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Psicologo informacao

versão impressa ISSN 1415-8809

Psicol inf. vol.16 no.16 São Paulo dez. 2012

 

Editorial

 

O prazer e o sofrimento do trabalho

Labor's pleasure and pain

 

O trabalho de elaboração e editoração de um periódico científico é sempre um desafio, dada a árdua tarefa dde manter a organização, acrescendo-se a distribuição dos textos de modo adequado e coerente, g e garantindo assimr a qualidade dos textos e da própria edição que vem a público.

Essa tarefa é daquelas em que deparamos com a dualidade humana: prazer e sofrimento. De um lado, coloca-nos arduamente numa ocupação quase repetitiva, cheia de detalhes e que chega, por vezes, a ser enfadonha, com tarefas como: encaminhar para os colegas emitirem seus pareceres, encaminhar aos autores para as modificações sugeridas, retornar aos colegas, fazer revisão técnica, encaminhar para a equipe de editoração gráfica, revisar a prova… Além disso, a preocupação com o prazo deixa-nos quase paranoicos. De outro lado, entrar em contato com novos conhecimentos, com o surgimento de ideias novas no campo científico, com a criatividade dos pesquisadores e entrar em contato com estudiosos de toda parte do País e do mundo enche-nos de satisfação e, ao visualizarmos a edição pronta, desperta-nos intenso prazer!

Talvez todos nós, cientistas, professores, iniciantes no campo da ciência, assim como trabalhadores de toda e qualquer natureza, tenhamos as mesmas sensações, percepções, emoções e sentimentos em relação ao trabalho: sofrimento e prazer. Não vamos discutir com Sigmund Freud, ou mesmo com Christopher Dejours, sobre o princípio das pulsões ou da loucura do trabalho. Deixemos que os pesquisadores o façam!

Nosso intuito, também para não sermos tão repetitivos, é o de dizer que é com grande satisfação que apresentamos mais esse número de Psicólogo InFormação. E é, também, com grande prazer que apresentamos os artigos e comunicações que vêm a público, depois de um trabalho árduo, mas prazeroso.

Abre esse número o artigo "Integridade familiar e o idoso pobre: valores e significados", das colegas portuguesas da Universidade de Aveiro, Portugal, Filipa D. Marques e Liliana X. M. de Sousa, que examinam a construção da integridade familiar contrária à alienação em pessoas idosas com história de pobreza ao longo da vida. O texto é uma pesquisa qualitativa que explora significados e valores dessas pessoas idosas e que convivem e conviveram com a pobreza. Os interessantes resultados indicam que a integridade da família é vista quando o "ser pobre" é encarado pelas conquistas, enquanto que a alienação familiar surge quando o "ser pobre" associa-se a sentimentos de desvalorização e inferioridade. E, por isso, chamam atenção as autoras, os projetos e ações de intervenção devem considerar os significados e valores dessas pessoas.

O segundo artigo, Qualidade de vida das gestantes de alto risco de um centro de atendimento à mulher, traz a colaboração dos colegas acadêmicos do Mato Grosso do Sul; os resultados mostram que as gestantes solteiras tiveram piores índices de qualidade de vida (QV) em relação às casadas, e que quanto maior o número de filhos, mais baixa é sua qualidade de vida. Assim, torna-se interessante o acompanhamento de gestantes de alto risco em programas especiais que levem em consideração variáveis como a qualidade de vida.

O terceiro artigo, O luto antecipatório dos pais de uma criança com doença crônica: uma análise fenomenológica do filme "Em busca da luz", dos colegas psicólogos Bruna Sena Gaino, Candido J. Flauzino, Danieli R. M. Silva e Thais S. Teixeira, traz a análise de cenas principais e do conteúdo geral de um filme veiculado comercialmente sobre a história de uma criança acometida por uma doença crônica. A vivência e a participação dos pais, e o que os autores denominaram "luto antecipatório", estimularam uma interessante análise e discussão sobre a morte e o luto, vistos em uma perspectiva fenomenológica e com aproximações com a psicologia – como ciência e como área de atuação.

O quarto artigo, Qualidade de vida e capacidade para o trabalho de profissionais de enfermagem, dos colegas do Mato Grosso do Sul, é um estudo quantitativo, descritivo e de corte transversal, que avalia a qualidade de vida e a capacidade para o trabalho de profissionais de enfermagem de um hospital de grande porte. Seus resultados revelaram dados importantes, como o fato de que as mulheres tiveram melhores índices de QV do que os homens. Entretanto, todos os profissionais de enfermagem mostraram percepção positiva de sua qualidade de vida e capacidade para o trabalho, com relações significativas entre essas variáveis. Acresceu-se a esse trabalho a chamada qualitativa feita pelos autores, para o fato de que haveria um importante componente de autorrealização pessoal e profissional nesses sujeitos.

O quinto artigo é Aspectos psíquicos de pais e mães de crianças com paralisia cerebral por meio da análise de desenhos-estória, das psicólogas Carolina Almeida Agustinelli e Marília M. Vizzotto. Os resultados deste estudo sugerem que os pais apresentam um conjunto defensivo predominantemente regressivo, despertado pela deficiência dos filhos, especialmente de negação da paralisia cerebral e do sofrimento, além de evidentes identificações projetivas com a criança deficiente.

O sexto artigo, Qualidade de vida de estudantes de psicologia, é um estudo desenvolvido pelos colegas da Universidade Católica Dom Bosco, do Mato Grosso do Sul, integrantes do grupo de pesquisas do Prof. José Carlos Souza – Mayara Bacha, Lucy Martins, Lucas Cunha Leite, Juliana Ziliotto e Mirna Figueiró. Seus resultados sugeriram um índice de qualidade de vida satisfatório entre os estudantes; entretanto, detectaram tendências importantes para observação e cuidados preventivos, uma vez que a qualidade de vida pareceu pior no primeiro ano e tendeu a aumentar com o desenrolar do curso, além de as mulheres apresentarem escores significativamente inferiores aos dos homens nos domínios "dor" e "renda". O trabalho sugere programas de desenvolvimento e fortalecimento da qualidade de vida para estudantes.

O sétimo artigo, Qualidade de vida de mulheres de um ambulatório de reprodução humana, é um estudo produzido por colegas da Universidade Metodista que integram o grupo de investigação da professora Maria Geralda V. Heleno sobre qualidade de vida em parceria com a psicóloga Leonilde R. S. Paludetti. Seus resultadosvêm indicar comprometimento da QV em vários domínios e sugerem que essas pacientes, de fato, necessitam de acompanhamento psicológico.

Finalmente, compõem também esse número outras duas comunicações. A primeira, O sentido da avaliação psicológica no contexto e para o contexto: uma questão de direito, de autoria da colega professora Hilda Rosa Capelão Avoglia, traz à discussão a questão da avaliação no Brasil e no mundo, indicando uma evolução da avaliação na atuação do psicólogo. Em seu texto, a autora procura defender a avaliação psicológica como procedimento e como processo, e não como mera tarefa de aplicação de testes.

A segunda comunicação, Os atendimentos em delegacias da mulher e as técnicas de intervenção utilizadas com crianças e adultos, das professoras Marília Vizzotto, Maria Geralda Heleno, Tania Bonfim, Gleise Arias, discute técnicas e formas de atenção psicológica prestadas às vítimas de violência doméstica em delegacias de polícia específicas para o atendimento de mulheres e crianças vitimizadas. Relata e discute técnicas de atenção imediata, valorizando a "escuta psicológica" e as produções gráficas com crianças a fim de compreendê-las e mobilizá-las para a busca de um tratamento mais prolongado.

Pretendemos, com esta exposição, convidar o leitor a entrar em contato e apropriar-se dos textos que os colegas produziram e que desejam, acima de tudo, compartilhar.

Desejamos boa leitura,

Marília Martins Vizzotto - Editora
Tania Elena Bonfim - Editora associada