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Revista da SBPH

versão impressa ISSN 1516-0858

Rev. SBPH vol.16 no.2 Rio de Janeiro dez. 2013

 

EDITORAL

 

 

A Revista da rsbph está sob nova direção.

Foi com satisfação, mas não sem hesitação, que eu, Maria Lívia Tourinho Moretto, recebi o convite da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar, entidade pela qual sempre nutri profundo respeito, para ocupar o cargo de Diretora de Publicação da referida sociedade, assumindo, consequentemente, a função de Editor-Chefe de sua revista.

Na medida em que a hesitação foi se transformando em entusiasmo pelo desafio, o projeto começou a ganhar sentido e, a partir daí, inciamos um trabalho planejado minuciosamente, com o apoio dos editores anteriores e dos colegas editores com experiência sólida, que ao mesmo tempo em que me indicavam as grandes dificuldades inerentes ao caminho, me inspiravam também a transformá-las em força de trabalho.

Em um primeiro momento, trabalhamos cuidadosamente na construção de uma Comissão Editorial engajada com o projeto de reformulação da Revista e, decidida a fazer dela um instrumento importante de transmissão de conhecimento científico, apostamos em importantes mudanças na política editorial da Revista. O passo seguinte foi a montagem do Conselho Editorial, hoje composto por 45 professores universitários de diversas regiões do Brasil, sendo 5 destes internacionais.

A partir daí foi possível a redefenição de nossa missão, dos fluxos e procedimentos para recepção de artigos, ampliando a possibilidade de recepção de artigos em inglês, francês e espanhol. Um dos ganhos importantes foi o estabelecimento do processo de submissão on line, o que vem facilitando sobremaneira o nosso trabalho e do pareceristas ad hoc, por nós escolhidos criteriosamente.

O mesmo empenho que nos estimulou ao trabalho de tantas reformulações agora transforma- se em satisfação, com a publicação do primeiro número da revista sob a nossa direção: o número 16, volume 2.

Neste número apresentamos ao nosso leitor doze artigos, sendo onze de autores brasileiros e um de autores portugueses. Os quatro primeiros artigos apresentam e discutem importantes temas de saúde por meio da abordagem psicanalítica. Nos artigos seguintes, conforme detalho logo abaixo, os autores apresentam seus relatos de pesquisa no contexto das instituições de saúde. E o último artigo apresenta uma discussão que articula os temas da depressão e da morte com Psicanálise e Mitologia.

No artigo “Corpo cuidado, esquecido e simbólico”, Esperidião Barbosa Neto (Universidade Federal de Alagoas) e Zeferino Rocha (Universidade Católica de Pernambuco) se propõem a discutir, a partir da apresentação de um caso clínico, o conceito de corpo em Psicanálise, considerando suas dimensões consciente e inconsciente, enfatizando tanto os cuidados dedicados a ele no sentido de sua aparencia quanto o descuido do corpo no sentido de sua interioridade, apontando para a importancia do trabalho clínico de simbolização por meio da palavra como recurso capaz de fazer falar a dimensão do corpo não representada.

O segundo artigo tem como título “A presença do analista no Hospital Geral e o manejo da transferência em situação de urgência subjetiva” e é de autoria de Glauco Batista (Universidade Federal de Minas Gerais) e Guilherme Massara Rocha (Universidade Federal de Minas Gerais). Neste trabalho os autores articulam os conceitos de urgência subjetiva e transferência como forma de dar lugar à criatividade e cumplicidade do analista para que ele possa sustentar o espaço necessário para a subjetividade emergir na instituição hospitalar.

O trabalho de Bruna Ballan Maluhy (Universidade Presbiteriana Mackenzie) e Fernando Genaro Junior (Universidade Paulista e Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo) intitulado “Reflexões sobre velhice e o verdadeiro self: relato de experiência”, consiste, como indica o título, em um relato de experiência baseado na investigação clínica de uma paciente idosa atendida pela autora, em um Centro de Referência do Idoso (CRI) do Sistema Único de Saúde (SUS), tendo como proposta compreender se o processo de envelhecimento propiciaria ou não o reposicionamento de um verdadeiro self segundo a teoria winnicottiana, ressaltando a importancia da oferta de assistencia psicoterápica ao idoso no âmbito da Saúde Pública.

No quarto artigo, “A violência sexual e a repetição: a importância da função do segredo para a clínica psicanalítica e o tratamento na instituição de saúde”, Luciana Ferreira Chagas (Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo) e Maria Lívia Tourinho Moretto (Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo) apresentam os resultados do trabalho de atendimento clínico psicanalítico em hospital público, oferecido a mulheres adultas acometidas por violência sexual na infância, que mantiveram a experiência em segredo, e que se apresentaram no hospital com algum tipo de adoecimento, indicando que um suposto trauma não denunciado na época do episódio vivido pode retornar na vida adulta como sintoma, muitas vezes no corpo e/ou como repetição, denunciando o que não pôde ser dito, donde se conclui a importancia da compreensão clínica da função do segredo como possível manutenção de uma posição subjetiva que não pode ser revelada.

Em “Cuidados Paliativos Domiciliares: considerações sobre o papel do cuidador familiar”, Itala Villaça Duarte (Hospital Erasto Gaertner – Curitiba), Krícia Frogeri Fernandes (Tribunal de Justiça do Paraná) e Suellen Cristo de Freitas (Instituto do Rim do Paraná) apresentam os resultados de cuidadosa revisão bibliográfica sobre o papel do cuidador familiar de pacientes com doença em estágio terminal, visando compreender o que a literatura nacional tem apresentado, uma vez que consideram relevante o conhecimento desta dinâmica para (re)pensar a prática já existente, chamando atenção para a influência da terminalidade e da experiência de cuidar e suas variações sobre o cuidador familiar.

O artigo seguinte é de autoria de Adriane Garcia Salik (Instituto de Oncologia do Paraná) e tem como título “O paciente oncológico e suas relações de encontro”. Neste trabalho a autora aborda e discute o impacto emocional evocado no encontro do paciente oncológico com outros pacientes na mesma condição médica, no processo inicial de tratamento quimioterápico em instituições especializadas para este tipo de tratamento, chamando atenção para a ambiguidade dos processos de identificaçao neste processo, pois assim como podem auxiliar o paciente no enfrentamento da doença, podem também representar um risco das no sentido de privar o paciente da vivencia e elaboração de sua própria experiência.

“Intervenções psicológicas na sala de espera: estratégias no contexto da oncologia pediátrica” é um importante relato de experiencia de uma equipe de pesquisadores no Ceará, composta por Tainara Vasconcelos de Alcântara (Universidade Federal do Ceará), Júlia Evangelista Mota Shioga (Universidade Federal do Ceará), Maria Juliana Vieira Lima (Escola de Saúde Pública do Ceará – Hospital Infantil Albert Sabin), Ana Maria Vieira Lage (Universidade Federal do Ceará), Anice Holanda Nunes Maia (Centro Pediátrico do Câncer – Hospital Infantil Albert Sabin), que consiste na criação do “Projeto Sala de Espera” no Centro Pediátrico do Câncer (CPC), desenvolvido pelo Programa de Educação Tutorial (PET) criado pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC) do Curso de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) em parceria com a Associação Peter Pan (APP), que envolve intervenções psicológicas com pacientes e acompanhantes no espaço da Sala de Espera de exames invasivos do CPC. As intervenções psicológicas realizadas apresentaram-se como um importante recurso para a melhoria do bem-estar psicológico dos pacientes e acompanhantes, possibilitando a elaboração das vivências, fortalecendo os mecanismos de enfrentamento da doença, do tratamento, da hospitalização e a adesão ao tratamento.

O trabalho conjunto da equipe de pesquisadoras do Instituto de Cardiologia – Fundação Universitária de Cardiologia do Rio Grande do Sul, composta pelas autoras Júlia Ferreira Pimentel, Cynthia Seelig Botelho Ferreira, Patricia Pereira Ruschel e Rita de Cássia Petrarca Teixeira, “Qualidade de vida em pacientes pós-operatórios de cirurgia cardíaca”, apresenta um relato de pesquisa na qual o objetivo foi avaliar a qualidade de vida do paciente após realização de cirurgia cardíaca de revascularização do miocárdio, chamando atenção para o fato de que a recuperação do indivíduo e a sua qualidade de vida após a cirurgia dependem de fatores que devem ser levados em consideração pela equipe de saúde, tais como traços de personalidade do indivíduo, condição psicológica para efetuar mudança de hábitos, incluindo a prática de atividade física e a participação em programas de reabilitação.

As pesquisadoras portuguesas Maria da Graça Pereira e Angela Pereira da Universidade do Minho - Escola de Psicologia, são autoras do artigo “Validação das Escalas de Perceção de Risco da Hipertensão e Importância Atribuída à Saúde”, no qual apresentam a pesquisa realizada com pacientes hipertensos avaliados no contexto hospitalar em Portugal, concluindo que as escalas apresentam qualidades psicométricas adequadas para serem utilizadas, em doentes hipertensos, em contexto hospitalar.

No trabalho intitulado “Preparo psicológico: a influência na utilização de estratégias de enfrentamento pós-transplante cardíaco”, Paula Moraes Pfeifer (Hospital Universitário de Santa Maria – Rio Grande do Sul) e Patricia Pereira Ruschel (Instituto de Cardiologia - Fundação Universitária do Rio Grande do Sul) apresentam o estudo que realizaram e que teve como objetivo verificar os tipos de estratégias de enfrentamento utilizadas por transplantados cardíacos e se existe diferença nos pacientes que receberam preparo psicológico, concluindo que os transplantados que receberam preparo psicológico antes da cirurgia utilizaram maior número de estratégias de enfrentamento ativas, o que evidencia a influência e importância do acompanhamento psicológico durante o processo.

Ainda na sequencia de relatos de pesquisa da equipe do Instituto de Cardiologia – Fundação Universitária de Cardiologia do Rio Grande do Sul, no artigo “O apego materno-fetal e a ansiedade da gestante”, os autores Patricia Ruschel, Camila Ávila, Gisiane Fassini, Liege Azevedo, Natais Bilhão, Raquel Paiani, Tadiela Lodéa e Paulo Zielinsky apresentam um trabalho que teve como objetivo avaliar a existencia de associação entre o grau de ansiedade e o apego materno-fetal das gestantes que se submetem ao rastreamento para cardiopatia fetal, em promoção de saúde.

Fechando a sequencia de artigos desse número Allan Martins Mohr (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), em “Psicanálise, depressão e a segunda morte às margens do Nilo” lança algumas questões em torno do conceito lacaniano de segunda morte, remetendo-se ao mesmo conceito como explorado pelos egípcios em sua mitologia, para pensar a possibilidade de ler o fenômeno clínico da depressão a partir deste conceito, concluindo que conceitualização psicanalítica da segunda morte parece ter sim certa relação com o mesmo conceito abordado pela mitologia desenvolvida pelos egípcios e que este mesmo conceito pode ser usado como referencial para se pensar a depressão.

Desejamos ao nosso leitor uma excelente leitura!

Prof.a Dr.a Maria Lívia Tourinho Moretto

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