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Print version ISSN 1415-8809

Psicol inf. vol.17 no.17 São Paulo Dec. 2013

 

Artigo

 

 

Testagem de um modelo empírico entre valores humanos e condutas desviantes em jovens

 

Testing of an empirical model between human values and deviant behavior of young people

 

 

Nilton Soares Formiga*

*Mestre e doutor em psicologia social pela Universidade Federal da Paraíba. Docente do curso de Psicologia da Faculdade Mauricio de Nassau, João Pessoa, Paraíba.

 

 


RESUMO

O presente trabalho tem como a comprovação de um modelo teórico no qual se hipotetiza associação dos valores humanos e as condutas antissociais e delitivas. Neste caso, os valores de orientação social – coletivista – explicariam negativamente as condutas desviantes, por outro lado, a orientação valorativa pessoal – individualista – se associará positivamente às condutas desviantes. Participaram do estudo 504 jovens, do sexo masculino e do sexo feminino, entre 15 e 22 anos. Responderam à Escala de Condutas Antissociais e Delitivas, o Questionário dos valores humanos básicos e questões sociodemográficas. No programa AMOS GRAFICS 18.0, gerou-se o modelo hipotetizado, observando uma associação negativa entre os valores sociais e as condutas desviantes e associação positiva entre valores pessoais e as mesmas condutas.

Palavras-chave: Modelo teórico; Condutas desviantes; Valores humanos; Jovens.


ABSTRACT

This study has like a proof of a theoretical model in which hypothesized the association of human values and antisocial and criminal behavior. In this case, the values of social orientation – collectivist – explain negatively the deviant behavior; on the other hand, the personal value orientation – individualist – is positively associated with deviant behavior. 504 young, male and female, between 15 and 22 years old, participated in this study. They answered the antisocial and criminal behavior Scale, the Questionnaire about basic human values and social demographics. The program AMOS GRAFICS 18.0, created a hypothesized model, observing a negative association between social values and deviant behaviors and positive relationship between personal values and the same conduct.

Keywords: Theoretical model; Deviant behavior; Human values; Young people.


RESUMEN

Este estudio es una prueba de un modelo teórico en el que la hipótesis de asociación de los valores humanos y el comportamiento antisocial y criminal. En este caso, los valores de orientación social – colectivista – explicar el comportamiento desviado de forma negativa, por el contrario, la orientación de valores personales – individualista – se asocia positivamente con la conducta desviada. 504 jóvenes, hombres y mujeres, entre 15 y 22 años participaron en este estudio. Respuestas a escala del comportamiento antisocial y criminal, el Cuestionario de los valores humanos básicos y la demografía social. En el programa AMOS GRAFICS 18,0, ha sido modelo de la hipótesis, la observación de una asociación negativa entre los valores sociales y conductas desviadas y una relación positiva entre los valores personales y las mismas conductas.

Palabras clave: Modelo teórico; Conducta desviada; Los valores humanos; Jóvenes.


 

Introdução

A explicação do comportamento desviante entre os jovens tem contemplado variáveis estruturais e funcionais com o objetivo de responder às causas e aos efeitos desse comportamento na dinâmica psicológica e social do jovem e seu entorno ambiental (STOFF; BREILING; MASER, 1997, AGÜERO, 1998; SUKHODOLSKY; COLUB; CROMWELL, 2001, MUÑOZ-RIVAS; GRAÑA, 2002). Acredita-se que o problema da conduta desviante juvenil, atualmente, não tem um padrão invariável atribuindo-lhe exclusividade a um grupo social em função da variação socioeconômica e demográfica, bem como, consequente de um distúrbio de personalidade (TORRENTE; RODRÍGUEZ, 2000, FORMIGA; GOUVEIA, 2005; FORMIGA, 2010).

Esse fenômeno na época atual é um reflexo de uma mudança cultural que é encontrada em muitos países ocidentais fomentadores de um espírito individualista, subordinando interesses e prioridades pessoais ao invés daqueles do grupo e da harmonia social. A meta desses jovens é, somente, buscar prestígio e satisfazer seu próprio ego e imagem pessoal, pois, quando não conseguem alcançar esse objetivo ou quando na falta de recursos econômicos ou apoio social, geralmente, procuram obter o que desejam por meio de uma conduta delinquente (FORMIGA; DINIZ, 2011; LIPOVETSKY, 1986).

Frente a tais reflexões, o problema da conduta desviante entre os jovens, explorado por pesquisadores em diversos espaços da ciência humana e social, tem como objetivo apresentar soluções a fim de controlar ou amenizar esse fenômeno. Dessas soluções, uma que tem sido considerada importante refere-se aos fatores psicossociais; neste contexto, pretende-se enfatizar os aspectos normativos de tais condutas, isto é, o compromisso com os padrões convencionais estabelecidos na sociedade, destacando o papel dos valores humanos; observa-se que uma adesão a valores mais pessoais (por exemplo, emoção, prazer) promove esse tipo de conduta, enquanto uma adesão a valores sociais (por exemplo, religiosidade, tradição) é capaz de inibir tais condutas (COELHO JÚNIOR, 2001, FORMIGA; GOUVEIA, 2005, PETRAITIS; FLAY; MILLER, 1995, ROMERO; SOBRAL; LUENGO; MARZOA, 2001; TAMAYO; NICARETTA; RIBEIRO; BARBOSA, 1995).

Com base na suposição teórica de que os valores humanos assumem a natureza benevolente ou positiva dos seres humanos, de que servem como padrões gerais de orientação para os comportamentos dos indivíduos, de que são representações cognitivas das necessidades humanas, necessidades estas não só individuais, mas também de ordem institucionais e societais e de que se compreendem como metas superiores, estando além de metas imediatas e biologicamente urgentes (GOUVEIA; MILFONT; FISCHER; SANTOS, 2008), este construto é considerado como "conceitos ou categorias; sobre estados desejáveis de existência; transcendem situações específicas; assumem diferentes graus de importância; guiam a seleção ou avaliação de comportamentos e eventos e representam cognitivamente as necessidades humanas" (p. 55).

Nesta teoria dos valores, o construto é considerado como critério de orientação que guia as ações do homem e expressa as suas necessidades básicas; tem-se como sua primeira função guia o tipo de orientação social, central e pessoal. Os indivíduos que são guiados por valores sociais centram-se na sociedade e têm foco interpessoal; são inseridos na subfunção "Normativa (que se refere a orientações dentro do domínio motivador materialista) e Interacional (diz respeito às orientações sociais dentro do domínio motivador humanitário)”. Por outro lado, aquelas pessoas que são guiadas por valores pessoais são egocêntricas ou têm foco intrapessoal, contemplando a subfunção de Experimentação (compatível com orientações pessoais dentro do domínio motivador humanitário); por último, a Realização é compatível com orientações pessoais dentro do domínio motivador materialista.

A segunda função dos valores expressa às necessidades básicas do homem, aponta que indivíduos guiados por tais valores tendem a pensar em condições de sobrevivência mais físicas, ressaltando a sua própria existência e as condições de mantê-la, identificando o tipo de motivação materialista (pragmático) ou humanitário (idealista) do sujeito que se guia por essa adesão. De acordo com Gouveia, Milfont, Fischer e Santos (2008), "as subfunções dos valores, em graus diferentes, enfatizam o ajuste do indivíduo à sociedade e às suas instituições, mas também acentuam a sobrevivência do indivíduo. Entretanto, essas funções valorativas e suas respectivas subfunções são estruturas latentes, que precisam ser representadas por variáveis observáveis, como indicadores, itens ou valores específicos".

Ao considerar a hipótese, especificamente, a de que os valores humanos explicam as condutas antissociais e delitivas, Formiga (2002) e Formiga e Gouveia (2005; 2006) desenvolveram um estudo correlacional com 710 jovens do sexo feminino e do sexo masculino na cidade de João Pessoa – PB, com idade entre 15 a 20 anos; nesses três estudos, os autores observaram que os jovens que dão mais importância aos valores pessoais apresentaram mais indícios tanto de condutas antissociais quanto delitivas, enquanto que aqueles que deram importância aos valores foram menos prováveis em relatar tais condutas. Resultados semelhantes, porém, considerando a variável o uso potencial de drogas, foram encontrados por Coelho Júnior (2001).

Apesar desses autores brasileiros (COELHO JÚNIOR, 2001; FORMIGA, 2002; FORMIGA; GOUVEIA, 2005; FORMIGA; GOUVEIA, 2006) encontrarem resultados consistentes tanto com base na perspectiva teórica assumida quanto na operacionalidade de mensurar as condutas desviantes e dos valores humanos, ao considerar apenas esse tipo de análise correlacional, aponta-se em direção de um inconveniente: esta análise pauta-se estritamente nos dados obtidos e não considera um modelo teórico fixo que oriente a extração das dimensões latentes e muito menos tem o poder de apresentar qualquer indicação da bondade de ajuste do modelo. Essas técnicas – a da análise da modelagem estrutural – têm a clara vantagem de levar em conta a teoria para definir a associação entre as variáveis hipotetizadas, bem como apresenta indicadores de bondade de ajuste que permitem decidir objetivamente sobre a validade de construto da medida analisada.

Dois resultados principais podem ser esperados ao trabalhar com a análise estrutural: 1 – estimativa da magnitude dos efeitos estabelecida entre variáveis, as quais estão condicionadas ao fato de o modelo especificado (isto é, o diagrama) estar correto, e 2 – testar se o modelo é consistente com os dados observados, a partir dos indicadores estatísticos, podendo dizer que resultado, modelo e dados são plausíveis, embora não se possa afirmar que este é correto (FARIAS; SANTOS, 2000). Atende-se, assim, não a certeza total do modelo, mas a sua probabilidade sistemática na relação entre as variáveis.

Um dos principais objetivos das técnicas multivariadas – neste caso, considera-se a modelagem de equação estrutural – é expandir a habilidade exploratória do pesquisador e a eficiência estatística e teórica no momento em que se quer provar a hipótese levantada no estudo. Apesar das técnicas estatísticas tradicionais compartilharem de limitações, nas quais é possível examinar somente uma relação entre as variáveis, é de suma importância para o pesquisador o fato de ter relações simultâneas; afinal, em alguns modelos existem variáveis que são independentes em algumas relações, e dependentes em outras.

A fim de suprir esta necessidade, a Modelagem de Equação Estrutural examina uma série de relações de dependência simultâneas, esse método é particularmente útil quando uma variável dependente se torna independente em relações subsequentes de dependência (SILVA, 2006; HAIR; ANDERSON; TATHAM; BLACK, 2005). Com isso, o objetivo do presente estudo procura avaliar, de forma mais robusta, a partir de uma Análise Fatorial Confirmatória (AFC) e a análise do Modelo de Equação Estrutural (SEM) efetuado a partir do AMOS GRAFICS, versão 7.0, a associação entre os valores humanos e as condutas desviantes (antissocial e delitiva) em uma amostra de jovens paraibanos. Para isso, toma-se como referência o estudo de Formiga e Gouveia (2005), a partir de uma estatística mais sofisticada, tem-se como base as mesmas hipóteses por esses autores, pretendendo-se corroborar os seus achados, a saber: a orientação valorativa social se associará, negativamente, com as condutas desviantes (antissocial e delitiva); por outro lado, a orientação valorativa pessoal se associará, positivamente, com as condutas desviantes.

 

Método

Participantes

Participaram do presente estudo 504 jovens, do sexo masculino e feminino, com idades entre 14 e 20 anos, distribuídos igualmente em níveis escolares fundamental e médio, da rede privada e pública de educação da cidade de João Pessoa – PB. Essa amostra foi não probabilística e sim intencional, pois teve o propósito de garantir a validade interna dos resultados da pesquisa.

Instrumentos

Os participantes responderam a um questionário composto das seguintes medidas:

a) Escala de Condutas Antissociais e Delitivas. Este instrumento, proposto por Seisdedos (1988) e validado por Formiga e Gouveia (2003) para o contexto brasileiro, compreende uma medida comportamental em relação às Condutas Antissociais e Delitivas. Tal medida é composta por quarenta elementos, distribuídos em dois fatores, como segue: o primeiro envolve as condutas antissociais, em que seus elementos não expressam delitos, mas comportamentos que desafiam a ordem social e infringem normas sociais (por exemplo, jogar lixo no chão mesmo quando há perto um cesto de lixo; tocar a campainha na casa de alguém e sair correndo). O segundo fator relaciona-se às condutas delitivas. Estas incorporam comportamentos delitivos que estão fora da lei, caracterizando uma infração ou uma conduta faltosa e prejudicial a alguém ou mesmo à sociedade como um todo (por exemplo, furtar objetos dos carros; conseguir dinheiro ameaçando pessoas mais fracas). Para cada elemento, os participantes deveriam indicar o quanto apresentava o comportamento assinalado no seu dia a dia. Para isso, utilizavam uma escala de resposta com dez pontos, tendo os seguintes extremos: 0 = Nunca e 9 = Sempre.

A presente escala revelou indicadores psicométricos consistentes, identificando os fatores destacados citados; para a Conduta Antissocial, encontrou-se um Alpha de Cronbach de 0,86 e a Conduta Delitiva ou Delinquente, 0,92. Considerando a Análise Fatorial Confirmatória, realizada com o Lisrel 8.0, comprovou-se essas dimensões previamente encontradas (c²/gl = 1,35; AGFI = 0,89; PHI (f) = 0,79, p > 0,05) na análise dos principais componentes (FORMIGA; GOUVEIA, 2003). Neste estudo, essa escala apresentou alfas próximos aos encontrados no estudo de Formiga (2003) e Formiga e Gouveia (2003), tanto para Conduta Antissocial (Alpha de Cronbach, α = 0,84) e para Conduta Delitiva ou Delinquente, α = 0,90 mantendo sua consistência interna.

Questionário dos Valores Básicos – QVB. Este instrumento, elaborado e validado por Gouveia (2003), está composto por 18 itens ou valores básicos, agrupados segundo o critério de orientação adotado: pessoal, central e social, distribuídos em seis subfunções específicas dos valores: experimentação (emoção, prazer e sexual), realização (êxito, poder e prestígio), existência (estabilidade pessoal, saúde e sobrevivência), suprapessoal (beleza, conhecimento e maturidade), interacional (afetividade, apoio social e convivência) e normativa (obediência, religiosidade e tradição).

Para responder ao instrumento, o participante deverá indicar o grau de importância que cada um dos valores tem como um princípio guia na sua vida, utilizando uma escala de resposta de sete pontos, com os seguintes extremos: 1 – Totalmente não importante e 7 = Extremamente importante. De acordo com as 199 análises fatoriais confirmatórias efetuadas (GOUVEIA; MILFONT; FISCHER; SANTOS, 2008), este instrumento apresenta índices de bondade de ajuste satisfatórios: c²/gl = 2,67, GFI = 0,91, AGFI = 0,89 e RMSEA = 0,05; sua consistência interna (Alfa de Cronbach) média foi de 0,51 para o conjunto das seis subfunções: Existência, Realização, Normativa, Suprapessoal, Experimentação e Interacional. Caracterização Sociodemográfica – Foram elaboradas perguntas que contribuíram para caracterizar os participantes deste estudo (por exemplo, sexo, idade, estado civil, classe social).

Procedimento

Procurou-se definir um procedimento padrão que consistia em aplicar os instrumentos coletivamente em sala de aula, em escolas, em diversas áreas urbanas da cidade de João Pessoa – PB. Desta forma, colaboradores com experiência metodológica e ética ficaram responsáveis pela coleta dos dados. Após a autorização, tanto da diretoria da escola quanto dos professores responsáveis para cada disciplina, os aplicadores se apresentaram em sala de aula como interessados em conhecer as opiniões e os comportamentos das pessoas no cotidiano, solicitando a colaboração voluntária dos estudantes no sentido de responderem a um questionário breve.

Foi-lhes dito que não havia resposta certa ou errada e que, mesmo necessitando de uma resposta individual, estes não deveriam sentir-se obrigados em responder ao instrumento, podendo desistir a qual momento, seja quando tivessem o instrumento em suas mãos, ao iniciar sua leitura ou outra eventual condição, bastava apenas contatar as pessoas responsáveis pela aplicação do instrumento no local. A todos era assegurado o anonimato das suas respostas, enfatizando que elas seriam tratadas, estatisticamente, em seu conjunto de respostas; apesar de o questionário ser autoaplicável, contando com as instruções necessárias para que possam ser respondidas, os colaboradores estiveram presentes durante toda a aplicação para retirar eventuais dúvidas ou realizar esclarecimentos que se fizessem indispensáveis, não interferindo na lógica e compreensão das respostas dos respondentes; 30 minutos foram suficientes para concluir essa atividade.

Em relação à análise dos dados da pesquisa, utilizou-se a versão 18.0 do pacote estatístico SPSS para Windows e computadas estatísticas descritivas (tendência central e dispersão). No AMOS 18.0, computaram e avaliaram-se os indicadores estatísticos para o Modelo de Equações Estruturais (SEM) considerando, segundo uma bondade de ajuste subjetiva, os seguintes indicadores: c2/gl (grau de liberdade), que admite como adequados, índices entre 2 e 3, aceitando-se até 5; Raiz Quadrada Média Residual – RMR, indica o ajustamento do modelo teórico aos dados, na medida em que a diferença entre os dois se aproxima de zero (0); índices de qualidade de ajuste, dados pelos GFI/AGFI, que medem a variabilidade explicada pelo modelo, e com índices aceitáveis a partir de 0,80; CFI, que compara de forma geral o modelo estimado e o modelo nulo, considerando valores mais próximos de um (1) como indicadores de ajustamento satisfatório; NFI, varia de zero a um e pode ser considerado aceitável para valores superiores a 0,90. Caracteriza- -se por ser uma medida de comparação entre o modelo proposto e o modelo nulo, representando um ajuste incremental e o RMSEA, que se refere ao erro médio aproximado da raiz quadrática, deve apresentar intervalo de confiança como ideal situado entre 0,05 e 0,08 (BYRNE, 1989, JORESKÖG; SÖRBOM, 1989, HAIR; TATHAM; ANDERSON; BLACK, 2005).

 

Resultados e discussão

Sendo o objetivo principal deste estudo, testar um modelo teórico (causal) para explicar as condutas desviantes a partir do construto dos valores humanos, considerou-se um modelo recursivo de equações estruturais; a título de lembrança ao leitor, duas hipóteses foram elaboradas: 1 – os valores humanos de orientação social associarão, positivamente, a conduta desviante; para comprová-la, gerou-se no AMOS GRAFICS 18.0, o modelo proposto, o qual apresentou o seguinte resultado: c2/gl (0,79/1) = 0,79, p < 0,37; RMR = 0,01; GFI = 1,00; AGFI = 0,99; NFI = 1,00; CFI = 1,00 e RMSEA = 0,00 (0,00-0,11). Os pesos (saturações) que explicam o modelo em questão são expostos na figura 1, após as devidas modificações de ajuste, comprovou-se que a variável independente – o construto dos valores humanos de orientação social – associou-se, negativamente (λ = -0.41) a conduta antissocial, sendo esta mediadora da conduta delitiva (λ = 0,43) (Figura 1).

 

 

A segunda hipótese refere-se à associação positiva dos valores pessoais com as condutas desviantes; desta forma, foi gerado também no AMOS GRAFICS 18.0 o modelo proposto, o qual, apresentou o seguinte resultado: c2/gl (1,80/1) = 1,80, p < 0,18; RMR = 0,02; GFI = 1,00; AGFI = 0,98; NFI = 0,99; CFI = 1,00 e RMSEA = 0,04 (0,00-0,13). Os pesos (saturações) que explicam o modelo em questão são expostos na figura 2, após as devidas modificações de ajuste, comprovou-se que a variável independente – o construto dos valores humanos de orientação pessoal – associou-se, positivamente (λ = 0,31) a conduta antissocial, a qual media a conduta delitiva (λ = 0,58) (Figura 2).

 

 

Considerando esses resultados, corroboram-se os achados observados por Formiga e Gouveia (2005); estes estudos foram realizados à base para modelagem empírica do presente estudo, bem como fornece indicadores estatísticos mais robustos em termos das estruturas associativas entre as variáveis, provando, portanto, que dependendo da orientação valorativa que os jovens venham a aderir, manifestarão ou não a conduta desviante. Por exemplo, aquele jovem que tiver uma pontuação mais alta em valores sociais, menor será a sua conduta desviante; enquanto que uma pontuação maior em valores pessoais, maior a conduta desviante.

Tomando a base teórica de que os valores, além de serem desejáveis pelo sujeito (afinal, não se toma decisão ou se faz escolhas no vazio social), guiam a seleção ou avaliação de comportamentos/ eventos e representam cognitivamente as necessidades humanas. Neste contexto, o presente trabalho procurou oferecer um referencial que pudesse permitir uma intervenção nos valores humanos de modo a inibir as condutas antissociais e delitivas entre os jovens.

Com isso, conhecer um padrão valorativo de um fenômeno social desviante, especificamente o da conduta juvenil delituosa, é apontar em direção de um modelo teórico consistente, a fim de compreender não somente sua capacidade preditiva dessa variável, mas também de uma melhor direção conceitual aplicada em relação às políticas públicas para a juventude.

Nos estudos citados sobre as condutas desviantes (COELHO JUNIOR, 2001; FORMIGA, 2002, 2006; FORMIGA; GOUVEIA, 2005) é evidente que estas condutas referem-se à debilidade dos limites convencionais que vão desde a falta e adesão de um comprometimento com as convenções exigidas pela sociedade e suas instituições de controle social frente aos valores assumidos pelas pessoas que a compõem. Por exemplo, os estudos de Formiga (2005, 2010) observaram que uma maior afiliação dos jovens aos pais (pai e/ou mãe) e professores, menor a conduta antissocial e delitiva. Esse fato pode ser compreendido em relação ao envolvimento dos jovens com a sociedade convencional (FORMIGA, 2002) tornando-os capazes de internalizar os valores ou padrões convencionais, comportando-se segundo as normas sociais vigentes.

Apesar da consistência desses resultados, alguns limites podem ser destacados para futuras pesquisas, como: – seria de importante a construção e testagem de um modelo teórico capaz de provar a associação entre valores humanos, afiliação com os pares sócio-normativos e conduta desviante; – outro estudo, também, significativo seria a associação entre valores humanos, práticas parentais e conduta desviante. Tais variáveis poderiam corroborar a hipótese da internalização dos valores a partir da dinâmica socializadora da família.

 

Referências

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Contato do Autor

Rua Juiz Ovídio Gouveia, 349. Pedro Gondim.
CEP.: 58031-030. João Pessoa - PB.
E-mail: nsformiga@yahoo.com

 

Recebido em: 10/12/2012
Aceito em: 05/02/2013

 

 

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