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Revista da SBPH

versão impressa ISSN 1516-0858

Rev. SBPH v.10 n.2 Rio de Janeiro dez. 2007

 

 

Assembléia SBPH - Gestão 2005-2007 - reflexões

 

 

Diante da importante incumbência a mim confiada: representar a Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar; inicio minha fala com agradecimento aos colegas pela distinção, que muito me honrou nos dois anos que se passaram. Antes de iniciar ao que me propus, aviso que serei breve. Recorrerei a alguns teóricos.

Inicio na Grécia Antiga, pelos elementos da natureza. Tales, então pensava que a ‘água’ era o elemento que, ao evaporar e condensar; criava todas as substâncias. Anaximenes acreditava que o elemento seria o ‘ar’. Este poderia condensar-se em ‘água’ e ‘terra’; ou rarefazer-se em ‘fogo’. Para Heráclito, o ‘fogo’ era o elemento fundamental da natureza. Há cerca de 450 a.C., Empédocles lançou a idéia de que a natureza era composta de átomos, partículas ‘incontáveis’ dos quatro elementos terra, ar, fogo e água, filosofia que Aristóteles ajudou a tornar mais abrangente”.

Esta referência à história do conhecimento humano serve como ponto inicial para refletirmos. Inicialmente, pode-se ter a impressão que tudo mudou, que a explicação partindo dos quatro elementos, num mundo altamente determinado pela tecnologia, já não serve mais para acalmar tantas inquietações.

Nestas explicações percebe-se que podemos entender angústias que insistem em nos acompanhar toda vez que iniciamos uma nova fase ou tarefa em nossas vidas.  Vemos assim, que a teoria proposta por Empédocles integrava elementos diferentes que, coexistindo entre si, formavam novos elementos.

Semelhante processo ocorre com a formação do ser humano, marcado por constantes encontros e desencontros, consigo e com o outro. Isto foi o que aconteceu com esta diretoria que agora finda – psicólogos de diferentes pontos do Brasil se encontraram e, agora, se unem por um objetivo maior – a Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar - SBPH.

Encontrar um sentido para nossa existência implica em sair do isolamento, defrontar-se com o estranho, com o outro que, muitas vezes, deseja diferente. Esta é uma condição necessária à vida do ser humano - aprender a conviver com o diferente.

Nenhum homem foi, nem jamais será igual a outro homem que vive, ou já viveu. Conviver significa viver com, viver com o outro. E este foi nosso maior desafio: encontrar uma maneira de conviver; sem impor padrões de comportamento que impedissem a existência de diferenças, com certeza existentes. Aquele mesmo diferente; percebido nos quatro elementos, dado este que também nos remete à diferença dos papéis desempenhados em nossa vida e nessa então Diretoria.

Viver novas etapas implica aprender com o que é novo, com o diferente, fazer escolhas. Sabemos que os desafios da diferença, do novo, se tornam sempre evidentes.

A nós coube então, como Diretoria 2005-2007; estabelecer a passagem e criar nosso caminho. Aqui esteve nossa responsabilidade enquanto responsáveis pela SBPH, nestes dois anos, criando e construindo novos caminhos. De acordo com o preceito ético, sempre presente em nossa profissão, esperamos ter sido psicólogos aptos a dar continuidade à difícil missão de integrar e respeitar diferenças.

Receber a presidência da SBPH! Mais do que isso: entender o que ela representa, respeitar o que ela significa. Então, aceitamos o desafio.

Talvez o tempo tenha sido curto para fazermos tudo que precisávamos ter feito. Ao mesmo tempo; sabemos que nós fazemos nosso tempo, e ele existe em função de como nos organizamos.

Quem sabe então, talvez porque não saímos da rotina dos nossos assuntos de sempre. Acredito que possamos entender tal fato através de alguns temas importantes: a iniciativa, para provocar o novo, para aproveitar o que não está na ordem do dia. A criatividade, para valorizar as inúmeras sugestões que nos cercam. A responsabilidade, para encontrarmos o tempo necessário para ouvir, para sentir, para falar e, assim, darmos um sentido correto ao nosso presente e ao nosso futuro, ao presente e ao futuro da Sociedade.

As nossas intenções foram as melhores! E a nossa responsabilidade nos assegurou que sabemos como concretizar essas boas intenções.

A Psicologia Hospitalar precisa e vai avançar mais. Terá sempre que ser plural. Quantas vezes, enquanto Diretoria refletimos junto, sobre o quê e como poderia ser melhor.

Vocês, da Diretoria que hoje assume, terão a chance de argumentar e, principalmente realizar sobre isso nos próximos anos. Não é utopia, é viável. Sempre é tempo de transformação. O que pode ser diferente é a forma como a conduzimos ou a provocamos.

O impacto das possibilidades pode ser um grande motivador na tarefa que vocês têm; de propor e impor um novo ritmo a SBPH, o que não é tão difícil quanto possa parecer. Inovar depende de conhecimento, idéias e disposição. Nós conversamos e testamos isso nas nossas práticas. Não há nada mais belo que preservar a verdade. E quanto a isso, mais uma vez, só depende da intenção de cada um.

Qual é a de vocês? Acredito que as melhores. As nossas também foram. Entendemos o que a SBPH representa, respeitando o que ela significa, aceitamos o desafio.

Sei que a nova Diretoria fará um excelente trabalho. Temos aqui colegas que levaram, junto comigo a bandeira da Sociedade. Agora com muito mais experiência e a garra com que sempre me acompanharam nos dois últimos anos.

Temos de ser dignos da nossa profissão. Temos que ser humildes, honestos. Temos que entender o contexto social em que vivemos, entender a sociedade, a cidade, o país, o mundo.Claro que cada carga de conhecimento vem a seu tempo, e o melhor é não se acomodar.

A essência da Psicologia é a investigação, são os porquês. Manter essa essência também depende da intenção de cada um, da forma como vai utilizá-la e para quê. Tentamos, nestes dois anos, constituir um espaço de acolhimento da singularidade dos psicólogos que transitam pela área hospitalar e da saúde.

Para finalizar o nosso percurso, com certeza, mais de encontros que de desencontros, vamos fechar o nosso diário de bordo, parafraseando Drummond e encerrando para abrir novos caminhos, estradas de outras viagens:

As coisas findas,
Muito mais que lindas
Essas ficarão!

Obrigada Diretoria Biênio 2005-2007: Mônica; Cláudia; Maria Alice; Valéria; Fernanda; Ana; Tereza.

Bem-vinda, Diretoria Biênio 2007-2009

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