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Revista da SBPH

versão impressa ISSN 1516-0858

Rev. SBPH vol.20 no.1 Rio de Janeiro jun. 2017

 

ARTIGOS

 

A criança e o brinquedo no contexto hospitalar

 

Child and toy in hospital context

 

 

Cláudia Roberta Sossela1; Fábio Sager2

Universidade Caxias do Sul, RS, Brasil

 

 


RESUMO

O brincar é um direito essencial para a saúde física e emocional da criança. No enfrentamento da hospitalização, o brinquedo se apresenta como um recurso para minimizar seus efeitos. Esse estudo tem por objetivo identificar os benefícios do brincar para a criança hospitalizada e avaliar as consequências da utilização de diferentes brinquedos nas suas interações. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, exploratória e qualitativa nas bases de dados Scientific Eletronic Library Online (Scielo) e Google Acadêmico sobre o tema, privilegiando 26 publicações no período de 1998 a 2012. As informações coletadas foram sistematizadas por meio da Análise de Conteúdo. Os resultados encontrados, em diferentes números de amostras, apontaram para a aceitação dos procedimentos necessários à reabilitação da criança. Conclui-se que o brinquedo pode proporcionar a continuidade do desenvolvimento, além de se mostrar como um valioso recurso de ressignificação da dor e do sofrimento vivenciado pelas crianças hospitalizadas.

Palavras-chave: brincar; criança hospitalizada; reabilitação, desenvolvimento.


ABSTRACT

Play is an essential right to child's physical and emotional health. In coping with hospitalization, the toy is presented as a resource to minimize its effects. This study aims to identify the benefits of play for hospitalized children and evaluate the consequences of using different toys in their interactions. For these, a literature, exploratory and qualitative research was perfomed in databases Scientific Electronic Library Online (Scielo) and Google Scholar on the topic, favoring 26 publications in the period 1998-2012. The information collected was systematized through Content Analysis. The results, in different numbers of samples, pointed to the acceptance of the necessary procedures for the child's rehabilitation. We conclude that the toy can provide the continuity of development, besides showing as a valuable resource for reframing the pain and suffering experienced by hospitalized children.

Keywords: play; hospitalized children; rehabilitation, development.


 

 

Introdução

O brincar é essencial para a saúde física e mental do ser humano. Segundo Winnicott (1971/1975): "É no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self)" (p. 80). Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990) brincar é um direito que deve ser assegurado para a criança de qualquer idade.

A brincadeira favorece a diversão e a expressão dos sentimentos e das emoções acerca do que a criança está vivenciando. Para Angelo e Vieira (2010), por meio da simbolização lúdica, ela transfere suas fantasias, ansiedades e culpas aos objetos com os quais brinca. A brincadeira suaviza o impacto provocado pelo adulto e possibilita à criança diminuir o sentimento de impotência frente ao adoecimento e à hospitalização.

Sabe-se que a internação hospitalar pode ser potencialmente traumática para a criança, pois traz alterações para sua rotina, o distanciamento do seu contexto habitual, o afastamento das pessoas queridas e dos brinquedos. O hospital pode ser entendido como um ambiente desconhecido e ameaçador, no qual os procedimentos dolorosos são extremamente estressantes e a criança encontra-se numa situação de fragilidade e sensibilidade, sendo necessários meios para que a mesma externe seus sentimentos (Dias & Rocha, 2011; Angelo & Vieira, 2010). Para Berto e Abrão (2009), o brincar apresenta-se como um recurso de enfrentamento da hospitalização, sendo facilitador da realização de procedimentos médicos e da comunicação com a equipe.

Nesse sentido, Angelo e Vieira (2010) defendem que: "Entendendo o brincar como uma função básica da criança, a brinquedoteca apresenta-se como uma alternativa rica para atender essa demanda" (p. 85). A importância de um espaço com brinquedos que acolha o gesto criativo é reforçada por Brunello, Murasaki e Nóbrega (2010), enfatizando um local que permita à criança mostrar sua capacidade de atuar para transformar a si e ao mundo que a rodeia. Santos (2000) entende a importância deste espaço lúdico e refere:

Falar sobre Brinquedoteca é, portanto, falar sobre os mais diferentes espaços que se destinam à ludicidade, ao prazer, às emoções, às vivências corporais, ao desenvolvimento da imaginação, da criatividade, da autoestima, do autoconceito positivo, da resiliência, do desenvolvimento do pensamento, da ação, da sensibilidade, da construção do conhecimento e das habilidades. (p. 58)

De acordo com o Ministério da Saúde (2005), a Lei nº 11.104/2005 define que os hospitais que oferecem atendimento pediátrico devem contar, obrigatoriamente, com uma brinquedoteca. Para Angelo e Vieira (2010), é nesse espaço que as crianças podem compartilhar brinquedos, alegrias e tristezas a respeito de sua condição, compreender suas vivências diminuindo os efeitos negativos da hospitalização. Alguns autores reforçam que estas salas de recreação são fontes de prazer e diversão para as crianças e podem reconectar vínculos rompidos com a internação (Viegas, 1997; Goulart & Morais, 2000). Maia et al. (2000) defendem que a brinquedoteca hospitalar no setor da pediatria pode proporcionar às crianças atividades lúdicas terapêuticas para atenuar as sequelas emocionais e dar continuidade ao ritmo do seu desenvolvimento.

O desenvolvimento psíquico da criança está atrelado às diferentes possibilidades que lhe são apresentadas que, segundo Suárez e Reyes (2000), possuem elementos integradores e de crescimento. A atividade lúdica realizada no hospital apresenta-se como um valioso recurso para a ressignificação da experiência da criança, no qual o brincar torna-se um fator de proteção e, portanto, deve ser estimulado (Monteiro & Corrêa, 2012). Para Angelo e Vieira (2010): "O lúdico é algo prazeroso que traz alegria e resgata a condição de ser criança." (p. 87) e pode ser realizado de diversas formas e com diferentes materiais. De acordo com Mizunuma e Paula (2009), a arte oferece a possibilidade da liberdade de expressão, auxiliando no desenvolvimento emocional e social da criança. Por meio do desenho, ela concretiza suas ideias e seus pensamentos, pois ele promove a descoberta de fantasias, a expressividade, a mobilização e a exteriorização dos sentimentos. Além disso, no desenho a criança conhece a si e a seu mundo, comprometendo-se com a arte, sentindo-se produtiva e tornando-se mais comunicativa. Ribeiro (1998) defende que o brinquedo diverte, socializa, estimula a criação da criança e, também, cumpre uma função terapêutica.

Segundo Ribeiro (1998) e Jansen, Santos e Favero (2010) o brinquedo terapêutico proporciona à criança a redução da ansiedade nas situações de dor e sofrimento vivenciadas, auxiliando-a no preparo dos diversos procedimentos a que é submetida, tendo efeito sobre o comportamento de aceitação das mesmas. Os autores classificam o brinquedo terapêutico como: Dramático, Capacitador de Funções Fisiológicas e Instrucional. O Brinquedo Terapêutico Dramático permite à criança externar seus medos, sentimentos e necessidades através da verbalização das experiências difíceis, de forma a aliviar a tensão. O Brinquedo Terapêutico Capacitador de Funções Fisiológicas auxilia a criança no autocuidado, de acordo com a fase de desenvolvimento e as condições físicas, preparando-a para a aceitação da sua atual condição de vida. Já, o Brinquedo Terapêutico Instrucional, prepara e informa a criança sobre os procedimentos a que ela vai ser submetida proporcionando a compreensão dos mesmos. Para Jansen et al. (2010) o brinquedo terapêutico pode ser considerado como um recurso facilitador, proporcionando a redução do estresse da hospitalização e o desenvolvimento físico, mental, emocional e social das crianças.

Segundo Santos e Ferreira (2003), os jogos também podem contribuir na reabilitação da criança hospitalizada, por oferecer um espaço diferenciado de desenvolvimento durante a atividade lúdica e transformar a angústia em prazer. As autoras entendem que os jogos permitem a elaboração dos desejos, a expressão da agressividade e a associação entre liberdade e limite. Ainda referem que o jogo "é considerado um reflexo da autenticidade absoluta da criança" (p. 39), e reveste-se de um significado funcional: no jogo de exercício a criança se apropria da realidade transformando-a em função de seus hábitos motores; no jogo simbólico, em função das suas próprias necessidades; e no jogo de regras, em função das exigências da socialização no relacionamento com outras pessoas.

Efron, Fainberg, Kleiner, Sigal e Woscoboinik (1999), por sua vez, entendem que o brinquedo não estruturado, como a sucata, é o mediador que vai expressar o sentimento da criança sem ser invasivo, oferecendo à criança a possibilidade de significar e construir, pois por meio da atividade espontânea, a sua subjetividade vai determinar a funcionalidade dos objetos. Affonso (2012) defende que é com a manipulação desses objetos que as crianças procuram elaborar e construir sua psique interna. Para a autora, esses materiais podem ser alvos de significações intensas, pois facilitam a sua expressão e a sua criatividade e não direcionam a criança a assuntos que podem ser difíceis de lidar.

Segundo Weiss (1993), Machado (1995), Valladares e Carvalho (2006), Pacheco, Peters, Cord e Brzezinski (2009) e Brunello et al. (2010), a sucata é um elemento que possibilita a construção e a ressignificação de objetos, no qual a criança tem autonomia para utilizá-los livremente trabalhando suas fantasias na interação com o ambiente. Os autores relatam que, enquanto a criança manipula e explora um objeto amassando, empilhando, transformando-o ela tende a refletir seu universo e atribuir valor afetivo aos objetos, bem como aos brinquedos que produz, imprimindo neles sua intenção e seu desejo. Sossela, Sager, Pahim e Marcolin (2012) ressaltam que o brinquedo-sucata pode ser um importante recurso estimulador da criação infantil, pois proporciona à criança: "transformar objetos, entender o mundo que a cerca e desenvolver o pensamento simbólico." (p. 1)

Pedrosa, Monteiro, Lins, Pedrosa e Melo (2007) consideram a possibilidade de transformação da sucata pela criança no ambiente hospitalar como um recurso para a continuidade do seu desenvolvimento, apesar da situação desagradável na qual se encontra. Tendo em vista que, quando internada, ela deixa para trás seu mundo e as pessoas que a cercam, se forem oportunizadas estas brincadeiras o ambiente pode tornar-se mais acolhedor. Freitas, Silva, Carvalho, Pedigone e Martins (2007), defendem a necessidade de higienização dos materiais utilizados nas atividades lúdicas e, por isso, as sucatas seriam apropriadas pelo seu uso único e descartável. Alves, Silva e Moraes (2002) entendem que atividades bem elaboradas desenvolvidas a partir do aproveitamento de sucatas podem trazer muitos benefícios ao paciente por promover uma terapia diferente e alegre.

Nesse sentido, esse artigo tem como objetivo identificar os benefícios do brincar para a criança hospitalizada, por meio das publicações voltadas a este tema. Pretende-se, outrossim, sinalizar a utilização de diferentes tipos de brinquedos quanto às suas especificidades e contribuições para a experiência da criança neste contexto.

 

Método

Delineamento

Na pesquisa, que possui como objetivo geral identificar os benefícios do brincar no desenvolvimento da criança hospitalizada, optou-se por uma pesquisa bibliográfica, exploratória e qualitativa acerca da atividade lúdica durante a hospitalização. Essa escolha justifica-se por se buscar a familiarização com o fenômeno investigado e, para tal, envolve um levantamento bibliográfico que tem como resultados dados qualitativos sobre o tema.

Amostra

Nesse estudo privilegiaram-se 26 artigos localizados em periódicos especializados publicados no período de 1998 a 2012, que foram escolhidos por se alinharem ao tema investigado abordando a atividade lúdica e sua importância para a criança hospitalizada.

Instrumentos

Na pesquisa que buscou identificar os benefícios do brincar no desenvolvimento da criança hospitalizada foram utilizadas as bases de dados Scielo e Google Acadêmico para a busca e identificação das publicações científicas. Foram preenchidas fichas de catalogação para conhecimento do material selecionado e, a partir dessas fichas, foi construída uma tabela dos referidos estudos a fim de contemplar os objetivos do presente artigo.

Procedimentos

1) Busca das publicações nas referidas bases de dados a partir das palavras-chave: criança hospitalizada, atividade lúdica na hospitalização, brinquedoteca hospitalar; 2) primeira leitura dos artigos para realização de uma pesquisa exploratória; 3) realização de uma segunda leitura para o preenchimento da ficha de catalogação; 4) descrição e interpretação dos dados coletados tendo por base o referencial de análise escolhido; 5) categorização dos dados coletados.

Referencial de Análise

Nesse estudo, optou-se como referencial de análise dos dados a Análise de Conteúdo proposta por Moraes (1999), a fim de sistematizar as informações coletadas tendo como etapas essenciais a categorização, a descrição e a interpretação da matéria prima. Com base em estudos realizados com crianças (Sager & Sperb, 1998; Sager, Sperb, Roazzi & Martins, 2003), os pesquisadores definiram a priori três categorias de análise: tipo de brinquedo, tipo de materiais e benefícios.

 

Resultados

Os periódicos nos quais se encontram os 26 artigos analisados refletem áreas específicas de formação profissional: Psicologia, Enfermagem, Medicina, Pedagogia e Fisioterapia; alguns deles especificam mais ainda: Oncologia Pediátrica, Arteterapia, Terapia Ocupacional e Psicopedagogia.

Os artigos defendem o brincar no contexto hospitalar como essencial para a continuidade do ritmo do desenvolvimento das crianças internadas, bem como para a minimização dos traumas, da dor e do sofrimento das mesmas frente às situações vivenciadas. Além disso, tratam da obrigatoriedade de uma brinquedoteca nas instituições que têm internações pediátricas e da importância da humanização no atendimento.

Alguns estudos (Rodriguês, Luz & Villela, 2007; Berto & Abrão, 2009; Abreu & Fagundes, 2010; Dias & Rocha, 2011; Paula & Marques, 2011; Monteiro & Corrêa, 2012) relatam que o brincar tem função terapêutica como agente facilitador dos procedimentos e como fator de proteção para as crianças hospitalizadas. Os autores entendem o brincar como uma oportunidade para a criança expressar livremente sentimentos e emoções.

Valladares (2004), Mizunuma e Paula (2009), Sei e Pereira (2005) defendem a utilização da arteterapia como importante estratégia de transformação de significados de dor e sofrimento em alegria e prazer para a criança.

Todos os 26 artigos estudados preconizam a utilização do brinquedo no ambiente hospitalar como essencial ao atendimento das necessidades emocionais das crianças. Os autores entendem como positiva a contribuição de recursos como: desenho, pintura, livros de histórias, jogos, construção com sucatas domésticas e hospitalares, dramatização, etc.

Contudo, apenas cinco estudos (Ribeiro, 1998; Maia et al., 2000; Valadares & Carvalho, 2006; Pedrosa et al., 2007; Jansen et al., 2010) contemplaram pesquisas de campo realizadas com números variados de crianças hospitalizadas. Nos referidos estudos foram utilizados diferentes tipos de brinquedos: brinquedo estruturado, brinquedo não estruturado, brinquedo simbólico e materiais lúdicos. Dentre os materiais utilizados, foram citados: materiais hospitalares (luvas, máscaras, seringas), brinquedos terapêuticos (dramático, capacitador de funções fisiológicas e instrucional), sucatas hospitalares (caixas de medicamentos, mangueiras e embalagens plásticas) e livros de histórias infantis. As pesquisas apontaram como benefícios: a redução da tensão e do medo, a liberação da raiva, a segurança, a alegria, a aceitação dos procedimentos e a ressignificação da experiência. Esses resultados estão resumidos na Tabela 1.

 

 

Discussão

A partir dos dados elencados nos cinco estudos selecionados (Tabela 1), verifica-se que a utilização do brinquedo simbólico e estruturado pode ser um recurso facilitador da aceitação dos procedimentos, podendo auxiliar na minimização da resistência e no aumento da alegria da criança hospitalizada. Por meio da vivência proporcionada pelo brinquedo, associado ao manuseio de materiais hospitalares, com a dramatização dos procedimentos, o brinquedo pôde ser percebido como uma estratégia útil na criação de vínculos seguros entre o paciente e a equipe cuidadora, bem como na promoção dos cuidados emocionais e físicos necessários à recuperação da criança.

A utilização do brinquedo não estruturado contribuiu para a diminuição da intensidade dos traumas emocionais provenientes da hospitalização. A manipulação e a transformação da sucata hospitalar proporcionaram às crianças a ressignificação de objetos que tinham uma conotação negativa por gerar dor e desconforto que, com nova forma e sentido, puderam servir como brinquedos facilitadores da criação e da expressão infantil. A montagem e desmontagem estimularam construção da objetividade e da subjetividade: a imaginação, a fantasia, o desejo e a realização de brincadeiras. Ao reutilizar o material, as crianças puderam lidar com seus medos e tensões, se comunicando de forma não verbal e trabalhando aspectos emocionais, mudando seus comportamentos. Desta forma, houve o encontro do mundo externo com o mundo interno, contribuindo com o enriquecimento dos recursos das crianças para lidar com os desafios enfrentados no período de internação.

Com a utilização dos brinquedos verificou-se, também, a liberação de sentimentos de raiva, como uma forma de minimização dos efeitos do processo de hospitalização. Os materiais lúdicos permitiram tornar o ambiente mais favorável e o prazer de brincar pôde dar continuidade ao desenvolvimento físico, afetivo, cognitivo, pessoal e social da criança. A diversidade dos materiais lúdicos oferecidos, mesmo não impedindo as vivências de momentos dolorosos, pôde auxiliar a liberação de sentimentos hostis decorrentes do tratamento, o conhecimento do corpo e dos procedimentos terapêuticos por parte das crianças.

A possibilidade de escolha dos materiais hospitalares estimulou a iniciativa das crianças que se tornaram mais independentes e comunicativas. A emergência de sentimentos de segurança e a redução da tensão gerada pela hospitalização foram identificadas, nas quais o brinquedo auxiliou na compreensão e na aceitação dos procedimentos realizados, oportunizando à criança a lidar com a realidade. O brinquedo terapêutico foi utilizado como recurso facilitador permitindo o esquecimento da dor e tornando-se benéfico por ser capaz de promover sentimentos positivos e alívio das ansiedades da criança.

 

Considerações Finais

Este artigo fez a análise de estudos onde o brincar no contexto hospitalar é apresentado como uma forma de ressignificar a experiência das crianças internadas. Por meio da análise do conteúdo dos artigos com foco no tema proposto, identificou os benefícios proporcionados pelo brinquedo como recurso na recuperação e na aceitação dos procedimentos pelas crianças.

Entende-se que, quando o brinquedo é oportunizado à criança doente, ela se compromete a produzir uma brincadeira onde expressa seus sentimentos e vivencia com menos sofrimento e trauma a hospitalização. Com a ação terapêutica do brinquedo elas têm uma considerável melhora no quadro clínico, o que pode reduzir seu tempo de internação.

Os resultados encontrados nas pesquisas de campo, com diferentes números de amostras, sinalizam que os benefícios podem ser potencializados se os brinquedos forem utilizados pelos profissionais no ambiente hospitalar, de forma a minimizar as sequelas que a internação pode trazer às crianças hospitalizadas.

Por meio dessa pesquisa, pôde-se perceber a relevância do brincar e o do estímulo à criatividade como essenciais para a continuidade do desenvolvimento infantil em ambientes hospitalares. Conclui-se que a utilização de todos os tipos de brinquedos pode trazer benefícios, porém, a sucata hospitalar pode oferecer à criança maiores oportunidades de diversão pela facilidade de seu acesso e certa segurança quanto à contaminação, por ser um material de uso único e descartável. Destarte, além de proporcionar uma brincadeira criativa, a sucata hospitalar oferece a possibilidade de manipulação, construção e simbolização sendo facilitadora da expressão infantil no contexto onde a criança se encontra.

Destaca-se, ainda, que a utilização de materiais não estruturados pode ser importante na construção da subjetividade da criança, influenciando seu desenvolvimento físico e emocional. Este recurso pode ser de grande valia ao oportunizar a ressignificação de objetos hospitalares que, a princípio, têm somente o significado de sofrimento e de dor. A possibilidade de criação por meio do manuseio da sucata hospitalar auxilia a elaboração da experiência vivida pela criança hospitalizada na qual ela estabelece relações entre o ambiente externo e o hospital, entre o fazer e o sentir, que podem representar uma forma de enfrentamento da doença, ampliando a perspectiva de vida e podendo diminuir o período de internação.

Esse estudo realizou uma análise restrita de publicações a respeito do tema proposto, dessa forma percebe-se a importância de mais pesquisas de campo que possam agregar maiores conhecimentos da utilização do brinquedo como recurso terapêutico que possibilita a transformação do aspecto negativo da internação infantil em algo prazeroso.

 

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1 Psicóloga graduada pela Universidade Caxias do Sul, RS – E-mail: claudiarobertasossela@gmail.com.
2 Mestre e Doutor pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul no Programa de Psicologia do Desenvolvimento e Professor Adjunto Nível II do Departamento de Psicologia da Universidade de Caxias do Sul, RS – E-mail: fabiosager@gmail.com.

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