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Revista da SBPH

versão impressa ISSN 1516-0858

Rev. SBPH vol.25 no.1 São Paulo jan./jun. 2022

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

 

É com muita alegria e satisfação que anuncio o primeiro número de 2022 da Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar. Os leitores e leitoras têm em mãos uma coletânea de artigos e relatos de experiencia, de diferentes abordagens teóricas, que trazem reflexões robustas sobre atuação do psicólogo hospitalar.

Os artigos encontram-se aqui divididos em três partes: o psicólogo hospitalar em uma equipe de saúde, repercussões psíquicas do adoecimento e intervenções possíveis, morte e luto e, por fim, atualidades em psicologia hospitalar. Além disso, dando lugar a importância de um olhar que privilegie a singularidade, este número também traz relatos de experiencia que dizem do trabalho de profissionais as voltas com as especificidades clínicas e institucionais, que atravessam seu contexto de atuação.

Dessa forma, na primeira parte, o artigo "O (a)parecer da psicologia hospitalar em equipe multiprofissional" (Lara, Kurogi, 2022) é um estudo de natureza exploratória, qualitativo e quantitativo, que traz relevantes conclusões acerca da aparente dificuldade de compreensão da equipe multiprofissional com relação ao que faz o psicólogo hospitalar.

Em seguida, na sessão destinada as repercussões psíquicas do adoecimento e as intervenções possíveis no contexto hospitalar, "A importância da escuta psicológica na oncologia pediátrica hospitalar: quem é você apesar do câncer" (Santana, Oliveira, Santos, 2022) é uma interessante revisão da literatura, cujos resultados mostram que o impacto do diagnóstico do câncer infantil repercute tanto na dimensão individual quanto familiar. Assim, por meio do olhar da Gestalt-Terapia, o estudo conclui, que, para uma melhor adaptação a esse contexto, fazem-se necessárias intervenções psicológicas por meio de escuta empática e de ferramentas funcionais, que possibilitem a criação de estratégias de enfrentamento diante do adoecer. O manuscrito "Caracterização de variáveis envolvidas na atuação analítico-comportamental em contexto de cuidados paliativos" (Reis, Knaut, 2022), por sua vez, mostra-se como um importante estudo teórico, que delimita variáveis relacionadas à atuação analítico-comportamental em contexto de Cuidados Paliativos. Segundo os autores, esse é um passo fundamental para se estabelecer uma análise funcional e de atuação analítico-comportamental em comportamentos que caracterizam conspiração do silêncio, dificuldade de comunicação profissional e luto complicado. Fechando essa parte da revista, em "Conjugalidade após infarto agudo do miocárdio" (Zamarchi, Benincá, 2022) os autores nos apresentam uma pesquisa qualitativa descritiva, que objetivou compreender as possíveis modificações e reverberações do Infarto Agudo do Miocardio (IAM) na trama conjugal.

Na terceira parte deste número que se dedica a discutir temas relacionados a morte e luto, o manuscrito "Entre a saudade e o aconchego: Memory Box como apoio no processo de luto" (Lucini, Rieth, 2022), revela-se um estudo sensível que analisa a influência do uso da Caixa de Memória ou Memory Box no processo de luto do casal que perdeu seu filho na Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal (UTIN). "Ficcionalidade das narrativas parentais e a ética do cuidar em pediatria" (Silva, 2022),por sua vez, presenteia o leitor com um artigo teórico-clínico que ressalta o aspecto narrativo, dinâmico, intersubjetivo e, essencialmente ficcional de toda subjetividade, abordando os efeitos da perda e da morte da criança para a narrativa parental. Já o manuscrito "Impactos psíquicos nas vivências de mães de bebê com extremo baixo peso internado em UTI Neonatal" (Almeida, Goldstein, 2022) é uma pesquisa transversal descritiva, de natureza qualitativa, cujos resultados apontam o quanto a experiência do parto prematuro gera desamparo, angústia e sensação de impotência para a mulher. Todavia, curiosamente, tais sentimentos parecem não afetar a aposta e idealização da mãe com relação ao bebê ou a esperança de desenvolvimento contínuo do neonato.

"Negacionismo na pandemia de COVID-19: Uma análise à luz da Teoria Cognitiva-Comportamental" (Velasco, Grincenkov, Santiago, Trindade, 2022) e "Terapia Focal de Aceitação e Compromisso (FACT): revisão de literatura" (Sakai, Cunha, 2022) são artigos que trazem discussões e contribuições atuais para o campo da psicologia hospitalar. No primeiro, os autores fazem uma revisão narrativa da literatura sobre os motivos que levam os indivíduos a adotarem comportamentos negacionistas diante da pandemia de COVID-19. Com isso, tendo como referência a Teoria Cognitivo-Comportamental, buscou-se analisar os principais determinantes para os comportamentos de não adesão às orientações de prevenção durante o momento pandêmico. O segundo artigo, dedica-se a caracterizar a aplicação da Terapia Focal de Aceitação e Compromisso no cenário brasileiro, por meio de uma extensa revisão de literatura e análise de publicações de caráter interventivo no âmbito da saúde.

O primeiro número de 2022 é finalizado com dois relatos de experiência que ilustram a importância de atuação do psicólogo hospitalar tanto na vertente clínica, quanto na vertente institucional de trabalho. Assim, em "A agressividade no hospital como questão para a psicanálise: um relato de experiência" (Hikita, Schneider, Borges, 2022) os autores abordam, a partir da obra de Sigmund Freud e do ensino de Jacques Lacan, a agressividade como uma das possíveis manifestações de sofrimento no hospital geral. Para isso, os autores, por meio do relato de um caso, promovem reflexões importantes acerca da origem da agressividade, suas formas de apresentação e possíveis manejos na cena hospitalar. Por outro lado, "Relato de Experiência do Serviço de Psicologia de um Hospital Oncológico Durante a Pandemia" (Magalhães, Magalhães, Jesus, Brain &Robeiro, 2022), descreve a experiência de um Serviço de Psicologia em um hospital de referência em oncologia durante a pandemia, concluindo que, neste cenário, o sofrimento, as perdas e os lutos de diversos tipos foram potencializados, exigindo dos psicólogos um reposicionamento diante das demandas que se apresentavam.

Dessa forma, termino esse editorial sublinhando que a Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar é fruto da dedicação e trabalho entusiasmado de nossas comissões executiva e editorial, bem como de nossos pareceristas. Além disso, esse número só se fez possível a partir do auxilio e orientação afetuosa e atenta de Marcos Vinícius Brunhari, até então editor-chefe desta revista. Dito isso, em nome de todos nós, espero que os manuscritos aqui presentes tragam contribuições significativas para a comunidade acadêmica, servindo também de norte teórico e ético para a atuação daqueles e daquelas que colocam seu desejo à prova diariamente pelos corredores dos hospitais.

Cordialmente,

Marcus Vinícius Rezende Fagundes Netto

Editor-chefe da Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

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