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Revista da SBPH

versión impresa ISSN 1516-0858

Rev. SBPH vol.21 no.2 Rio de Janeiro juldic. 2018

 

EDITORIAL

 

A pesquisa como fundamento para a Psicologia Hospitalar

 

 

Prezadas leitoras e leitores,

A pesquisa em Psicologia Hospitalar a projeta para além do esforço contínuo de se reafirmar como área essencial ao contexto dos equipamentos de saúde. Ao mesmo tempo em que alicerça a prática e que problematiza sua inserção, a pesquisa em psicologia hospitalar amplia seu alcance teórico e sua aplicabilidade sem se comprometer com qualquer forma de hegemonização do saber. A pesquisa caracteriza o avanço e vislumbra a pluralidade técnica e metodológica da Psicologia Hospitalar. A pluralidade é a via que permite articulações e debates com as Psicologias e com outras áreas do conhecimento.

A Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar tem como objetivo a promoção dos avanços e da pluralidade da pesquisa. É no ensejo de ratificar tal objetivo que a Revista da SBPH cumpre com sua missão e se organiza em um novo número. O segundo número de 2018 é dirigido à comunidade científica e se apresenta composto por desafios atuais encontrados por profissionais da saúde cujo oficio não se encerra em uma prática cotidiana e repetitiva, seu oficio é atravessado pela pesquisa científica e pela construção do saber. Assim, em uma vetorização pelas temáticas de cada artigo, reunimos em três categorias os trabalhos apresentados no atual número: Ressonâncias da hospitalização da criança e do adolescente, Impasses e Sofrimento Subjetivo na Equipe e Contextos Diversos e Variáveis de Manejo.

Quanto à temática Ressonâncias da hospitalização da criança e do adolescente, reunimos os seguintes artigos: em "Estresse, dor e enfrentamento em crianças hospitalizadas: análise de relações com o estresse do familiar" (Silveira, Lima & Paula) busca-se identificar indicadores de estresse e estratégias utilizadas para o enfrentamento de adversidades a partir da análise das relações entre o estresse de crianças e de familiares, a dor percebida por elas e seu enfrentamento da hospitalização. Os familiares e pacientes responderam aos instrumentos da pesquisa que se organiza como quantitativa. Os resultados obtidos indicam um alto índice de estresse em familiares e a relativa incidência deste sobre os sentimentos e os comportamentos das crianças.

O trabalho "Acompanhamento psicoterápico no contexto da hospitalização pediátrica: percepção das mães" (Teixeira & Hemesath) tem como objetivo avaliar como mães que vivenciam a hospitalização do filho perceberam o acompanhamento psicoterápico que receberam na unidade de internação pediátrica. Este é um estudo de abordagem qualitativa, exploratório, retrospectivo e apresentado no formato de casos múltiplos. Já o artigo "Depressão e qualidade de vida em crianças e adolescentes diagnosticados com doença renal crônica em hemodiálise" (Fernandes, Ferreira, Pedrosa Júnior & Barbosa) é um estudo descritivo, do tipo corte transversal, que objetivou caracterizar o perfil sociodemográfico e avaliar as repercussões psicossociais da doença renal crônica através de índices de depressão infantil e de percepção de qualidade de vida dos pacientes e de seus cuidadores. Evidenciaram-se índices de qualidade de vida na perspectiva dos pacientes em tratamento hemodialítico superiores aos índices encontrados em seus cuidadores.

Os artigos voltados aos Impasses e Sofrimento Subjetivo na Equipe são elencados a partir de "Significados e sentimentos atribuídos por médicos residentes na comunicação da fase terminal ao paciente" (Arruda & Calhao), que é um estudo de tipo exploratório e descritivo, com abordagem qualitativa, realizado com médicos residentes da Unidade de Clínica Médica de um Hospital de Ensino. A pesquisa busca compreender, a partir de um referencial do humanismo, os significados atribuídos e sentimentos derivados da experiência dos médicos residentes na comunicação de terminalidade ao paciente. Em "Atitudes de profissionais da oncologia diante da morte: revisão sistemática" (Afonso, Carvalho & Grincenkov) pretende-se elaborar uma revisão sistemática da literatura cujo objetivo tenha sido identificar a existência de atitudes negativas e dificuldades na atuação de profissionais de saúde da oncologia diante da morte e/ou do processo de morrer de pacientes. A pesquisa indica que há dificuldade na comunicação entre os próprios profissionais, entre estes e pacientes e entre esses e familiares.

"Implicações psicossociais relacionadas a assistência à gestante com câncer: percepções da equipe de saúde" (Costa & Souza) é um estudo exploratório de caráter descritivo e quantitativo sobre as reações emocionais que podem ser desencadeadas na equipe de assistência oncológica para pacientes gestantes. Buscou-se identificar possíveis reações emocionais presentes nas diferentes etapas do acompanhamento à gestante, estratégias de enfrentamento utilizadas no momento da tomada de decisão terapêutica e, por fim, como vivenciaram o trabalho em equipe multiprofissional nesse contexto. Os resultados são de que existem diferenças na forma como reagem emocionalmente os profissionais de diferentes áreas.

Também voltado à temática da equipe, "Palhaços-doutores e seus recursos defensivos: um estudo a partir do questionário desiderativo" (Moura Júnior, Godoy & Medeiros) avalia a estruturação egoica de palhaços-doutores que atuam em hospitais e busca descrever os mecanismos de defesa utilizados pelos participantes. Aponta-se que os doutores-palhaços enfrentam desafios que vão além do fazer rir e do brincar. Os recursos egoicos usados para lidar com a ansiedade e a angústia aparentam maior resistência em grande parte da amostra.

O item Contextos Diversos e Variáveis de Manejo reúne quatro manuscritos: em "O olhar da psicologia sobre demandas emocionais de pacientes em pronto atendimento de hospital geral" (Leite, Yoshii & Langaro) desenvolve-se a pesquisa que teve como objetivo compreender as demandas de pacientes hospitalizados no pronto atendimento de um hospital geral. Buscou-se identificar a motivação da ida do paciente até o hospital, verificar sua condição emocional na hospitalização, investigar histórico de demandas emocionais e verificar a percepção dos pacientes em relação ao acolhimento de demanda de ordem emocional no pronto atendimento. O trabalho foi desenvolvido a partir de uma pesquisa qualitativa, de cunho exploratório, baseada em entrevistas com pacientes durante sua permanência no pronto atendimento. "A perspectiva do paciente sobre a experiência de internação em UTI: revisão integrativa de literatura" (Gomes & Carvalho) contém uma revisão integrativa de literatura que propõe discutir a percepção de pacientes adultos sobre seu período de internação em UTI. O estudo interroga e aponta a UTI para além do estranhamento ocasionado pelo ambiente e do risco iminente de morte ou agravamento clínico.

Com objetivo de discutir sobre aspectos emocionais e comportamentais associados à manutenção do tratamento da obesidade crônica, "'Eu não brigo, eu engulo': contribuições de um grupo terapêutico para pacientes obesos" (Magalhães, Marques & Coutinho) é um relato de pesquisa que teve como cenário um grupo terapêutico voltado esses pacientes. Os resultados apresentam a importância do componente emocional presente na obesidade, a necessidade que esses pacientes têm de serem ouvidos e o psicólogo como profissional fundamental nesse meandro em que o manejo clínico incide sobre a adesão à modalidade de trabalho. Por fim, "O uso de álcool antes e após o transplante hepático: estudo com pessoas transplantadas" (Gonçalves & Seidl) é uma proposta de estudo exploratório que interroga sobre como o uso de álcool é percebido por quem se submete à cirurgia transplantadora. A partir de relatos verbais acerca da vivência do uso, o transplante e da adesão ao tratamento na fase pós-transplante a pesquisa se constitui como qualitativa, descritiva e exploratória, com base em análise de conteúdo. Desde os resultados, verifica-se que os entrevistados percebiam que o uso do álcool após o transplante constituiu um comportamento prejudicial.

É com franco objetivo de que o atual volume atenda aos interesses das leitoras e dos leitores que congratulamos as autoras, os autores e as/os pareceristas que tomaram o trabalho editorial como responsabilidade científica e profissional.

Também agradecemos ao Prof. Cláudio Kazuo Akimoto Júnior a parceria e o apoio técnico.

Boa leitura!

 

Cordialmente,
Prof. Dr. Marcos Vinicius Brunhari
Editor-chefe da Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

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