SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.16 issue16Labor’s pleasure and painThe quality of life of high-risk pregnant women assisted at a center for women assistance author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Psicologo informacao

Print version ISSN 1415-8809

Psicol inf. vol.16 no.16 São Paulo Dec. 2012

 

Artigo

 

Integridade familiar e o idoso pobre: valores e significados*

 

Family integrity and old age poverty: values and meanings

 

 

Filipa D. Marques**; Liliana Xavier Marques de Sousa***

**Gerontóloga, doutoranda do Programa Doutoral em Gerontologia e Geriatria: especialização em Gerontologia. Universidade de Aveiro - Secção Autônoma de Ciências da Saúde. Universidade do Porto – Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar. Bolsista de Investigação da Fundação para a Ciência e Tecnologia de Portugal
***Psicóloga, doutora em Psicologia, professora auxiliar com agregação na Universidade de Aveiro, Secção Autônoma de Ciências da Saúde; Pró-Reitora - Universidade de Aveiro, Portugal

 

 


RESUMO

Rever e integrar a vida é uma das tarefas desenvolvimentais mais relevantes no fim da vida, que pode conduzir a pessoa idosa à integridade, desconexão ou alienação familiar. Neste estudo, aprofunda-se a construção da integridade familiar (versus> desconexão e alienação) em pessoas idosas com história de pobreza ao longo da vida explorando o seu mundo de significados e valores. A amostra envolve doze participantes com idades entre os 65 e os 89 anos. Adoptou-se a técnica de contagem de palavras simples, recorrendo ao programa de análise de dados qualitativa N-Vivo7. Os resultados sugerem que os significados e valores atribuídos a ser pobre influenciam a re/interpretação da identidade ao longo da vida: a integridade familiar ocorre quando ser pobre é encarado pelas conquistas; a desconexão/alienação familiar emerge quando ser pobre é acompanhado de sentimentos de desvalorização e inferioridade. A intervenção familiar e comunitária deverá considerar estes significados e valores para adequar-se às vivências das pessoas idosas pobres.

Palavras-chave: integridade familiar; pobreza; revisão de vida; valores; significados.
ABSTRACT

Life review is one of the most important developmental tasks in later life. It involves the elderly and their families and can lead to integrity, family disconnection or alienation. This study explores the construction of family integrity (versus alienation and disconnection) in elderly with a history of poverty throughout their lives, exploring their world of meanings and values. The sample involves twelve participants aged between 65 and 89 years. The simple word count technique was applied, using the qualitative analysis program N- -Vivo7. Main results suggest that the meanings and values attributed to being poor influence the re / interpretation of identity throughout life: family integrity occurs when being poor is seen by the person's conquests; disconnection / alienation emerges when being poor is accompanied by feelings of devaluation and inferiority. Family and community intervention should consider these meanings and values to fit the experiences of the poor old people.

Keywords: family integrity; poverty, life review; values; meanings.

 

 

Introdução

 

A identidade é um processo intersubjetivo e relacional em que a imagem de si remete-se, constantemente, para os outros, integrando-os no contexto relacional no qual se efetiva o processo de identificação (VIEGAS; GOMES, 2007).

Na velhice, a identidade é reajustada por meio do processo de revisão e integração da vida, uma das tarefas desenvolvimentais mais relevantes no fim da vida, envolvendo a pessoa idosa e sua família (ERIKSON, 1998; KING; WYNNE, 2004). Esse re/ajustamento tem sido associado à re/definição da filosofia de vida (SOUSA et al., 2009; ERIKSON, 1998), parte integrante do processo de construção da integridade familiar (SOUSA et al., 2009; KING; WYNNE 2004).

King e Wynne (2004), baseados na noção de integridade do ego de Erikson (1950), expõem o conceito de "integridade familiar" como um desafio desenvolvimental normativo para pessoas idosas influenciado por fatores do sistema familiar. Este conceito indica que os esforços da pessoa idosa para atingir a integridade do ego estão ligados à construção de significado e desenvolvimento relacional no sistema familiar (SOUSA et al., 2009). A integridade familiar constitui o resultado positivo, envolvendo continuidade na família multigeracional, vivenciado pela pessoa idosa por meio da sensação de paz e/ou satisfação com o presente, passado e futuro das relações familiares. A desconexão e a alienação familiar são processos que salientam movimentos de afastamento e/ou alheamento familiar (SOUSA et al., 2009). A capacidade das pessoas idosas de alcançar a integridade familiar é influenciada por três competências familiares: transformação das relações, resolução de conflitos e/ou perdas, criação de sentido e legado.

King e Wynne (2004) salientam o impacto de fatores sociais e culturais neste processo. Já Marques e Sousa (2012) estudaram os processos conducentes à integridade familiar (versus desconexão/ alienação) em pessoas idosas com história de pobreza ao longo da vida. Os resultados sugerem que nestas pessoas o risco de desconexão ou alienação familiar é maior, contudo, a integridade é uma conquista possível. A filosofia de vida parece ser o fator influenciador da evolução (MARQUES; SOUSA, 2012): a integridade é facilitada por filosofias de vida que respeitam as escolhas dos outros; a desconexão/ alienação é promovida por filosofias que culpam os outros e impedem pedir e aceitar ajuda. Algumas filosofias de vida na velhice facilitam a transição da desconexão/alienação para a integridade, nomeadamente, a decisão de tentar valorizar as coisas boas aceitando as não tão boas. A filosofia de vida envolve valores e significados que representam a identidade individual. A identidade vai-se reestruturando e reformulando de acordo com as experiências vividas, enquanto o indivíduo vai adaptando-se a seus sucessos e fracassos.

Neste estudo, aprofunda-se a construção da integridade familiar (versus desconexão e alienação) em pessoas idosas com história de pobreza ao longo da vida, explorando o seu mundo de valores e significados. Neste sentido, captam-se as suas narrativas e analisam- -se as palavras mais frequentes dos seus discursos para identificar significados (o que algo representa para o próprio, como o percepciona e define) e compreender os valores (crenças baseadas na sociedade, valores que atribuem às coisas e/ou eventos) (HERMANS; HERMANS-JANSEN, 1995; VIRKLER, 2000; VIANA, 2007).

 

Revisão e integração da vida

Rever e integrar a vida são tarefas desenvolvimentais mais relevantes no fim da vida, envolvendo a pessoa idosa e sua família (ERIKSON, 1998; KING; WYNNE, 2004). É um processo normativo e desenvolvimental que coloca a pessoa idosa a re/avaliar a sua trajetória individual e familiar (BUTLER, 2002), podendo evoluir em dois sentidos (SOUSA et al., 2009): (1) beneficiar o desenvolvimento de mecanismos de natureza emocional, mantendo bons níveis de bem-estar subjetivo e facilitando a contínua e crescente sabedoria e serenidade (associado à integridade) e (2) desencadear sentimentos de culpa e ruminação obsessiva sobre o passado (associado à desconexão/alienação).

Este processo de re/organização do self é também um projeto social re/moldado nas relações sociais e familiares, implicando um processo de transição emocional que envolve a família e a comunidade (MINUCHIN, 1998; BUTLER, 2002; SOUSA et al., 2009). Ou seja, a re/construção da identidade individual é concomitante ao re/ ajustamento da identidade familiar, conectado à busca do sentimento de integridade das relações familiares. As dinâmicas familiares são o contexto deste processo, podendo ajudar (facilitar a construção da integridade familiar) ou dificultar (contribuir para a desconexão/ alienação familiar) (SOUSA et al., 2009).

As narrativas de vida ganham relevo na análise da revisão e integração de vida, pois captam e relembram as experiências do trajeto de vida, permitindo maior compreensão dos significados do presente, revelando os valores e significados usados para dar/ procurar sentido para a existência (VIEGAS; GOMES, 2007). Quando um indivíduo faz a narrativa de sua vida, ele interpreta e dá significado aos eventos e experiências de acordo com as suas características, designadamente, os valores, refletindo a sua identidade. As abordagens narrativas são a base da interpretação dos discursos, permitindo aprofundar a influência de uma situação de vida, como a pobreza, no enredo das histórias da vida (MINUCHIN, 1998). Assim, o discurso revela as recordações de uma vida e os significados e valores envolvidos, podendo mesmo ajudar na resolução dos problemas (por exemplo, a técnica da reminiscência) (MINUCHIN, 1998; BUTLER, 1963).

 

Integridade familiar e trajetórias de pobreza

A literatura sobre famílias pobres tem incidido nas primeiras fases do ciclo de vida familiar, escasseando para a velhice (BARRIENTOS; GORMAN; HESLOP, 2003; SOUSA et al., 2009). Marques e Sousa (2012) estudaram os processos conducentes à integridade familiar (versus desconexão/alienação) em pessoas idosas com história de pobreza ao longo da vida. Os resultados indicam que nestas pessoas o risco de não alcançar a integridade familiar é maior pelas ocorrências na trajetória de vida, tais como (MARQUES; SOUSA, 2012): escassez de recursos (até para responder às necessidade básicas); conflitos familiares (a escassez de rendimentos tende a elevar os níveis de stress); trajetórias irregulares de emprego (as baixas qualificações tornam difícil a estabilidade no emprego); doenças crónicas severas (facilitadas por condições precárias de habitação e escassez de rendimentos para aceder a cuidados de saúde e medicação).

No entanto, alcançar a integridade familiar é uma conquista possível, mesmo perante histórias de vida muito difíceis. Tal associa- -se à adopção de filosofias de vida que relevam aspetos positivos e respeitam as escolhas dos outros, isto é, que promovem a auto- -valorização: ter vivido uma vida significativa apesar da pobreza. A desconexão e alienação familiar tendem a ocorrer em pessoas que alimentam sentimentos de insignificância pela escassez dos recursos económicos (MARQUES; SOUSA, 2012).

O re/ajustamento da identidade associa-se à re/definição da filosofia de vida (SOUSA et al., 2009; ERIKSON, 1998) que ocorre no processo de revisão e integração da vida e procura de significado assente nos valores e significados que a pessoa desenvolve ao longo da sua vida e usa para rever e integrar a vida no seu final (velhice).

Neste estudo, explora-se o mundo de valores e significados que caracterizam a identidade e filosofia de vida da pessoa idosa pobre ao longo da sua vida para melhor compreender como influenciam a revisão e integração da vida, facilitando o processo de integridade versus desconexão/alienação familiar. Para isso, captaram-se narrativas e analisam-se os discursos que constituem meios privilegiados para explorar a circulação da projecção da identidade pessoal (VIEGAS; GOMES, 2007).

Assim, este estudo exploratório apresenta os seguintes objetivos:

• examinar como os significados e valores são utilizados na revisão e integração da vida, considerando dois percursos: integridade versus desconexão e alienação familiar.
• identificar os significados atribuídos às palavras mais frequentes em seus discursos e aceder ao seu mundo de valores.

Espera-se que os resultados tenham implicações na compreensão do desenvolvimento e identidade das pessoas idosas pobres e na identificação de competências familiares e individuais que promovam a integridade. Assim, poderão oferecer indicações para a intervenção com pessoas idosas pobres no sentido de promover a integridade familiar e o envelhecimento bem-sucedido.

 

Método

 

Participantes

A amostra definida para o estudo compreendeu doze pessoas, com idades entre 65 e 89 anos, sendo seis homens e seis mulheres e que foram classificados como: três em integridade familiar e três em desconexão/alienação familiar. Este número foi considerado dada a experiência prévia das autoras na investigação deste tema (MARQUES; SOUSA, 2012) com os mesmos instrumentos e que, também, indicaram a saturação dos dados a partir de dez participantes, ou seja, não há surgimento de novas propriedades e dimensões nos dados coletados (STRAUSS; CORBIN, 2008) e a análise responde por grande parte da possível variabilidade. Os participantes foram identificados por meio de instituições comunitárias de apoio à terceira idade e atendiam aos seguintes critérios de inclusão: que contassem com mais de 64 anos, vivessem em dada comunidade, pertencessem à classe social baixa, apresentassem discurso coerente e que estivessem orientados quanto às percepções de espaço e tempo.

 

Materiais e Instrumentos

Questionário de levantamento dados: respondido por pessoas próximas aos idosos e que incluiu: a) dados sociodemográficos, como: idade, género, estado civil, habilitações acadêmicas e composição do agregado familiar; b) juízo sobre a orientação da pessoa (coerência no discurso e orientação espacial e temporal); c) situação socioeconômica (incluindo-se, dentro do questionário, o índice de Graffar em sua versão portuguesa [AMARO, 1996] e mais uma questão sobre o fato de a pessoa ter sido pobre durante toda a vida, ou não); d) apreciação do processo de integridade familiar (checklist).

Índice de Graffar em versão portuguesa de Amaro (1996): conforme mencionado acima, este instrumento foi incluído dentro do questionário a fim de facilitar o processo de coleta de dados. O Índice de Graffar é uma classificação internacional que usa cinco critérios (habilitações acadêmicas, profissão, rendimento, composição do agregado familiar e características do bairro de residência) para definir a classe socioeconômica do indivíduo/família. A soma dos pontos obtidos nos cinco critérios indica a classe; neste estudo selecionaram-se pessoas da classe baixa (22 a 25 pontos).

Roteiro de indicadores de integridade familiar: para obter um indicador do processo de construção da integridade familiar, foi organizado um checklist baseado em estudos prévios (SOUSA et al., 2009; KING; WYNNE, 2004), que compreende cinco questões: 1. Esta pessoa tem um discurso centrado no passado? 2. Repete com frequência uma história ou acontecimento aparentemente pouco importante? 3. Tem tendência a ser arrogante e/ou desvalorizar os outros? 4. Atribui a culpa por conflitos a outros? 5. É aborrecido/a?Cada questão é pontuada com 1 (sim) ou 0 (não): pontuações mais elevadas sugerem desconexão/alienação. Foram selecionados os participantes com pontuações extremas: 1-2 (sugerindo integridade) e 4-5 (indicando desconexão/alienação). O checklist foi usado apenas como indicador para a seleção dos participantes, sendo a classificação completada após a análise das entrevistas.

Roteiro de entrevista semi-estruturada: que coleta dados para análise do processo de construção da integridade familiar (versus> desconexão/alienação) (KING; WYNNE, 2004; SOUSA et al., 2009). O roteiro compreende (conforme quadro I) os seguintes tópicos a serem abordados pelo entrevistador:

 

 

Procedimentos: foi solicitada autorização a quatro instituições para realizar o estudo, ao mesmo tempo em que se solicitou indicação de um profissional para mediar o contato entre investigadores e potenciais participantes. Todas as instituições autorizaram. Os profissionais indicados (todos assistentes sociais, mulheres) foram contactados pela primeira autora para explicar o objetivo do estudo e os critérios de inclusão dos participantes (mais de 64 anos, vivendo na comunidade, pertencendo à classe social baixa, apresentando discurso coerente e estando orientados no espaço e tempo). Também foi referido que a amostra definida para o estudo compreendia doze pessoas (seis homens e seis mulheres; três em integridade e três em desconexão/alienação familiar). E, conforme mencionado anteriormente, este número foi considerado a partir da experiência prévia das autoras na investigação deste tema (MARQUES; SOUSA, 2012) com os mesmos instrumentos, indicando a saturação dos dados a partir de dez participantes (não surgem nos dados novas propriedades e dimensões, e a análise responde por grande parte da possível variabilidade (STRAUSS; CORBIN, 2008).

Para assegurar esta organização, os profissionais eram solicitados a preencher um questionário com dados (mas sem identificação) sobre pessoas idosas que conheciam bem e com quem tinham contato regular. O questionário envolveu os itens anteriormente mencionados, como: dados sociodemográficos; juízo sobre a orientação da pessoa (pessoa com discurso coerente e orientação espaço e tempo); situação socioeconômica, incluindo-se o índice de Graffar e uma questão que indicava se a pessoa foi pobre durante toda a vida); apreciação do processo de integridade familiar (checklist). As profissionais preencheram e identificaram os participantes com os critérios de inclusão estabelecidos, pois tinham acesso aos processos que continham dados sociodemográficos, avaliação do estado mental e orientação espaço-temporal, bem como o Índice de Graffar – que é uma versão portuguesa de Amaro (1996). Ainda, nesse processo de seleção, havia necessidade de obtenção de um indicador do processo de construção da integridade familiar; de maneira que foi organizado um checklist, baseado em estudos prévios (SOUSA et al., 2009; KING; WYNNE, 2004), que compreendeu cinco questões, conforme descrito anteriormente no item "instrumentos". Após as pontuações, e obtidas aquelas mais elevadas que sugerem desconexão/ alienação, os participantes foram selecionados com pontuações extremas: 1-2 (sugerindo integridade) e 4-5 (indicando desconexão/ alienação). O checklist foi usado apenas como indicador para a seleção dos participantes, sendo a classificação completada após a análise das entrevistas. Os profissionais selecionaram os potenciais participantes, preencheram o questionário e providenciaram a informação necessária aos investigadores para assegurarem os critérios de inclusão e composição da amostra.

Depois, os investigadores informaram aos profissionais sobre os participantes que cumpriam os critérios e com quem gostariam de entrar em contato. Os profissionais abordaram esses participantes, explicaram os objetivos do projeto, a colaboração solicitada e pediram permissão para que as pesquisadoras entrassem em contato. Todos concordaram em colaborar e a primeira autora combinou uma reunião na qual informou sobre os objetivos do estudo, colaboração solicitada, razões que motivaram a sua escolha e explicou as garantias de confidencialidade e anonimato. Todos os idosos concordaram em participar e assinaram o termo de consentimento livre e informado. Por fim, procedeu-se à recolha dos dados. Como em Portugal não existem comités de ética nesta área (somente na área da saúde), procedeu-se segundo os regimentos éticos adaptados da declaração de Helsinque.

 

Procedimentos e análise dos dados

As entrevistas duraram de 24 a 53 minutos e foram gravadas e posteriormente transcritas. A análise iniciou-se pela classificação dos participantes nas trajetórias de integridade e desconexão/alienação familiar. Os dois juízes (autoras) procederam da seguinte forma: leram as entrevistas de forma independente e classificaram os participantes em integridade e desconexão/alienação familiar. O referencial teórico de King e Wynne (2004) e Sousa et al. (2009) e sua classificação prévia (domínios e subcategorias) são indicados no quadro II.

 

 

Após, as pesquisadoras reuniram-se para confrontar as classificações e verificaram total concordância. A fase seguinte consistiu na análise dos discursos para captar os valores e significados. Adotou- -se a técnica de contagem de palavras simples (PENNEBAKER; MEHL; NIEDERHOFFER, 2003), recorrendo ao programa de análise de dados qualitativa N-Vivo 7. Esta técnica assume que as palavras usadas pelos indivíduos transmitem informação psicológica, independentemente do contexto semântico, e que localizar a palavra no discurso permite extrair o seu mundo de valores e significados. Este processo envolveu as mesmas duas juízas, que, em cada etapa, realizavam a análise de forma independente e depois se reuniam para confrontar e refinar os resultados até alcançar consenso. Este processo decorreu da seguinte forma: a) contagem de todas as palavras usadas no discurso por cada participante (por meio do software N-Vivo 7); b) eliminação das palavras de função (aquelas que permitem compor as frases, incluindo preposições, pronomes, artigos, conjunções) (TAUSCZIK; PENNEBAKER, 2010; SINATRA, 2008); c) seleção das palavras – as mais mencionadas em cada entrevista, de conteúdo (aquelas que transmitem o conteúdo da mensagem: nomes, verbos regulares, adjetivos e advérbios) (TAUSCZIK; PENNEBAKER, 2010; SINATRA, 2008); d) junção das palavras mais mencionadas pelos entrevistados, tendo-se seleccionado seis (casa, trabalho, pobre, dinheiro, comer e pensão) (Tabela 2), considerando todos os diminutivos (como casinha e pobrezinha), tempos verbais, plurais e singulares; e) localização das palavras no discurso para contextualizar e extrair significados e valores.

A fase final da análise decorreu para compreender a associação de cada uma dessas palavras aos fatores que contribuem para a construção da integridade versus desconexão/alienação familiar de acordo com o referencial teórico adoptado (KING; WYNNE, 2004): integridade global, transformação das relações familiares, resolução de conflitos e perdas e criação de sentido e legado. Cada palavra seleccionada foi associada, em cada entrevista, ao discurso para analisar como se relacionava com cada um desses fatores (Tabela 3), permitindo descrever os valores e significados associados ao processo de revisão e integração de vida e sua evolução no sentido da integridade versus desconexão/alienação familiar.

 

Resultados

Apresentam-se a seguir (Tabela 1) os dados dos participantes, distribuídos conforme o género, idade, situação civil, socioeconómica e cultural, bem como as classificações de integridade versus desconexão/alienação e cuja classificação fora completada após a análise das entrevistas.

 

 

Com relação às palavras selecionadas no discurso dos idosos, essas foram: casa (70 referências), trabalho (22), pobre (6), comer (15), dinheiro (15) e pensão (7). Os resultados (Tabela 2) indicam que os participantes classificados em desconexão/alienação familiar (em comparação com aqueles em integridade) tendem a referir mais vezes a estas palavras. É de salientar que os participantes em desconexão/alienação apresentam entrevistas mais longas em duração (entre 40 e 53 minutos) e em palavras (entre 1326 e 1943) em comparação com aqueles em integridade (entre 16 e 30 minutos e entre 815 e 1355 palavras).

 

 

Contudo, as distribuições dos indivíduos em integridade versus desconexão/alienação pelas palavras são similaes (X2 (5) = 3.94; p=0.557). Por outro lado, ao se considerar uma sequência da palavra mais referida à menos referida, verifica-se uma hierarquização semelhante: casa, trabalho, comer e dinheiro, pensão e pobre (conforme Tabela 3).

 

 

Casa

A palavra "casa" foi mencionada 70 vezes por dez participantes (cinco classificados em integridade e cinco em desconexão/alienação); dois participantes (um em integridade e um em desconexão/ alienação) nunca mencionaram esta palavra (Tabela 2). É mais citada pelos participantes classificados em desconexão/alienação familiar (55,7%). Os participantes usam a palavra "casa" para se referirem (Tabela 3): i) à "casa" em que vivem (dez participantes), associada à família como espaço de convívio (emerge associada aos vários domínios); ii) à casa do patrão (quatro participantes, Gomes, Lurdes e Maria, classificados em integridade, e Berta, classificada em desconexão/alienação familiar), ou seja, o seu local de trabalho (liga as palavras trabalho e casa) durante a vida; também se associa a recompensas conquistadas (por norma, casas e terrenos doados pelos patrões) pela sua dedicação (associada à criação de sentido e legado e à transformação das relações).

No domínio integridade geral, a "casa" em que vive emerge associada: a) nos casos de integridade familiar, à satisfação com a vida familiar, ligada a autonomia (estar sossegada; fazer o que me apetece; não incomodo ninguém) e proximidade emocional; b) nos casos de desconexão/alienação familiar associa-se a solidão, distância emocional e insatisfação com a vida familiar.

No domínio transformação das relações familiares, a palavra "casa" é citada por quatro participantes em integridade (Ismael, Joana, Lurdes e Maria) que a associam à continuidade com maturação das relações familiares, traduzida nas visitas (sinal de preocupação e interesse) que lhes fazem à casa onde estão a viver; e três em desconexão/ alienação familiar (Berta, Cristina e Fernando): a casa revela descontinuidade, traduzindo-se no afastamento dos filhos e/ou outros familiares que não os visitam. Por exemplo, Berta (desconexão/alienação) lamenta o afastamento e desinteresse dos filhos dizendo que não se sente próxima deles porque não vão lá à casa e só os vê de onde a onde.

No domínio "resolução de conflitos e perdas", a palavra "casa" é mencionada por três participantes em desconexão/alienação (Berta, Cristina e Fernando) e um em integridade (Maria). Maria menciona "casa", associada a este domínio, para indicar que não sente arrependimentos, neste caso, em relação ao irmão por afinidade que não a considera irmã: "Não tenho arrependimento nenhum, ele é que não vai lá à casa!" Os participantes em desconexão/alienação referem-se a este domínio indicando: i) aceitação de um conflito; por exemplo, Cristina afirma ter aceite um conflito passado com a prima, considerando que ela apenas se interessa pela herança; ii) arrependimento; por exemplo, Fernando afirma-se arrependido por não ter sido um bom marido e bom pai pois "chegava tarde a casa depois de beber, e a esposa aturava".

No domínio "criação de sentido e legado", a "casa" constitui um legado (herança) que facilitará a continuidade familiar (é o local das raízes da identidade familiar) e a vida financeira dos descendentes. Além disso, permite aos participantes (em desconexão/ alienação e integridade) sentirem-na como um lugar significativo e respeitado na família.

Os participantes em integridade referem-se à casa do patrão para indicar que estes lhes deixaram uma casa e/ou um terreno como recompensa pelos longos anos de serviços. Como são pobres e têm poucos bens materiais, esta herança assume maior importância, pois constitui (muitas vezes) o único bem material para transmitir aos filhos. Lurdes recebeu um terreno dos patrões, afirmando que não sabe gerir o terreno que não lhe faz falta. Por isso, doou ao filho, que precisa. Os participantes em desconexão/alienação associam "casa" a insatisfação com a transmissão de legado porque não têm sequer uma casa para deixar, ou porque a casa é o local onde se sentem sós (ninguém os visita), simbolizando que não transmitiram bons valores. Assim, desenvolvem a sensação de não terem um lugar respeitado na família e sentem que não serão lembrados após a morte como gostariam (incongruência).

Os dados indicam a associação entre as palavras "casa" e "trabalho", numa perspectiva que une seu passado e presente e dá indicações de futuro: consideram que quem está em casa é porque não trabalha (está reformado, doente ou anda à boa vida); quem não está em casa está a trabalhar em outras casas, ou seja, na casa dos patrões. Por exemplo, Berta define-se, com orgulho, como uma pessoa trabalhadora e lutadora que, por isso, raramente estava em casa, porque andava de um lado para o outro a trabalhar. Ernesto diz que vive com a filha que está em casa, reformada por doença.

 

Trabalho

A palavra "trabalho" foi citada 22 vezes por oito participantes (cinco classificados em desconexão/alienação e três em integridade) (Tabela 2), sendo que é mais referida pelos participantes em desconexão/ alienação familiar (68,2%).

Não poder trabalhar (executar trabalho remunerado e/ou doméstico), ou seja, ficar em casa (mesmo por problemas de saúde) sem fazer nada e sem conseguir cozinhar desperta, em todos os participantes, sentimentos de tristeza, angústia e inutilidade ("é uma tristeza a gente querer trabalhar e não poder"). Cristina (desconexão/alienação familiar) afirma sentir solidão, pois está muito limitada ("faço alguma coisa com muito custo") e lamenta não poder trabalhar para conseguir mais dinheiro para tratar dos seus problemas de saúde ("não uso a cinta para a coluna porque não tenho dinheiro"). No domínio "integridade global", a palavra "trabalho" é mencionada por seis pessoas: quatro em desconexão/alienação familiar (Berta, Cristina, Daniel e Fernando) e dois em integridade (Gomes e Ismael). Os primeiros associam trabalho a "insatisfação com a vida", pois o trabalho dos filhos limita as visitas e maior contacto; e deixaram de trabalhar (por invalidez ou velhice). Consideram, ainda, que quando trabalhavam eram mais respeitados pelos outros e sentiam-se mais valorizados. Os segundos (em integridade), associam trabalho a "satisfação com a vida", pois foi o meio que lhes garantiu (no passado e presente) independência financeira e compreendem que os filhos têm a vida deles e que têm de trabalhar, mesmo que isso impeça maior número de visitas. Gomes revela a sensação de dever cumprido: "Trabalhei para ter o que tenho, que é pouco mas é meu!" Esta sensação também se relaciona com o que tem hoje (bens materiais, em particular, a casa), fruto do trabalho, que proporciona serenidade e honestidade (não ter os bens por "meios sujos"). Por exemplo: Ismael gosta de ir à rua e ser reconhecido como o senhor serralheiro que trabalhava muito bem.

No domínio "transformação das relações familiares", apenas Daniel (desconexão/alienação) associa trabalho à "descontinuidade das relações familiares" (quatro referências). Daniel continua a trabalhar depois de aposentado ("continuo a fazer uns biscatezitos para me manter"), pois é garantia de independência financeira e, principalmente, permite não pedir ajuda ao filho com quem está em conflito. Também associa a palavra trabalho à independência financeira dos filhos: "Trabalham e, portanto, têm para eles!"

No domínio "resolução de conflitos e perdas", também, apenas Daniel (desconexão/alienação) cita a palavra trabalho (três referências) associada à não aceitação de um conflito passado com a esposa, de quem se divorciou. Considera que, em uma família economicamente desfavorecida (como a dele), ambos os elementos do casal devem trabalhar, o que não aconteceu porque a mulher nunca trabalhou e motivou discussões que talvez tenham conduzido ao divórcio. Contudo, orgulha-se de ter garantido o sustento da família ("nunca lhe faltou nada").

No domínio "criação de sentido e legado", a palavra "trabalho" é mencionada sete vezes por cinco participantes: dois em desconexão/ alienação (Ana e Berta) e três em integridade familiar (Gomes, Henrique e Ismael). Todos os participantes (integridade e desconexão/alienação) associam "trabalho" a satisfação com a transmissão do legado, ou seja, o valor do trabalho constitui, em si, um legado moral transmitido às gerações seguintes ao longo do processo educativo que garante, aos descendentes, um bom caminho. Ismael considera os filhos são trabalhadores, fruto da educação que lhes deu; ensinou a trabalhar e a vencer no mundo do trabalho, pois só a trabalhar se pode ter uma boa vida. Por oposição, não trabalhar, é sinónimo de ser vadio (Berta). O trabalho/profissão que desempenharam garantiu-lhes a identidade, tornando-os úteis e reconhecidos; além disso, permitiu que conquistassem o pouco que têm na vida, sem ser à custa dos outros. Gomes acredita que será lembrado como gostaria (congruência da lembrança familiar): pelo trabalho que fazia. A maior riqueza que teve foi "trabalhar e ser saudado como um bom profissional".

 

Pobre

A palavra "pobre" é referida seis vezes por quatro participantes: três em desconexão/alienação familiar (Ana, Cristina e Ernesto) e um em integridade familiar (Lurdes) (Tabela 2); é mais mencionada pelos participantes classificados em desconexão familiar (60%).

No domínio "transformação das relações familiares", Cristina (desconexão/alienação) associa a palavra pobre à descontinuidade das relações familiares, referindo que, por ser pobre, uma prima se afastou, e sublinhando que ser pobre a faz sentir desvalorizada e inferior. No domínio "resolução de conflitos e perdas", a mesma participante afirma ter aceite esse conflito; considera que se deve à sua pobreza: "Se ela não quer saber de mim porque sou pobre, também não preciso dela".

No domínio "criação de sentido de legado", a palavra "pobre" é utilizada por três participantes (Tabela 3): os em integridade estão satisfeitos com a transmissão do legado, sentem-se orgulhosos pelo muito que se sacrificaram para conquistar o que têm. Ana refere que nunca teve, nem tem, nada de material para deixar porque sempre viveu com muitas dificuldades para criar os filhos ("sempre vivi muito pobrezinha, vi-me negra para os criar"), mas orgulha-se de ter-lhes dado uma boa educação e uma arte (profissão). Ernesto está insatisfeito com a transmissão do legado, pois não tem nada de material para transmitir porque é pobre; apesar disso, orgulha-se de ter assegurado os estudos aos filhos com muito sacrifício.

 

Comer

A palavra "comer" é referida 15 vezes, por três participantes classificados em desconexão/alienação (Cristina, Daniel Ernesto) e por dois em integridade familiar (Gomes e Henrique), sendo que é mais mencionada pelos indivíduos em desconexão/alienação familiar (80%).

No domínio "integridade global", é referida por três participantes em desconexão/alienação (Berta, Cristina e Daniel), considerando que comer (ou comida) pode ser um meio de os familiares demonstrarem preocupação e afeto, algo que não acontece nas suas vidas e gera insatisfação. Berta explica que há anos tem vontade de comer polvo (não come porque é caro) e revelou essa vontade ao filho, que insiste em não satisfazer o desejo da mãe. Interpreta esta atitude como falta de carinho e/ou preocupação, ficando desapontada e insatisfeita. Para Gomes, o momento da refeição que ocorre em família traz satisfação com as relações familiares: ir comer com a família aos fins de semana é uma oportunidade de convívio com os netos e mostra carinho e afeto da filha que o convida.

No domínio "transformação das relações familiares", apenas Berta (desconexão/alienação) cita a palavra "comer" (três referências) para revelar descontinuidade: o filho não age de acordo com o que ela gostaria (não lhe leva um alimento caro que há muito deseja), por isso vive desiludida com ele, sentindo-se desligada e sem vontade de o contactar. No domínio "criação de sentido de legado", Daniel diz que os filhos não se preocupam se ele tem ou não de comer, por isso acredita que o legado que lhes transmitiu não foi bem aceite e sente-se insatisfeito, pois ensinou a ajudar o próximo e não é ajudado pelos filhos, logo, sente-se fracassado. Henrique (integridade) vive satisfeito com o legado: "Convido-os [aos filhos] para vir cá comer, assim ajudo-os como posso e podemos conviver".

 

Dinheiro

A palavra "dinheiro" surge associada à palavra "pobre" (indicando ter pouco dinheiro ou não ter dinheiro) e à palavra "comer" (dinheiro para comer). Os participantes tendem a associar o dinheiro à satisfação de necessidades básicas ("tenho dinheiro para andar vestido e para comer e pouco mais"). Prescindem de alimentos caros ("não como o que é bom, mas o estômago não escolhe qualidades, quer é comida") e vários recorrem a instituições sociais para comer, guardando o pouco dinheiro para o resto das necessidades (e.g. medicamentos).

É mencionada 15 vezes, por 8 participantes: três em integridade (Joana, Lurdes e Maria) e cinco em desconexão/alienação familiar (Berta, Cristina, Daniel, Ernesto e Fernando) (Tabela 2), sendo mais usada pelos participantes em desconexão/alienação (60%). Na "integridade global", somente Joana usa a palavra comer (neste caso, dar de comer) com o sentido de satisfação com a vida: sente-se útil por apoiar os elementos da família por meio das refeições e alimentos (para ajudar); como não tem dinheiro para ajudar a filha, que é doente e não pode trabalhar, Joana cede-lhe as refeições.

No domínio "transformação das relações familiares", Berta, Daniel e Ernesto (desconexão/alienação familiar) fazem associação entre dinheiro e comer para transmitir descontinuidade das relações familiares. Daniel vive afastado (física e emocionalmente) do filho, com quem está em conflito há anos, e diz que, apesar de precisar de ajuda (financeira), não tenciona pedi-la (dar o braço a torcer) enquanto tiver dinheiro para comer. Ernesto partilha dessa ideia e pretende lutar para não precisar de ninguém. Nos discursos de Joana e Maria (integridade), as mesmas expressões associadas à palavra "dinheiro" transmitem continuidade e amadurecimento das relações. Joana relata que a filha mais próxima (os outros são emigrantes na América) lhe trata de tudo: "Dou-lhe dinheiro por mês e ela trata-me do comer, temos pouco mas somos muito unidas!" Considera mesmo que ter pouco dinheiro pode aumentar a união/coesão familiar, pois se dois elementos da família têm rendimentos baixos, mas vivem juntos, podem ajudar-se (pagam apenas uma renda: água e luz) e sentir menos solidão.

No domínio "criação de sentido de legado", Cristina, Daniel, Ernesto e Fernando (desconexão/alienação) revelam-se insatisfeitos com a transmissão do legado: lamentam não poderem transmitir bens materiais aos filhos, pois só têm dinheiro para comer; esta situação os faz sentirem-se inúteis, pois não podem ajudar os filhos.

Joana e Lurdes (integridade) revelam satisfação com a transmissão do legado. Joana relata que nunca deu dinheiro aos filhos para comer na escola (porque não havia), mas sempre se preocupou em assegurar-lhes boa alimentação ao preparar a marmita ou deixar adiantado o almoço no dia anterior, pronto a cozinhar. Por isso, o filho tornou-se um excelente cozinheiro; Joana sente alegria por ter impulsionado o dom da cozinha do filho e feliz por garantir a perpetuação geracional das suas receitas.

 

Pensão

A palavra "pensão" surge associada a "dinheiro", pois é o meio pelo qual atualmente os participantes recebem dinheiro: o dinheiro que recebo da pensão; é referida sete vezes, 71,4% por participantes em desconexão/alienação (Cristina e Daniel), e por Gomes e Henrique em integridade.

No domínio "integridade global", Cristina e Daniel (desconexão/ alienação) revelam insatisfação com a vida em virtude de sua situação econômica, explicando que é impossível estar satisfeito com a vida quando o dinheiro da pensão não dá nem para comer. Receber mais dinheiro da pensão seria uma oportunidade de viverem com segurança, sem necessidade de ajuda da família e com maior satisfação. No domínio "transformação das relações familiares", Cristina (des conexão/alienação) revela que a falta de dinheiro afastou a família (descontinuidade), pois a pensão mensal é uma ninharia e a prima (com boa situação financeira) não lhe oferece ajuda.

No domínio "resolução de conflitos e perdas", Gomes (integridade) admite que a pensão mensal que recebe é pouca e não garante a qualidade de vida desejada, mas vive grato por recebê-la, pois, com esse dinheiro, não depende de ninguém e não tem de ficar a dever favores à família, o que evita conflitos. Gomes considera que ter dinheiro pode causar conflitos familiares.

No domínio "criação de sentido e legado", Henrique (integridade) e Cristina (desconexão/alienação) citam a palavra "pensão" associada a in/satisfação com a transmissão do legado. Henrique (integridade) diz que a sua pensão ("uma insignificância") não lhe permite ajudar filhos e netos, mas sente-se satisfeito: sabe que os netos o visitam e se preocupam com ele "sem pensar que vão receber algo em troca".

Considera que ser pobre é uma garantia de que não há aproximação pelo dinheiro, mas por carinho e afeto. Sente-se satisfeito por contribuir diariamente para a educação dos netos (herança simbólica): "Vêm cá e pedem conselhos, eu dou com muito gosto!"

 

Discussão

As narrativas dos participantes revelam significados que se reproduzem com base em valores (MORRIS, 1956), isto é, a interpretação de significados captados da análise dos discursos remete-nos para valores utilizados na revisão e integração de vida que definem o percurso de integridade ou desconexão/alienação familiar.

 

Significados e valores em pessoas idosas pobres

Os resultados indicam que o processo de revisão e integração da vida por pessoas idosas com história de pobreza ao longo da vida emerge associado a algumas palavras (que contemplam significados e valores) comuns aos percursos de integridade e desconexão/alienação familiar (Tabela 2): casa, trabalho, pobre, comer, dinheiro e pensão. Estas palavras podem organizar-se em dois grupos (Tabela 3): raízes de identidade (casa e trabalho) e sobrevivência (pobre, comer, dinheiro e pensão).

As palavras "casa" e "trabalho" parecem constituir raízes da identidade pessoal e familiar. A "casa" apresenta o significado de lugar das memórias de vida, que envolve diversos valores: convívio familiar e o/um bem que pode ser transmitido aos descendentes com a dupla função de facilitar a sua vida material e/ou garantir a continuidade simbólica da família e da pessoa idosa. Emerge como o local preferido para viver o envelhecimento, ou seja, um espaço facilitador da revisão e integração da vida pelas memórias que encerra (PAÚL, 2005; WAHL, 2001; NORRIS-BECKER, 1998). Usadas frequentemente em conjunto (as palavras casa e trabalho), associam-se nas referências à casa do patrão, atribuindo a ela o significado de lugar de trabalho. Aqui surge a partilha de valores de uma geração associados a uma cultura, sociedade e época. Salientam as experiências sociais de cohort que moldam as transições de vida do indivíduo e sua família, continuando a ter impacto indireto na forma de encarar a vida, nomeadamente, perante dificuldades financeiras (BLIESZNER, BEDFORD, 1995; ELDER, 1974). Especificamente, emerge uma circunstância comum nos anos 1930-1950: os filhos das famílias mais pobres iam trabalhar (servir), ainda novos (a partir dos 6/7 anos), em casa de famílias abastadas, por norma, proprietárias de casas e terrenos.

A palavra "trabalho" encerra significados de sobrevivência e realização pessoal que parecem associar-se aos seguintes valores: sentimento de utilidade, autovalorização, respeito dos outros e honestidade; necessidade de ganhar a vida; construção de um legado de princípios (ensinar os descendentes a vencer na vida com honestidade por meio do trabalho). O trabalho constitui uma expressiva manifestação do ser humano, por isso sua perda provoca feridas na identidade, concorrendo para a desagregação das personalidades (ENRIQUEZ, 1999). Ao estudarem a identidade na velhice, Viegas e Gomes (2007) enfatizaram a necessidade de as pessoas idosas reafirmarem sua pertença no mundo social pela atividade e pela ação (trabalho); revelam que, nas pessoas idosas, o significado de trabalho parece ser reavaliado: "se não trabalharem podem ser identificados, irremediavelmente, com o estigma da velhice".

As palavras "pobre", "comer", "dinheiro" e "pensão" revelam significados de sobrevivência e desafios específicos de quem vive em contexto de pobreza. O "dinheiro" surge como meio para a satisfação de necessidades básicas (inclui o "comer") e a "pensão" é a forma atual de obter dinheiro. O "comer" constitui um espaço de convívio (através de refeições e convívios de família) e meio de entreajuda familiar, parecendo ligar valores de sobrevivência às raízes de identidade ("comer" associa-se a "casa", lugar onde decorrem as refeições). A palavra "pobre" é a única que emerge pautada por significados divergentes, consoante o percurso (integridade ou desconexão/alienação), o que repercute em diferentes valores: i) luta e sacrifício que permitiram, apesar da pobreza, uma vida de honestidade e ligação familiar (associado à integridade familiar); os participantes valorizam as conquistas, apesar das dificuldades (revelam, ao longo de suas narrativas, identidades moldadas pela luta da qual saem vencedores); parecem adaptar-se e aceitar sua condição de pobreza, tentando extrair o melhor da situação, e.g.: veem na união familiar a solução para colmatar as dificuldades financeiras, ajustam alternativas para contribuir para o legado material ajudando os filhos com géneros alimentícios; estes participantes enaltecem os valores morais transmitidos, subestimando a componente material; ii) sentimentos de autodesvalorização e inferioridade pelo que não se alcançou na vida, consubstanciados na ausência de legado material para os descendentes (associado à desconexão/alienação); ocorrem sentimentos de inferioridade e desvalorização (remetem para uma identidade de sofrimento do qual saem vencidos); a pobreza despoleta sentimentos de desvalorização, inferioridade e frustração pela ausência de legado para transmitir, ou pela sensação de que os valores simbólicos familiares transmitidos (e.g. entreajuda) não foram aceites, pois não contam com a ajuda dos filhos.

Esta análise exige alguma contextualização histórica e social da pobreza que eles viveram, pois ser pobre ganha significados diferenciados pelo contexto. Estes participantes partilham uma época pautada, em Portugal (e um pouco por toda a Europa), por uma pobreza associada à Segunda Guerra Mundial, que se manteve pelo menos até à década de 1960 (PAÚL, 1996, 1997). Ou seja, a pobreza era comum na sociedade, por isso não estaria tão associada ao estigma da exclusão social como atualmente. As experiências de pobreza na atualidade traduzir-se-ão, provavelmente, de modo diferente na futura velhice. A pobreza nas gerações atuais não se centra apenas na escassez económica, mas associa-se a outros fatores, tais como parca participação social, englobando elementos de exclusão e estigma social.

Os indivíduos em integridade e desconexão/alienação familiar destacam as mesmas palavras (um mundo similar de significados), contudo, aqueles em desconexão/alienação apresentam discursos mais longos e repetitivos. Estudos anteriores (SOUSA et al., 2009) revelam que as pessoas em desconexão/alienação familiar tendem a falar mais, pois repetem o mesmo evento (habitualmente situações não resolvidas) e apresentam discursos ruminantes.

 

Significados e valores em pessoas pobres: integridade familiar

A integridade familiar associa-se ao significado atribuído à condição de "pobre" (Tabela 3), que contempla os seguintes valores: luta, coragem e sacrifício ao longo da vida que permitiram, apesar da pobreza, viver com honestidade e manter fortes laços familiares. Neste percurso, a palavra "pobre" é somente mencionada no domínio "criação de sentido e legado", indicando satisfação com a transmissão do legado: i) material (quando existe, materializa e simboliza a luta e os sacrifícios da vida para poderem deixar algo aos descendentes); ii) e/ou simbólico (na ausência de legado material, garantem aos filhos princípios de vida, educação e/ou uma profissão).

As palavras assumem o significado de satisfação e contentamento, traduzidas nos valores que descrevemos; a "casa" é um espaço de preservação da autonomia (satisfação individual, mesmo perante a dependência, pois a pessoa idosa sente liberdade e identidade por se manter no espaço onde se desenrolou a vida) (RUBINSTEIN, 1989) e de proximidade familiar (lugar onde ocorrem visitas e convívios familiares). O "trabalho" emerge como elemento de autorrealização, que permitiu subsistir durante a vida e alcançar o que se tem; traduz-se no reconhecimento da comunidade e contempla valores como: ter sido um bom profissional, trabalhador e honesto. Depois de deixar de trabalhar, o indivíduo confronta-se com a necessidade de ser lembrado pelos outros como alguém que trabalhou, e bem, o que contribui como forma de deliberação pessoal, fonte de orgulho e reconhecimento (VIEGAS; GOMES, 2007). Além disso, permite compreender as poucas visitas dos filhos (têm de trabalhar), comprovando que receberam dos pais o legado do valor do trabalho (meio de vencer na vida com honestidade). A palavra "dinheiro" traduz a entreajuda familiar (como têm pouco dinheiro, trocam bens para ajudar a família/descendentes), que constitui forma de unir a família e manter o sentido individual de utilidade. O dinheiro desempenha um papel significativo em toda a extensão de um relacionamento familiar e o seu (bom) maneio reflete a mutualidade e continuidade das relações ao longo do ciclo de vida familiar (SHAPIRO, 2007).

A palavra "comer" indica que as refeições em família se traduzem em momentos essenciais de união e convívio familiar que preservam valores simbólicos, rituais e a identidade familiar. O momento da refeição apresenta-se como evento humanizador: ao agendarem e prepararem as refeições, as famílias estão a refletir um conjunto de valores e preferências; compartem alimentos e, principalmente, experiências, impressões, ideias e relações; é um momento de comunhão familiar (GALLIAN, 2007; LEONARDO, 2009).

Para estes participantes, a transformação das relações familiares emerge no sentido da continuidade com amadurecimento e é influenciada pela "casa", que se revela como o lugar de continuidade (incluindo relações com ex-patrões, que são como família) e pelas visitas que ganham significado de proximidade afetiva, preocupação e respeito. A falta de "dinheiro" parece favorecer a ajuda mútua, a união familiar e assente em laços afetivos (na ausência de dinheiro verifica-se o desinteresse em termos materiais).

A resolução de conflitos e perdas ocorre no sentido da aceitação e/ou resolução, influenciada pela "casa" que revela a aceitação das poucas visitas dos filhos, pois compreendem que eles têm a sua vida. A aceitação tem sido descrita como um processo facilitador da integridade familiar (SOUSA et al., 2009): a aceitação de si e o bem-estar facilitam a compreensão e aceitação do outro. A "pensão" é baixa e não garante qualidade de vida, mas o dinheiro (um símbolo de segurança e poder, com impacto no sistema individual de valores) pode causar conflitos nas famílias, o que é impossível nestes casos de pobreza (SHAPIRO, 2007).

A criação de sentido e legado ocorre em termos de satisfação com o legado e sua transmissão, revelando formas diferenciadas de valorização do legado de princípios: a "casa" representa um legado material e simbólico (resultado de trabalho honesto); o "trabalho" (sentido comum aos participantes em desconexão/alienação) constitui um legado de princípios que coloca os descendentes num caminho de honestidade; a falta de "dinheiro" obriga à poupança e criatividade para conseguir poupar ainda mais, o que permite descobrir ou potenciar competências; a "pensão" surge com um sentido comum aos participantes em desconexão/alienação familiar, revelando que, sendo escassa, contribui para que a união familiar ocorra pelo afeto, e não pelo interesse; a palavra "comer" indica que oferecer comida aos descendentes é uma forma de ajuda e convívio, o que constitui um legado material (ajuda financeira) e simbólico (tradição de convívio familiar). Ao transmitir o legado (mesmo por meio da comida), estes participantes notificam valores e significados relacionais e emocionais que contribuem para o processo de revisão e criação da história de vida (BUTLER, 1963).

 

Significados e valores para as pessoas pobres: desconexão/alienação familiar

A desconexão/alienação familiar associa-se à condição de "pobre" (Tabela 3), indicando que estes participantes viveram ao longo da vida com sentimentos de desvalorização e inferioridade por serem pobres. Shapiro (2007) afirma que o (pouco) dinheiro pode provocar sensações de ansiedade, pois pode estar relacionado a sentimentos de insucesso, incompetência, insegurança e não aceitação social. Estes participantes sentem-se inferiores pelo que não alcançaram na vida, que se consubstancia na ausência de um legado material. Ou seja, o sentimento de inferioridade parece impedir a valorização de transmissões simbólicas.

A integridade global ocorre no sentido da insatisfação com a vida individual e familiar, mais centrada no presente e passado: a "casa" é o local onde experienciam falta de autonomia (não estão em suas casas em virtude da dependência física e/ou económica e/ou sentem-se um fardo para os outros). Ao deixarem suas casas, parecem perder parte de sua identidade social e histórica, o que contribui para o mal-estar subjetivo e o desespero interior (PAÚL, 2005). Os participantes também vivenciam solidão (atribuída às raras visitas dos familiares). O "trabalho" é lembrado com nostalgia e tristeza, pois evoca a dependência que os obrigou a deixar de trabalhar; e o trabalho dos filhos impede-os de fazerem mais visitas. O trabalho pode ser um entrave ao convívio familiar desejado, cabendo às famílias debaterem a situação, o que não ocorre com estes participantes, que mantêm conflitos não resolvidos e/ou aceites (ROBINSON; GODBEY, 1999). As baixas "pensões" contribuem para sentimentos de insegurança e dependência. A palavra "comer" é usada para revelar que gostariam de ter refeições em família, o que não acontece e conduz à tristeza; o tempo de convívio em família durante as refeições familiares é um momento para troca de informações e manutenção da identidade familiar.

A transformação das relações familiares emerge, no sentido da descontinuidade, influenciada: (1) pela "casa", local onde vivenciam a falta de visitas familiares, um indicador de distância afetiva; (2) pelo "trabalho", que revela a necessidade de continuar a trabalhar para evitar pedir ajuda e/ou "dinheiro"; (3) pela "pensão", que é escassa, havendo a percepção de que os familiares com posses não ajudam, traduzindo-se em sentimentos de tristeza e desesperança na união familiar; (4) pelo "comer" (dar de comer ou momento da refeição), que seria uma forma de proximidade, embora não aconteça pela distância afetiva que existe; para estes participantes, ser "pobre" contribui para que alguns elementos da família se afastem, o que os faz sentir inferiores e desvalorizados.

A resolução de conflitos e perdas ocorre, no sentido da não aceitação e/ou resolução, influenciada pelos seguintes significados que traduzem valores: a "casa" é o local de visitas, no entanto, garantem que só recebem visitas de familiares interessados na herança (mesmo que pouca); se não os visitam, é porque nada têm para deixar. Isto é, os valores de legado enaltecidos por estes participantes em desconexão/alienação são essencialmente materiais. O "trabalho", durante anos, foi fonte de alguns conflitos, considerando que o ser "pobre" impede que alguns deles se resolvam, pois a pessoa nada têm para dar (indicando o sentimento de que a aproximação se faz com interesses materiais). A privação económica aumenta o risco de stress emocional, potenciando o conflito familiar ao diminuir os níveis de bem-estar subjetivo (VANDSBURGER; HARRIGAN; BIGGERSTAFF, 2008).

A criação de sentido e legado ocorre em dois sentidos: satisfação e insatisfação com a transmissão do legado. A satisfação associa- -se ao valor do "trabalho" como um legado que garante uma vida honesta aos descendentes e ao significado de "pensão", que sendo baixa, garante visitas familiares por afeto (apesar de "pobres", deram educação e/ou profissão aos filhos). A insatisfação incorpora: a "casa" como lugar onde não ocorrem visitas, porque nada têm de material para deixar e porque não transmitiram bons valores aos descendentes; a ausência de "dinheiro" implica a falta de bens materiais para deixar aos filhos, fazendo-os sentirem-se inúteis; o "comer" emerge, pois consideram que os filhos não se interessam se eles têm ou não o que comer, mostrando que não transmitiram o legado de princípios que gostariam.

 

Conclusão

A construção e reconstrução da identidade são processos que decorrem ao longo da vida, sendo o seu desenvolvimento, via criação de história de vida, uma das principais tarefas psicossociais da vida adulta. Os valores atribuídos a acontecimentos, eventos e/ou coisas, diferem mediante o significado: os significados e valores atribuídos à condição de pobre (palavra com significados distintos, consoante o percurso de integridade, ou desconexão/alienação familiar) parecem influenciar a re/interpretação da identidade ao longo da vida. A integridade familiar ocorre quando o ser pobre é encarado pelas conquistas; a desconexão/alienação familiar emerge quando o ser pobre incorpora sentimentos de desvalorização e inferioridade. A capacidade para identificar um legado de princípios no fim da vida parece influenciar a evolução para cada um desses caminhos: a integridade familiar associa-se à valorização do legado simbólico ou de princípios (trabalho, união e entreajuda familiar); a desconexão/ alienação liga-se à valorização do legado material e à negligência da importância do legado de princípios. A transmissão da herança material representa um dos contextos (emocional e relacional) para revisão de vida: facilita a consolidação da integridade familiar (representa uma oportunidade de proximidade possibilitando a sensação de continuidade) ou fomenta a desconexão/alienação familiar (afastamento e descontinuidade no seio familiar por parte da pessoa idosa) no processo emocional de transição, no fim da vida.

 

Referências

AMARO F. Escala de Graffar adaptada. In: Costa A. M. B. et al. (Orgs.). Currículos funcionais. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional, 1996. v. 2.         [ Links ]

BARRIENTOS, A.; GORMAN, M.; HESLOP, A. Old age poverty in developing countries: contributions and dependence in later life. World Development, v. 31, n. 3, p. 555-570, 2003.         [ Links ]

BLIESZNER, R.; BEDFORD, V. H. The family context of aging: trends and challenges. In: BLIESZNER, R.; BEDFORD, V. H. (Orgs.). Handbook of aging and the family. Westport: Greenwood, 1995. p. 3-12.         [ Links ]

BUTLER, R. N. Life-review: an interpretation of reminiscence in the aged. Psychiatry, v. 26, n.1, p. 65-76, 1963.         [ Links ]

BUTLER, R. N. Age, death and life review. In: DOKA, K. (Org.). Living with grief: loss in later life. Washington: Hospice Foundation of America, 2002. p. 3-11.

ELDER, G. Children of the great depression: social change in life experience. Chicago: University of Chicago, 1974.         [ Links ]

ENRIQUEZ, E. Perda do trabalho, perda da identidade. Cadernos de Escola do Legislativo. Belo Horizonte, v. 5, n. 9, p. 53-73, 1999.         [ Links ]

ERIKSON, E. Childhood and society. New York: Norton, 1950.         [ Links ]

ERIKSON, E. H. The life cycle completed. Extended version with new chapters on the ninth stage by Joan M. Erikson. New York: Norton, 1998.         [ Links ]

GALLIAN, D. M. A desumanização do comer. Estudos Avançados, v. 21, n. 60, p. 179-184, 2007.         [ Links ]

HERMANS, H.; HERMANS-JANSEN, E. Self-narratives. The construction of meaning in psychotherapy. New York: The Guilford Press, 1995.         [ Links ]

KING, D.; WYNNE, L. The emergence of family integrity in later life. Family Process, v. 43, n. 1, p. 7-20, 2004.         [ Links ]

LEONARDO, M. Antropologia da alimentação. Antropos: Revista de Antropologia, v. 3, n. 2, p. 1-6, 2009.         [ Links ]

MARQUES F. D.; SOUSA, L. Integridade familiar: especificidades em idosos pobres. Paidéia, Ribeirão Preto, v. 52, n. 52, p. 207-216, 2012.         [ Links ]

McADAMS, D. Personal narratives and the life story. In: PERVIN, L.; JOHN, O. (Orgs.). Handbook of personality: theory and research. 2. ed. New York: Guilford, 1999. p. 478-500.         [ Links ]

MINUCHIN, S. Onde está a família na terapia narrativa da família? Jornal da Terapia Marital e da Família, v. 24, n. 4, p. 397-403, 1998.         [ Links ]

MORRIS, C. W. Varieties of human value. Chicago: University of Chicago, 1956.         [ Links ]

NORRIS-BECKER, C. The evolving concept of behaviour settings: implications for housing older adults. In: SCHEIDT, R.; WINDLEY, P. (Orgs.). Environment and aging theory: a focus on housing. Westport: Greenwood, 1998. p. 141-160.         [ Links ]

PATRÃO M.; SOUSA, L. Material inheritance: constructing family integrity in later life. In: SOUSA, L. (Org.). Families in later life. New York: Nova Science, 2009. p. 49-74.         [ Links ]

PAÚL, C. Psicologia dos idosos: o envelhecimento em meios urbanos. Braga: SHO, 1996.         [ Links ]

PAÚL, C. Lá para o fim da vida: idosos, família e meio ambiente. Coimbra: Almedina, 1997.         [ Links ]

PAÚL, C. Envelhecimento e ambiente. In: SOCZKA, L. (Org.). Contextos humanos e psicologia ambiental. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkien, 2005. p. 247-268.         [ Links ]

PENNEBAKER, J. W.; MEHL, M. R.; NIEDERHOFFER, K. G. Psychological aspects of natural language use: our words, our selves. Annu. Rev. Psychology, v. 54, p. 547-77, 2003.         [ Links ]

ROBINSON, J. P.; GODBEY, G. Time for life: the surprising ways Americans use their time. University Park: Pennsylvania State University Press, 1999.         [ Links ]

RUBINSTEIN, R. The home environments of older people: a description of the psychological processes linking person to place. Journal of Gerontology: Social Sciences, v. 44, n. 2, p. 45-53, 1989.         [ Links ]

SHAPIRO, M. Money: a therapeutic tool for couples therapy. Family Process, n. 46, p. 279–291, 2007.

SINATRA, R. Creating a culture of vocabulary acquisition for children living in poverty. Journal of Children and Poverty, v. 14, n. 2, p. 173-192, 2008.         [ Links ]

SOUSA, L.; SILVA, A.; MARQUES, F.; SANTOS, L. Constructing family integrity in later life. In: SOUSA, L. (Org.). Families in later life. New York: Nova Science, 2009. p. 163-184.         [ Links ]

STRAUSS A.; CORBIN, J. Pesquisa qualitativa: técnicas e procedimentos para o desenvolvimento de teoria fundamentada. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.         [ Links ]

TAUSCZIK, Y. R.; PENNEBAKER, J. W. The Psychological meaning of words: LIWC and computerized text analysis methods. Journal of Language and Social Psychology, v. 29, n. 1, p. 24–54, 2010.

VANDSBURGER, E.; HARRIGAN, M.; BIGGERSTAFF, M. In spite of it all, we make it: themes of stress and resiliency as told by women in families living in poverty. Journal of Family Social Work, n. 11, p. 17–35, 2008.

VIANA, N. Os valores na sociedade moderna. Brasília: Thesaurus, 2007.         [ Links ]

VIEGAS, S. M.; GOMES, C. Identidade na velhice. Porto: Ambar, 2007. (Colecção Idade do Saber).

VIRKLER, H. The role of values in counselling and psychotherapy. New York: W. W. Norton, 2000.         [ Links ]

WAHL, H.-W. Environmental influences on aging and behaviour. In: BIRREN, J.; SCHAIE, W. (Orgs.). Handbook of the psychology of aging. San Diego: Academic Press, 2001. p. 215-237.         [ Links ]

 

 

Contato dos Autores:

Liliana Xavier Marques de Sousa
Universidade de Aveiro
Secção Autônoma de Ciências da Saúde
Campus Universitário de Santiago
CEP 3810-193, Aveiro, Portugal

 

Recebido em: 07-07-2012
Aceito em: 12-10-2012