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Psicologo informacao

versão impressa ISSN 1415-8809

Psicol inf. vol.10 no.10 São Paulo dez. 2006

 

Artigo

 

 

Violência urbana: estereótipo do agressor e da vítima*

 

Urban violence: agressor's and victim's stereotype

 

 

Airen Prada Wormhoudt**; Miriam Sansoni Torossian**; Sonia Marques***

* Universidade Metodista de São Paulo.

 

 


RESUMO

A exposição à criminalidade transforma-a em acontecimento rotineiro e passa a ser desta forma representada pelos grupos sociais. As informações sobre o fenômeno da violência que fazem parte do cotidiano podem embasar as crenças dos indivíduos que, quando super generalizadas, denominam-se estereótipos. Buscando maiores informações, o presente estudo teve por objetivo investigar estereótipos formados pelos indivíduos a respeito da criminalidade. Para tal, foi elaborado um questionário misto a partir de um inventário de delitos e de informações provenientes do NEV/USP (Núcleo de Estudos da Violência / USP), visando identificar na opinião dos participantes (amostra não probabilística de adolescentes e adultos, de ambos os sexos, encontrados em locais públicos na região do Grande ABC) quais os delitos mais freqüentes, horário e local onde ocorrem e os perfis dos agressores e das vítimas. Os resultados indicaram que os quatro delitos mais freqüentemente apontados foram: Roubo (86,4%), Seqüestro (69,1%), Furto (58%) e Homicídio (51,9%). Em relação aos agressores, os participantes afirmaram que são homens, com idade entre 19 e 25 anos, que não completaram o ensino fundamental, desempregados, de cor negra e na maioria estavam sob efeito de álcool e drogas. No que diz respeito às vítimas, os participantes apontaram a mulher como sendo maioria, com idade entre 19 e 25 anos, com ensino médio completo, trabalhando em atividade formal, de cor branca, não estando sob o efeito de álcool e drogas. Em relação à leitura de jornal, 50,6% dos participantes afirmaram ter tal costume, porém relataram que seu principal veículo de informação é a televisão (54%). Concluiu-se: efetivamente os resultados apontaram que, questionadas sobre o fenômeno da violência, as pessoas recorrem aos estereótipos enquanto estratégia heurística. Assim é que, enquanto avaros mentais, dentre as informações pedidas pelo instrumento, os indivíduos informaram os sinais considerados relevantes para ambos os perfis (agressor e vítima). De fato, para defender a identidade positiva de seu grupo (vítimas), as pessoas construíram uma imagem positiva desse mesmo grupo em contraposição ao grupo dos agressores. Estas e outras conclusões sugerem a necessidade de estudos complementares.

Palavras-chave: criminalidade; crenças; estereótipo.


ABSTRACT

The exhibition to the criminality transforms it in routine actions, which are represented by social groups. The information on the phenomenon of violence can base the individuals’ believes, that when widespread are called stereotypes. Looking for larger information the present study had for objective to investigate the stereotypes formed by the individuals. For such a questionnaire was built from information provided by NEV/USP (Nucleon of Violence’s Studies from the University of São Paulo) seeking to identify, in the individuals’ opinion (teenagers and adults, of both genders, which were found in public places from Grande ABC), the four crimes that happen more frequently and among them, what’s the aggressor’s and the victims’ stereotype. The results demonstrated that the four crimes more frequently pointed were: Robbery (86,4%), Kidnapping (69,1%), Burglary (58%) and Homicide (51,9%). In relation to the aggressors, according to the respondents’ opinion, all are men, with age among 19 and 25 years, that didn’t complete the low level of formal education, unemployed, colored and in most cases they were under effect of alcohol and drugs. For victims, the respondents pointed women, with age among 19 and 25 years, with complete medium level of formal education, working in formal activity, caucasian and not being under the effect of alcohol and drugs. In what concerns the newspaper reading, 50,6% of the respondents affirmed to have such habit, however they informed that their most important vehicle of information is the television (54%). Therefore is concluded: the results showed that when people are questioned about the violence, they use heuristic strategies. They informed relevant signs for the agressors and victims. In fact, to defend the positive identity of their group (victims), they built a positive image of theses group against the agressor's group. These and other conclusions suggest the needing of complementary studies.

Keyword: criminality; beliefs; stereotype.


 

 

Vivermos encarcerados nos nossos apartamentos e casas e entre grades criadas pelos nossos próprios medos, parece ser condição "natural" da contemporaneidade, sobretudo nas grandes metrópoles como São Paulo.

A violência, entendida como ameaça à nossa integridade física e moral, quer por outros homens, quer pela sociedade, e a perda de direitos sob todas as formas (BUORO; et al, 1999), apresenta como um de seus subprodutos a criminalidade, e ambas enraízam-se no cotidiano, assumindo uma aparência de "atos rotineiros", inscritos na ordem das coisas (ODALIA, 1986). Assim, uma vez expostos os indivíduos a esses "atos rotineiros", cumpre buscar compreender de que forma se dá esta exposição.

Podemos conjeturar que os indivíduos partem de observações e testemunhos sobre o fenômeno da criminalidade. Entretanto, a maioria dessas observações e testemunhos vem daqueles que os inventariaram, organizaram e informaram (MOSCOVICI, 1978).

Há de fato experiências idiossincráticas que derivam de algum tipo de experiência direta; outras há (e essas de maior alcance) que se disseminam pelos meios de comunicação. Tanto umas, quanto as outras favoreceriam o surgimento e desenvolvimento de algumas representações compartilhadas, muitas vezes, pelo grupo social como um todo. Sperber (1990 apud PEREIRA, 1996) fala em "representações culturais", definindo-as como representações que guardam semelhança o bastante "ao ponto de uma pessoa reconhecer como suas as opiniões emitidas por um outro" (p. 129).

Dentre as inúmeras representações que fazemos do mundo, uma das mais importantes no tipo de sociedade em que vivemos é a da criminalidade.

Considerando-se os meios de comunicação responsáveis pela disseminação de informações acerca da criminalidade, destacamos a mídia em suas diversas manifestações. A mídia, portanto, provê a sociedade de informações que podem embasar as crenças dos indivíduos.

Assim, independentemente da experiência direta, os indivíduos valemse dessas informações, apreendendo-as em seu universo pessoal. Se questionarmos os indivíduos a respeito de suas crenças, verificaremos que, em última instância, elas repousarão ou na credibilidade na própria experiência ou na credibilidade em alguma autoridade externa (BEM, 1973).

Nesse contexto, crenças nem sempre são verdadeiras, o que, todavia, não invalida a investigação psicológica; ao contrário, enquanto idéias heurísticas, revelam-se de grande utilidade na investigação das representações mentais (KRÜGER, 2004).

Crenças, em sua natureza ontológica, classificam-se como variáveis intervenientes, ou seja, enquanto inseridas na categoria dos fenômenos psicológicos não observáveis diretamente, "podem ser inferidas e integrar hipóteses empíricas, além de serem acessíveis à mensuração, ainda que indiretamente" (KRÜGER, 2004, p. 33).

As crenças, como atalhos mentais, produzirão efeitos na cognição, comportamento e conduta, influindo, ainda, nas interações sociais e nos julgamentos acerca da realidade da criminalidade (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2000). Se baseadas num restrito conjunto de experiências são denominadas estereótipos (BEM, 1973).

 

Estereótipo

Mas o que realmente significa estereótipo? Este termo foi introduzido em 1922 pelo jornalista Walter Lippman. Surgiu por analogia a um molde metálico usado nas oficinas tipográficas, que se destacava pela possibilidade de produzir imagens repetidas e combinadas de personagens. Quando Lippman utilizou-se do termo estereótipo na percepção humana, ele estava se referindo a como as pessoas tendem a empregar o mesmo personagem para esboçar suas impressões sobre um grupo e seus membros. Quando um inglês branco, por exemplo, enxerga um negro como "preguiçoso", ou todas as mulheres como "emotivas", ou todos os alemães como "agressivos", ele se utiliza do mesmo personagem para descrever todos os membros de um grupo específico. Portanto, estereótipos podem ser pensados como crenças acerca das características de um grupo de indivíduos (ASHMORE; DELBOA, 1981; STRANGOR, 2000 apud RUTLAND, 2004).

O ser humano procura classificar suas experiências, integrando-as em sistemas conceituais organizados. Um subproduto dessa tendência é o fato de que, dada a complexidade presente no meio externo e a nossa limitação para lidar com a multiplicidade de informações, buscamos simplificar classificando as novas experiências dentro de categorias conceituais com base em suas semelhanças com experiências anteriores (MCDAVID; HARARI, 1974). Tal simplificação, no entanto, enquanto estratégia cognitiva, está na base de certas generalizações que, por sua vez, resultam em estereótipos.

Há várias formas de manifestação do estereótipo. Via de regra, os estereótipos têm suas raízes nas tradições culturais de um povo, transmitidas de geração a geração (PEREIRA, 1996).

Eles são transmitidos por gerações como componentes do conhecimento acumulado da sociedade. São tão verdadeiros quanto tradição e tão pertinentes quanto folclore. Nenhuma pessoa pode crescer em uma sociedade sem ter aprendido os estereótipos nomeados para os principais grupos étnicos (EHRLICH, 1973 apud HAMILTON; ROSE, 1980).

Nas instituições sociais, os estereótipos sociais exercem influência sobre condutas e comportamentos, quando os interatores se enquadram nessas crenças. "Essa influência ocorre através de variáveis intervenientes, sendo a percepção social a primeira delas, mas que se articula à memória, pensamento, motivação e tomada de decisão" (KRÜGER, 2004, p. 37).

 

O estereótipo do criminoso

No Brasil, o estereótipo do criminoso, ou do "suspeito", de um crime não se encontra descrito em lugar algum, mas é amplamente conhecido: homem, jovem, negro ou pardo, pobre, proveniente dos bairros mais distantes da periferia (LAKATOS, 2004).

Há, inicialmente, uma forte associação entre violência e pobreza. Acredita- se que são as pessoas mais pobres que praticam crimes.

Segundo Ramalho (2001, p. 20),

o modo de identificar um delinqüente está sempre mais referido a aspectos próprios das pessoas enquanto membros desses grupos sociais do que à evidência de delitos cometidos por eles (...). A delinqüência é, portanto, reconhecida através de atributos dos grupos sociais mais pobres.

Se retomarmos o desenvolvimento do capitalismo nas sociedades ocidentais, verificaremos que uma das suas conseqüências é justamente a associação entre pobreza, violência e criminalidade. Com a expulsão de milhares de pessoas do campo e a migração destas para as cidades, "o modo de vida urbano passou a ser associado ao perigo, às epidemias, à promiscuidade, à agressão e à criminalidade" (BUORO et al., 1999, p. 22).

A Revolução Industrial (século 18) trouxe, por um lado, progresso e crescimento, mas por outro, propiciou a criação de diferentes classes sociais e um tipo de pobreza característica das cidades.

Acreditava-se que a degradação física e moral em que grande parte da população vivia era "coisa do demônio". As classes baixas eram consideradas perigosas, pois além de serem transmissoras de doenças, em função das péssimas condições habitacionais e a completa ausência de higiene, também não tinham trabalho – "desocupados" cujos proventos eram retirados das ruas ou atividades ilícitas. Ou seja, qualquer um sem emprego estável, para se manter, deveria se ligar a atividades escusas. Estimulou-se, assim, um novo modo de julgar o comportamento dos homens, tendo como principal parâmetro o trabalho (BUORO et al., 1999).

Ramalho (2001), ao discutir em seu estudo "O Mundo do Crime – a ordem pelo avesso" a forma pela qual a consciência dos presos captava a situação em que se encontravam, num contexto mais amplo que o mero mundo do crime em que a origem social tem um peso fundamental em sua identidade enquanto delinqüente, já apontava que para os presos ouvidos em suas pesquisas, as categorias trabalho e mundo do crime eram fundamentais na sua representação sobre a cadeia – o trabalho significava a possibilidade de recuperação.

Para eles, o criminoso nato seria aquele que nasceu na marginalidade, criou-se em favela, vem desde moleque roubando (RAMALHO, 2001).

Depoimentos de alguns sujeitos ilustram bem estas crenças:

(O que é marginal nato?) Isso é uma questão de sociologia, aí já é diferente, porque você vê uma família que vive numa favela, aqui você tem famílias numerosas de 10, 15, 20, numerosas, numa favela, que mora num barraco, não posso comparar a uma família de 3, 4 filhos dispondo de todos os recursos de educação e tudo. O nato a meu ver eu acho que vem daí. (p. 107). Já vem desde infância, o camarada revoltado com a sociedade. Você sabe que a maior parte dos marginais sai mesmo das favelas. (p. 108). Pessoas que foram criadas em favela, que vem já desde moleque roubando, RPM, essas coisas. Marginal nato, aquele que já nasceu na marginalidade. Então é o marginal nato, aquele que não tem recuperação mesmo, não se consertam mais. (p. 108).

Além de vincular-se a violência à pobreza, também aparece a associação da violência com a "raça" ou cor do agressor.

Reproduzimos um trecho da denúncia levada a efeito pelo representante do Ministério Público de São Paulo, pedindo a condenação dos sete policiais envolvendo a morte do dentista negro Flávio Ferreira Santana, ocorrida em 3 de fevereiro de 2004, para uma primeira apreciação:

O presente caso retrata motivação altamente reprovável,·uma vez que se cuidou de eliminar sumariamente a vítima,·porque algumas das suas características, ou seja, sua cor negra e sua camiseta guardavam semelhança com o autor de um roubo. Mas não era o ladrão (...) Bastou uma suspeita para o cidadão de bem se transformar em inimigo, marginal, merecedor de pena de morte (LAKATOS, 2004, p. 4).

Assim, há um sujeito com "cara de prontuário"1, que o torna por isso mesmo vulnerável. Não há necessariamente que praticar qualquer delito para tornar-se suspeito. Basta apresentar um determinado tipo físico, comportamento ou condição social para ser abordado pelo aparelho repressivo estatal (LAKATOS, 2004).

O advogado e professor de Direito Penal da USP, Sérgio Salomão Shecaira, em entrevista ao Jornal do Advogado (LAKATOS, 2004), afirma que o estereótipo do suspeito é um legado cultural antigo, que está incorporado ao imaginário popular e ao aparelho repressor do país. Ele informa:

Já em 1569, havia autores relacionando fisionomia com propensão para o crime. Um exemplo consta no Edito de Valério, no qual Muscardi recomenda que ‘na dúvida entre presumíveis culpados, condene-se sempre o mais feio’. E, no século XIX, ganharam impulso as teorias pseudocientíficas do racismo – modernamente, vale lembrar, o conceito de ‘raça’ para ser humano sequer é considerado pelas ciências; existe a ‘raça humana’, sem diferenciações de cor (p. 5).

No Brasil, o maranhense Raimundo Nina Rodrigues, em sua obra Raças e responsabilidade penal no Brasil (1894), condenava a extensão do princípio do livre arbítrio aos negros, pois estes já teriam propensão congênita à criminalidade e à vadiagem. Nina Rodrigues apud Lakatos (2004) introduziu no Brasil as doutrinas de Cesare Lombroso, que cunhou a figura do "delinqüente nato": ele seria reconhecido por dados como tamanho do crânio e dos dedos e pela largura do nariz. Lombroso, que estudou os habitantes das prisões italianas, sustentava que muitos criminosos assemelhavam-se fisicamente a animais inferiores ao homem na escala evolutiva. Aqueles, por exemplo, cujo comprimento dos braços abertos excedia a altura, tinham nariz achatado e crânio em forma aguda recordavam-lhe macacos (FELDMAN, 1977).

Tais pressupostos, embora façam parte de um passado remoto, influenciaram todo o desenvolvimento do padrão cultural de nossa sociedade, cujos valores éticos e estéticos tiveram por base a figura do branco europeu. Poderse- ia dizer que há um "racismo inconsciente", fruto do caldo cultural que resultou dessas idéias e princípios ao longo da história (LAKATOS, 2004).

Ainda que atos explícitos de discriminação hoje sejam, inclusive, proibidos por lei, a discriminação face à cor da pele continua existindo.

No estudo "As novas formas de expressão do preconceito racial no Brasil: estudos exploratórios" (CAMINO; SILVA; MACHADO, 2004), cujo objetivo era verificar o efeito da pressão anti-racista sobre as pessoas, os autores concluíram que:

(...) a existência do preconceito racial é expresso mais facilmente quando o sujeito atribui este preconceito aos outros (brasileiros), ao passo que ao referir-se a si, o sujeito tende a negar ser preconceituoso. Constata-se que a força da norma social anti-racista leva as pessoas a evitarem assumir atitudes pessoais preconceituosas, mas essa norma não lhes impede ver que no Brasil continua a se discriminar pessoas de cor negra. Nesta situação contraditória, existe discriminação, mas ninguém é responsável por ela (p. 133).

O estereótipo social é uma crença compartilhada sobre

algum atributo, característica ou traço psicológico, moral ou físico atribuído extensivamente a um agrupamento humano. Há duas direções na mobilização de estereótipos sociais: a qual se volta para o grupo ao qual se pertença (auto-estereótipo); e a que visa um grupo distinto (hetero-estereótipos) (KRÜGER, 2004, p. 37).

Os estereótipos sociais têm uma dupla função: auxiliam a criar e a manter a ideologia do grupo, de maneira a justificar as múltiplas ações sociais; e favorecem o criar e o preservar da diferenciação entre o próprio grupo e os demais grupos sociais. Em decorrência disso, é produzido um viés na avaliação de in-group (nosso grupo) e out-group (outro grupo) (STEPHAN; STEPHAN, 1985 apud PEREIRA, 1996).

Há uma tendência em avaliar o próprio grupo de uma forma mais positiva e concomitantemente proceder a uma avaliação negativa dos grupos externos (PEREIRA, 1996).

Formamos o "nosso grupo" em oposição ao "outro grupo", ao qual atribuímos características e comportamentos. Em contrapartida, o "nosso grupo", a partir desta crença, providencia uma série de condutas, nem sempre pautadas em dados reais (RODRIGUES et al., 2000).

O vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo, Hédio da Silva Jr., em depoimento para o Jornal do Advogado (LAKATOS, 2004), lembra que, em fevereiro de 1996, um comandante de policiamento declarou, à revista Veja, que a Polícia Militar não trabalhava com pessoas suspeitas, mas com situações de suspeição. Exemplificou dizendo: "quatro crioulos dentro de um carro é uma situação de suspeição" (p. 5).

Outro exemplo é dado, nessa mesma publicação, pelo professor Shecaira. Ele relembra que em 1995, o jurista José Afonso da Silva consultou o comando geral da Polícia Militar sobre o conceito de suspeito; obteve a seguinte descrição: "alguém visivelmente pobre circulando por um bairro fino" ou "alguém numa parada de ônibus de uma única linha que deixasse passar quatro ônibus sem tomar nenhum" (LAKATOS, 2004, p. 5).

Assim, o grupo da Polícia Militar vê-se legitimado a abordar pessoas do "outro grupo" (negros e pobres) porque, pelo simples fato de apresentarem essas características do grupo social ao qual pertencem, já são potencialmente suspeitos.

Pereira (1996) cita Sherman (no prelo) para considerar que:

a ativação dos estereótipos pode afetar a maior parte do processamento das informações sociais, incluindo a alocação da atenção, a interpretação dos comportamentos, a elaboração de inferências, a busca de informações, a seleção do tipo de informação a ser retirada da memória, bem como levar o percebedor a procurar apenas as informações que confirmem os seus estereótipos, gerando as profecias auto-realizadoras (p. 176).

Se o "percebedor" busca apenas confirmar seus estereótipos, clarifica-se o fato de que, de acordo com pesquisa do Datafolha, os jovens negros de 16 a 24 anos são mais abordados pela polícia do que os brancos (LAKATOS, 2004), como se tais características, ou atributos, pudesse convertê-los em pessoas escaladas para a representação de um tipo de papel específico. Desempenham, então, o papel de estigmatizados em praticamente todas as situações sociais, tornando natural a referência a eles como pessoas estigmatizadas, cuja situação de vida as coloca em oposição às pessoas "normais" (GOFFMAN, 1980).

Espera-se, então, que o jovem negro, oriundo da periferia, desempenhe seu papel de delinqüente ou, ao menos, "suspeito". Pois, de fato o estereótipo é uma fonte importante de expectativas sobre como um grupo é, ou deve ser. Quando efetivamente o jovem negro da periferia "encarna" esse papel, a profecia se realiza.

É possível que estas informações carregadas de expectativas, sejam processadas de tal modo que permaneçam retidas e, portanto, disponíveis para afetarem os julgamentos. Os fatores apontados por Hamilton, Sherman e Ruvuolo (1990) como os responsáveis por estas informações consistentes com um estereótipo serem mais prováveis de serem acessadas são:

• de acordo com o que percebedor acredita ser verdadeiro, a informação terá maior credibilidade, mantendo seu valor;

• a informação ajusta-se a uma estrutura cognitiva já existente, podendo gerar mais conclusões acerca do estereótipo já presente nas informações consistentes.

Ao questionar as pessoas sobre o fenômeno da violência urbana e lhes solicitar um julgamento a esse respeito, é bastante provável que elas recorram aos estereótipos, pois é certo que aquele fenômeno é bastante complexo e exige, portanto, informações complexas. O estereótipo, então, enquanto estratégia heurística, facilita o processo de julgar questões complexas e difíceis.

 

Automaticidade

Lima e Vala (2004) salientam que, para desencadear um processo automático de estereotipia, seria suficiente a simples presença de uma característica facilmente discernível (por exemplo, cor da pele, traços de gênero, idade, nacionalidade etc.) – trata-se, pois, de economia psíquica, o que em psicologia cognitiva é conhecida pela metáfora do "cognitive miser" (Monstro Cognitivo). Consoante a esta metáfora, portanto, selecionamos no ambiente apenas os estímulos considerados relevantes; somos avaros mentais, ou seja, dispendemos o mínimo em termos de esforço e atenção. Os autores, juntamente com Bargh (1999 apud LIMA; VALA, 2004), denominam "este processo de simplificação, categorização, desindividualização e estereotipia automática de ‘Monstro Cognitivo’" (p. 43).

O "Monstro Cognitivo" é uma opção para julgamentos sociais quando não possuímos fontes cognitivas suficientes (tempo, habilidade, motivação) para perceber os indivíduos em seus termos individuais (RUTLAND, 2004).

Em sua perspectiva, Lima e Vala consideram que o que interfere sobre a "automaticidade" e sobre a expressão dos processos associados aos estereótipos são determinadas necessidades de justificação de relações intergrupais. Ou seja, a "automaticidade" e os seus moderadores intra-psíquicos se estabelecem sobre as ideologias e as normas sociais.

São as normas culturais que constroem nossas crenças e atitudes, sejam elas explícitas ou implícitas. Se algumas ideologias podem propiciar a inibição de respostas automáticas, outras podem alimentar e fomentar o "monstro".

No presente estudo buscamos identificar como os indivíduos representam a violência (e a criminalidade enquanto subproduto) em seu cotidiano, tendo por objetivo investigar os estereótipos formados por esses indivíduos.

 

Método

Participantes
Participou deste estudo uma amostra não probabilística de adolescentes e adultos da região do Grande ABC, de ambos os sexos, encontrada em locais públicos, totalizando 81 sujeitos.

Local
Os Participantes foram abordados no Poupa-Tempo de São Bernardo do Campo, no 6º Batalhão da Polícia Militar e em um Colégio de Ensino Fundamental e Médio de São Caetano do Sul, situados na região do Grande ABC e na Universidade Metodista de São Paulo – Campus Planalto.

Instrumentos
Para o estudo, foi utilizado um questionário misto, com o objetivo de identificar, na opinião dos Participantes, quais os delitos mais freqüentes, horário e local onde ocorrem e os perfis dos agressores e das vítimas.

Procedimento
A partir de estudos realizados pelo NEV/USP (Núcleo de Estudo da Violência – USP) e a elaboração de um inventário de delitos, construiu-se um questionário misto com linguagem técnica, visando identificar na opinião dos Participantes os quatro delitos que ocorrem com maior freqüência; e, dentre os quatro escolhidos, qual o perfil do agressor e qual o perfil da vítima, respectivamente.

No Poupa-Tempo São Bernardo os Participantes convidados a participar do estudo foram pessoas que aguardavam na fila de atendimento do Setor de Identificação (Verde). A escolha da Escola de Ensino Fundamental e Médio em São Caetano foi realizada a partir do conhecimento pessoal e a sala de aula para a aplicação do instrumento foi sorteada. Os alunos e professores que responderam ao questionário foram aqueles que se encontravam disponíveis. Já os alunos do curso de biomedicina da Universidade Metodista e os policiais que foram convidados a participar do estudo foram escolhidos em função da facilidade de acesso.

Após breve explicação sobre os objetivos da pesquisa, todos os Participantes assinaram o "Termo de Consentimento Livre e Esclarecido" e responderam individualmente ao questionário de opinião sobre os delitos.

As comparações entre as categorias obtidas pelo questionário e o inventário de delitos foram realizadas por meio de testes de proporções. Foi adotado o nível de significância de 5% para a decisão.

 

Resultados

Os resultados do presente estudo indicaram que em relação ao gênero dos Participantes, 50,6% pertencem ao sexo masculino. A maioria (36,1%) situa-se na faixa dos 21 aos 30 anos, 54,3% são solteiros, seguidos de 39,5% casados ou que fazem parte de uma união estável. Segundo o município em que residem, 27,5% moram em São Bernardo do Campo, 25% em São Paulo e 18,8% em Santo André. No que diz respeito à escolaridade, 34,6% possuem o Ensino Superior Incompleto, seguidos de 28,4% que completaram o Ensino Médio.

Em relação ao hábito da leitura de jornal, 50,6% dos Participantes responderam afirmativamente. Destes, a média de idade (35,7 anos) é significativamente maior que a idade média (25,8 anos) obtida entre os indivíduos que negaram tal hábito (teste t; p<0,001). Porém, o veículo de informação apontado pelos Participantes como sendo o principal foi a televisão (54%), seguida da Internet (16,23). Jornais ficaram em terceira opção, representando 13,7% das respostas.

Ao serem questionados acerca de possíveis experiências envolvendo a violência, 63% indicaram não terem sido vítimas de nenhum ato. Em relação aos 37% já vítimas de algum tipo de delito, 75,9% afirmaram terem sido roubados.

Na opinião dos Participantes, os delitos que ocorrem com maior freqüência são: Roubo (86,4%), seguido de Seqüestro (69,1%), Furto (58%) e Homicídio (51,9%).

Segundo eles, os delitos são cometidos, em sua grande maioria, por homens e a maioria das vítimas são mulheres, excetuando os delitos de Furto e Homicídio.

 

 

 

Em relação ao perfil dos Agressores e das Vítimas indicado pelos Participantes, as informações fornecidas foram: Roubos são cometidos por homens (98,3%), sendo que 58% deles são negros; 69,6% encontram-se na faixa etária dos 19 aos 25 anos; 79,7% estão desempregados; 53,6% possuem o Ensino Fundamental incompleto; 54,7% estão sob efeitos de álcool e / ou drogas no momento em que cometem o delito. A grande maioria dos participantes (79,7%) opinou que todos os delitos ocorrem em qualquer dia da semana e 58% opinaram que acontecem em qualquer hora.

Já entre as vítimas de Roubo, de acordo com os participantes, 49,2% são mulheres; 87% brancas; 50,7% encontram-se na faixa dos 19 aos 25 anos; 73,9% trabalham em atividades formais (com carteira assinada); 47,8% completaram o Ensino Médio. No momento de ocorrência do delito, 95,7% das vítimas não estariam sob efeito de drogas e / ou álcool.

No que diz respeito ao perfil do seqüestrador, os participantes opinam que 87,2% são homens; 55,4% brancos; 62,5% situam-se na faixa dos 19 aos 25 anos e; 39,3% possuem o Ensino Fundamental incompleto; 67,9% encontram- se desempregados; 44,6% dos seqüestros ocorrem em São Bernardo do Campo; 76,8% em qualquer dia; 50% em qualquer hora. Em relação ao uso de álcool e / ou drogas, 54,9% não estão sob efeito deles. As vítimas de seqüestro são 58,8% mulheres, 87,5% brancas; 55,4% com idade entre 19 e 25 anos, sendo que 51,8% completaram o Ensino Superior e 75% trabalham em atividades formais. Durante a ocorrência do delito, segundo os participantes, 96,4% das vítimas não estariam sob efeito de álcool / drogas.

O terceiro delito selecionado como o de maior freqüência foi Furto. Entre os que furtam, 87,2% também são homens; 52,2% negros; 58,7% com idade entre 19 e 25 anos, não completaram o Ensino Fundamental (58,7%) e estão desempregados (76,1%). Para cometerem o delito, escolhem o município de Santo André (34,8%); 87% em qualquer dia da semana e em qualquer horário (50%). Segundo os Participantes, 38,1% dos que furtam estão sob o efeito de álcool e / ou drogas. Suas vítimas, porém, são homens também (46,5%); brancos (84,8%); 39,1% acima dos 30 anos, com o Ensino Médio completo (56,5%); 63% com atividades formais. Durante a ocorrência do furto, 91,3% das vítimas não estão sob influência de álcool e / ou drogas.

De acordo com os participantes, o quarto delito mais freqüente é Homicídio. O perfil de seus agressores é homem (94,4%); pardo (52,4%); entre 19 e 25 anos (47,6%); não completaram o Ensino Fundamental (59,5%); estão desempregados (61,9%). Em relação ao local, dia da semana e horário, os participantes apontaram que o homicídio ocorre em Diadema (50%); em qualquer dia da semana (78,6%) e em qualquer horário (57,1%). No que diz respeito ao uso de drogas e / ou álcool, 71,8% dos agressores estão sob seus efeitos. Já as vítimas desse agressor, em sua maioria são homens (64,1%); 71,4% brancos; também entre 19 e 25 anos (54,8%); possuem o Ensino Médio Completo (42,9%) e com atividade profissional formal (57,1%).

Ressalta-se ainda, que o único delito em que o Agressor não é indicado como estando sob o efeito de álcool e / ou drogas e indicado como sendo branco é o Seqüestro. Entre as vítimas, independente do tipo de delito que sofreram, a grande maioria não se encontra sob o efeito de entorpecentes, na opinião dos participantes.

Em geral, a idade apontada tanto para agressores quanto para vítimas situase entre os 19 e 25 anos, com exceção de Furto (vítimas acima de 30 anos).

 

Discussão

A partir dos resultados obtidos, pode-se configurar num primeiro momento que para o imaginário popular a maioria dos agressores e vítimas é do sexo masculino, excetuando-se as vítimas de Roubo e Seqüestro, as quais seriam do sexo feminino.

Essa discrepância pode ser justificada pelo fato de as mulheres ainda serem consideradas frágeis e, portanto, mais vulneráveis a esses tipos de delitos. É possível que ainda prevaleça no imaginário popular o estereótipo do homem: agressivo, independente, autoconfiante, corajoso; e da mulher: submissa, sensível e afetiva (ASSMAR; FERREIRA, 2004).

Assim, da mesma forma que a estereotipia pode ser levada em consideração a partir do gênero dessas pessoas, o mesmo pode ocorrer em relação ao local em que acontecem.

Diadema, por exemplo, em função de sua exposição freqüente na mídia enquanto município perigoso, e o fato de 54% dos Participantes terem respondido que o principal veículo de informação é a televisão, nos faz questionar se de fato a mídia torna-se um veículo fomentador da estereotipia. O mesmo ocorre para Seqüestro.

Em relação ao Furto (58% do total das escolhas), pode-se destacar o gênero da vítima apontada pelos Participantes. Independente deles terem sofrido ou não algum tipo de violência, apontam que quem comete este tipo de delito é o homem. Já as mulheres só passam a ser consideradas como possíveis agentes para este delito quando os Participantes (homens ou mulheres) não foram vítimas de nenhum crime.

É possível, nesse caso, que a experiência pessoal defina a realidade, ou seja, é bastante provável que os que sofreram alguma violência tenham sido vítimas de agressores do sexo masculino.

Por outro lado, quando não foram vítimas, apontam como possibilidade que a mulher também seja a agressora. Considerando-se que a mulher vem gradativamente sendo inserida no espaço público, esta inserção se aplicaria também ao mundo do crime e, particularmente, ao Furto, crime que não implica numa violência física ou grave ameaça à vítima.

De acordo com o apontado por Lakatos (2004), efetivamente o estereótipo do criminoso é bastante conhecido: homem, jovem, negro ou pardo, pobre e proveniente dos bairros mais distantes na periferia. É por meio de atributos dos grupos sociais mais pobres que se reconhece a delinqüência (RAMALHO, 2001).

Os resultados do presente estudo corroboram a assertiva apontada: para os Participantes o agressor, nos quatro delitos escolhidos, está desempregado e tem o Ensino Fundamental Incompleto. Assim, reforça-se a crença de que a pobreza, simbolizada pelo desemprego e a baixa escolaridade, esteja atrelada à criminalidade.

Tanto para Furto quanto para Roubo, os Participantes opinaram que o agressor seja negro. Para Homicídio apontaram a cor parda. Tais crenças confirmam o sujeito com "cara de prontuário". Ao serem solicitados a traçar um perfil do agressor, atribuem a este grupo traços físicos amplamente arraigados no imaginário social.

No que diz respeito ao Seqüestro, a cor apontada é a branca. Vale a pena ressaltar que estelionatários e estupradores também foram apontados como brancos.

Indaga-se qual crença estaria embasando essa percepção. Exigiriam tais delitos uma aparência mais sedutora, imagem essa não compatível com o negro ou o pardo? Para o Seqüestro e o Estelionato, especificamente, seria a inteligência atribuída aos "brancos", elemento fundamental inclusive, para o planejamento e execução do delito considerado "mais sofisticado"?

Ainda no que diz respeito a estes delitos, os Participantes apontaram que os agressores para perpetrá-los não estariam sob o efeito de substâncias psicoativas. Ou seja, é bastante possível que as pessoas acreditem que para a consecução destes crimes, os agressores devem estar sem qualquer alteração no nível de consciência. Por outro lado, para a prática dos demais delitos, segundo os respondentes, os agressores estariam sob efeito de algum psicoativo. Assim, seria o uso de drogas para o público, um fator necessariamente atrelado a eventos criminosos?

Para Minayo e Deslandes (1998) não é possível saber "se a presença de álcool ou drogas nos eventos permite inferir que elas tenham afetado o comportamento de pessoas envolvidas" (p. 37). Em estado de abstinência, teriam agido diferentemente? Segundo estas autoras, a única inferência possível é a "alta proporção de atos violentos quando o álcool e as drogas estão presentes entre os agressores ou a vítima, ou em ambas as partes" (p. 37).

As autoras, portanto, informam que álcool e drogas também estão presentes entre as vítimas, o que, todavia, não faz parte do imaginário das pessoas, haja vista que para todos os delitos, considerou-se que as vítimas não estariam sob efeito de qualquer droga.

As vítimas nos quatro delitos mais escolhidos são brancas, possuem atividades formais ("com carteira de trabalho assinada") e, no mínimo, têm o Ensino Médio completo.

Desta feita, como já salientado por Stephan e Stephan (1985 apud PEREIRA, 1996), os estereótipos favorecem a criação e a preservação da diferenciação entre o próprio grupo e os demais grupos sociais.

Ao grupo de delinqüentes são atribuídos comportamentos e características mais negativas (escolaridade baixa, desemprego e uso de substâncias psicoativas). Em contrapartida, às vítimas atribuem-se qualidades consideradas mais positivas (escolaridade mais elevada, emprego formal e ausência de substâncias psicoativas)..

Talvez, no imaginário popular, estas características seriam próprias das pessoas "do bem". Além disso, como a maior parte (79%) dos Participantes tem, no mínimo, o nível médio completo estariam atribuindo a si próprios a condição de vítima, nunca de agressor.

Ressalta-se, por fim, que no estudo realizado pelo Serasa (2005), o qual culminou na publicação do "Guia Contra a Violência" (2005), traçou-se o perfil da vítima de Homicídio: jovem, do sexo masculino, morador de regiões periféricas das grandes cidades, que abandonou a escola cedo e não tem emprego formal.

Destaca-se, desta forma, que o perfil da vítima de Homicídio como o apontado acima, não faz parte do imaginário social. Ratifica-se, portanto, que para o "nosso grupo" – o grupo das vítimas, a avaliação é efetivamente mais positiva.

 

Considerações finais

A meta do presente estudo foi identificar como os indivíduos representam a violência em seu cotidiano, tendo por objetivo específico investigar os estereótipos formados por esses indivíduos.

Efetivamente os resultados apontaram que, questionadas sobre o fenômeno da violência, as pessoas recorreram aos estereótipos enquanto estratégia heurística. Assim é que, enquanto avaros mentais, dentre as informações pedidas pelo instrumento, os indivíduos informaram os sinais considerados relevantes para ambos os perfis (agressor e vítima).

De fato, o "Monstro Cognitivo" tornou-se uma opção para um julgamento social, de sorte a justificar as relações intergrupais. Ou seja, para defender a identidade positiva do seu grupo (vítimas), as pessoas construíram uma imagem mais positiva desse mesmo grupo em contraposição ao grupo dos agressores.

Portanto, a análise dos resultados indicou algumas questões:

• A opção pelo sexo feminino enquanto vítima estaria pautada nas crenças de que as mulheres são mais frágeis e, portanto, mais vulneráveis a esses tipos de delito?

• A exposição à violência levaria as pessoas a acreditarem que eventos violentos podem acontecer em qualquer horário?

• O que estaria influenciando as pessoas quando estas optam pelo Seqüestro e pelo Furto como crimes mais freqüentes?

Estas e outras questões indicam a necessidade de estudos mais específicos.

 

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Recebido em: 22/03/2006
Aceito em: 15/09/2006

 

 

1 Grifo das autoras.

*Baseado no trabalho de conclusão de curso de graduação em Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo.
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Graduandas em Psicologia pela Universidade Metodista de São Paulo.

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Psicóloga e Mestre em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de São Paulo. Professora do Curso de Graduação em Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo. Orientadora do presente estudo.
Email: miriamtoros@terra.com.br e luna_psico@yahoo.com.br