismos não são mais exatamente aqueles descritos por Freud, mesmo em que se considere a correspondência entre os mesmos. A clivagem se torna uma "autoclivagem narcísica", como se fosse duas partes de si mesmo: "...uma parte sensível, brutalmente destruída, e uma outra que sabe tudo, mas não sente nada", explica Ferenczi em "Análise das crianças com os adultos" (1931/1982d, p. 106). Ferenczi não cessa de trabalhar, de atenuar essas clivagens, suscitando isso que nós chamamos aqui das passarelas para introduzir as passagens, as novas relações contra as separações psíquicas que se aceitam como definitivas.

 

Da extensão dos pais ao adulto, figura do Outro

A novidade deste texto se apresenta em poder descrever uma relação com os outros, ou seja, os adultos, e não somente com os pais, a qual implicaria em uma fantasia edipiana reconstruída. S. Ferenczi reposiciona o Édipo freudiano a partir de um "encontro nefasto", traumático (Lacan, 1954/1978) o qual mobiliza a realidade de duas línguas, de dois lugares, de dois momentos diferentes entre os adultos e a criança. A indignação de Freud sobre a comunicação de Ferenczi, do qual este texto emite, mostra um mal-entendido imbatível: Freud, sobre este aspecto, compreendia que havia um retorno de seu aluno a sua própria teoria sobre o trauma; no entanto, nesse texto, como demonstrado pelo seu sucesso, ao longo do tempo, trata-se de um ensaio elaborado e substancializado ao longo de sua experiência, o qual pôde levar em consideração uma clínica que permite pensar os efeitos psicotisantes da clivagem, do corpo com o psiquismo, ou dos fragmentos do ego que são atualizados diretamente na cura. As atitudes, a saber, o acolhimento do analista torna-se central; este é convocado como uma testemunha, de uma maneira nova, frente ao momento traumático de colapso, em que o paciente busca o reconhecimento do praticante que ele encontra.

A criança traumatizada pelo adulto designa outra coisa que não equivale ao infantil freudiano. O traumatismo se torna aqui inteiramente relacional, além disso, como estando ainda vivo, sinalizando quase que diretamente o passado. A criança desumanizada se engaja então de apresentar respostas defensivas passivas, mas também ativas de sobrevivência. A partir de seu próprio ego tempestivo e fragmentado, da negação das aprovações do adulto e de si mesma, ela vai fazer esforços para reparar a culpabilidade que circula entre o adulto abusador e ela: seu futuro como um sujeito humano adulto foi impedido, fraturado, diante a um ou os adultos, prisioneiros de seu próprio gozo infantil, e que criaram uma confusão em relação à língua e a paixão.

A fragmentação do ego com os núcleos psicóticos são tentativas de sobrevivência, a descrição das partes em equilíbrio do sujeito, em luta contra as partes mortas, conduz aos avanços clínicos sobre as psicoses que seguem esse tempo traumático de um real destrutivo: reparar seu agressor nesta relação, fazer silêncio ou querer ser tornar seu terapeuta, seu psiquiatra, são algumas das pistas propostas por S. Ferenczi. Ele descreverá os múltiplos lugares dos efeitos defensivos e as tentativas de desengajamento diante ao ataque traumático, psíquico ou moral –, estabelecido como uma relação entre a criança e o adulto. Ele abre a problemática de uma nova ligação com o outro, impossível de ser compreendida por Sigmund Freud, naquela época. Nesse sentido, Ferenczi participa assim de uma extensão da indicação da psicanálise às outras formas subjetivas, além das neuroses, em direção àquelas situações traumáticas, as estratégias psicóticas ou estados limites, levando em consideração os termos das clínicas atuais.

Esse novo infantil, ao contrário da perspectiva dos adultos com uma criança, propõe uma separação que transforma a definição da criança do Édipo freudiano lutando com as imagos parentais e a castração. Esta ideia de uma criança confrontada com os adultos incestuosos ou que manipula a influência moral e psíquica, na família ou fora dela – seja pela sedução – se abre sobre uma relação familiar, mas também social, na qual está engajado o analista. Esta atualização no adulto, e da relação traumática anunciada, permitiu assim que várias abordagens clínicas se desenvolvessem, a saber: o reconhecimento, pela escola inglesa, das partes psicóticas da personalidade ordinária (Melanie Klein, analisada por Sándor Ferenczi, iniciante da prática com crianças), ou ainda uma ampliação do lugar do Outro sobre as imagos múltiplas do pai, segundo a orientação lacaniana. Esse texto, além disso, é portador de aberturas e institui as passarelas sobre as perspectivas futuras das abordagens clínicas.

Pode-se afirmar na atualidade que esta transformação do Édipo freudiano conduz à reabilitação dos ambientes humanizados ou destrutivos, em sua realidade psíquica e material, concepções que já foram desenvolvidas por Michel Balint e, em seguida, por Donald Winnicott. Esses ambientes são portadores de momentos traumáticos, não redutíveis a um acontecimento, o qual S. Ferenczi se confronta ativamente. Vinculada a essa concepção, a sua presença, as variações do setting, as manifestações corporais e subjetivas do analista, e a demonstração de acolhimento, nas diferentes formas de sofrimento psíquico, implicam sobre a cura. As descrições técnicas de Ferenczi indicam o deslocamento que ele coloca em curso, como opera, a evolução de sua atitude e de seu lugar que responde à questão do terapeuta, ou seja, do cuidado em análise.

 

Cuidado, saber e técnica 

A partir dessa clínica do traumatismo, Ferenczi estabelece a questão decisiva a respeito da natureza e os usos do saber que os analistas defendem em suas técnicas. De fato, S. Ferenczi é o primeiro freudiano – com seu lugar eminente depois do mestre –, a conduzir uma crítica radical em relação à atitude e da técnica dos analistas, em seu tempo, permitindo assim um enlaçamento em sua relação ao saber proveniente da psicanálise. Diante de um saber hermético, intelectualizado, perfeito, o analista aprisiona o paciente na teoria e em uma técnica imutável: a situação analítica, ela mesma se tornar então traumática. Ela mobiliza uma transferência repetitiva e sobretudo que não pode se elaborar. Essa situação reproduz as primeiras violências traumáticas da infância na cura, ela mesma se torna anti-terapêutica. Enfatizemos a passagem em que Ferenczi nos apresenta uma clínica marcante no que se refere ao mecanismo de defesa pela intelectualização que seria desenvolvido: as emoções são suspendidas, elas foram impedidas pelo trauma, mas também por um analista que não deixa de interpretar, reafirmando seu conforto, ainda por cima defensivo. Por outro lado, as emoções transmitidas pela palavra são centrais, caso elas indiquem a atualização do traumatismo, na sessão, para que ela se transforme. 

O analista, à época, conforme a crítica de S. Ferenczi, não tem mais um lugar onde se projetaria um saber suposto na transferência em jogo, mas ele sabe, ele se recusa a procurar, de duvidar e então o inventa. Essa criação, em particular, é uma invenção que se torna impossível, aquela que irá em direção a um reconhecimento, em dividir o enigma do traumatismo para elaborar com seu paciente. Ferenczi formula assim as questões que demonstram seu interesse frequente pelo cuidado, sua preocupação terapêutica que é uma parte essencial da pesquisa analítica. Esses textos trazem em seu cerne, de uma forma singular, seu desejo terapêutico na análise, mostrando assim os índices de sua contratransferência, do desejo do analista, como ferramenta clínica, em contraposição a Freud.   

Esta reflexão crítica está presente desde o início. Em Perspectivas da psicanálise, escrito por Ferenczi e Rank (1924/1994), em relação com a "técnica ativa", a decisão em abranger a cura estava já posta, para evitar sua intelectualização, recebendo assim o encorajamento de Sigmund Freud. Nessa direção, Sándor Ferenczi descreverá em seguida, sozinho, as diversas pesquisas clínicas e técnicas que ele havia tentado e alcançado como resultado de seus esforços, tais como: a técnica ativa, o relaxamento, ampliação da cura, o tato, análise da criança no adulto, o lugar do jogo na análise de adultos até a análise mutua que foi, na verdade, muito limitada e utilizada sobretudo ao nível da didática. Essas tentativas não são somente técnicas, contrariamente à ideia concebida: elas colocam em discussão o desejo de curar de Ferenczi, de se confrontar com o sintoma, como uma questão que concerne ao trabalho do analista. Ao mesmo tempo, ele reflete e critica seus próprios ensaios, para que o método psicanalítico se adeque ao paciente em sua singularidade.

Ferenczi se inscreve integralmente em uma perspectiva psicanalítica freudiana, mas ele acentua a exigência terapêutica que será sempre a sua. Ele escreve no Jornal Clinico sobre a evolução do pensamento de Freud: "A psicanálise como terapia seria sem valor. Esta ideia central eu me recusei de segui-la. Eu comecei contra esse determinismo, por ocasião de tratar publicamente de questões concernentes à técnica". (Ferenczi, 1932/2014, p.336). Clinicamente, a estagnação das análises questiona a presença de sintomas impressionantes – transtornos narcísicos graves ou psicóticos que requerem a criação de técnicas. O surgimento de manifestações corporais dissociados da palavra, da elaborações delirantes ou de elementos passionais nas curas, faz-lhe reconhecer uma realidade psíquica diferente daquelas em relação às fantasias descritas por Freud. Assim, Ferenczi examina, modifica, mas se mantém vigilante a guardar o fio condutor da relação terapêutica. Para ele, cuidar, além de tentar se adaptar ao paciente, implica em compreender como estando ao lado, em outras palavras, de mãos dadas. Entendida dessa forma, Ferenczi (1931/1982d, p. 100) conclui: "Eu pensei que de tanto o paciente assiduamente retornar, o fio de esperança não se rompeu". Nessa direção, o autor aceita e suscita a regressão, desenvolve assim – ou transgride? –, o método analítico original pelas pesquisas técnicas.  

Sándor Ferenczi descreve as idas e vindas às quais ele se engaja em seus textos; aqueles que mostram seu desejo de cuidar e de compreender. Ele indica também que isso que falha na cura reenvia à resistência do paciente, mas também à resistência do analista, o qual deve ajustar sua intervenção. Nesse aspecto, Ferenczi antecede esse debate, posteriormente discutido por Jaques Lacan (1954/1978). Considerando esse contexto, Ferenczi nos dirá:

Eu devia então não deixar de colocar a questão para mim mesmo: é que a causa da falha está sempre na resistência do paciente, não é mais nosso próprio conforto que desdenha de se adaptar às particularidades da pessoa em si em termos do método" (Ferenczi, 1931/1982d, p. 100). 

 

As passarelas

Através das passarelas que Sándor Ferenczi constrói, ele se tornou então um autor que nos interessa na atualidade. Em seu texto "A confusão da língua" (1933/1982e), enoda a vida intrapsíquica à relação com o outro. Ele insiste sobre em acolher o corpo da criança no adulto, em sessão, para solucionar os efeitos da clivagem, e, além do mais aponta a atitude analítica requerida diante deste sofrimento, a qual deve reconhecer e não somente interpretar. Ele acentua as convergências, e mesmo a unidade de postura do psicanalista com uma criança ou com um adulto. Por outro lado, a reflexão proposta por S. Ferenczi continua enfim sobre a educação e a formação dos praticantes.

a) O corpo

O corpo assume quase a totalidade no setting: é o único do analisante, como único do analista.  Ele faz descrições de um corpo falante, em sofrimento tornando-se o centro das narrativas clínicas feitas por S. Ferenczi. Este reconhecimento de um corpo frequentemente não conectado a mente do paciente – duas dimensões clivadas pelo traumatismo – concernente aos sofrimentos somáticos, as asfixias, as paralisias nas quais o sujeito deve se reconstruir. Em conformidade com tudo isso, Ferenczi ilustra suas respostas sucessivas; em sua primeira técnica ativa, ele integra o corpo, o gesto do paciente como elemento a interpretar, inclusive de modo autoritário. Depois, em contraste, ele evolui em direção ao relaxamento para permitir que se estabeleça uma relação fundada sobre a confiança. Enfim, "a análise das crianças com os adultos" mostra seu lugar eminente em jogo na cura dos adultos, índice de uma nova presença corporal que se comunica entre o paciente e o analista. De certo, todas essas reflexões se agrupam ao reconhecimento da "criança no adulto", noção central que esclarece a natureza da prática de S. Ferenczi. Esses ensaios técnicos e relacionais mostram o acolhimento positivo das relações de objeto primitivas, que precedem ao Édipo freudiano; estes são marcados por certo acolhimento de regressão, no qual o paciente experimenta, pela primeira vez, uma "boa" experiência a partir da resposta do analista.  

Uma escuta orientada pela dimensão traumática necessita de fato de outra sensibilidade e de novas atitudes da parte do praticante. Sobre esse ponto, S. Ferenczi marca a sua diferença em relação a Freud, sobre o estatuto do agir corporal no setting: ele não é uma passagem ao ato ou um acting, mas ele é incentivado, sem ser consentido imediatamente, sobre a ideia de uma recordação, que deveria ser feito nesse propósito. Nesse sentido, Ferenczi atribui ao agir uma nova legitimidade, proporcionando assim uma ocasião de diálogo possível entre analisante e analista. O corpo é então acolhido e assume outro lugar. A problemática da criança no adulto torna-se o fio condutor e, por sua vez, tem em consequência a reconciliação da análise da criança com a dos adultos. 

b) A criança no adulto

Em seus últimos escritos, S. Ferenczi elaborando o texto sobre "A confusão da língua. A adaptação da família à criança" (1982/1933e), abre-se a uma constatação sobre uma dívida a pagar às crianças. Em outras palavras, o trauma "o mais importante de todos" é designado como: a passagem da criança à vida adulta, depois do desmame e dos maus hábitos sexuais, ou seja, o autoerotismo. Além disso, a negação do prazer corporal espontâneo, que se transmite à criança, mostra o simulacro dos adultos na educação. Em diferentes passagens, nós encontramos a orientação original de S. Ferenczi: Coloque-se em um lugar de uma criança singular que entra em contato com a hipocrisia e a clivagem dos adultos, estes que vão transmitir o traumatismo. Em "O infantil mal acolhido e sua pulsão de morte" (1982/1929b), ele retoma – isso que é raro em seus trabalhos – a pulsão de morte freudiana, e esclarece: a autodestruição presente na criança pequena demonstra-se através das manifestações corporais (epilepsia, asma). A força de resistência à experiência da vida para essa criança, em seu primeiro ano, não pode vir senão através da ajuda de alguém que habitualmente se coloque em torno dela e de seu tato – conceito especificamente ferencziano –, então de sua educação esclarecida. Nesse sentido, no tratamento analítico, seria o caso de laisser faire, como uma criança, esse paciente que se tornou adulto, porém que faltou essa proteção.

Seguindo o raciocínio anterior, nós compreendemos porque S. Ferenczi (1931/1982d) desenvolverá um pouco mais tarde A análise das crianças com adultos, que pode ser resumido assim: o analisante deve ser capaz de aproveitar dessa relação presente com o seu analista, na cura, este que se torna uma testemunha, acolhedor, no entanto rigoroso, mas tecnicamente flexível. Assim, ele se beneficia da condição da cura (setting e atitude do praticante) e pode ocupar um lugar na sessão como uma criança que ele não pode ser. Além do que, S. Ferenczi acreditava que alguns pacientes teriam a necessidade de ser adotados. Nessa direção, ele multiplica assim as indicações a partir dos efeitos que esse trabalho suscita. O paciente não somente revive, mas pode viver sua primeira vez, outra experiência da infância, do que aquela em relação ao traumatismo. Em síntese, em seu texto A criança mal acolhida e sua pulsão de morte, Ferenczi (1929/1982b) concorda que "para se deixar-fazer, nós permitimos que fale, a esses pacientes que podem se beneficiar, pela primeira vez, da irresponsabilidade da infância, isso equivale a introduzir as pulsões de vida positivas e as razões para a continuação da existência". (Ferenczi, 1929/1982b, p.80). Importa dizer que é na cura, em uma experiência atual onde a recordação não é suficiente, que o paciente pode então se confrontar, ele mesmo, com questões de vida e de morte ligadas ao traumatismo. Em seu texto Princípio de relaxamento e neocatarse, Ferenczi (1930/1982 c) relata a evolução da técnica. A transformação e o desvio da relação analítica, em situação de ensino e de sugestão, que são descritas como um sintoma que interroga diretamente a formação dos praticantes. Nesse contexto, ele evoca o fragmento do Jornal Clinico de 3 de junho de 1932/2014 no qual Ferenczi desenvolve sua posição, segundo a qual não há análise didática especial para os futuros psicanalistas, mas que a análise do futuro praticante deve ser também terapêutica.   

Esse enquadre clínico que busca trabalhar a criança no adulto, está presente em diversos textos dos anos 1930. Esses estudos mostram como a reconciliação se opera entre as duas práticas clínicas, próxima da criança e do adulto. Esta é uma mesma postura analítica que está então estabelecida graças a essa concepção.  A "análise de crianças com os adultos" desenvolve amplamente esta reconciliação clínica e os seus efeitos: Ferenczi indica como ele joga – em um jogo sério – com um paciente adulto, pela forma como acolhe a sua regressão: assim ele sussurra como um avô, figura que está projetada sobre ele, pelo paciente. Ele descreve em seguida seu manejo de "jogo de questões das respostas", o qual mostra seus efeitos de criação de significado, mas sob a condição de se endereçar à criança presente no paciente. Caso contrário, o diálogo entre a criança no paciente adulto, e o analista, acaba sendo interrompido.

  Nós observamos como Ferenczi constrói sua resposta clínica em torno do traumatismo, que assenhora-se da criança no adulto, em que ele se tornou. As reflexões sobre a "sinceridade", esperada pelo terapeuta, vão nessa mesma direção; o principal adversário é a intelectualização, posição que priva de emoções ao estabelecer uma relação com o outro, no processo analítico. O trabalho com a criança no adulto permite tornar-se menos rígido e transformar a atitude analítica: acolher um corpo clivado da mente assume um novo valor, a partir do reconhecimento desta criança marcada pelo traumatismo. S. Ferenczi faz convergir a sua atitude semelhante àquela de Anna Freud, em seu trabalho com crianças. Ele teoriza também o acolhimento da criança por sua família, pelos outros adultos. Nós encontramos um novo movimento, a saber: o traumatismo, nesses textos, questiona o laço educativo no qual os adultos puderam se apoiar em relação à criança.     

S. Ferenczi tem assim atualizado às vezes sua direção da cura como um "jogo de criança", em referência Donald Winnicott. Esta sensibilidade ao jogo sério da criança – como o são todos os jogos infantis –, lhe permite recriar um novo laço com o outro. Esse vínculo lhe permite sair da repetição do primeiro encontro, traumático, com o sexual e o amor adulto que assumiram formas desviantes.

c) A aproximação da criança, dos adultos e do psicanalista

O traumatismo introduz uma experiência aos efeitos psicotizantes, descritos por S. Ferenczi como grande novidade, embora anunciado desde Freud, mas de todo modo é uma nova concepção. Ele antecipa alguns efeitos dos desenvolvimentos atuais sobre as patologias do laço ou as personalidades narcísicas. Eu encontrei esses textos por ocasião de um primeiro trabalho como psicoterapeuta de crianças institucionalizadas, no Centro Médico-Psicopedagógico. Sua leitura ajudou-me de modo precioso no meu futuro profissional (Pechberty, 2000).

Hoje, penso que essas discussões permitem articular dois lugares: primeiro, aquele que diz respeito a minha experiência de analisante na cura; segundo, o que corresponde ao trabalho do psicoterapeuta em instituição, assegurando a continuidade de um trabalho com as crianças e as famílias. O infantil, a criança e o adulto foram então convocados nesta leitura em diferentes níveis. A prática clínica com crianças interpela o terapeuta. Em ressonância com a criança recebida na consulta, ele pode agir, jogar, encarnar a sua resposta frente aos modos como as transferências, imprevisíveis, serão estabelecidas com o seu jovem paciente e pela maneira como este se coloca no enquadre das sessões, seja através do jogo, como pelo próprio corpo. As crianças não perguntam no início do encontro com um adulto psicanalista e praticante, desde a primeira sessão, o que se solicita diretamente é que o terapeuta esteja ativo com a sua presença física, e que a sua resposta deve ser ativa, significativa para a criança. Este encontro inclui uma dimensão lúdica na qual o praticante deve se apoiar. Ele pode, por exemplo, construir muito gradualmente uma relação com o outro, faltando, como se fosse uma criança muito inibida.  

Esta reflexão fez-me evocar uma lembrança da minha própria prática clínica com crianças:

Paulo tem sete anos, apresentava uma conduta repetitiva, na qual ele chamava alguém com um telefone de brinquedo, na sala do consultório: "Alô, alô?". Eu decidi em lhe responder a partir de outro telefone. Assim era a minha mensagem: "Alô, o que você gostaria?", perguntei a Paul, mas não tive nenhuma resposta de sua parte. Esse jogo deixou de se reproduzir, mostrando assim na transferência as dificuldades de comunicação da criança com o adulto – eis aqui o terapeuta.  

Além deste testemunho, nós observamos que Ferenczi aproximou a análise da criança em desenvolvimento a dos adultos. Ele demonstrou porque ela não tinha diferença na natureza entre as duas práticas clínicas. A postura analítica com a criança e o adulto é uma mesma experiência a construir, que se adapta e se modifica com públicos diferentes. Os avanços que ele descreve, além disso, a sua liberdade de intervir diante dos sintomas que se repetem sem cessar juntam-se ao fato de que o analista de criança e de adulto deve também inventar para reabrir o presente como o futuro. A importância dos ambientes se torna mais clara tanto na família como no tratamento. S. Ferenczi pode então, analogamente, comparar a sua atitude de terapeuta como aquele de uma "mãe terna, que não vai se deitar à noite sem antes ter discutido a fundo com o seu filho, e resolver, em um sentido de apaziguar, todos as pequenas e grandes preocupações, medos intenções hostis, e problemas de consciência naõ resolvidos" (Ferenczi, 1931/1982d, p. 107). Nessa direção, cuidar da criança no adulto retoma também a um outro lugar na cura, à educação, que representava um dos profundos interesses para de S. Ferenczi.

 

Educação e formação

Em seu texto "Princípio do relaxamento e neocatarses", Ferenczi (1930/1982c) afirma o seguinte: "Minha posição pessoal no movimento psicanalítico fez de mim alguém que ocupa um lugar intermediário entre o aluno e o professor" (p.83). Esta posição, ao meu ver, particular, sublinha e esclarece o seu interesse persistente pela educação e a formação? S. Ferenczi escreveu o primeiro texto explicitamente consagrados aos laços entre psicanálise e educação em "Psicanálise e pedagogia" (1908/1968). Sobre esse debate, Lajonquière (2019) mostra um movimento que desperta o interesse dos analistas de criança ou adolescentes, em diferentes países: os psicanalistas interrogam o laço educativo, a partir dos sintomas produzidos pela educação familiar ou escolar. No entanto, isso que é surpreendente dessa questão anterior, foi também discutido por S. Ferenczi, essencialmente com os seus pacientes adultos. Sua abordagem do traumatismo transformou o seu pensamento clínico sobre a criança no adulto, reaproximando assim as duas abordagens terapêuticas. A partir desta nova démarche, ele coloca em questão a educação transmitida pelos adultos, os pais ou sociedade, como atesta em "A adaptação da família à criança", texto no qual se endereça explicitamente aos educadores.

Seguindo o raciocínio anterior, pergunta-se: como a família, ou seja, uma parte dos adultos, eles deverão se adaptar à criança, às suas necessidades e aos seus desejos, para evitar o trauma e os seus efeitos? Esta ideia fora transmitida por S. Ferenczi, a partir das descrições clínicas sobre isso que, a criança traumatizada, não poderia receber. Como lutar contra a negação das emoções na educação, o repudio ou excesso de sedução exercida sobre a criança pelo adulto? Os textos de Ferenczi são densos acerca desta problemática. Por exemplo, em "A criança mal acolhida e sua pulsão de morte", insiste sobre os ambientes, sobre isso que faltou no acolhimento da criança por sua família. Em outros escritos, encontramos a discussão sobre o novo papel que a cura deve assumir. Em "Análise de crianças com adultos" (1931/1982d), por sua vez, evoca os momentos da hipnose no tratamento e a influência extrema que o analista pode exercer sobre o seu paciente. Esse texto associa esta constatação clínica e propõe observações explicitamente pedagógicas sobre a educação das crianças, sobre os adultos que implantam uma outra forma de "hipnose pedagógica", isso quer dizer que se trata de sua autoridade, mas de uma maneira violenta. A psicanálise, nesse sentido, pode defender outra forma de transmissão possível dos laços entre adultos em volta da criança (Ferenczi, 1931/1982d, p. 105).

Em diversas passagens, S. Ferenczi estabelece relações que lhe permitem esta formulação da criança no adulto. Esse texto, assim como outros, presentes, por exemplo, no Jornal Clinico, associa a criança, o aluno e o adulto, como um sintagma. Inclusive, exprime seu ponto de vista assim: "Se eu pude comunicar-lhes o sentimento que nós temos, de fato, há muito a aprender sobre os nossos sintomas, dos nossos alunos e bem evidentemente também de nossas crianças, eu estarei satisfeito" (Ferenczi, 1932/2014, p.106). Por mais que Ferenczi tivesse escrito somente um texto consagrado inteiramente a esta questão, a sua reflexão sobre uma educação e uma formação humanista, atenta à subjetividade, ganhou dimensões bem mais ampla e global. Prova disso, posteriormente, René Kaës em Fantasma e formação descreverá as invariantes antropológicas da formação humana que podem ser interrogadas por uma clínica orientada pela psicanálise (Kaës, 1987). Em uma perspectiva similar, a família, a escola, a formação dos analistas é também colocada em ressonância por Ferenczi. A questão da transmissão em sua obra, incluindo o oficio do psicanalista, está em causa. 

Ferenczi desenvolve um programa de formação profissional necessária para os analistas praticantes. Sobre esse último ponto, ele constata que os pacientes são melhores analisados em comparação aos seus próprios analistas. A hipocrisia profissional dominante, que ele denuncia com os praticantes, implica na necessidade de alterar a formação do psicanalista. A análise deve ser simultaneamente terapêutica e didática. "O melhor analista, é um paciente curado. Todo aluno deve: primeiro ficar doente, depois se curar e se manter advertido", declara Ferenczi (1932/2014, p.223) em o Jornal Clinico. Essa concepção se opõe à formação instituída por Karl Abraham, na Policlínica de Berlim, na qual se exigia uma análise didática especial nos institutos de formação, questão que atualmente ainda vem sendo debatida. Em vista disso, nós estamos no centro de um questionamento mais amplo, em que se coloca em questão sobre o cuidado com a formação (Pechberty, 2009).

 

Conclusão

S. Ferenczi não cessou de criar passarelas ao interior do campo analítico e de uma maneira mais ampla na cultura. Ele interroga os saberes e seu uso na cura, ele coloca em primeiro plano clinicamente o laço entre a criança com o adulto, e não apenas com os pais. Ao refletir sobre o traumatismo, articula a necessidade de os analistas inventarem novas atitudes. Ademais, questiona de modo inovador a formação dos psicanalistas, a qual deve ser terapêutica e pode ser compreendida como seguida por um interesse educativo e formativo. De modo amplo, ele encoraja a liberdade do analista de inventar, ao passo que, questiona o enquadre da cura como os primeiros ambientes da criança. Ele se confronta, enfim, com as novas psicopatologias do laço social e psíquico. Em vista de todas essas questões, ele defende uma posição eminentemente moderna e atual, sobre a transmissão cultural e psíquica.

 

Referências

Avello, J.J. (2013). L'île des rêves de Sandor Ferenczi. Paris: Campagne Première.         [ Links ]

Beillerot, J. (2000). Le rapport au savoir. In N. Mosconi, J. Beillerot & C. Blanchard-Laville (Orgs.), Formes et formations du rapport au savoir (p. 39-57). Paris: L'Harmattan.         [ Links ]

Dupont, J. (2015). Au fil du temps...un itinéraire psychanalytique. Paris: Campagne Première.         [ Links ]

Ferenczi, S & Rank, O. (1994). Perspectives de la psychanalyse. Paris: Payot. (Trabalho original publicado em 1924).         [ Links ]

Ferenczi, S. (1968). Psychanalyse et pédagogie. In S. Ferenczi, Œuvres complètes, Psychanalyse 1. (J. Dupont, trad., pp. 51-56).  Paris: Payot. (Trabalho original publicado em 1908).

Ferenczi, S. (1982a). L'adaptation de la famille à l'enfant. In S. Ferenczi, Œuvres complètes, Psychanalyse 4. (Equipe da Revista Coq-héron, trad., pp. 29-42). Paris: Payot. (Trabalho original publicado em 1928).

Ferenczi, S. (1982b). L'enfant mal accueilli et sa pulsion de mort. In S. Ferenczi, Œuvres complètes, Psychanalyse 4. (Equipe da Revista Coq-héron, trad., pp. 76-81). Paris: Payot. (Trabalho original publicado em 1929).

Ferenczi, S. (1982c). Principe de relaxation et néocatharsis. In S. Ferenczi, Œuvres complètes, Psychanalyse 4.(Equipe da Revista Coq-héron, trad., pp. 98-112). Paris: Payot. (Trabalho original publicado em 1930).

Ferenczi, S. (1982d). Analyse d'enfants avec des adultes. In S. Ferenczi, Œuvres complètes, Psychanalyse 4. (Equipe da Revista Coq-héron, trad., pp. 98-112). Paris: Payot. (Trabalho original publicado em 1931).

Ferenczi, S. (1982e). Confusion de langue entre les adultes et l'enfant. In S. Ferenczi, Œuvres complètes, Psychanalyse 4. (Equipe da Revista Coq-héron, trad., pp. 125-135). Paris: Payot. (Trabalho original publicado em 1933).

Ferenczi, S. (2014). Journal clinique. (Equipe da Revista Coq-héron, trad., p. 223). Paris: Petite Bibliothèque Payot. (Trabalho original publicado em 1932).         [ Links ]

Freud, A. (2001). Le moi et les mécanismes de défense (Traduction par A. Berman). Paris: PUF. (Trabalho original publicado em 1936).         [ Links ]

Kaës, R. (1987). Fantasme et formation. Paris: Dunod.         [ Links ]

Lacan, J. (1978). Le séminaire, livre II. Paris: Seuil. (Apresentação oral em 1954-55, publicação original em 1978)         [ Links ]

Lajonquière, L. (de).  (2019). Les études psychanalytiques en éducation et formation au Brésil. Pour une conversation entre cousins transatlantiques. Cliopsy, 21, 79-88. Recuperado de  www.revuecliopsy.fr/n-21-avril-2019/         [ Links ]

Lugrin, Y. (2017). Ferenczi sur le divan de Freud - une analyse finie ? Paris: Ed. Campagne Première.         [ Links ]

Pechberty, B. (2000). L'infantile et la clinique de l'enfant. Paris: Dunod         [ Links ]

Pechberty, B. (2009) Formation et soin psychique: des rencontres de hasard ou de structure ? Cliopsy, 1, pp. 41-49. Recuperado de www.revuecliopsy.fr/n1-avril-2009/         [ Links ]

Pechberty, B. (2017). Du contre-transfert en acte : Sandor Ferenczi et ses avancées. Cliopsy, 17, 9-23. Recuperado de  www.revuecliopsy.fr/n-17-avril-2017/        [ Links ]

 

 

Recebido em maio/2019 – Aceito em agosto/2019.

 

 

Tradução: Isael de Jesus Sena

Creative Commons License