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Psicologia: teoria e prática

versão impressa ISSN 1516-3687

Psicol. teor. prat. v.7 n.1 São Paulo jun. 2005

 

RESENHA

 

Evaluación y diagnóstico en la educación y el desarrollo desde el enfoque histórico-cultural

 

 

Laura Marisa Carnielo Calejon

Universidade Cruzeiro do Sul – UNICSUL
Universidade São Marcos

 

 

O livro Evaluación y Diagnóstico em la Educación y el Desarrollo apresenta ao leitor uma reflexão sobre a importância da avaliação e do diagnóstico no campo educacional e psicológico. A partir do enfoque histórico – cultural Arias Beatón demonstra a importância do diagnóstico para organização de intervenções capazes de promover o desenvolvimento do sujeito.

O prefácio do livro descreve uma característica importante do texto ao assinalar que o mesmo apresenta o resultado de uma experiência prática ampla e real, de um percurso amplo de revisão da literatura e a expressão de um saber teórico livre de limitações dogmáticas e assinala que estas características dos textos resultam da participação social ativa e consciente do autor durante mais de trinta anos de vida profissional, participação contínua na aplicação da Psicologia nas diversas áreas da educação em uma sociedade que tenta fazer da ciência um recurso para o desenvolvimento.

A primeira parte do livro, organizada em dois capítulos, trata da Educação, Cultura e Desenvolvimento Humano e sugere uma recolocação do problema da medida da avaliação e do diagnóstico educativo e psicológico.

Ao tratar das relações entre Educação, Cultura e Desenvolvimento humano, a partir do enfoque Histórico-Cultural, o autor demonstra que a família e a escola podem ser espaços de desenvolvimento e apresenta as condições em que estas instituições sociais constituem-se como “outros” promotores do desenvolvimento infantil. O capítulo apresenta indicadores de famílias promotores ou potenciadoras do desenvolvimento encontrados em investigações realizadas pelo autor e colaboradores, destacando um estudo longitudinal sobre a criança cubana realizado de 1973 a 1990, assim como diversas investigações desenvolvidas com famílias que apresentavam situações de risco para o desenvolvimento infantil e de seus membros. A família não está pensada na linearidade das relações de causa e efeito, mas como parte de um conjunto complexo de condições que, na sua interação dinâmica e complexa, promovem condições para que o desenvolvimento ocorra. As condições observadas ou os indicadores de famílias promotoras ou potenciadoras do desenvolvimento envolvem desde indicadores macroestruturais, como a escolaridade dos pais e incorporação social ativa destes e mais especificamente da mulher, no contexto estudado, até indicadores microestruturais como a concepção dos pais sobre o desenvolvimento de seus filhos, o padrão de comunicação – ação entre os membros da família, a dispersão de autoridade, a superproteção, as ambivalências afetivas, etc.

Os resultados das investigações apresentadas no texto apontam que as famílias potenciadoras de desenvolvimento haviam construído uma concepção do processo semelhante àquela apresentada pelo enfoque histórico-cultural. Ainda no capítulo 1, o autor apresenta, a partir de ampla revisão da literatura, a pertinência do enfoque Histórico-Cultural para construir uma concepção de diagnóstico e intervenção no campo educacional e psicológico, demonstrando, a partir das idéias de Vygotsky, como o biológico e o sócio-cultural articulam-se na conformação do psíquico no ser humano.

Este percurso permite que no capítulo 2, Arias Beatón ofereça ao leitor um novo posicionamento sobre a medida, a avaliação e o diagnóstico educativo e psicológico. O repensar da questão inicia-se por um ponto polêmico no campo da Psicologia e outras Ciências Humanas que pode ser configurado pela pergunta: Sabemos realmente o que é medir? O que é mensuração?

Com um olhar interrogante e crítico o autor faz uma análise profunda da Psicometria, do papel desempenhado pela mesma na constituição dos processos de diagnóstico, analisando limitações dos testes psicológicos, os usos inadequados destes instrumentos e o valor reduzido de atitudes radicais e preconceituosas em relação aos instrumentos de medida.

A partir do Enfoque Histórico-Cultural, tomado como critério de análise, o texto discute a mensuração na Psicologia e outras Ciências Sociais, propondo um conceito de mensuração mais válido e aplicável para a Psicologia, discutindo a dimensão quantitativa e qualitativa na análise científica. As estratégias quantitativas e qualitativas são tratadas a partir das ferramentas construídas pela estatística como a questão da significação. Apoiado no trabalho de Vygotsky Significado Histórico da Crise da Psicologia: uma investigação metodológica Arias Beatón analisa limitações e possibilidades da Psicometria, propondo uma releitura de conceitos construídos na Psicologia com a colaboração da Estatística, como por exemplo o conceito de normalidade e os usos inadequados da quantificação.

O capítulo 2 permite ainda ao leitor repensar a noção de objetividade construída por uma concepção de ciência a partir de parâmetros positivistas e a possibilidade de superar a falsa dicotomia entre objetividade e subjetividade.

A segunda parte do livro, também constituída por dois capítulos, discute a avaliação educativa e o diagnóstico psicológico e apresenta um esforço de reconceitualização sobre os testes psicológicos.

A segunda parte do livro, também constituída por dois capítulos, discute a avaliação educativa e o diagnóstico psicológico e oferece um esforço de reconceitualização sobre os testes psicológicos e o diagnóstico.

O capítulo 3, Evaluación Educativa y Diagnóstico Psicológico, defende a necessidade de uma concepção teórica do desenvolvimento psicológico para a realização de atividades de avaliação e diagnóstico no contexto educativo e demonstra que o Enfoque Histórico Cultural apresenta uma concepção de desenvolvimento humano adequada para a esta tarefa. A lei genética fundamental do desenvolvimento, a lei dinâmica do desenvolvimento ou situação social do desenvolvimento, a operacionalização do processo de desenvolvimento a partir das leis anteriores e a existência da zona de desenvolvimento proximal e o lugar dos “outros” como portadores da cultura e potencializadores da referida zona são conteúdos importantes da concepção mencionada para a tarefa de avaliação educativa, elaboração de diagnóstico e conseqüentes intervenções.

Como conseqüência da concepção apresentada postula-se a necessidade de um diagnóstico explicativo em lugar do diagnóstico descritivo e classificatório. Na elaboração de um diagnóstico explicativo o processo de reconstrução da dinâmica histórica do desenvolvimento do sujeito ganha relevância, permitindo a triangulação de dados e observações oriundas de diferentes fontes e a percepção de como os fatos relatados são percebidos e foram vivenciados pelo sujeito que os relata. A entrevista é apresentada como recurso para reconstrução da dinâmica histórica do desenvolvimento do sujeito. O diagnóstico explicativo, como demonstra o autor, requer uma relação necessária entre os dados empíricos e uma explicação resultante da reflexão a partir destes dados e relações. O conceito de zona de desenvolvimento proximal permite pensar ou construir a lógica do diagnóstico explicativo. Além da concepção sobre o desenvolvimento humano, a tarefa de avaliação e diagnóstico requer uma concepção teórico-metodológica sobre o diagnóstico e a avaliação propriamente ditas. O texto enfocado permite a reflexão do porque, para que e como deve ocorrer o processo de avaliação e diagnóstico na psicologia e na educação.

No capítulo 4, Árias Beatón apresenta o resultado do esforço de reconceitualizar as relações entre os testes psicológicos e o diagnóstico. Discute o impacto das concepções biologizantes da constituição do psiquismo sobre os testes psicológicos.

O texto apresenta duas direções fundamentais no desenvolvimento da Psicometria e na construção dos testes psicológicos: a primeira que resulta da crença de que as qualidades medidas pelos testes são inatas, estáticas, fixas, permitindo uma predição precisa e a classificação dos sujeitos; a segunda aponta para a possibilidade de avaliar mais qualitativamente , considerando as funções psíquicas como funções em desenvolvimento e produto da relação complexas de inúmeras condições, não mensuráveis diretamente, mas compreensíveis a partir de suas múltiplas manifestações.

Nesta segunda tendência o autor localiza o trabalho de Binet, estabelecendo algumas convergências entre a consideração feita por Binet a respeito do papel da educação no desenvolvimento da inteligência e a consideração do mesmo fenômeno feita por Vygotsky, de modo mais preciso e sistematizado, anos depois.

Anas Beatón oferece, orientado pelo princípio da historicidade, uma das ênfases do pensamento de Vygotsky a possibilidade de revisar o trabalho e as propostas de Binet e Simon, organizadas nas primeiras décadas do século XX. Como demonstra o texto, Binet desgraçadamente ficou mais conhecido no mundo a partir das transformações e adaptações que sua escala sofreu na Universidade de Stanford do que por suas idéias iniciais. Resgatando citações de Binet de 1910 e 1912 e estabelecendo paralelos entre o pensamento de Binet e afirmações de Vygotsky Arias Beáton permite construir idéias mais apropriadas sobre o diagnóstico e a avaliação no campo da Educação e do desenvolvimento humano e usar os instrumentos disponíveis de forma mais adequada. O livro finaliza com a análise de conceito de idade mental, sua continuidade e possibilidade de inclusão na zona de desenvolvimento proximal.

Como demonstra o autor do Prefácio do livro, o término que conclui a lógica do livro que o autor se propôs a escrever não é uma finalização, mas a reafirmação da necessidade e importância do diálogo e da reflexão urgente no campo considerado. Buscando escapar do dogmatismo e das explicações fáceis e rápidas, Arias Beatón produz um texto que demonstra a força das suas convicções, sua disposição para olhar um objeto complexo de várias perspectivas e a insistência em não reduzir a complexidade natural da temática estudada.

Esta resenha: BEATÓN, Guillermo Arias. Evaluación y diagnóstico en la educación y el desarollo desde el enfoque histórico-cultural. São Paulo: Cromoset, 2001, 276p.