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Psicologo informacao

Print version ISSN 1415-8809

Psicol inf. vol.14 no.14 São Paulo Oct. 2010

 

Editorial

 

É com satisfação que vimos apresentar mais este número 14 do periódico anual Psicólogo inFormação, agora assumido por uma nova equipe editorial.

É num contexto gratificante de um trabalho coletivo que nossa equipe assume as atividades e vem divulgar esta produção científica nacional garantida pela manutenção de uma política editorial séria e transparente. O processo editorial do nosso periódico, embora busquemos sempre aperfeiçoá-lo, vem mantendo, ao longo destes catorze anos, o rigor e os critérios de avaliação desde sua criação. Ou seja, feita sempre por consultores e assessores, além de pareceristas ad doc, a aceitação ou recusa dos textos recebidos são sempre baseadas no mérito.

Desde sua criação, temos cumprido com os mesmos objetivos que com o periódico nasceram, e por isso os reafirmamos sempre no editorial. Ou seja, é importante salientar que este periódico busca o favorecimento da iniciação da escrita científica de alunos de psicologia, a facilitação da troca de conhecimentos entre pós-graduação e graduação em psicologia e o incentivo à educação continuada.

Destacamos ainda que a interlocução da psicologia com áreas afins também é um dos objetivos deste periódico; e ao longo destes anos temos levado ao público textos que traduzem esse propósito. Encontram-se publicados em números anteriores, assim como no atual, as interfaces da psicologia com o direito, a educação, a filosofia, as ciências da religião, além das diferentes subáreas da saúde.

Nos artigos que integram esta edição, são apresentadas, de modos distintos, discussões atuais da psicologia e ciências afins, convidando o leitor a avançar no desdobramento de um após outro artigo ora listado. Apresentam-se relatos de pesquisa, artigos de revisão teórica e comunicações com visões críticas sobre os conhecimentos teóricos e suas aplicações no fazer psicológico. Os dois primeiros artigos buscam avaliar estudantes de psicologia e também contam com a participação de pesquisadores iniciantes sob orientação de professores habilidosos na arte de pesquisar. Levam importantes discussões acerca do perfil de acadêmicos da área de psicologia e a necessidade de se prestar atenção na saúde desse futuro profissional que se prepara para cuidar de outros. O primeiro artigo, Traços de personalidade de estudantes de psicologia, de autoria de pesquisadores da Universidade Católica Dom Bosco, de Campo Grande (MS), trabalha com a concepção de personalidade sob a perspectiva dos traços, utilizando- se do modelo fatorial que inclui dimensões como: extroversão, socialização, realização, neuroticismo e abertura a experiências. Nesse estudo, os autores avaliaram 310 acadêmicos e concluíram diferenças entre gêneros, mostrando que a dimensão socialização apresentouse em escores mais altos entre mulheres enquanto que abertura foi mais significativa entre os homens. Assim, os autores convidam o leitor a entrar numa importante discussão acerca da necessidade de se conhecer mais a realidade psíquica de estudantes de psicologia, principalmente pelo fato de que, no cotidiano da vida acadêmica é frequente o surgimento de diferentes problemas emocionais, ansiedade, somatizações, entre outros; fatos que preocupam docentes e dirigentes de cursos não só da área da psicologia, mas das ciências da saúde de modo geral. O segundo relato de pesquisa, Inteligência emocional de estudantes universitários, do iniciante Rodrigo Azevedo Gomes e da professora Mirlene Maria Matias Siqueira, da Universidade Metodista, analisou as relações entre as cinco habilidades de inteligência emocional (autoconsciência, automotivação, autocontrole, empatia e sociabilidade) em 82 estudantes de psicologia. Seus resultados revelaram que a autoconsciência e automotivação eram as habilidades melhor desenvolvidas, enquanto que a sociabilidade esteve em desenvolvimento inferior.

O terceiro relato de pesquisa, Perfil de personalidade do médico cirurgião e do médico pronto-socorrista: um estudo exploratório, de autoria da graduanda Fabiana Feba e da professora Sonia Marques, avalia a personalidade desses profissionais, e procura identificar um perfil de personalidade a partir das escolhas laborais desses. A partir da perspectiva junguiana de tipo psicológico e da extensão temperamentos complementada por neojunguianos, o estudo mostra indivíduos com perfil realista perceptíveis – SP, cuja característica é o gosto pela liberdade de ação, o que os torna hábeis em situações de crise – típico dos médicos que atuam em prontos-socorros –, e indivíduos com o perfil realista judicativo – SJ, que buscam a estabilidade, tendo uma imagem de responsabilidade social, institucional e familiar, mais típicos dos médicos-cirurgiões. Mostrando, portanto, que há uma coerência entre o perfil de personalidade e as tarefas executadas por esses profissionais.

É ainda interessante apontar que os três primeiros relatos de pesquisa aqui apresentados nos atentam para a importância de se estudar a personalidade em diferentes grupos ou pessoas pertencentes a diferentes segmentos sociais e profissionais, na medida em que podem ser levantados novos problemas ou hipóteses para novas investigações em psicologia, bem como oferecem indicativos para a atenção em saúde e saúde psicológica de sujeitos ou grupos.

O quarto relato, Pesquisas sobre qualidade de vida, desenvolvidas no mestrado em psicologia da Universidade Católica Dom Bosco, também de pesquisadores da Universidade Católica Dom Bosco, os professores José Carlos Souza e Anderson Borges de Carvalho, traz um levantamento sobre os instrumentos, métodos e populações estudadas em pesquisas de qualidade de vida no programa de mestrado de sua instituição, e aponta para a importância de se estudar a QV em indivíduos saudáveis.

A seguir, o quinto e o sexto relatos de pesquisa trazem à discussão a adolescência côo tema central e, mesmo vista sob diferentes óticas, levantam as preocupações atuais com essa fase da vida. O quinto relato, Percepção da autoimagem corporal de adolescentes modelos: dois estudos de caso, trata-se de um estudo clínico, de característica diagnóstica e que utiliza de importantes e clássicos instrumentos projetivos, como: D.F.H. (Desenho da Figura Humana), e Machover, para levantar características de personalidade relacionadas à autopercepção da imagem corporal de adolescentes que exerciam profissão de "modelo". Seus resultados revelam importantes características como autodepreciação, insegurança e dificuldades no contato social e fragilidade egoica. O texto vem a trazer importantes contribuições e hipóteses diagnósticas sobre adolescência, a valorização do corpo na sociedade atual e seus conseqüentes conflitos. O sexto relato de pesquisa O estatuto da criança e do adolescente e a atuação do psicólogo, da mestranda em psicologia Beatriz Borges Brambilla e da professora Hilda Rosa Capelão Avoglia, levanta a discussão acerca de possíveis modificações na atuação do psicólogo a partir da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, e aponta para o fato de que esse instrumento regulador influenciou qualitativamente o modelo de atendimento psicológico, pois auxiliou na própria concepção desenvolvimentista individualista de criança e adolescente para uma concepção mais voltada para a complexidade dos elementos que constituem o indivíduo.

O sétimo artigo, Uma violência massificada de brasileiros contra japoneses de autoria do Dr. Roberto Yutaka Sagawa da UNESP de Assis, trata-se de um importante texto teórico que busca analisar à luz das contribuições freudianas grupais, como "Psicologia de massa e análise do Ego", "Totem e Tabu" e "Mal Estar na Civilização", alguns episódios de violência em massa de brasileiros contra japoneses por ocasião do término da segunda grande guerra mundial, no interior de São Paulo. O autor observa como a convivência social não depende dos indivíduos em si mesmos, mas que ante uma grande ação motivada pelo ódio – no caso a diferença étnica e cultural, tal como Freud analisou, a massa de brasileiros pôde exteriorizar o seu ódio de forma coletiva e sem-lei.

No oitavo artigo, Loucura institucionalizada: sobre o manicômio e outras formas de controle, o autor Jonathan Hernandes Marcantonio traz uma interessante construção teórica acerca da loucura, fazendo um caminho histórico das instituições asilares no período moderno, dando enfoque ao controle social em seus principais desdobramentos como o desenvolvimento dos hospícios, manicômios e asilos, e as concomitantes formas de controle do Estado. Nesse trabalho o leitor é convidado a fazer uma reflexão crítica acerca da possível união teleológica das técnicas psiquiátricas e da atuação do Estado na identificação dos padrões de normalidade e patologia.

No nono artigo, A técnica de Grupos-Operativos à luz de Pichon- Rivière e Henri Wallon, a professora Alice Bastos faz uma articulação entre a proposta operativa de Pichon-Rivière e os principais pressupostos da teoria de Henri Wallon sobre o papel dos grupos na formação da pessoa. A autora traz contribuições para a práxis psicológica e psicopedagógica voltadas para a área da saúde, principalmente por chamar a atenção para o fato de que em ambas concepções teóricas, a aprendizagem nada mais é do que sinônimo de saúde mental.

O décimo e último texto apresentado, trata-se de uma singular comunicação científica intitulada Ensaio sobre psicologia e religião: uma questão do olhar, de autoria do Dr. José Jorge Zacharias que levanta uma antiga e ao mesmo tempo atual discussão sobre a íntima relação entre Psicologia e religião. Procura assinalar como a psicologia científica e sua tradição positivista veio, ao longo de sua história, reduzir a experiência religiosa do paciente às influências puramente psicossociais. Com ilustrações de um caso clínico, o autor busca resgatar o diálogo entre a ciência psicológica e outros campos da experiência na práxis clínica como forma de compreensão mais profunda da vida humana.

Com as contribuições apresentadas nesse número convidamos o leitor a apreciar, refletir e ao mesmo tempo tecer críticas e levantar novas hipóteses acerca de um conhecimento científico em constante desenvolvimento.

Finalizando, também gostaríamos de convidar os leitores a participarem do II Congresso Luso-Brasileiro e I Interamericano de Psicologia da Saúde que acontecerá no Brasil e será sediado pela Universidade Metodista de São Paulo em abril do ano de 2011.

 

Marília Martins Vizzotto & Tania Elena Bonfim
Editoras