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Estilos da Clinica

versão impressa ISSN 1415-7128versão On-line ISSN 1981-1624

Estilos clin. vol.25 no.1 São Paulo jan./abr. 2020

http://dx.doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v25i1p5-20 

10.11606/issn.1981-1624.v25i1p5-20

DOSSIÊ

 

O que resta da adolescência: despertar nas fronteiras e nos fronts

 

Lo que queda de la adolescencia: el despertar en las fronteras y en los frentes

 

What remains of adolescence: awakening at the borders and on the fronts

 

 

Miriam Debieux RosaI; Viviani Carmo-HuertaII

IPsicanalista, Professora Titular, Coordenadora do Laboratório Psicanálise, Sociedade e Política, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil. E-mail: debieux@terra.com.br
IIPsicanalista, Docente ATER, Université Paris Nanterre, Nanterre, França. E-mail: vivianisc@gmail.com

 

 


RESUMO

Os processos dos adolescentes diante dos dilemas humanos relativos à sexualidade, morte, pertença e transformação social contam a sua própria história, mas dizem também sobre o modo como cada sociedade concebe as modalidades de inscrição do sujeito no laço social, assim como da sua disponibilidade às transformações sociais. Neste artigo vamos demonstrar os impasses nos destinos da adolescência quando o outro social, em vez de interpelar, acompanhar e apostar no adolescente transforma suas fronteiras em opacidades intransponíveis, ao modo de um front de guerra, impondo impedimentos à sua pertença ao laço social. Vamos cotejar falas dos adolescentes da peça de teatro de Frank Wedekind, de 1891, O Despertar da Primavera, com falas de adolescentes das margens das grandes cidades brasileiras. Vamos demonstrar a articulação da sexualidade à cena social e política, assim como situar o estatuto do ato diante dos impasses do adolescente frente ao lugar que lhe é ofertado no discurso social. Pode-se escutar o que resta da adolescência: a construção de uma narrativa ficcional que permita construir e nortear a sua invenção de um lugar para existir.

Palavras-chave: adolescência; psicanálise; despertar; discurso; ato.


RESUMEN

Los procesos de los adolescentes frente a dilemas humanos relacionados con la sexualidad, la muerte, la pertenencia y la transformación social cuentan su propia historia, pero también cuentan la forma en que cada sociedad concibe las modalidades de inclusión del sujeto en el vínculo social, así como su disponibilidad para transformaciones sociales En este artículo, demostraremos los callejones sin salida en los destinos de la adolescencia cuando el otro social, en lugar de cuestionar, acompañar y apostar al adolescente transforma sus fronteras en opacidades insuperables, como un frente de guerra, imponiendo impedimentos para su pertenencia al vínculo social. Compararemos los discursos de los adolescentes en la obra de 1891 de Frank Wedekind, El Despertar de la Primavera, con los discursos de adolescentes de los márgenes de las grandes ciudades brasileñas. Vamos a demostrar la articulación de la sexualidad en la escena social y política, así como a situar el estatuto del acto en vista de los impases de los adolescentes en relación con el lugar que se les ofrece en el discurso social. Puedese escuchar lo que queda de la adolescencia: la construcción de una narrativa ficticia que te permite construir y guiar tu invención de un lugar para existir.

Palabras clave: adolescencia; psicoanálisis; despertamiento; discurso; acto.


ABSTRACT

The processes of adolescents vis-à-vis human dilemmas related to sexuality, death, belonging and social transformation tell their own story, but they also tell about the way in which each society conceives the modalities of the subject's inclusion in the social bond, as well as its availability to social transformations. In this article we will demonstrate the impasses in the fates of adolescence when the social other, instead of questioning, accompanying and betting on the adolescent turns its borders into insurmountable opacities, like a war front, imposing impediments to their belonging to the social bond. We will compare the adolescents' speeches in Frank Wedekind's 1891 play, The Awakening of Spring, with speeches by adolescents from the margins of large Brazilian cities. We are going to demonstrate the articulation between sexuality and the social and political scene, as well as to situate the statute of the act in view of the adolescents' impasses in relation to the place offered to them in the social discourse. One can hear what remains of adolescence: the construction of a fictional narrative that allows building and guiding their invention of a place to exist.

Keywords: adolescence; psichoanalysis; awakening; speech; act.


 

 

Neste artigo vamos abordar o despertar da adolescência, caracterizada como um trabalho psíquico que baliza as questões da existência acerca da sexualidade, da morte e do laço social. Trata-se de trabalho necessário para uma tomada de posição do sujeito quanto a três aspectos: a sustentação da sua singularidade e sua diferença; o modo de laço que estabelecerá com a alteridade, particularmente com o Outro sexo; e quanto ao lugar que ocupará no laço social. O despertar da adolescência é desencadeado quando o jovem sujeito se vê interpelado por um acontecimento, ou vários, para os quais a construção do eu e os apoios e soluções da infância não são suficientes para posicionar-se ou para formular respostas a tais aspectos. Depara-se então com o desamparo e angústia, que ativam intenso trabalho psíquico, subjetivo e relacional, experiências e encontros que propiciam a sua pertença e engajanto social, mas que podem enlaçar, por vezes, a sexualidade à violência e morte.

Usualmente o despertar é relacionado com o desenvolvimento físico e com a irrupção do desejo sexual, mas a hipótese aqui desenvolvida será de que o processo adolescente não pode ser desenraizado da lógica discursiva, social e política, que trará suporte ou desamparo para o desenrolar do processo adolescente. Neste artigo, visamos demonstrar os dilemas desses adolescentes no (des) encontro com as regras, valores e lugares sociais, dando visibilidade aos efeitos da política no sujeito, fazendo juz à acepção lacaniana "o inconsciente é a política" Lacan, (1966-67, p. 350). A questão será problematizar o modo como as coordenadas políticas que definem lugares e posições sociais intervêm sobre o real pulsional, de modo a propiciar ou dificultar a construção da posição do sujeito no laço social.

As vicissitudes da adolescência podem parecer uma fase passageira com manifestações subjetivas e individuais a serem supervisionadas e controladas pelos adultos, mas, alinhadas aos autores que articulam tal trabalho psíquico ao contexto social e político, vamos demonstrar neste artigo que o trabalho psíquico do jovem sujeito pode ser bastante dificultado em contexto social avesso à transformação, a questionamentos e à mobilidade social. As trajetórias adolescentes, suas histórias singulares inscritas no corpo e na sexualidade, carregam as modalidades de transmissão do poder e da transformação social.

Este artigo analisa como o contexto social vai engendrar as formas de encontro com o Outro sexo e com a alteridade: encontros em que junto com o desejo comparecem angústias e ainda enlaçam, por vezes, a sexualidade à violência e morte. Através das cenas e das falas dos adolescentes, vamos analisar algumas experiências de adolescentes da sociedade alemã do fim do século XIX, apresentados na peça de teatro de O Despertar da Primavera (Wedekind, 1891/2009), censurada na Alemanha1, assim como alguns fragmentos das experiências dos adolescentes do século XXI. O título da peça faz uma analogia irônica da adolescência com a primavera, o tempo do desabrochar das flores, muito diferente das revelações dos impasses dos adolescentes, desvelados pelo subtítulo da peça: uma tragédia da juventude.

Vamos examinar os casos em que o desfecho foi desfavorável para o lugar do adolescente no laço social e onde entram na cena os diversos tipos de atos: o ato sexual, o ato suicida e os atos de violência. Balizamos o peso dos contextos em que as fronteiras entre o eu e o outro, entre as culturas ou lugares sociais distintos, tornam-se opacidades intransponíveis, ao modo de um front de guerra em que está em jogo a vida ou morte do sujeito, por vezes literalmente, como no caso das mortes e dos suicídios dos adolescentes marginalizados pelos marcadores de classe, raça, gênero ou cultura.

 

Sonho e despertar da adolescência

Etimologicamente, adulescens significa "aquele que continua a crescer". Nos tempos do Império Romano, essa condição intermediária era exclusiva de jovens de sexo masculino. As mulheres, ao contrário, transitavam diretamente da infância ao estatuto de esposa, uxor. O termo adolescência desaparece para retornar na Idade Média europeia, onde a divisão de uma parte da população em segmentos etários começa a ganhar força, embora o termo adolescência para nomear os jovens estivesse frequentemente relacionado a famílias da classe social nobre (Huerre, 2001). Em meados do século XIX, o termo adolescente estende-se para designar os jovens pertencentes à classe burguesa, estudantes e dependentes financeiramente da família. De acordo com Huerre (2001), os adolescentes burgueses se diferenciavam dos jovens da classe nobre que eram instruídos por preceptores e dos jovens da classe popular que seguiam um aprendizado profissional em contato direto com os patrões.

A instituição familiar inicia desde o século XIX, na Europa, enormes transformações, descritas por Roudinesco (2002) em seu livro La Famille en Désordre. A mulher e criança passam a ter um lugar, uma existência, ao passo que a função do patriarca pouco a pouco irá perder o seu poder e autoridade sobre seus membros. No entanto, no final do século observa-se a emergência da ideia de ameaça que a "juventude irresponsável", por suas manifestações pulsionais agressivas representa para as sociedades (Durkheim, 1897/1973). São criados numerosos mecanismos de controle e medidas de correção parental e/ou judicial: serviço militar, convento ou hospício.

Apenas no início do século XX que o termo adolescente será utilizado indistintamente para meninas e meninos, numa relação direta à generalização da escolarização. E será também nesse momento que a adolescência passará a ser objeto de estudo da psicologia e da psiquiatria e patologizada. Pereira e Gurski (2014) alertam para os impasses da travessia adolescente rumo à cena social perante a pane geracional observada no contemporâneo a partir da queda da autoridade paterna e de uma inversão dos lugares e funções. Observa-se ainda crescente dificuldade do reconhecimento da experiência de mal-estar e de desamparo perante um excesso de representações de ordem sensorial, sexual e imagética que ladeia a promoção de identidades fixas que norteiam os laços com o outro e impõem um funcionamento impregnado pela inflação narcísica (Binkowski & Rosa, 2019). Tal tensão ganha força exponencial quando, apesar das promessas, o jovem se depara com um contexo social que o exclui da partilha dos bens materiais e culturais e que o controla através de discursos identitários, por marcadores de classe, gênero, raça ou cultura, presentes nos poderes judiciário, religioso, da moral sexual, etc.

Diante da diversidade de lógicas discursivas que perpassam o contexto social naturalizar a passagem adolescente numa etapa do desenvolvimento biológico, privilegiar os aspectos intrapsíquicos ou limitar a adolescência aos aspectos sexuais, mascara as incidências sociais na constituição subjetiva (Catroli, 2011). Assim sendo, o despertar da adolescência varia de acordo com o contexto social e a intensidade do momento disparador presente nas interações discursivas e pulsionais. São várias as adolescências; não há adolescência independente do seu contexto, sua classe social, seu gênero e sua raça (Rosa, 2010).

 

O despertar da adolescência

A singularidade da passagem adolescente nos interroga sobre o acontecimento que desperta a adolescência, momento em que, a imago parental, assim como a própria, são postas em xeque, e o adolescente busca outro discurso que possa orientá-lo em sua busca pelo encontro com o objeto de amor, com o Outro sexo.

Tomaremos a experiência do despertar tal como é pensado pela psicanálise, como uma inversão de seu sentido habitual no qual o acordar seria equivalente a saída do estado de inércia e alienação para retornar ao estado de vigília e de consciência. Freud (1900/1996) afirma que o sonho, ao realizar de modo alucinatório o desejo, tem por função manter a atividade do sono, o desejo de dormir. No entanto, o sonho de angústia exemplificado com o pai que acorda no meio do sonho com o filho morto a dizer-lhe "Pai, não vês que estou queimando?" (p. 504), lhe faz problematizar essa relação em todas as situações. A relação entre a angústia e o despertar permitirá a Lacan afirmar que "o que nos desperta é a outra realidade escondida por trás da falta do que tem lugar de representação" (1963-64/1985, p. 61). Dirá Jorge (2005) que "é precisamente naquele momento em que algo do real tenta imiscuir-se no sonho, como no sonho de angústia, que o sujeito acorda" (p.4). Desse modo, continua o autor, acordar não supõe despertar, pois o sujeito acorda para continuar dormindo, fantasiando. Ou seja, o sonho de angústia revela que há uma diferença entre acordar e despertar. Acordar pode ter a função de calar o desejo e as ambivalências que habitam o sujeito e que seriam revelados no sonho, na cena inconsciente. Já o despertar segue o caminho da separação em relação à alienação estrutural (Lacan, 1963-64/1985). Nesse sentido, a realidade se opõe ao real que desperta o sujeito desejante.

Essa noção de despertar para o desejo não passou desapercebida ao dramaturgo alemão Frank Wedekind que, na peça de teatro O Despertar da Primavera, segundo nossa leitura clínica, coloca em cena os embaraços e os impedimentos de um grupo de adolescentes, provocados pela opressão sexual e social da época. O dramaturgo, em finais do século XIX, descreve, através das histórias paralelas dos personagens confrontados com a realidade de crescer sem amparo (Hilflosigkeit), a face mortífera do duplo encontro com o sexual e o social. À dimensão trágica do humano em se fazer sujeito soma-se o dramático da alienação dos adultos, o seu encontro problemático com o tipo de laço social que lhe é oferecido.

Entre as várias trajetórias que se enredam, destacaremos as de Wendla, Moritz e Melchior, para demonstrar como cada um deles é despertado a seu modo pela sexualidade, pela singularidade de seu desejo e pelo desamparo no laço social, que resulta em prisão, morte e suicídio dos personagens. Os adultos são figuras de fundo na peça, mas comparece vivamente o discurso marcado pela imposição violenta do controle do desejo dos jovens para a conservação dos costumes e poderes. Em rápido resumo, antecipamos que Moritz, jovem atormentado pela emergência do sexual e angustiado pela injunção da moral, sob a forma do ideal da excelência escolar, encontra no ato suicida a única solução possível para enfrentar essa equação. Martha descreve a dimensão do prazer/gozo sentida pelos adultos, seus pais, em espancá-la. Seus relatos promovem identificações em sua colega Wendla que, mantida ignorante por sua mãe sobre a relação e o desejo sexual, constrói uma fantasia da relação sexual pautada na posição de Martha, qual seja, de ser batida (Freud, 1919/2010). Engravida de Melchior e morre em decorrência de um aborto realizado sem a sua permissão, instigado pela sua mãe que teme a punição social. Melchior será expulso da escola e preso numa casa de correção, responsabilizado que foi pelo suicídio de seu amigo. A peça termina quando, ao lado da sepultura de Wendla, Melchior encontra o fantasma de Moritz que o convida a acompanhá- lo ao mundo dos mortos, um mundo sem conflitos. Mas nesse instante, o Homem Mascarado propõe a Melchior segui-lo por um caminho próprio, a ser construído.

Os temas ali presentes são atuais, tais como as dificuldades para conquistar um lugar na estrutura social, a pertença na escola, a descoberta do prazer, bem como angústia sexual, masturbação, consentimento sexual, virgindade, suicídio, luto, homossexualidade, aborto e gravidez na adolescencia, entre outros. Também são vigentes os modos do desencontro com o discurso religioso, moral, jurídico e escolar que normalizam tanto as práticas de exclusão, como as inúmeras formas de violência doméstica e de autoritarismo familiar, escolar, jurídico, revestidos pelo discurso da boa educação.

Atualmente também são expressivos os desencontros com os adolescentes que tem suas modalidades de expressão desqualificadas, patologizadas e por vezes criminalizadas, especialmente se vindas dos estratos marginalizados da população - desde seus movimentos artísticos, protagonismo em ações políticas, modos variados de experimentação da vida sexual, contraposição à imposição de gênero, como também em práticas de automutilação, atos infracionais, violências, suicídio, entrada em grupos extremistas políticos ou religiosos.

 

O (des)encontro entre o social e o sexual na adolescência

A hipótese aqui posta à prova é que o processo adolescente - ou seja, as indagações sobre si mesmo para uma tomada de posição diante do encontro com o outro, sua diferença e singularidade, particularmente em relação ao Outro sexo - inicia quando o jovem é despertado, vê-se interpelado por um acontecimento, ou vários deles associados. Dito de outro modo, a questão será entender como a Outra cena, tomada aqui como as coordenadas políticas que definem lugares e posições sociais, intervêm sobre o real pulsional, de modo a propiciar ou dificultar a construção da posição do sujeito no laço social. Vamos examinar essa articulação em casos em que predomina um desfecho desfavorável para o adolescente.

Poucos registraram tão bem os vários desdobramentos da irrupção do sexual e seus atravessamentos sociais como o fez Wedekind na conversa entre Moritz e Melchior. Moritz revela a Melchior que, quando começa a sonhar, acorda com o "instinto fervendo" e pergunta: "Você já sentiu (o instinto)?" Conta como foi: Pensei que um raio tinha me acertado. Fiquei morto de medo. Pensei que tinha uma doença sem cura, que ia apodrecer por dentro. Aí anotei tudo num diário e isso foi me acalmando. Eu nunca senti nada antes assim – esse tipo de desejo, essa excitação insuportável. (Wedekind, 1891/2009, p.12).

O impacto incita uma mudança de posição pautada na desqualificação de si mesmo provocada pela irrupção do desejo: "Sou o pior dos filhos... agora preciso assumir a responsabilidade por ter nascido." (p.9). Mais tarde, novamente Moritz se angustia, desta vez devido às explicações de Melchior sobre a relação sexual. Pede que o amigo as escreva em vez de falar. Comenta a sua sideração "As suas explicações são estranhas - ao mesmo tempo são familiares" (p.16). Ou seja, para ele falar sobre sexo remonta a fantasias recalcadas e angustiantes.

Melchior também fala sobre o modo como viveu tal irrupção, que chama de "essa coisa" que provoca vergonha, apesar de ter tido a oportunidade de conhecer e pensar a respeito: "Quando aconteceu comigo eu estava mais ou menos preparado. Fiquei com um pouco de vergonha, mas foi só" (p.12). Comenta o que podemos entender com os efeitos de desmontagem das referências simbólicas seguido de interrogações sobre o sentido da vida e da religião: "Juro por Deus que eu gostaria de saber o que a gente faz nesse mundo [...] quando soube tudo desisti da religião". (p.15).

Ambos mencionam otras formas de viver a adolescencia, através do sonho dos amigos: Georg Zirschnitz sonhara com sua mãe; Hanschen Rilow diz que ainda sonha com torta de chocolate e de pêssego. No decorrer da peça há várias menções sobre a vida sexual dos outros adolescentes: a Ilse teria uma vida boêmia e promíscua; Hänschen e Ernst descobrem seu amor um ao outro.

Com a mesma questão, a articulação entre o social e sexual na adolescência, retomamos o caso clínico de um adolescente brasileiro, morador da periferia de São Paulo, que abandona a escola e cumpre medida socioeducativa por prática de atos infracionais (Rosa, 2002). Para ele, Nelson, o acontecimento impactante destacado foram as espinhas e a dor insuportável que provocavam. Instado a falar, vai descrevendo sensações de deformação, horror e vergonha diante do espelho, das pessoas. Ele associa: das espinhas sai algo nojento, excrementos, o sangue do pai, sangue amaldiçoado. Rasga as fotografias da infância, do futuro advogado. Esconde-se de todos, cobre os espelhos, tranca-se no quarto, abandona a escola e vê crescer o ódio ao pai. Atraca-se com ele tentando matá-lo e é expulso de casa, depois acolhido pela mãe. Mas já mudara - não liga para mais nada – e passa a armar-se, roubar e assaltar. O adolescente se confronta com um desfecho oposto ao que desejava, de tornar-se um operador da lei.

Remontamos por meio desses fragmentos de sua história os caminhos da sua adolescencia. A começar pela dor de não poder se furtar a ter o sangue do pai, vivido como o prenúncio de um lugar social subalterno. No entanto, "o processo identificatório processa-se nele, à revelia, e é sentido como uma deformação, uma agressão à bela imagem prometida - o sangue paterno toma conta, deformando a imagem do futuro advogado. Identificação odiosa, pois submete-o a um lugar desprezível e a uma dupla condenação: frente aos olhos da mãe e à ordem social" (Rosa, 2002, p.234). Vive de modo intenso a desestabilização da já adquirida imagem do corpo (Lacan, 1949/1998).

Como é próprio da adolescência, Nelson busca, não mais o discurso familiar, o discurso social para se orientar rumo à tentativa de encontro da segurança perdida. No entanto, percebe- se desprovido das ferramentas para incluir-se na ordem social preservando-se narcisicamente. Dizendo de outro modo, a transformação do ideal narcísico em ideal do eu, fundado em ideais culturais é acompanhada de desesperança de sua inserção neles. Não encontra no discurso social um lugar para a sua reinscrição no campo do simbólico, restauração de unidade do eu e reconhecimento do grupo social. O ódio ao pai e a si dispara o movimento de ser outro: a identificação ao seu pai-rude-desarmado não lhe serve de apoio na conquista dos atributos fálicos a partir dos quais poderia incluir-se na ordem social preservando-se narcisicamente. Com a cena da infância há um deslocamento identificatório para outra versão do pai, o vizinho- bandido-armado, com a qual pode enfrentar e evitar o medo.

O processo pode se dar como passagem ou como fixação; como luto ou como melancolia. No caso de ser uma passagem, trata-se da mobilização do ideal do ego, rumo à escolha objetal: àquela apontada por Freud em Psicologia de grupo e a análise do ego (1921/1996), e O ego e o id (1923/996), em que a identificação com os objetos parentais precede à escolha de objeto. No processo melancólico, temos uma fixação e, pela via da regressão que impede o reconhecimento da perda, irá identificar o próprio ego ao objeto de que não pôde abrir mão. Como Nelson, que diz que não liga para mais nada: passa a armar-se e a assaltar.

Na adolescência o sujeito é convocado a ressignificar as moções pulsionais. Será sobre um resto carente de sentido que passa a se organizar. "Esse resto diz respeito tanto ao sexual diretamente considerado, quanto às questões narcísicas que entram em cena em função dos conflitos de autoridade e poder", diz Matheus (2008, p. 622). Será esse novo velamento do real da castração que irá permitir ao adolescente ir ao encontro da alteridade, do Outro sexo, suportar a angústia traumática pela construção de uma ficção que dê conta do sexual. Está aí uma das funções do Outro do social: interpelar o jovem sujeito no seu caminho ajudá-lo a simbolizar o excesso de real. "Não sem antes passar pelas reações de pudor, que revelam algo de uma privação. É ali que entra em causa a função da fantasia. A relação ao 'mistério' suporta a tessitura de um véu, necessária nos laços eróticos", apontam Costa e Poli (2010, p.4).

No caso de Nelson, assim como em outros atendimentos de adolescentes em conflito com a lei, não se produziu a função do Outro do social, nem pelo investimento no adolescente e nem pela oferta de um lugar para a reinscrição no campo do simbólico, para a restauração de unidade do eu. Em vez dessa função, no lugar do reconhecimento do adolescente, parece ter preponderado o desamparo, desencadeando um deslizamento identificatório para outro apoio social que, em sua história, revela-se potente – o lugar de bandido. Deslocamento que, se evitou a colagem à imago paterna, ofereceu apenas sua antítese imaginária e fixada em uma identidade social em que o lugar narcísico obscurece a divisão do sujeito que abriria lugar para alteridade e a diferença sexual, mas opera abrindo um front e oposição entre o eu e o outro, ou o eu ou o outro.

Perguntamos: "Teria faltado a ele o encontro com o Homem mascarado?" A precipitação de Nelson em uma identidade pôde ser escutada, encontrou o Homem mascarado, no caso a escuta psicanalítica, e se reposicionou. É somente depois disso que iniciam as suas menções ao encontro amoroso e sexual, quando titubeante diz: acho que aquela menina está interessada em mim. Seria esse encontro suficiente para a sua estabilização, já que o discurso social insistia em reiterar que Nelson representava um perigo para a sociedade e que ele não era parte dela?

Os próprios jovens respondem: "Eu conheço uma pessoa que saiu (do tráfico de drogas) [...] Sair, o cara não sai, ele tenta regenerar, ficar mais [...] Agora ele está morando em outra favela, mas qualquer momento eles podem ir lá e matar ele"... "Não tem fim, não - só depois que morre" (Martins, 2017, p.18). Essas são frases de adolescentes envolvidos na guerra do tráfico recolhidas. Indicam o seu saber sobre estarem em um jogo discursivo que impõe a manutenção de um lugar social que inclui território, classe e racismo, da qual não é possível fugir, pois o discurso os insere na posição de descartáveis onde quer que eles estejam. Eles finalizam lembrando uma música do grupo Racionais que diz: "Você sai do gueto, mas o gueto nunca sai de você" (Brown & Rock, 2002).

A pesquisa de Catroli (2011) com adolescentes em uma escola periférica de São Paulo constata que, em um contexto de fragilização social caracterizado por enormes zonas anômicas e seus bolsões de exceção, não aparecem as histórias de desamparo e violência nem as feridas abertas pelo assombro diário da violência, pela morte ou pelo encarceramento dos pais e tios, ou pelo simples desaparecimento dessas figuras masculinas. Em seu lugar a violência aparece como um forte componente ficcional da construção narrativa, ou seja, alguns jovens fazem da violência sua própria ficção e desse modo, invertem lugares: de passivos à violência, passam a ativos (Catroli & Rosa, 2013).

Os destinos de cada um no laço social estão vinculados à pertença e os adolescentes sabem que nem todos terão essa garantia. Moritz questiona, sabendo ser um daqueles destinados a não continuar os estudos: "Por que a gente tem que ir para a escola? Preferia ser um inseto a ter que ir para escola. Por que a gente tem que ir? Para fazer provas. E por que fazemos provas? Para gente repetir. Sete vão repetir, porque na classe do ano que vem só cabem sessenta alunos. Sete vão ter que evaporar" (Wedekibd, 1891/2009, p.7). No Brasil atual muitos estão destinados a sair precocemente da escola. E sabem disso.

Em mais uma volta na questão, o despertar da adolescência pode ser seguido de seu apagamento, quando a cena política cerceia e impede a resposta na posição de sujeito, exigindo a posição de resto para viver. Os desamparos estrutural e social se articulam na produção da angústia.

Os adolescentes da peça teatral são conectados pela pertença à mesma escola, na Alemanha. Será o diretor da escola que dará as diretrizes futuras sobre os alunos, tendo presentes também o discurso da família e especialmente o do pai, ambos respaldados pelos discursos morais e religiosos e pelo discurso jurídico que avaliza um julgamento prévio. Apenas assinalamos que a escola, a educação e os educadores constituem lugares, valores e referências fundamentais para os adolescentes pois podem encontrar apoio, respeito pelo enigma e pelo desejo de saber, o que não exclui uma crítica contundente a determinados discursos que ali circulam e que por vezes predominam. Imiscuimos as falas dos adolescentes da peça com falas de jovens das periferias brasileiras:

"Os adultos usam a autoridade para justificar a sua estupidez. Que no fundo eles fazem tudo como a gente faz, as mesmas burrices, as mesmas idiotices" diz com clareza Ernst citando Hanschen, ao comentar os episódios da primavera, vividos pelos três personagens principais (Wedekind, 1891/2009, pp. 3-4).

"Eu passei! [...]. Se eu não passasse dava um tiro na cabeça. [...] Se eu repetir meu pai tem um ataque do coração e minha mãe vai para o manicômio"( p.20), diz Moritz, que rouba o resultado da prova por saber ser insuportável aos pais que ele não continuasse a trajetória por eles escolhida.

Apesar dessa constatação, com a possibilidade de escuta, os adolescentes podem transitar entre alguns tempos de subjetivação: responsabilização, identificação pelo pior, emudecimento e redescoberta da palavra, e construir ficções de outros caminhos. Um deles pôde lembrar que, quando criança, queria ser policial ou militar, mas que talvez quisesse também fazer rap. Outro adolescente pôde dar outro destino na mesma viagem que havia feito, imaginariamente, ao Afeganistão: dessa vez, é aquele que pôde fazer música com sua história, em vez de ser aquele que estaria destinado a um mundo de tiros e granadas (Catroli & Rosa, 2013).

Acontecimentos contundentes, alguns deles protagonizados por adolescentes, deveriam impactar e levar as autoridades – pais, professores, políticos - a indagarem-se sobre a sociedade que estão construindo, tanto no século XIX como no XXI. No entanto, surge uma explicação ou argumento moral, totalmente esvaziado de sentido, mas que justifica continuar do mesmo ponto e, em vez da transformação social, aplica-se mais repressão moral, desqualificação, domínio sobre o outro, aplica-se um tanto a mais de gozo em reiterar seu poder e certezas às custas do sacrifício dos jovens.

A tônica desse enredo é a de ignorar a emergência de novos sujeitos como atores sociais e sexuais. A maquinaria de gozo do poder, sem espaço e investimento para o outro, mesmo sendo os seus próprios filhos, retira as balizas simbólicas que permitiriam uma narrativa que desse um contorno aos acontecimentos sexuais e sociais e à construção de uma cena fantasmática que os incluam, ativando o desamparo constitutivo na adolescência.

 

O desacontecimento do despertar adolescente: ato, sexualidade ou morte

A questão insiste: quais os destinos do despertar adolescente quando prepondera um desencontro entre os movimentos desejantes e um discurso social que sistematicamente antecipa para ele um lugar subalterno (Spivak, 2010) no laço social, quando a sua escolha será entre adaptar-se ou morrer? Fica o despertar adolescente ou seu desacontecimento (Zizek,1991) à mercê da contingência de um bom encontro?

O despertar adolescente apresentado na peça de Wedekind parece estar diante de dois impasses: dar sentido à sexualidade tendo por referência a moral sexual de 1908 e situar-se perante os discursos institucionais conservadores das coordenadas do poder, protagonizados pelas figuras de referência e autoridade, os adultos – pais, diretor da escola, juiz. Mais além do mal-estar social prepondera a angústia e sua relação com o recalque da sexualidade assim como a ameaça do desamparo social.

Em Moral Sexual Civilizada e Doença Nervosa Moderna (Freud, 1908/1976), a teoria freudiana atribuiu a angústia ao recalque social do desejo sexual. Essa teoria é reformulada com a teorização da pulsão da morte e da centralidade do narcisismo para a constituição do eu. Invertem-se esses termos: é a angústia que determina o recalque e a moral sexual. Entra em cena a noção de Hilflosigkeit, o desamparo humano, produzido pela prematuridade do infante, tornando-o totalmente dependente do laço libidinal com o outro para viver e se livrar do desconforto, da dor e da morte. Na adolescência, quando o outro, por vezes em nome do amor, da moral ou da educação, desarvora o sujeito ao não permitir que enuncie seu enigma, seu saber, seu desejo, o desamparo constitutivo é acionado pelo desamparo social (Rosa, 2016), potencializando a angústia.

Retomemos algumas cenas de O Despertar da Primavera: "Sabe, se eu pudesse te conservava exatamente como você está agora", diz a mãe à Wendla, que pergunta: "por que você tem tanto medo?". Menina ou mãe são os lugares possíveis de existência diante de um poder sem face e afeto - não há contato afetivo referido ao pai/marido, apenas medo e obediência cega da esposa/mãe. A mãe de Wendla, ao lamentar o seu crescimento e se omitir à informação ou educação sexual, repete e reproduz uma existência em que não há reconhecimento da mulher como agente social. Quando a adolescente engravida, a mãe traduz como impossível enfrentar a norma social e tenta apagar o acontecimento. Em conluio com a madre/religiosa, realizam o aborto sem o consentimento de Wlenda, que morre de anemia, como anunciam para encobrir o crime. Adaptar-se ou morrer não foi escolha que Wlenda teve tempo de fazer, dada a ferocidade da cínica moral religiosa que consente e encobre a dominação integral de corpos e mentes femininos.

Também como coadjuvante, mas ativamente promotora da violência contra Martha, comparece a sua mãe, que não se interpõe na cena violenta e sexual em que a menina é despida nas surras e castigos impostos pelo pai. A mãe de Moritz, tão apagada como o pai pela classe social a que pertencem, deixa prevalecer o imperativo mortífero da autoridade escolar: ser aprovado nos exames ou morrer. Nenhum contorno é dado para a irrupção do desejo que, à revelia, comparece na polução noturna de Moritz. As explicações científicas do amigo são insuficientes para a ausência do sonho de "fazer amor com as raparigas", expressão de Lacan (1974/2003, p.131) que indica que será a antecipação na fantasia do encontro amoroso que dará lugar ao que foi vivido sem o desmoronamento da imagem do corpo.

Somente Fanny, mãe de Melchior, aposta no filho e se interpõe ao discurso do pai, do diretor e do juiz, que encontram sinais de perversão no rapaz, atribuindo a ele a responsabilidade pelo suicídio de Moritz. Com essa excessão, em nenhum dos episódios há algum movimento ou reflexão sobre a responsabilidade da escola ou dos pais nos destinos dos jovens. Diante dos impasses, automaticamente, os adolescentes pagam, com a vida, com a sua desqualificação, com o seu tempo na reclusão e com a suspensão dos projetos de futuro pelos fracassos sociais, sendo mais ainda, confrontados com uma posição cínica dos adultos.

A morte, o desacontecimento do despertar adolescente, está presente nas falas e nos atos dos adolescentes de Wedekind, como também se faz presente nos dias atuais. No Brasil, adolescentes matam, matam-se e morrem, seja no envolvimento no tráfico de drogas, nos atos infracionais, na rua, em casa; jovens imigrantes desaparecem sem rastro e sem buscas. Recentemente, em 2019, tal situação veio à tona em um tiroteio que deixou pelo menos dez mortos e o mesmo número de feridos em uma escola, na região metropolitana de São Paulo (Cerione, 2019). Os autores, dois jovens, entraram na escola com capuz, atiraram e depois um deles matou o outro e em seguida suicidou-se. Nossa interrogação segue na esteira da angústia e sua conversão em ato na adolescência.

O despertar da adolescência, como dissemos, dá-se em razão de um acontecimento desnorteador pois, diante dele, o adolescente se vê desprovido de uma imagem de si que sustente seu lugar, que não o deixe à mercê dos ventos nada confiáveis do campo social ou pulsional. É preciso tempo, espera, para a produção de uma imagem de si e um lugar próprio no campo social e esse é o trabalho adolescente – ter e elaborar experiências como outro, com o outro, percorrer fronteiras entre o eu e o outro, entre culturas, lugares sociais distintos, lidar com os excessos e inibições, constrangimentos, estranhamentos, sintomas. O lugar próprio decanta-se na ficção fantasmática que situa a relação e o desencontro do sujeito com o outro e a sua diferença.

Nesse processo, o trabalho adolescente pode ser interrompido pela angústia e produzir um corpo ao modo do espectro, um duplo que funciona como persona, fenômeno frequente no trabalho clínico com jovens que se aproximam e adotam discursos radicais e violentos e se situam no exato contraponto do desamparo, como vimos no caso Nelson acima. Trata-se da solução de alguns adolescentes em um tempo em que o desamparo é acompanhado de poucas ofertas efetivas de ideal de eu. Nesses casos, podem, pela via do duplo, aderir de corpo e alma a uma ideologia, uma "causa" ou um "ideal", pautados pela violência que invalida e rebaixa o supereu, afirmam Binkowski e Rosa (2019). Por vezes, "o sujeito só tem acesso a seu desejo substituindo sempre um de seus próprios duplos" (Lacan, 1962-63/2005, p. 59). Costa e Poli (2010) diferenciam o duplo da fantasia:

A fantasia e a máscara trazem como referência as faces da falta e do jogo, enquanto o espectro – na sua condição de um duplo, de um corpo que vagueia – é da ordem do excesso. E a condição de excesso é o que mantém lugares duplicados – esses lugares "endemoniados" por onde vagueiam os personagens dessas histórias.

Tais lugares duplicados, por serem espectros esvaziados, exigem confirmação para si e para o outro da sua existência e, em vez da espera, comparece a pressa em produzir atos para provar sua existência. O ato cria uma cena no real que encena sua presença e abre a possibilidade de ser falado pelo Outro.

Trata-se de uma encenação (o acting out está dirigido ao Outro) e, ao mesmo tempo, de um apelo ao Outro; em resumo, uma cena sobre a cena. Em um cenário com público é possível, às vezes, ritualizar, isto é, demarcar, disfarçar, velar o objeto a (Gerez-Ambertin (2009a, p.92).

A questão é que, se o ato cifra o discurso e demarca a presença, também "tem uma intenção, mas, uma vez desencadeado, tem efeito imponderável no próprio sujeito, no objeto e no discurso do outro sobre ele", uma vez que, diz Rosa (1999),

o ato por sua proximidade à pulsão, traz sempre um risco de estar ligado à sexualidade que, em sua qualidade infantil e perversa, impõe-se mais ao modo da premência da necessidade e do gozo do que do desejo. Há excitação, há gozo; como no sexo, como no crime. (p. 280).

Nesse tipo de ato o adolescente demonstra o seu esforço para se fazer por si próprio, atribuindo a culpa ou responsabilidade à omissão do Outro, que faltou no dever com ele e cuja falta não admite. Binkowski e Rosa (2019) destacam que discursos extremos acabam por aparecer como tentação de refúgio narcísico onde o luto edipiano (o da transformação do eu ideal em ideal de eu) acaba invertido. A desesperança fomenta ora a desubjetivação, ora a melancolização. No refúgio narcísico, em vez do luto, resta pouco "além de tentar traficar alguma solução econômica, libidinal, na qual se invista certos objetos que valorizem uma imagem de si que aparece seguidamente em dissonância em relação à imagem corporal que é experimentada pelo sujeito" (p. 65).

Frente à desesperança o jovem pode recorrer ao suicídio, seja direta, seja indiretamente, expondo-se a riscos, ainda evitando o encontro com a sua diferença, com o Outro sexo. Na peça, enquanto Melchior arrisca-se no encontro com o Outro sexo, Moritz recorre ao suicídio. Como diz Lacan (1974/1990), "é o único ato bem-sucedido, no qual nada mais dita ao sujeito os seus caminhos" (p. 43).

Gerez-Ambertin (2009a, 2009b) nos diz que, se o Outro é tão inconsistente ou é inexistente, pode haver passagem ao ato, como nos casos de suicídio seguidos da morte de outra pessoa. O enlutado fica como "causa-perdida, como alma penada, como bala perdida [...] risco provável de falha na operação de separação que, nesse caso, desembocaria na ruptura do marco fantasmático", continua Gerez-Ambertin (2009b), lembrando-nos de Moritz. Quando o desgarramento se dá no desamparo do Outro que enuncia o discurso social, podem emergir, como vimos acima, os duplos que terminam por funcionar como personas que atingem a própria destruição, levando até si as consequências de seu desejo de violência, tal como protagonizado pelo suicídio de Moritz.

 

O que resta da adolescência – o véu e as máscaras na adolescência

"Eu choro pelo fim da inocência, pela escuridão do coração humano e pela falta que me fazem o meu amigo (sempre os sonhos entre nós) e o meu amor - agora eu sei que era amor" (Wedekind, 1891/2009, p. 3), diz Melchior.

"Cada um fica com a sua parte. Para você, Moritz, a consciência calma de não ter nada. Para vocês outros, nós, a dúvida angustiante em relação a tudo" (p. 60), diz o Mascarado em convite à experimentação sem grandes promessas.

No despertar da adolescência, como expressam as falas acima, algumas máscaras caem, como a crença nos adultos ou a ilusão promovida pelas crenças religiosas ou políticas, na medida em que fecham o sentido para excluir o real, o desejo do sujeito e do outro. Sem tais máscaras, sedimentadas entre o discurso social e a fantasia, processa-se um movimento de desgarramento sem certezas imaginárias e a angústia diante da irrupção do real. Nessa medida, o processo adolescente não será apenas o despertar, mas também o trabalho de recompor, num jogo com o véu e as máscaras, uma narrativa ficcional. Tal narrativa é antecipação necessária à modulação do excesso que invade o sujeito e dissimula o encontro faltoso com o sexual que permitirá que o adolescente viva experimentações e invenções de um lugar para viver, além de, como diz Lacan (1974/2003), possibilitar para os meninos adolescentes "fazer amor com as mocinhas, assinalando que eles não pensariam nisso sem despertar de seus sonhos" (p. 561).

Esse é o caso de Wendla, que diz à Martha: "Se eu pudesse ficava no seu lugar". Ela se apropria das cenas de violência parental, das surras e dos castigos vividos por Martha, para construir uma fantasia sexual, o que possibilita a relação sexual com Melchior. Este, por sua vez, usa seu conhecimento sobre sexo, assim como o apoio na literatura e a conversa com o amigo, para antecipar como fazer amor com as meninas. Amor, um dos véus do real que Melchior só reconhece a posteriori "agora eu sei que era amor" para construir sua narrativa ficcional sobre os acontecimentos da primavera. Essa declaração dá um lugar ao ato sexual com Wendla e surge como resposta, que retorna ao sujeito, à interpelação de uma escolha sexuada.

A narrativa situa o acontecimento como uma relação que positiviza o corpo do outro como tendo valor de gozo; gozo desencadeado pelo outro, gozo com o gozo do outro, gozo ladeado por um não-saber sobre esse gozo. Trata-se de um processo que tramita tendo como exigência mínima o apoio no Outro, no discurso proferido no ámbito social.

Nessa direção, destacamos a função exercida pelo Homem Mascarado (Rosa, 2014). Ao argumento culpado e autocondenatório de Melchior, "nenhuma comida vai me fazer sentir menos culpado" (Wedekind, 1891/2009, p. 58), o Mascarado situa o acontecimento da morte de sua namorada e do bebê por nascer, na cena social. Faz menção ao aborto provocado pela Madre e aceito pela mãe para salvar a menina aos olhos da moral, ou seja, refere-se aos fatos sociais, mais além da culpa particular do ato sexual praticado. "Posso te dizer uma coisa? Aquela menina ia ter uma criança perfeita. Ela mesma era quase perfeita. Se não fossem as técnicas da Madre Schmidt, agora ela estaria aí, deitada. Ela e o bebê" (p. 58).

Outra fase da intervenção consiste no rompimento da alienação a uma visão de mundo, o que se observa quando o Mascarado diz: "Eu vejo a moral como o produto de duas forças imaginárias, o dever e o instinto" (p. 50). E convida para um outro mundo. Melchior separa-se da alienação e escolhe, escolha sem garantia, e se despede de Moritz dizendo: "Eu não sei direito aonde esse homem vai me levar, mas pelo menos é um ser humano" (p. 60). O Mascarado, por sua vez, não promete nada: "Cada um fica com a sua parte. Para você, Moritz, a consciência calma de não ter nada. Para vocês outros, nós, a dúvida angustiante em relação a tudo" (p. 60).

A dimensão do tempo é fundamental para "partir e esquecer, para poder retomar um caminho e o luto, a elaboração e a construção da narrativa da vida e história de um sujeito, de uma geração ou de uma nação" (Rosa, 2016, p. 8). A adolescência pode ser um tempo de experimentações ousadas que permitem ao adolescente transitar no tempo, regido ora pela antecipação estruturante, ora pela significação retroativa que o recoloca em posição de saber (Rosa, 2002). O seu movimento, próprio da condição desejante, torna sua apreensão de si e do mundo marcada pelo desconhecimento e reconhecimento e, portanto, tornando sucessiva e concomitantemente, alienação e verdade, identidade e subjetividade, presentes em sua condição de ser.

Cabem algumas estratégias específicas que envolvem a separação entre os tempos da vida, a busca de novas referências ou um novo nome do Pai" diz Rosa (2014). A intervenção pede um tempo, um intervalo, um adiamento, uma espera, em vez da pressa, para o sujeito se situar diante da angústia. Para isso interpõe uma barra à promessa de gozo. O Mascarado interrompe o diálogo em que o fantasma de Moritz convida o angustiado e culpado Melchior a segui-lo no suicídio, dizendo ser o melhor caminho para fazer cessar a angústia e prometendo um gozo sem limites. "A gente pode o que quiser", diz Moritz. O Mascarado diz a Melchior: "Você está tremendo, está quase desmaiando de fome. Isso não é hora para tomar uma decisão dessas. A primeira providência é: sair daqui". Dirigindo-se para Moritz, o Mascarado diz: "Ei, você, vai embora! Guarde essas suas fantasias para você mesmo" (Wedekind, 1891/2009, p. 57). Melchior convoca a referência familiar, conhecida e já perdida diante dos acontecimentos. Pergunta: "O senhor é o meu pai?". O Mascarado indica caminhos diferentes e novos: "Numa hora dessas, seu pai está se consolando nos braços da sua mãe" (p. 58).

As questões relativas à adolescência dizem sobre o modo como uma certa época e cada sociedade concebem modalidades de inscrição do sujeito em sua dimensão sexuada no laço social, assim como diz da disponibilidade da sociedade às transformações sociais. Muitos são os destinos possíveis aos que despertam e podem ser capazes de reinventar o mundo, o que em sociedades conservadoras é um terrorismo. Subvertendo o termo e radicalizando, indo à raiz, o músico e compositor China retoma a frase famosa de Mano Brown de 1988 "Eu não sou artista. Artista faz arte, eu faço arma. Sou terrorista" em seu quarto álbum (China, 2019) para atualizar contundentes denúncias ao racismo e à desigualdade social no Brasil. Insistimos, juntamente com ele, em apostar, interpelar, com a força da música e da palavra, aqueles que estão silenciados, à margem da legalidade e da vida social.

O que resta para o adolescente é, no (des) encontro entre o real pulsional e a cena política, a experimentação e inventar-se, o que inclui o equívoco, o erro. Inventar-se de modo a situar-se em uma narrativa ficcional que o norteie, só possível se houver um mínimo amparo simbólico do Outro. Cabe ao outro social interpelar e acompanhar o adolescente em sua construção singular, a fim de que ele se permita, por um lado, um exercício de sua erótica e, por outro, afirmar-se em um laço discursivo em que possa, ao contar sua própria história, também narrar a história de seu tempo, a contrapelo da história oficial, iluminando o escuro dos laços em jogo.

 

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Recebido em dezembro de 2019 – Aceito em março de 2020.

 

 

1 A primeira atuação data de 1906, quando foi premiado pela Deutsches Theater em Berlim sob a direção de Max Reinhardt. Esta levou o subtítulo de A tragédia infantil. Sua primeira atuação em inglês foi no ano de 1917 na cidade de Nova Iorque. Nessa cidade a peça foi também ameaçada de censura. Foi apresentada em 1963 na Inglaterra. Uma adaptação musical off- Broadway foi feita em 2006 e movida para Broadway, onde ganhou oito prêmios Tony, incluindo o de melhor musical.
Revisão gramatical: Lucy Petroucic
E-mail: lupetroucic@gmail.com

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