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Revista da SBPH

versão impressa ISSN 1516-0858

Rev. SBPH vol.21 no.2 Rio de Janeiro jul./dez. 2018

 

ARTIGOS

 

Implicações psicossociais relacionadas à assistência à gestante com câncer: percepções da equipe de saúde

 

Psychosocial implications related to care for pregnant women with cancer: health team perceptions

 

 

Antonia Érica Lemos da Costa1; Juciléia Rezende Souza2

Hospital Universitário de Brasília, Universidade de Brasília/UnB - Brasília/DF

 

 


RESUMO

O número de casos de câncer durante a gravidez tem aumentado, impondo desafios aos profissionais no momento da tomada de decisão terapêutica. Para conhecer a vivência de profissionais da saúde durante a assistência às gestantes com câncer, desenvolveu-se pesquisa descritiva de caráter exploratório com o objetivo de identificar reações emocionais, estratégias utilizadas na tomada de decisão e percepção sobre o trabalho em equipe. Utilizou-se entrevista estruturada (survey online), respondida por 06 médicos, 07 enfermeiros, 18 psicólogos, 03 assistentes sociais, 01 fonoaudiólogo, 02 terapeutas ocupacionais e 02 fisioterapeutas. Após análise dos dados, verificou-se maior dificuldade emocional no primeiro contato com a gestante, no momento do repasse de informações e durante a discussão de caso em equipe. Emoções positivas, como empatia e compaixão, também permearam os diferentes momentos avaliados. Para lidar com o contexto assistencial, a maioria buscava informação na literatura científica e suporte dos seus pares e da equipe multidisciplinar. Os resultados confirmaram que a equipe tende a ter dificuldades emocionais ao longo da assistência às gestantes com câncer, o que poderia ser minimizado caso recebessem treinamento para lidar com momentos de comunicação difícil e para trabalhar em equipe multidisciplinar.

Palavras-chave: neoplasias; gravidez de alto risco; equipe de assistência ao paciente; psico-oncologia.


ABSTRACT

The number of cases of cancer during pregnancy has increased, imposing challenges to the professionals at the time of therapeutic decision-making. In order to investigate the experience of health professionals in care for pregnant women with cancer, this descriptive exploratory research was developed aiming to identify emotional responses, strategies used in decision making and perception of teamwork. A structured interview (online survey) was used and answered by 06 doctors, 07 nurses, 18 psychologists, 03 social workers, 01 speech therapists, 02 occupational therapists and 02 physiotherapists. After analyzing the data, results showed more emotional difficulty at first contact with the mother, at the time of communication of information and case discussion with the team. Positive emotions like empathy and compassion, also permeated the different evaluated moments. To deal with the care context, most sought information in the scientific literature and support of their peers and the multidisciplinary team. The results confirmed that the team tends to have emotional difficulties along the care for pregnant women with cancer, which could be minimized if they received training to deal with difficult times and communication to work in a multidisciplinary team.

Keywords: neoplasms; high-risk pregnancy; patient care team; psycho-oncology.


 

 

Introdução

Segundo Mottola, Berrettini, Mazzoccato, Laginha e Fernandes (2002) e Schünemann, Urban, Lima, Rabinovich e Spautz (2007) e Monteiro et al. (2013) considera-se câncer associado à gestação quando seu surgimento ocorre desde o período gestacional até 12 meses após o parto. Não existe consenso na literatura sobre a incidência de câncer no transcorrer da gravidez. Enquanto alguns autores apontam que é considerado um acontecimento incomum (Martins & Lucarelli, 2012), outros indicam que a incidência vem aumentando e relacionam tal aumento ao fato de atualmente muitas mulheres postergarem a gravidez e esta ocorrer concomitante a idade na qual há maior risco de contraírem câncer (Schünemann et al., 2007; Zagouri, Dimitrakakis, Marinopoulos, Tsigginou & Dimopoulos, 2016).

Contextos nos quais uma doença oncológica ocorre simultaneamente a uma gravidez aumentam a complexidade do processo de tomada de decisão sobre quais protocolos de tratamento para o câncer poderão ser prescritos, considerando-se a necessidade de ponderar entre os riscos que podem existir tanto para a mãe quanto para o feto. Ainda, tal contexto também é desafiador para as gestantes e seus familiares, intensificando as dificuldades inerentes ao processo de receber o diagnóstico de câncer e iniciar seu tratamento (Capelozza, Peçanha, Mattar & Sun, 2014; Schünemann et al., 2007).

De acordo com a literatura, os tipos de câncer mais incidentes entre mulheres grávidas são: melanoma maligno, linfomas malignos e leucemia, colo do útero, mama, ovário, cólon e tireoide. Dentre esses, o câncer de colo uterino é indicado como o mais incidente, seguido por câncer de mama (Mottola et al., 2002; Silva, Venâncio & Alves, 2015).

Em geral, as terapêuticas realizadas seguem os protocolos padronizados para as mulheres não grávidas, mas com a cautela de evitar a utilização de quimioterapia durante determinados períodos. Nos protocolos descritos por Schünemann et al. (2007) e Monteiro et al. (2013) o tratamento quimioterápico, visando diminuir o risco para o feto, somente é recomendado a partir do segundo e terceiro período da gestação, e a radioterapia é contraindicada durante toda a gravidez. Os riscos variam ao longo da gestação, mas no primeiro trimestre de gravidez há maior risco de malformação e aborto com a quimioterapia.

Segundo os autores, existe também algum nível de risco durante o parto e a amamentação, sendo necessários que os fármacos utilizados sejam retirados entre a terceira e quarta semana antes do parto para evitar maiores implicações, como neutropenia febril ou trombocitopenia materno-fetal, durante o parto. Ainda, deve-se interromper o uso de quimioterapia durante a amamentação, pois a droga pode ser transmitida através do leite materno, aumentado os riscos de sequelas (Schünemann et al. 2007).

Para aumentar a segurança na tomada de decisão sobre a realização de quimioterapia, considera-se a idade gestacional, o estadiamento, a dosagem e o tipo de droga (Schünemann et al. 2007). A radioterapia também pode gerar complicações para o feto em todos os períodos gestacionais, sendo contraindicada pela maioria dos autores (Schünemann et al. 2007).

Lidar com o câncer associado à gravidez em geral causa comoção e perplexidade nos profissionais, nas grávidas e em seus familiares. A literatura científica aponta que existem dois grandes dilemas: a) priorizar o tratamento da mulher pode colocar em risco a vida do feto; b) priorizar a preservação da vida do feto pode ameaçar a vida da mulher. Cada caso, a depender do tipo de câncer, seu estadiamento, da condição clínica da paciente e do momento da gestação, implicará em discussões sobre o custo e o benefício de se priorizar a preservação da vida da mulher ou do seu filho (Capelozza et al. 2014; Schünemann et al. 2007).

A assistência à gestante com câncer tem sido considerada um desafio para a grande maioria dos médicos. Por ser uma condição ainda rara, poucos terão a possibilidade de desenvolver maior experiência pela prática, recorrendo à limitada literatura como seu principal guia para a tomada de decisão. Ainda, precisarão lidar com questões éticas relacionadas aos riscos de malefícios para grávida e o feto, como também à influência do desejo da mulher e seus familiares. Outros aspectos citados na literatura são a necessidade de lidar com o ponto de vista dos demais profissionais envolvidos na assistência e a dificuldade de comunicar o diagnóstico de câncer em um momento no qual o foco está na geração de uma nova vida (Capelozza et al. 2014; Schünemann et al. 2007; Silva, 2008).

Há que se avaliar e ponderar sobre aspectos éticos, religiosos, científicos, legais e psicológicos no momento de decidir qual terapêutica realizar (Schünemann et al. 2007; Zagouri et al. 2016). Para Monteiro et al (2013), a decisão precisa ser realizada em comum acordo com o desejo da gestante e familiares sem, no entanto, desrespeitar as diretrizes para a Prática Clínica da ESMO – European Society for Medical Oncology. Nesse sentido, Lima et. al (2009) referem que os princípios da Bioética podem ser bons guias no momento da escolha por qual conduta adotar para alcançar a melhor assistência materno-fetal.

As orientações para boas práticas em oncologia salientam a importância de que cada caso seja discutido de maneira individualizada, envolvendo o trabalho em equipe multidisciplinar no qual seja possível o compartilhamento de saberes e práticas entre profissionais de diversas áreas, como médicos oncologistas, obstetras, cirurgiões, pediatras, ginecologistas, neo-natologistas, psicólogos, enfermagem, dentre outros (Oduncu, Kimmig, Hepp & Emmerich, 2003; Zagouri et al. 2016).

Em 1990, com o advento da Lei geral do Sistema Único de Saúde no Brasil, destacou-se o papel da equipe multidisciplinar na área da saúde, enfatizando suas possíveis contribuições para a melhoria da qualidade nos serviços e fomentando a interação entre distintos saberes. Para Pinho (2006) os profissionais precisam aprender a trabalhar com enfoques diferenciados para alcançarem o cuidado integral à saúde dos pacientes. Entretanto, o trabalho em equipe tem desafios próprios que podem ser intensificados diante de casos complexos como a atenção à gestante com câncer e os dilemas éticos relacionados.

Em função da complexidade da assistência oncológica para pacientes gestantes e das reações emocionais que podem ser desencadeadas na equipe, buscou-se identificar possíveis reações emocionais presentes nas diferentes etapas do acompanhamento à gestante, estratégias de enfrentamento utilizadas no momento da tomada de decisão terapêutica e, por fim, como vivenciaram o trabalho em equipe multiprofissional nesse contexto.

 

Método

Realizou-se estudo exploratório de caráter descritivo e método quantitativo, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais da Universidade de Brasília (no do Parecer: 2.399.310). Foram considerados elegíveis para participar da pesquisa profissionais de saúde, independente do tempo de formação, de ambos os sexos, que em algum momento prestaram assistência a mulheres gestantes com câncer e que concordassem por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Instrumento

Utilizou-se de questionário elaborado pelas autoras especificamente para esta pesquisa, contendo 27 questões fechadas que perguntavam sobre: dados sociodemográficos; impacto emocional de prestar assistência a gestantes diagnosticadas com câncer; estratégias de enfrentamento utilizadas para tomada de decisão; percepção sobre a interação com a equipe médica e não médica nesse contexto. O instrumento foi desenvolvido a partir de pesquisa bibliográfica nas bases de dados: SCIELO, PubMed, LILACS, Google Acadêmico.

Procedimentos Para Coleta e Análise de Dados

Os dados foram coletados através da ferramenta de pesquisa on-line denominada survey monkey, na qual foi inserido o questionário estruturado previamente desenvolvido.

Inicialmente, o instrumento foi aplicado presencialmente a dois profissionais com a finalidade de realizar ajustes que fossem necessários para sua adequada compreensão. Em seguida, foi inserido na ferramenta on-line e o convite aos participantes foi disparado através de ferramentas da tecnologia de comunicação e redes sociais. Para ampliar a adesão de participantes, realizou-se contato com psicólogos de diferentes unidades de saúde – públicas e particulares - e solicitou-se auxílio para a divulgação da pesquisa aos membros de sua equipe. O texto convite para participar da pesquisa foi composto por uma breve explicação dos objetivos e pelo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O acesso ao questionário estava condicionado à leitura e à concordância com os termos presentes no TCLE. Indicada concordância no TCLE, era liberado o acesso ao questionário.

Após a coleta, realizou-se a análise descritiva dos dados.

 

Resultados e discussões

Foi constituída uma amostra por conveniência com 39 profissionais de diversas áreas que acompanharam o processo de tratamento de pelo menos uma paciente diagnosticada com câncer durante a gravidez (Tabela 1): psicólogos (46%; n=18), enfermeiros (18%; n=7), médicos (15%; n = 6), assistentes sociais (8%; n=3), outros (13%; n=5 – fisioterapeutas (n=2), fonoaudiólogo (n=1), terapeuta ocupacional (n=2)). Em relação ao perfil sociodemográfico, participaram profissionais com idade entre 25 e 60 anos, na maioria mulheres (84,61%; n=33) e pessoas casadas ou em relacionamento estável (56,41%; n=22).

 

 

Como se utilizou profissionais de psicologia para divulgar a pesquisa e pelo fato das pesquisadoras serem dessa área, nota-se prevalência de psicólogos participantes. Entretanto, mesmo em menor número, houve diversidade nas áreas profissionais dos respondentes.

A maioria possuía pós-graduação, denotando investimento no aperfeiçoamento profissional, como também atuava há mais de 10 anos. Apesar dessas características, a quantidade de pacientes atendidas foi pequena para a maioria, confirmando a raridade dessa condição e a dificuldade de se obter experiência apenas a partir de número de atendimentos (Capelozza et al. 2014; Schünemann et al. 2007; Silva, 2008).

Para descrição das respostas, dividiram-se os itens seguintes de acordo com os objetivos da pesquisa: emoções desencadeadas nas diferentes etapas do acompanhamento à gestante; estratégias utilizadas; percepção geral sobre o trabalho em equipe.

Emoções desencadeadas

Para descrição das emoções, decidiu-se classificá-las a partir da definição proposta por Watson, Clark e Tellegen (1988), quando desenvolveram a escala PANAS – Positive and Negative Affect Schedule – ainda bastante utilizada para o estudo do afeto. Os autores defendiam um modelo bidimensional para classificar o estado de humor, no qual o estado de ânimo geral, integrado por um conjunto de emoções que retratam a vivência subjetiva dos sujeitos, poderia ser classificado em afeto positivo/prazeroso e negativo/desagradável. Nesse sentido, considerou-se para a presente pesquisa que existia afeto negativo (AN) quando predominavam sentimentos desagradáveis, incluindo medo, ansiedade, dúvida/indecisão, insegurança, preocupação, tristeza e frustração. Já o afeto positivo (AP) foi representado pela presença de estado de humor prazeroso e sensação de bem-estar subjetivo, incluindo sentimento de afeição, presença de compaixão, empatia, esperança, otimismo, tranquilidade.

Durante o primeiro contato com a gestante (Tabela 2), foi possível observar que os profissionais, com exceção dos psicólogos, relataram maior prevalência de afeto negativo.

 

 

Enfermeiros (69,6%), médicos (42,4%), assistentes sociais (71,4%) e metade do grupo FFT assinalaram que o primeiro contato é relembrado como difícil, havendo maior percentual de AN, confirmando o caráter desafiador de lidar com as incertezas e dificuldades éticas e emocionais relacionadas ao processo de tratamento de um câncer durante a gravidez. Esse dado corrobora estudos (Capelozza et al. 2014; Schünemann et al. 2007) que também identificaram que acompanhar casos de câncer associado à gravidez é um desafio para todos os profissionais envolvidos por se tratar de uma condição que causa comoção e perplexidade.

Durante o primeiro contato a equipe ainda não possui informações suficientes sobre a paciente, sendo necessário coletar dados sobre a gestante com câncer, buscar suporte na literatura científica para tomada de decisão e buscar metodologias que norteiem as intervenções terapêuticas, o que pode tornar este momento difícil para médicos e enfermeiros. Essa fase também envolve o processo de comunicação de más notícias, a apresentação de possibilidades terapêuticas e seus riscos e a necessidade de discussão de caso em equipe. Segundo Frigato e Hoga (2003), o papel do enfermeiro é educacional e preventivo, estando dentre suas atribuições a orientação tanto ao paciente quanto aos familiares durante todo o processo de tratamento. Ao profissional médico cabe, além da ação terapêutica, a responsabilidade por comunicar os riscos, os benefícios e as possibilidades de tratamento, promover o bem-estar e dar suporte ao paciente com câncer. Sendo assim, pesa sobre essas categorias profissionais maiores responsabilidade no que tange a identificação de risco gestacional e o diagnóstico de problemas associados à gravidez.

O fato da formação do psicólogo incluir o manejo de emoções pode ser um dos fatores que contribuíram para o predomínio de afeto positivo (93,9%) entre esses profissionais enquanto os demais relataram dificuldade. Como é atribuição do psicólogo intervir nos aspectos emocionais, ajudando o paciente a expressar seus sentimentos, medos e angústias, há necessidade de desenvolverem estratégias pessoais para manejo das suas próprias reações diante das adversidades enfrentadas pelos pacientes (Cardoso & Hennington, 2011).

Sobre as emoções sentidas ao longo dos atendimentos (Tabela 3), verificou-se que tanto médicos (57,1%) como psicólogos (65,9%), ao contrário dos demais, foram os únicos a relatarem a preponderância de emoções positivas. Tal predominância de afeto positivo indica que o sujeito vivenciou sentimentos de satisfação e confiança (Scorsolini & Santos, 2012). Para os demais profissionais predominou o afeto negativo, indicando que continuaram vivenciando com algum nível de sofrimento o contato com a gestante.

 

 

Após o primeiro contato, a equipe médica possui informações sobre a paciente que permitem buscar suporte na literatura científica para tomada de decisão, havendo critérios e metodologias que norteiam suas intervenções terapêuticas. Provavelmente, a mudança na tonalidade emocional ao longo do acompanhamento tenha relação com a aquisição de conhecimento sobre o caso e condução do acompanhamento após superação do difícil processo de tomada de decisão terapêuticas (Zagouri et al. 2013).

Ao longo do atendimento, o momento de repasse de informações para tomada de decisão (Tabela 4) também foi associado a emoções negativas pela maioria dos respondentes – enfermeiros (82,4%), médico (74,1%), assistente social (69,2%) e grupo FFT (73,7%), sendo a equipe de psicologia (29,5%) uma exceção.

 

 

Uma má notícia é qualquer informação desagradável que muda drasticamente o futuro do indivíduo, o que é notório no contexto estudado. Comunicar más notícias é uma ação delicada e difícil de ser conduzida para todos os profissionais da saúde, mas em especial para o médico pela dificuldade e limitado preparo para manejar reações emocionais desencadeadas no paciente e seus familiares (Pereira, Fortes, & Mendes, 2013).

Segundo Capelozza et al. (2014), quando há diagnóstico de câncer no transcorrer da gravidez, além das dificuldades inerentes ao dia a dia da profissão, a equipe médica se depara com o dilema de tratar a doença materna com procedimentos que podem acarretar efeitos deletérios ao feto, o que pode explicar a presença de preocupação (51,3%) e ansiedade (30,8%), assim como algum nível de frustração (23,1%), o qual pode se relacionar também com a impossibilidade de resolução do caso sem danos ou riscos para a gestante ou seu bebê e a necessidade de comunicar tal informação. Por outro lado, os psicólogos indicaram predomínio de afeição/amor (44,4%), compaixão (44,4%) e empatia (55,6%), provavelmente pelo motivo acima descrito, a presença de treinamento específico em sua formação para comunicação e manejo de situações de crise. Vale ressaltar que o percentual de empatia (41%) foi o segundo maior, considerando-se todos os participantes, denotando a presença dessa importante habilidade, mesmo predominando emoções mais desagradáveis.

Diferente das fases anteriores, na etapa final do acompanhamento (Tabela 5), psicólogos (77,5%), enfermeiros (53,8%), médicos (76,9%) e assistentes sociais (66,7%) relataram predominância afeto positivo.

 

 

A sensação de esperança teve percentual similar (33,3%) em todas as fases avaliadas e novamente nesse momento, podendo ter relação com a dificuldade de conduzir-se casos com essas características, havendo apenas uma pequena a moderada presença de expectativas positivas em relação a acontecimentos futuros (Zanon at el. 2013). Talvez pelo mesmo motivo, a variável otimismo foi a emoção com menor percentual ao longo de todas as fases avaliadas, obtendo nesse momento um leve aumento, variando entre 2,6% a 7,7%.

Diferente dos demais, verificou-se que o grupo FFT apresentou mais emoções negativas nessa fase (62,5%). Uma das explicações para tal diferença pode ser o fato de que, em geral, são profissionais solicitados no transcorrer do acompanhamento quando ocorrem complicações que justifiquem o pedido de assistência. Sendo assim, podem acabar tendo contato com casos mais complexos e vivenciar piores experiências. Esses profissionais relataram maior índice de ansiedade (60,0%), elevado percentual de tristeza (40%) e preocupação (40%), mas também assinalaram sentimentos de compaixão (40%).

Durante a assistência, outro momento que mostrou impacto negativo para a maioria dos profissionais foi a discussão de casos (Tabela 6), predominando um conjunto de emoções negativas, incluindo preocupação (56,4%), ansiedade (20,5%), indecisão (25,6%) e frustração (20,5%). Por outro lado, também relataram emoções positivas como interesse (48,7%), empatia (23,1%) e, pela primeira vez, uma maior sensação de esperança (41%). O aumento na sensação de esperança pode estar relacionado à expectativa de que o trabalho conjunto favoreça a resolução de problemas e a identificação de melhores opções terapêuticas.

 

 

Chamou atenção o fato de ter ocorrido aumento significativo no percentual de afeto negativo (47,8%) por parte dos psicólogos, diferente dos momentos anteriores. Tal fato, somado à presença de moderado percentual de afeto negativo em todos os participantes, pode ter relação tanto com o caso em discussão como com a dificuldade de comunicação comumente presente em equipes multiprofissionais (James, Page & Sprague, 2016).

O trabalho em equipe surgiu como uma forma de associar diferentes práticas e possibilitar a melhoria dos serviços. As reuniões multiprofissionais são importantes momentos para comunicação, troca de saberes, partilha de informações e de experiências entre os profissionais de saúde (Cardoso & Hennington, 2011). Apesar dos benefícios associados ao trabalho em equipe, existem situações que dificultam o processo de comunicação, tais como: a fala peculiar dos profissionais, a diversidade na formação dos profissionais, a tendência de uma mesma categoria profissional se comunicar mais uns com os outros; o efeito inibidor de relações hierárquicas que dificultam o compartilhamento das necessidades e a exposição de erros (Nogueira &Rodrigues, 2015; Pinho, 2006).

Estratégias Utilizadas

Para a presente pesquisa foi criada uma lista de possíveis estratégias a serem utilizadas pela equipe no momento da tomada de decisão terapêutica. Na tabela 7 estão agregadas as estratégias mais assinaladas pelos participantes em geral, representando a percepção da equipe multidisciplinar. Na tabela 8, levando-se em consideração as diferentes funções e responsabilidades, os dados relativos a estratégias utilizadas foram separados entre médicos e demais profissionais da equipe multidisciplinar.

 

 

 

A partir das respostas, pode-se verificar que no momento da tomada de decisão foi praticamente consenso a necessidade do embasamento científico, assim como da realização de discussão de casos e interconsultas com seus pares. Por outro lado, a quarta estratégia mais assinalada informa que priorizam a escolha da gestante e seus familiares em detrimento das recomendações da literatura. Tais respostas indicam a possibilidade de impasses e a necessidade de buscar respaldo nos princípios da bioética quando a literatura e a escolha da paciente e seus familiares forem divergentes.

Oduncu et al. (2003) discute que a tomada de decisão terapêutica pode considerar o princípio da autonomia e a priorização da vida e das escolhas da gestante com câncer. Para esse autor, a mulher grávida com câncer pode fazer escolhas de tratamento baseadas em suas crenças e valores. O autor ressalta esse aspecto por considerar que o feto ainda não manifesta sua preferência, não sendo possível considerá-lo do ponto de vista do princípio da autonomia. Entretanto, pautando-se no princípio da beneficência e da justiça, o autor recomenda que os profissionais médicos busquem alternativas que mantenham o equilíbrio entre os benefícios e riscos também para o embrião. Sendo assim, as respostas estão de acordo com as orientações de Oduncu et al. (2003), quando indicam que o processo de decisão deve envolver o desejo da mãe e dos familiares, os quais devem ser esclarecidos pela equipe a partir da melhor evidência médica disponível, tomando-se uma decisão compartilhada.

Como indicam as boas práticas em comunicação de más notícias, a maioria dos médicos (n=4) informou que avaliava o nível de conhecimento da gestante e seus familiares antes de repassar informações e oferecia informações sobre os riscos do tratamento, assim como boa parte dos demais profissionais (n=12) (Pereira, Fortes & Mendes, 2013). Ainda, verificou-se que trabalhar em equipe foi assinalado como importante por todos os participantes (n=22), sinalizando que independente da área profissional estão priorizando a busca de informações com os pares e a manutenção de diálogo constante com outras áreas de saber presentes na equipe de saúde.

Trabalho em equipe multiprofissional

Quando questionados diretamente sobre o trabalho em equipe, todos os profissionais médicos (100%; n=06) apontaram a importância de incluir médicos de outras áreas no processo de tomada de decisão. Dentre os médicos, 83% (n=5) também indicaram a necessidade de discutir o caso com profissionais de outras áreas da saúde, sendo os mais consultados para tomada de decisão os psicólogos (83,33%; n=5), seguidos de enfermeiros (66,67%; n=4), assistentes sociais (66,67%; n=4), nutricionistas (66,67%; n=4), fisioterapeutas (16,67%; n=1) e capelães (16,67%; n=1).

Da mesma forma, profissionais não-médicos solicitavam e realizavam interconsultas com outros profissionais da equipe multidisciplinar (96,9%; n=31) para que prestassem assistência à gestante, sendo requisitados psicólogos (95,45%; n=21), assistentes sociais (95,45%; n=21), enfermeiros (86,36%; n=19), nutricionistas (59,09%; n=13), terapeutas ocupacionais (31,82%; n=7) e fisioterapeutas (22,73%; n=5). A maioria desses profissionais (90,6%) também realizava interconsultas com os médicos envolvidos na assistência. Tais dados indicam que a maioria dos participantes, independente da área profissional, percebeu de forma positiva o trabalho em equipe multiprofissional, sendo esse considerado fundamental para a qualidade da assistência prestada à gestante.

O modelo biopsicossocial considera o indivíduo em sua totalidade, indo além do foco na doença para alcançar uma assistência integral para o indivíduo (Pereira, Barros & Augusto, 2011). Em função das inúmeras variáveis presentes na atenção à saúde, torna-se inviável atuar de forma separada, não sendo os profissionais capazes de contribuir isoladamente diante da totalidade de demandas. Ações unilaterais, sem comunicação e discussão, mostram-se ineficientes para alcançar a integralidade do cuidado (Cardoso & Hennington, 2011).

Percepção geral sobre a assistência à gestante com câncer

Na etapa final do questionário, solicitou-se aos participantes que escolhessem a opção que melhor representasse a experiência vivenciada, verificando-se que, apesar das emoções negativas que tal situação suscita, apenas uma minoria (2,6 %) informou que não se sentia apta a lidar com casos similares no futuro, demonstrando que a maioria se percebe com algum preparo teórico e prático para tal. Entretanto, o caráter desafiador do contexto ficou evidente quando 23,1% dos participantes informaram que preferiam não precisar lidar com situações similares no futuro e 71,8% assinalaram insatisfação com o desfecho do caso atendido.

Mais da metade dos participantes (58,8%) considerou que foram capazes de manter um bom relacionamento com a gestante e seus familiares. Entretanto, 41,2% é um número expressivo e denota a necessidade de capacitação em comunicação, principalmente em situações com maior nível de complexidade.

Apenas 38,5 % dos participantes não médicos assinalaram que a equipe multidisciplinar era adequadamente valorizada durante o processo de tomada de decisão, denotando dificuldade para a construção compartilhada de planos terapêuticos com a equipe médica. Vale lembrar que na avaliação da tonalidade afetiva, emoções de cunho negativo foram predominantes no momento da discussão em equipe. Tais informações corroboram dados da literatura sobre a existência de desafios e barreiras no dia a dia para a consolidação da integralidade na assistência e implementação da clínica ampliada (Filho & Barros, 2012).

Por outro lado, 35,9% dos participantes identificaram mudança positiva no comportamento dos profissionais ao longo do processo de assistência e 61,5 % assinalaram que a equipe se uniu em prol de prestar a melhor assistência à gestante. Reuniões em equipe são uma oportunidade para socialização do conhecimento, planejamento conjunto e fornecem subsídios para tomadas de decisões mais acertadas. Ainda, a ocorrência de situações de crise pode auxiliar na mudança de comportamento dos indivíduos, como também a própria experiência com o trabalho em equipe pode possibilitar mudanças nas práticas em saúde e na forma de prover assistência ao paciente (Cardoso & Hennington, 2011).

 

Considerações finais

Os resultados evidenciaram que existem diferenças na forma como reagem emocionalmente os profissionais de diferentes áreas, sinalizando maior percentual de afeto negativo em médicos e enfermeiros, provavelmente por recair sobre esses a responsabilidade por cuidar de intercorrências e tomar decisões sobre o tratamento a ser realizado, mesmo quando há participação de outros profissionais.

Resta o questionamento sobre se o compartilhamento de responsabilidades presente na clínica ampliada (Farão et al., 2013) poderia ajudar na minimização desse impacto, considerando que os dados coletados indicaram a necessidade de desenvolver habilidades para que consigam atuar melhor em equipe. Vale ressaltar que no momento da discussão de casos predominaram emoções, apesar de a maioria assinalar como positiva a experiência com o trabalho em equipe. Contextos complexos como o do presente estudo exigem habilidades muitas vezes não contempladas no período de formação acadêmica, podendo ser necessário apoio institucional e programas de capacitação permanente para que desenvolvam conhecimento e melhores estratégias de enfrentamento.

Por fim, vale salientar que existem poucas pesquisas voltadas à compreensão dos aspectos psicossociais que interagem e interferem na tomada de decisão terapêutica durante a assistência às gestantes com câncer, sendo necessário o desenvolvimento de novos estudos para ampliar o conhecimento sobre tais variáveis. Também se sugere a avaliação desse contexto a partir da percepção das gestantes e seus familiares.

 

Referências

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1 Hospital Universitário de Brasília/ Universidade de Brasília/UnB - Brasília/DF– Psicóloga, especialista Lato Sensu em Psico-Oncologia pelo Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Oncológica pelo Hospital Universitário de Brasília HUB/UnB. Contato: ericalemos2015@hotmail.com.
2 Hospital Universitário de Brasília/ Universidade de Brasília/UnB - Brasília/DF –Psicóloga, especialista em psicologia oncológica pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA – RJ); mestre e doutora em psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e da Saúdeda UnB; presidente da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia – SBPO (gestão 2015 – 2018); vice-presidente da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia – SBPO (gestão 2018 – 2020); coordenadora da área de psicologia do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do HUB/UnB (2009 – atual); psico-oncologista responsável pelo serviço de oncologia do HUB (2006 – atual); chefe da Unidade de Oncologia do HUB (2018 – atual). Contato: jucileia.souza@ebserh.gov.br.

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