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Psicologia: teoria e prática

versão impressa ISSN 1516-3687

Psicol. teor. prat. vol.11 no.2 São Paulo dez. 2009

 

ARTIGO ORIGINAL

 

Subvertendo a avaliação psicológica: o emprego do procedimento de desenhos-estórias em um paciente com gagueira

 

Subverting psychological assessment: the use of drawings-stories procedure in a stuttering patient

 

Subvirtiendo la evaluación psicológica: el empleo del procedimiento de dibujos-historias en un paciente con tartamudez

 

 

Irma Helena Ferreira Benate BomfimI; Valéria BarbieriII

I Universidade de Franca
II Universidade de São Paulo

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

As áreas clínica e de avaliação psicológica, embora mantenham estreito contato, nem sempre se relacionam harmonicamente, e muitas vezes os conhecimentos nelas produzidos se contradizem. Este trabalho abordou uma dessas situações, referente ao diagnóstico de um paciente com gagueira. Embora a avaliação psicológica sustente a inadequação do uso de técnicas verbais para esses indivíduos, a clínica revelou os malefícios causados quando eles são poupados de falar. Assim, é apresentada a avaliação de um paciente disfluente, realizada por meio de uma entrevista e do procedimento de desenhos-estórias. Os dados foram analisados sob o referencial psicanalítico, agregado a estudos referentes à dimensão subjetiva da gagueira. A avaliação revelou conteúdos relacionados à condição psíquica do paciente como o sofrimento e os ganhos ocasionados pela patologia. São debatidas as limitações e potencialidades do procedimento de desenhos-estórias na compreensão da subjetividade da pessoa disfluente, bem como os benefícios terapêuticos que ele proporcionou ao paciente.

Palavras-chave: Gagueira, Psicanálise, Procedimento de desenhos-estórias, Avaliação psicológica, Subjetividade.


ABSTRACT

Despite being in close contact with one another, the Clinical area and the Psychological Evaluation one are not always harmoniously related. The knowledge produced by both of them is often contradictory. The present paper deals with one of these situations which refers to the diagnosis of a patient who speaks with a stutter. Although the Psychological Evaluation claims that the use of oral techniques with such patients is inadequate, the Clinical one has revealed the harm caused to them when they are prevented from speaking. The evaluation of a patient who is not fluent is presented – it has been carried out through an interview and a Drawings-Stories Procedure. The data have been analyzed under a psychoanalytical reference which has been added to studies that refer to the subjective dimension of the stutter. The evaluation has revealed contents related to the patient’s psychic condition such as suffering and pathological benefits. There has been a debate over the limitations and potentialities of the Drawings-Stories Procedure in the understanding of the subjectivity of the person who is not fluent, as well as the therapeutic benefits with which it has provided the patient.

Keywords: Stutter, Psychoanalysis, Drawings-stories procedure, Psychological evaluation, Subjectivity.


RESUMEN

Las áreas clínica y de evaluación psicológica, aunque mantengan estrecho contacto, no siempre se relacionan harmonicamente, porque muchas veces los conocimientos producidos en ellas se contradicen. Este trabajo abordó una de esas situaciones, referente al diagnóstico de un paciente con tartamudez. Aunque la evaluación psicológica sustente La inadecuación del uso de técnicas verbales para esos individuos, la clínica reveló los males causados cuando ellos no practican el habla. Así, se presenta la evaluación de un paciente afásico, realizada por medio de una entrevista y del procedimiento de dibujos-historias. Los datos fueron analizados con un referencial psicoanalítico, agregado a estudios relativos a la dimensión subjetiva de la tartamudez. La evaluación reveló contenidos relacionados a La condición psíquica del paciente como el sufrimiento y los beneficios ocasionados por la patología. Se debaten las limitaciones y potencialidades del procedimiento de dibujos-historias en la comprensión de la subjetividad de la persona afásica, así como los beneficios terapêuticos que proporcionó al paciente.

Palabras clave: Tartamudez, Psicoanálisis, Procedimiento de dibujos-historias, Evaluación psicológica, Subjetividad.


 

 

Introdução

Um processo de avaliação psicológica bem conduzido depende de fatores relacionados à formação acadêmica, à experiência clínica e às condições pessoais do profissional que o realiza, bem como da qualidade dos instrumentos utilizados. No que concerne a estes últimos, suas propriedades psicométricas e clínicas, o nível de profundidade das informações que oferecem e sua adequação à população a que o indivíduo avaliado pertence, se não garantem por si mesmos a eficácia do processo avaliativo, definitivamente o comprometem caso não sejam levados em consideração pelo psicólogo. Embora as áreas diagnóstica e terapêutica da psicologia clínica mantenham estreito contato e se influenciem mutuamente (e mesmo se integrem, no caso do psicodiagnóstico interventivo), nem sempre o desenvolvimento de uma é acompanhado pelo da outra no mesmo passo. O presente estudo tencionou examinar uma dessas situações, referente ao diagnóstico e tratamento da gagueira.

No que se refere à etiologia, Boone e Plante (1994, p. 324), em consonância com a Organização Mundial de Saúde (OMS), descrevem que a "gagueira é um distúrbio no ritmo da fala, em que o indivíduo sabe precisamente o que vai dizer, porém é incapaz de dizê-lo devido a um prolongamento involuntário, repetitivo ou à cessação de um som". Jakubovicz (1980), ao descrever os principais sintomas desse quadro, considera os seus aspectos fisiológicos (observáveis) e emocionais (não observáveis). As características observáveis, audíveis e visuais, seriam: repetição do fonema, sílaba ou sintagma, alongamento do som, bloqueios de fonação, posições articulatórias fixas, pausas silenciosas, frases incompletas, inserção de sons estranhos à fala, mudanças súbitas na tonalidade e intensidade da voz, esforço motor durante a fala, falha no ritmo, falta de sincronização entre respiração e fonação, distorções corporais e faciais, introdução sistemática de pequenas frases e interjeições. Já as características emocionais seriam: conflito entre falar e não falar, sentimento de frustração e vergonha, falta de confiança na habilidade para falar, ansiedade em situações de fala, embaraço, tensão, irritação, confusão, dúvidas, ambiguidade e autodefesa.

Friedman (1994) define "gagueira natural" e "gagueira sofrimento", e estabelece uma distinção entre elas. A primeira refere-se à produção natural de disfluência no processo de produção da fala. A segunda implica a produção de um padrão de fala que, no plano subjetivo, é determinado por uma imagem estigmatizada do falante, articulando um movimento paradoxal de consciência, definido pela intenção de tentar o espontâneo, mas que conduz à produção de comportamentos de fala não desejados e também à tentativa de evitá-los.

Gomes (1997) descreve a existência dessa "gagueira natural", também chamada de "disfluência fisiológica", "gagueira idiopática" ou ainda "do desenvolvimento", que se refere à disfluência natural da criança no período de aquisição da linguagem. No entanto, esse tipo de gagueira não deve ser considerado genuinamente natural e puramente linguístico, ou seja, não deve ser observado de forma reducionista e simplista. Há outro quadro sintomático conhecido como gagueira adquirida ou neurogênica (BORSEL apud GARGANTINI, 2002). Ele é distinto da gagueira natural, pois ocorre em um falante fluente que sofreu um dano cerebral de origem traumática ou vascular. Também se distingue dos quadros de gagueira psicogênica, que surgem em decorrência de alterações psicopatológicas. Riper (1991 apud GARGANTINI, 2002, p. 20-21), grande estudioso da gagueira, define: "[...] a gagueira é mais que um enigma. É pelo menos um quebra-cabeça complicado, multidimensionado, com muitas peças ainda faltando "[...]". Esse autor sustenta a hipótese de que a gagueira é primariamente um problema dos aspectos temporais da fala. Assim, Riper, depois de dedicar uma vida ao estudo do seu sofrimento (ele próprio era gago), destaca que há muito que conhecer sobre essa patologia, principalmente no que diz respeito ao aspecto orgânico, especificamente no ritmo da fala.

Numa visão funcional, Jakubovicz (1980, p. 3) afirma que "gagueira é uma desordem da expressão verbal em que o ritmo da fala está perturbado, sem anormalidade nos órgãos fonadores". Por sua vez, os estudos de Meira (1986) asseguram que a origem da gagueira está em um distúrbio orgânico, situando-a como uma patologia adquirida na vida adulta, embora os resultados de suas pesquisas sejam ainda pouco conclusivos. Assim, Meira defende a presença de uma tendência familiar, o que atribuiria uma origem hereditária à gagueira, mas não há unanimidade nesse ponto. Há igualmente divergências de opinião quanto à existência de diferenças entre gagos e não gagos, principalmente no que diz respeito a que os primeiros teriam maior participação do hemisfério direito em tarefas linguísticas e no controle motor da fala, além de um maior atraso na aquisição da fala e da linguagem.

Contrariando a concepção de uma determinação genética da gagueira está a observação de que, entre crianças da mesma família, algumas podem apresentar disfluência e outras não, indicando a necessidade de considerar variáveis psicológicas e sociais para a compreensão desse fenômeno. Rocha (1989 apud GOMES, 1997, p. 50) argumenta que grupos de disfluentes e de não disfluentes, na fase de aquisição da linguagem, têm pouca diferença qualitativa entre si e afirma que a única distinção encontrada entre eles foi referente às rupturas de planejamento/execução, ou seja, "[...] alongamento de início de vocábulos, indicando dificuldades de execução do que já estava planejado, fragmentação do vocábulo no meio da execução, interrupções na emissão do vocábulo com repetição brusca e retomada".

Freud (1996), avançando em sua teoria e técnica psicanalíticas, fez um estudo detalhado sobre os lapsos da fala, em que argumenta que essas perturbações poderiam originarse por influência de componentes internos e externos ao contexto da palavra ou da frase. Ele considerou as interpretações neurolinguísticas e comportamentais relacionadas com esses fenômenos, porém não se satisfez com elas e adentrou na sua compreensão considerando os psicodinamismos dos pacientes. Por fim, atestou que não é incomum, depois de uma análise detalhada, encontrar motivos inconscientes para as perturbações na fala, sendo estas severas ou leves.

Tendo em vista as diferentes etiologias que a gagueira apresenta, há necessidade de uma compreensão integral da pessoa gaga, considerando todos os fatores inerentes ao problema. Nesse sentido, as pesquisas que utilizam como método o estudo de caso são fundamentais para atingir esse objetivo, pois possibilitam uma aproximação da subjetividade da pessoa gaga e, conforme Cunha (2001, p. 14) identificam e problematizam três pontos considerados nodais: "[...] sua origem, sua interpretação e a tensão entre fala e língua. Desta forma, interpelam a teoria por meio da clínica [...]". Nesse contexto, o emprego de procedimentos de natureza projetiva em estudos de casos clínicos de indivíduos disfluentes, em função da profundidade que atingem na avaliação da personalidade, mostra-se bastante promissor para viabilizar essa compreensão integral do indivíduo, permitindo tanto uma abordagem mais precisa de seu sofrimento quanto um maior desenvolvimento teórico-conceitual da psicologia clínica e da fonoaudiologia.

Dentre os instrumentos projetivos mais férteis para a investigação dos psicodinamismos dos indivíduos, particularmente dos conflitos nodais inconscientes que sustentam patologias de natureza primordialmente emocional ou psicossomática, destaca-se o procedimento de desenhos-estórias.

O procedimento de desenhos–estórias (D-E) utiliza o desenho livre como estímulo de apercepção temática, ou seja, associa a produção gráfica ao processo de verbalização de associações com ela relacionadas. É um instrumento de exploração psicológica que implica a utilização da criatividade e, assim, facilita a expressão e a representação de componentes básicos do psiquismo. Ele se enquadra no grupo das chamadas "técnicas gráficas", definidas como aqueles procedimentos em que o sujeito, para se comunicar, faz uso de grafismos como desenhos, pinturas, rabiscos espontâneos ou dirigidos, que se tornam veículos para a projeção de aspectos inconscientes de sua personalidade.

Contudo, por sua peculiar associação do grafismo com a verbalização, o D-E também se classifica no conjunto das técnicas temática-aperceptivas de avaliação da personalidade. Por apercepção Abt e Bellak (1965 apud TRINCA, 1987, p. 18) compreendem "uma interpretação (dinamicamente) significativa que um organismo faz de uma percepção". No caso dos testes de apercepção temática, entrariam em jogo fatores que estimulam a imaginação, evocam e expõem imagens simples, fantasias e interações, e improvisações dramáticas (TRINCA, 1987). Com isso,

[...] partindo da idéia de que todas as produções provocadas pelo material são produções mnemônicas, portanto, estão sujeitas às leis da organização da memória, entre as quais figura a influência da dinâmica emocional, chegamos ao ponto em que é justificado esperar que, das estórias apresentadas pelo sujeito, possam derivar-se representações de sua dinâmica emocional (Kolck, 1969 apud TRINCA, 1987, p. 7).

Uma vez que o objetivo principal do procedimento de desenhos-estórias é promover uma compreensão da personalidade do indivíduo em suas características conscientes e inconscientes, que seja global, profunda e integrada, a interpretação das produções fundamenta-se menos na análise de indicadores formais e normativos dos desenhos e das estórias, e muito mais em seu conteúdo singular e pessoal, no seu significado subjetivo para o paciente. Assim, o método de análise e interpretação privilegiado por Trinca (1987) é o da livre inspeção, tomando como referencial teórico-metodológico a psicanálise.

Não obstante essas considerações de Trinca (1987), é possível encontrar com certa freqüência na literatura sobre avaliação psicológica propostas de análise de desenhos livres e de estórias baseadas em referenciais desenvolvimentistas e comparativos, que sustentam a importância de compreender as produções do indivíduo em termos do que seria esperado encontrar no grupo etário, sexual, socioeconômico e cultural a que ele pertence. Há ainda autores que buscam realizar uma integração entre formas de análise mais comparativas e singulares, como no caso de Kolck (1981) que sugeriu três processos fundamentais a serem considerados na correção de desenhos livres: o adaptativo, que implica verificar se o produto foi executado de modo que corresponda ao que foi proposto e ao que se espera da idade e do ambiente cultural do sujeito; o expressivo, que diz respeito ao estilo particular de resposta de um indivíduo; e o projetivo, que é aquele em que o indivíduo atribui as próprias necessidades e qualidades a objetos exteriores, sem que disso tenha consciência.

Considerações relativas às diferenças e/ou à complementaridade entre as análises de testes psicológicos mediante o método da livre inspeção do material e o normativo fogem ao escopo deste artigo. Em razão dos nossos objetivos de compreender a singularidade do paciente com gagueira e de tomarmos para avaliação um indivíduo adulto e sem suspeita de deficiência mental, a opção adotada neste trabalho foi a de realizar a interpretação do D-E mediante a livre inspeção do material, considerando ainda que essa forma de análise é também mais coerente com a estratégia metodológica do estudo de caso.

Com relação ao uso do procedimento de desenhos-estórias em pacientes com gagueira, tratando-se de um instrumento verbal, ele seria a priori contraindicado do ponto de vista técnico para aplicação nessas pessoas. Contudo, o atendimento clínico de indivíduos disfluentes demonstra continuamente os malefícios causados quando eles são poupados do esforço de falar, a saber, a manutenção dos ganhos secundários da doença. Nesse sentido, a aplicação do D-E a essas pessoas seria indicada do ponto de vista clínico, mas não do ponto de vista técnico, estabelecendo, assim, uma tensão entre áreas diagnóstica e terapêutica da psicologia.

 

Objetivos

Diante do descompasso apresentado pela psicologia clínica em suas vertentes avaliativa e terapêutica na abordagem da gagueira, o presente estudo visou averiguar os alcances e limites do procedimento de desenhos-estórias no diagnóstico da personalidade de um paciente disfluente. Assim, é apresentado o estudo de caso desse participante, com ênfase no material por ele produzido numa entrevista psicológica e no procedimento de desenhos-estórias (D-E).

Método

Identificação do participante

O estudo foi realizado com um participante disfluente que chamaremos de João1, de 31 anos, que tem uma união estável há seis anos. Na época da coleta de dados, ele possuía um casal de filhos, um menino de 7 anos e uma menina de 5, e a esposa estava grávida do terceiro filho. João apresentava nível universitário incompleto, em conclusão, na área de Administração e era vendedor, profissão que exercia desde os 15 anos de idade.

A hipótese da avaliação fonoaudiológica foi de alteração, em grau leve, na fluência, ritmo e velocidade de fala (gagueira), deglutição atípica e tensão cervical, orofacial e corporal associada à fala, e vinculada a sintomas comportamentais observáveis (Jakubovicz, 1980), sem comprometimento orgânico comprovado. A gagueira apresentava caráter egodistônico e estava acompanhada de tensão e ansiedade ao falar. João também apresentava comportamentos de roer unhas (onicofagia) e de morder as juntas dos dedos.

 

Instrumentos

  • Roteiro de entrevista composto por questões abertas subdivididas nos seguintes tópicos: histórico da moléstia atual, história pessoal (infância, adolescência e vida adulta), relacionamento familiar (família de origem e constituída), saúde (enfermidades físicas e emocionais) e adaptação atual.
  • Procedimento de desenhos-estórias (D-E): em termos operacionais, o D-E solicita que o paciente realize cinco desenhos livres (cromáticos ou acromáticos) e que conte uma estória livremente associada logo após a realização de cada um deles. Terminado esse estágio, inicia-se a etapa do inquérito, em que o paciente fornece maiores esclarecimentos sobre o material já produzido e apresenta novas associações de personagens, objetos, situações, sentimentos, motivações, atitudes e intenções contidas nos desenhos. Nessa etapa, Trinca (1987) orienta que o pesquisador evite explorações genéricas, que incentive novas associações e que tente traçar um esboço ou perfil do personagem, objeto ou fenômeno principal. Finalmente, o indivíduo deve atribuir um título ao que produziu, configurando, ao término, cinco unidades de produção (UP) compostas, cada uma, por um desenho, uma estória, o inquérito e o título.

Quanto ao material, devem-se utilizar: folhas de papel em branco, sem pauta, tamanho ofício; lápis preto (ponta de grafite), entre macio e duro (n° 2); e caixa de lápis de cor de 12 unidades, nos tons cinza, marrom, preto, vermelho, amarelo-escuro, amarelo-claro, verde-claro, verde-escuro, azul-claro, azul-escuro, violeta e cor-de-rosa. O uso de borracha não é indicado, pois o paciente pode apagar configurações psicologicamente interessantes; contudo, se ele quiser, poderá requisitar outras folhas em branco.

Considerando que, em princípio, o procedimento de desenhos-estórias não se constituiria em um bom instrumento para avaliar pessoas com comprometimento verbal, entendeu-se que, mesmo diante de dificuldades, seria possível administrá-lo, e, caso houvesse situações em que João se sentisse impossibilitado de atender às suas demandas, o procedimento seria encerrado. Essa decisão baseou-se nas considerações relativas aos ganhos secundários do não falar para os indivíduos disfluentes, já expostas, e também no fato de a literatura sobre essa patologia conceber a não existência de um gago absoluto nem de um falante perfeito (KELLY, 2001). Além disso, é sabido que a comunicação consciente e inconsciente entre paciente e terapeuta também se dá por meio da linguagem corporal, da postura, dos silêncios, das pausas, dos atos falhos, dos lapsos da fala, entre outros, todos passíveis de ocorrer durante a aplicação do D-E.

 

Procedimento

Após a aprovação do estudo pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Franca, foi iniciado o estudo de caso do participante descrito, mediante a realização de uma entrevista semiestruturada, acompanhada pela aplicação do procedimento de desenhos-estórias (D-E), ambos avaliados por meio do método da livre inspeção do material (TRINCA, 1987). Os instrumentos foram aplicados em duas sessões, com duração de uma hora para entrevista e uma hora e meia para o D-E, ambos precedidos do estabelecimento do rapport. O procedimento de avaliação psicológica ocorreu nas dependências da clínica-escola do curso de Psicologia da Universidade de Franca.

 

Resultados

Descrição da entrevista

João, que nasceu após um ano e meio do casamento de seus pais, relatou não saber muito sobre o seu início de vida. Contou que teve uma irmã gêmea que veio a óbito fetal no sexto mês de gestação da mãe. Argumentou que não soube muito desse fato por ser "um assunto desagradável" (sic), sobre o qual nunca quis conversar com sua mãe. É o filho mais velho, tendo um irmão de 26 e uma irmã de 25 anos.

Em relação à sua infância, contou que "tinha tudo", pois sua mãe sempre trabalhou e comprava tudo para ele. No período de trabalho de sua mãe, ficava sob os cuidados da avó materna. Quanto aos sentimentos do pai em relação a seu nascimento, João revelou que coincidiram com as perdas de sua avó paterna e da irmã gêmea; assim, julgou que seu pai "deve ter ficado contente com sua chegada, uma coisa acobertando a outra" (sic). Assim, ele concebeu que, no caso de seu pai, um sentimento foi substituindo o outro sem maiores elaborações.

João disse que a relação com o irmão melhorou nos últimos cinco anos; hoje os dois convivem bem. Com relação à irmã, sempre a achou bonita. Ele a protegia e sentia muito ciúme dela, principalmente quando ela começou a namorar; referiu que ficava nervoso e que tinha receio que seus amigos fizessem com ela o que ele fazia com as irmãs dos outros. Com relação a essa atitude, relatou que ficava só imaginando como iria agir com a própria filha.

Ainda sobre a sua primeira infância, afirmou que foi muito boa. Quanto ao desenvolvimento da linguagem, relatou inicialmente que não sabia sobre sua fala na primeira infância; julgou que o desenvolvimento da linguagem foi "normal", mas depois considerou que sempre teve dificuldades para falar. Sobre o período escolar, mencionou que nunca gostou de ler, o que perdura até os dias de hoje; expôs ainda que, quando pedem para que ele leia na faculdade, recusa-se prontamente.

Foi um bom aluno durante o primeiro ciclo do ensino fundamental, mas, quando entrou no segundo ciclo (quinta série), foi ficando mais relaxado: ficava para recuperação principalmente em matemática e começou a “matar aula”. Argumentou que isso aconteceu por causa da turma de amigos com que convivia e porque acreditava na autossuficiência, ou seja, podia fazer tudo o que queria. Relatou que sempre cometia esses pequenos delitos e também mentia para os pais e professores.

Na adolescência, lembrou que tinha dificuldades para iniciar novos relacionamentos: ficava tenso e não conseguia falar. Ressaltou também o quão embaraçoso era falar em situações em que ficava nervoso.

A iniciação sexual de João ocorreu aos 14 anos; disse que isso não teve graça nenhuma, pois não tinha noção do que realmente estava fazendo. Não pensava no risco de gravidez. Contou que queria acompanhar e fazer tudo o que seus amigos mais velhos faziam. Com 15 anos de idade, começou a beber e a frequentar assiduamente bares, o que considera ter sido prejudicial, pois isso o afastou dos estudos. Disse também que, se tivesse sido diferente, hoje poderia estar mais bem preparado para as exigências do mercado de trabalho.

Relatou ter começado a trabalhar aos 15 anos e, como não precisava ajudar financeiramente em casa, gastava seu dinheiro somente consigo. Relatou com exaltação a sua independência financeira e o fato de ter obtido seu próprio negócio, com funcionários, ainda quando era menor de idade. Afirmou que preferia o trabalho aos estudos. João julgou que foi um erro gravíssimo, quando mais jovem, ter começado a estudar à noite. Na época de seu atendimento, tinha voltado a estudar em razão de seu trabalho exigir novos cursos. Esse fato é motivo de orgulho, mas já pensou em parar de estudar, mas também já pensou em fazer pós-graduação.

Começou a namorar a atual esposa aos 16 anos de idade, tendo sido pai pela primeira vez aos 18; contudo, seu filho faleceu com três dias de vida. Nessa época, como ambos eram solteiros, foi um pouco difícil a aceitação da gravidez pela família dela. Ele chegou a terminar o namoro, embora sua mãe fosse totalmente contrária a isso, pois gostava da moça como de uma filha (até mais do que dele, segundo seu relato). Quando tinha 21 anos, sua namorada engravidou novamente, e eles então foram morar na casa de seus pais, onde viveram durante três anos. Depois compraram uma casa, onde moram até hoje. Ele relata que não tem intenção de oficializar sua relação.

A relação conjugal estava péssima quando do nascimento de sua filha; de acordo com ele, eram seus filhos que seguravam o seu casamento, já que ficava ponderando sobre o crescimento deles sem a união dos pais. Afirmou estar muito nervoso porque, na época da avaliação psicológica, sua esposa estava grávida novamente (terceiro filho do casal). Estava com vontade de se separar, mas não sabia o que seria pior: ficar casado com a esposa grávida ou separado, longe dos filhos. Contou ter conversado com ela há dois meses sobre os novos métodos contraceptivos, combinando que ele arcaria com os custos, como sempre fez, e ela faria o controle; entretanto, isso não ocorreu. Ressaltou o fato de não ter programado nenhuma gravidez da esposa e, inconformado, questionou sobre seus direitos de participar da decisão de ter filhos.

Afirmou estar diminuindo os seus relacionamentos extraconjugais, que aconteciam desde quando namorava, mas essa notícia da gravidez parecia tê-lo "jogado novamente nessa vida paralela" (sic). Contudo, não estava conversando com ninguém sobre essas relações, pois tinha receio de magoar a família.

Relatou que, ao comunicar-se com sua família, gaguejava apenas quando ficava nervoso. Enfatizou que sua gagueira surgia dependendo do estado emocional, "com isto tem dias que dá tudo certo, e em outros, tudo errado" (sic). Ele considerou-se pouco gago, pois não gaguejava como outras pessoas que o fazem 24 horas por dia.

Análise da entrevista

Durante a entrevista, João mostrou-se disponível e atencioso. Quando começou a falar dos filhos e da esposa, ficou bastante tenso e começou a gaguejar um pouco mais e a transpirar, o que pode ser compreendido pela aproximação do assunto relativo à sua principal angústia atual: a última gravidez de sua mulher.

Quando a entrevistadora fazia solicitações de esclarecimentos sobre determinado assunto, ele se mostrava pronto para contribuir, porém sempre gaguejava, evidenciando sua dificuldade na fala espontânea, quando precisava articular rapidamente suas idéias com as motivações internas e com as expectativas do ambiente externo. Nessas situações, verificou-se o desejo de falar e calar. Freud (1996) e Fenichel (1981) esclareceram esse conflito argumentando que, a partir de uma situação como essa, se evidencia a área de sofrimento latente trazido por ele. Ficou patente na entrevista que João pouco refletiu sobre o que estava dizendo e, consequentemente, apresentou muitas contradições no conteúdo de seus pensamentos. Tal expressão ambivalente exprimiu uma tentativa deliberada de confundir e referiu-se a um esforço defensivo frustrado de repressão do afeto associado ao conteúdo dos diálogos, corroborando as conclusões teóricas de Anderson e Anderson (1967).

João relatou ter uma história de muitas conquistas, referentes às suas realizações profissionais e à constituição de sua família, mas exibiu dificuldades no controle dos afetos, o que foi verificado por suas várias ações impulsivas, como abandonar os estudos, por seu comportamento sexual e antissocial, e também no modo intensamente controlado como ele se relacionava à esposa e filhos, o que revela seu receio de ser invadido pelas pulsões. Descreveu uma vida cheia de atalhos e atropelos, que ele mesmo referiu incomodá-lo. Nesse contexto, demonstrou apresentar uma personalidade em que a integração dos afetos, da sexualidade e da agressividade é precária. Suas muitas conquistas profissionais foram vividas de maneira ambivalente: "ter algo" despertava sentimentos contraditórios, como satisfação, culpa e raiva.

Ao discorrer sobre os pequenos delitos que cometeu em sua fase escolar, demonstrou muita emoção e conotação de vitória. Foi uma fase antissocial em que, segundo seu relato, fez tudo que queria em relação à sua vida financeira, sexual e familiar, o que acarretou, por vezes, importantes consequências e angústias. Com isso demonstrou que, desde essa época, em sua vida psíquica habitavam grandes conflitos.

No que tange ao relacionamento com a esposa, o vínculo parecia ter conotação mais fraternal do que erótica, sendo permeado por um sentimento de rivalidade pelo amor da mãe. Isso fica evidente quando João a descreveu como se fosse sua irmã, inclusive no que se refere à atitude de sua própria mãe para com ela. Assim, apesar de desejar separar-se, optou por não fazê-lo não apenas em função da gravidez da esposa, mas também pelo fato de sua mãe ser contrária à dissolução da relação. Nesse sentido, revelou que a mãe sempre intermediou o seu relacionamento conjugal e que a opinião dela é vivida como uma autorização ou proibição. Vale dizer que as atitudes de João em relação à mãe e à esposa sugerem que esta parece ter ocupado, junto à família, o lugar da irmã gêmea morta. Com isso, ou ele a traz de volta à vida, mantendo-a na família, ou a exclui e mata com a separação.

Em relação à vida sexual de João, não parece existir integração entre sexo e afeto. Há certo desprezo e desejo de fugir das obrigações do relacionamento conjugal; sente cumprir uma obrigação se mantendo casado. Os valores em relação ao sexo para mulheres de sua família (esposa e filha) são totalmente opostos em relação às outras mulheres, demonstrando, assim, possuir uma sexualidade não elaborada, bastante reprimida e conflituosa, o que ficou evidente no modo como se referiu a esse assunto (gaguejou muito).

 

Procedimentos de desenhos-estórias

Primeira unidade de produção (UP)

  • Desenho

 

Figura 1. Meio de transporte

 

Ao ser proposta a tarefa, João disse que era péssimo em desenho e argumentou que seu filho desenhava melhor que ele. Questionou sobre a possibilidade de colorir e resolveu que iria fazer um desenho parecido com um objeto real.

  • Estória

João: Estória... Talvez... Pode ser... De manhã a gente levantando, pegando o carro, saindo no final de semana pra ir num jogo de futebol... "Tá" levando pra ver alguma coisa no shopping... Sei lá. (A gente quem?) Normalmente eu e ele. A, a, agora quando vai ao shopping, vai a família toda, eu, minha esposa, minha filha e ele.

  • Inquérito

João, ansioso, ressalta algumas experiências vividas com o carro, com a família.

  • Título: "Meio de transporte".
  • Observações

A confecção da primeira UP foi bastante demorada: João errou na confecção da traseira do carro e depois se utilizou do erro para fazer um para-choque.

  • Interpretação da unidade de produção.
  • João demonstrou algumas dificuldades para contar a estória (hesitação) e produziu um conteúdo que se referia ao seu cotidiano; esses elementos denotaram um pensamento preso ao concreto e pouco criativo. Inicialmente, apresentou-se como fazendo parte de uma família feliz, mas seu relato revelou a existência de dois subgrupos na família (mulheres e homens). Valorizou e ficou inseguro diante de tal fato (gaguejou), porém tentou justificar-se considerando tal realidade "normal". Durante toda a verbalização da estória e nas respostas ao inquérito, João gaguejou, teve descontrole no ritmo de sua fala.

    Segunda unidade de produção

  • Desenho
  •  

    Figura 2. Trabalho

     

    • Estória

    "Bom, celular pra mim, celular hoje, celular hoje, eu vou falar a, a, a verdade, pra mim celular hoje é uma ferramenta de trabalho... Tenho duas, é ele e minha moto, sem, sem ele eu não consigo trabalhar. Ele é, é, é minha ferramenta principal. Eu posso ficar em casa deitado, mas ele tem que estar ligado, minha ferramenta-chave. Celular... Sem ele não sei como seria (o celular toca, João atende e marca um compromisso). Sem ele é, é, é então celular pra mim hoje, pra mim é indispensável, tanto é que final de semana meus amigos ficam até ner... bravo comigo porque sexta-feira... Hoje à tarde é, é, é, justamente por isso que marquei (a sessão) sexta-feira, porque normalmente é o dia mais fraco da semana pra... O pessoal não compra justamente, porque se não perde três dias (sexta, sábado e segunda), então deixa pra comprar na segunda, é ele, ele, ele é indispensável pra mim, não tem como, ele é indispensável porque, se eu não tiver celular, não tem como trabalhar... Não tem como. Como aqui agora, ‘tô’ marcando uma e meia esse, esse é um negócio grande, eu tenho que estar lá uma e meia, pra ‘tá’, pra ‘tᒠtentando fechar o negócio, porque vai virar a tabela. A tabela ‘tᒠvirando desde, desde o final do mês passado. É, é, é outra mentira, e, e ia virar no mês passado, falei que era o mês passado forçando pro pessoal comprar. Aí ia virar dia, dia 15 e até agora não virou, talvez vire segunda-feira de verdade, então tenho que tentar fechar. Então, sem o celular eu não consigo trabalhar. Como eu ‘tava’ falando, pessoal (omissão de palavras), final de campeonato, na sexta-feira normalmente eu desligo, eu, eu, eu desligo não, eu deixo ele em casa. Meu pai tem um bar, às, às vezes, de vez em quando, eu já deixo, deixo lá no bar, na segunda-feira não sei nem onde ‘tá’. Eu saí louco procurando ele, porque final de semana não suporto, suporto ele. Porque ele me, me enfeza no final de semana, mas meio de semana... Segunda a sexta é sagrado, eu não tenho como ficar sem."

    • Inquérito

    A pesquisadora investigou sobre o uso e a necessidade do celular, e João ressaltou a grande importância que esse objeto tem, inclusive para fechar negócio, pois, pelo fato de não estar frente a frente com seus clientes, conseguia argumentar e às vezes até mentir sobre o produto que vendia.

    • Título:"Trabalho".

    • Observações

    Nessa segunda UP, foi nítida a dificuldade de João na comunicação de suas ideias e seus pensamentos. Durante o relato da estória, gaguejou, teve paralisações e também falou rapidamente, sobretudo quando se referiu ao pai.

    • Interpretação da unidade de produção

    Sendo o tema da comunicação posto, o celular pareceu representar uma espécie de proteção em determinadas relações que João estabelecia com o mundo externo, principalmente no trabalho. Desse modo, a comunicação via celular pode ser feita de modo mais controlado: a mentira não pode ser checada e a relação é possível, por ocorrer de forma distanciada.

    Ele revelou rejeição aos contatos pessoais presenciais em situações de tensão e de negociação no trabalho. Pareceu precisar de ajuda para transmitir seus pensamentos com êxito, evitando um confronto com as realidades interna e externa. Assim, demonstrou sentimentos ambivalentes (satisfação e raiva) diante da comunicação, bem como o desejo de não ser incomodado por outros, o que remete a um comprometimento nas relações interpessoais. Revelou ainda uma dissociação entre quem ele é realmente e como se apresenta, gerando um sentimento de falsidade. João demonstrou acreditar que seria somente por meio dessa imagem falsa que poderia triunfar diante de uma figura de autoridade (patrão, pai, cliente).

    Terceira unidade de produção

     

    Figura 3. Aventura

     

    João (verbaliza durante a confecção do desenho): Pra desenho, basta este aqui. Tentar desenhar uma moto aqui. Eu como desenhista, vou te falar viu? (João erra ao desenhar o tanque da moto, fica incomodado, mas corrige e pinta em cima do erro.) Não precisa apagar, não, dá pra corrigir. Dá. É uma moto, não parece não, mas é uma moto. Isso aqui é uma moto. Meu filho vai rir muito. Ele desenha bem. Estou fazendo de preto, mas realmente é cinza. Não tem como. É mais ou menos isso.

    • Estória

    "Moto! (respira) Bom, moto. Eu, eu e moto nós temos uma identificação muito grande. Eu, eu tenho só uma passagem pela polícia, graças a Deus, com 15 anos, por falta de habilitação... De moto! Então, desde a época de mobilete, 14, 15 anos, sempre tive... Várias! Era, era minha maior paixão... Tanto era que, quando solteiro, que não tinha filho, era minha maior... paixão, era moto, tanto é que minha mãe ficou várias noites sem dormir por causa de moto. Meu pai não me dava, eu trabalhava, juntava meu dinheiro e comprava sem ele assinar nada. Ficava sem atualizar documento, sem nada, porque não tinha o que fazer, era ‘de menor’. Ele chegou a trancar... Tinha uma vez, chegou trancar moto minha no fundo de casa, pra mim não andar. E moto, é, é, é, tem um fato meio engraçado, é que eu sempre falei pra eles que, quando eu tivesse um filho, quando tivesse 10 anos de idade, ia dar a melhor moto pra ele. Hoje eu penso diferente, morro de medo dele cair e machucar, até morrer, porque moto mata brincando. Então, então nós... Eu tenho uma identidade muito grande com moto, ando de moto o dia todo, ando de moto o dia todo e à noite venho pra faculdade, vou embora, onde eu ‘tô’, ‘tô’, normalmente estou de moto. Eu só pego o carro quando vou sair com a família mesmo, do contrário... Moto pra mim é economia, é sinônimo de economia, muito econômico."

    • Observações

    Destacou-se, no inquérito da terceira UP, a empolgação e exaltação de João ao relatar sua passagem pela polícia, quando era adolescente, devida a atos infracionais no trânsito. A conotação afetiva dessa comunicação era a de quem havia cometido atos de heroísmo.

    • Interpretação da unidade de produção

    A terceira UP caracterizou-se pela grande quantidade de conteúdo expresso por João sem a necessidade de intervenção da psicóloga. Mesmo não sendo uma estória criada ali no momento, pois ele relatou que contaria um fato que já havia acontecido, apresentou riqueza de detalhes na sua descrição. Na estória, João apresentou-se como o centro dos fatos, conferindo uma conotação narcísica a todo relato, que incluía o êxito em driblar os pais e a polícia, o que, em sua adolescência, tinha um caráter vitorioso. Mostrou, no relato, que luta por conseguir uma fluidez pulsional, mas nem sempre se percebia com responsabilidade para assumir consequências (jovem demais); assim, houve angústias pela chance de ser punido, mas houve também o orgulho por escapar às proibições superegóicas. As necessidades de enfrentamento e de desafio dos limites estabelecidos mantiveram-se vinculadas à imagem paterna e a seus substitutos superegóicos (polícia). Mesmo diante da "punição" estabelecida pelas pessoas envolvidas no fato, ainda houve reincidência, demonstrando a fragilidade das figuras de autoridade introjetadas. Nessa situação, ficou óbvio o quanto João tentou negar ou minimizar seu medo, para alcançar um ganho psíquico e demonstrar um êxito narcísico.

    Quarta unidade de produção

    • Desenho

     

    Figura 4. Bate-papo

     

    • Estória

    "Bar, bar, bar de amigos, eu fico muito em bar, mas não assim em vários, tem um lá, tem um principalmente onde eu mais fico... Esse final de semana... sábado e domingo normalmente... eu não fico sem ‘ir no bar’. Bebendo, né? ... Fica conversando, a gente, fica lá distraindo, distraindo (fala incompreensível) no final de semana, vê futebol... Não fico sem ir no bar."

    • Inquérito

    No inquérito dessa UP, João ampliou a descrição da situação desenhada, fez referência direta ao bar de seu pai e, inicialmente, disse que desenhou seu irmão, os amigos e ele, mas falou mais a respeito de seu pai e seu filho. Finalizou ressaltando o quanto o bar tinha um caráter de aproximação com o pai, de fuga da vida doméstica e de lazer.

    • Título:"Bate papo"

    • Observações

    A confecção da quarta UP foi breve, e o que se destacou foi a presença de figuras humanas sem elementos de expressão facial. Com relação à estória, essa foi a primeira unidade de produção em que João não relatou nenhum fato real, mas descreveu opiniões sobre uma situação em que ele mostrou ter uma atitude de controle e destaque: no inquérito, contou que na ausência do pai é ele quem administra o bar, numa conotação afetiva de esta ser uma situação vantajosa.

    As figuras desenhadas foram seu irmão, um amigo e ele, todavia, na maior parte do inquérito, João se referiu ao pai e ao filho, aos cuidados e ao afeto que expressou ter por eles, sugerindo que, inconscientemente, quis desenhar o pai, o filho e ele.

    • Interpretação da unidade de produção

    A estória revelou desejos de afiliação, proteção e controle, além de evidenciar conflitos no relacionamento familiar. O fato de as pessoas terem sido desenhadas sem faces, cortadas ao meio e sem cores revela uma dificuldade de comunicação, posto que as expressões faciais, por si sós, expressam os sentimentos e as motivações da pessoa. Nesse intuito, tal omissão significa repressão, desconexão de sentimentos vividos naquele ambiente. Nessa UP, mesmo diante de uma rivalidade entre João e o pai, houve também uma tentativa, parcialmente bem-sucedida, de integrar desejos e proibições. Nesse sentido, a visão paterna é mais benigna, pois descreveu o pai como sensível ao seu desejo de ser como ele, permitindo que o faça temporariamente (toma o lugar do pai com o consentimento dele). Com isso, o receio de punição diminuiu, e João teve a possibilidade de relaxar, embora a integração dos aspectos negativos da relação com o pai ainda não tivesse sido completa.

    Quinta unidade de produção

    • Desenho

    Figura 5. Família

    João: Pronto, bem simplezinho! Seria minha esposa, eu, e meus dois filhos, né? É minha mãe (pausa). Porque minha mãe é fora de série. Seria mais ou menos isso aí.

    • Estória

    "Bom! (pausa) Essa... Essa seria nossa família. Eu, eu e essa namorada minha, é, é, na realidade a gente não casou, mas a gente já passou muita coisa junto. É, é, a gente começou a namorar logo depois desse episódio (prisão dele por falta de habilitação). A gente começou a namorar com uns 15, 16 anos ... no, no, nós perdemos nosso primeiro filho, depois tivemos mais dois. E, e, bom, nossos filhos pra nós é tudo, a gente trabalha e estuda em função deles. E, às, às vezes ela fica per, perguntando: ‘Não sei para que isso?’. Eu ‘tô’ estudando hoje, não é para mim, só pra mim o que eu sei fazer está ótimo. ‘Tô’ estudando para uma coisa melhor para os meninos. Vô, vô, vou ver se através de meu estudo eu consigo uma posição melhor, um trabalho melhor, para poder bancar os estudos deles lá na frente. E, e em cima disso que a gente... eu... eu, pelo menos, que eu venho vivendo em, em função disso. E minha mãe, porque minha mãe dá sempre tudo. Minha mãe é, é acho que todo... A maioria... minha mãe é, é... Deus no céu e ela aqui na terra, ela é maravilhosa."

    • Inquérito

    No inquérito dessa UP, foi nítida a maior sensibilização de João. Ele descreveu o seu relacionamento com a mãe, que possuía um caráter bastante idealizado e regulador do seu relacionamento conjugal. Durante o inquérito, lembrou-se de um velório a que teria que ir e o associou ao medo de perder a mãe. Ao expressar seus pensamentos, começou a falar devagar, baixo e com voz embargada.

    • Título: "Família"

    • Observação

    A elaboração da quinta UP foi a mais rápida de todas, e o desenho pareceu ser mais espontâneo que os anteriores. Houve uma preocupação maior na elaboração do desenho, porém a atitude evasiva prosseguiu: as figuras humanas continuaram sendo feitas de forma estereotipada (pedagógica). Essa foi a UP em que João mais se emocionou e que constou de personagens importantes a quem dirigia bastante afeto (esposa, filho, filha e mãe).

  • Interpretação da unidade de produção
  • Em relação à mãe, João demonstrou um relacionamento de respeito, cuidado, preocupação e devoção não só por parte dele, como também de sua esposa. Ele descreveu o relacionamento entre mãe e nora como muito afetuoso, o que pareceu ser fundamental para a manutenção de seu casamento. Apresentou a mãe como uma figura muito importante e presente na sua vida conjugal, o que denota uma fixação infantil: sua mãe é incluída na família constituída. No desenho, aparecem o filho e a filha, porém foram pouco citados na estória. Também foi expresso o desejo de proteger a mãe de possíveis danos causados por suas fantasias agressivas em direção a ela, referidas de modo manifesto por sua idade avançada e pelo fato de recentemente ter sido encontrado um nódulo em seu seio. Nesse sentido, João expressou uma fantasia de morte da mãe, decorrente da violação de regras morais da parte dele, tais como a separação conjugal, pequenos delitos da fase escolar e comportamento desafiador por andar de moto.

    Ao final do inquérito, João exibiu um choro breve e contido e alguns suspiros, e começou a falar em volume mais baixo e em ritmo mais lento. Após isso, houve uma diminuição da ansiedade, acrescida de alívio, o que parece ter ocorrido em razão de um contato mais profundo e realista com suas angústias e fantasias inconscientes (medo da morte da mãe) e da posterior colocação em marcha de processos mentais, visando à integração deles em sua personalidade. Nesse sentido, João pareceu ter se beneficiado terapeuticamente do processo de avaliação psicológica.

     

    Discussão do caso

    João apresentou dificuldades para desenhar e inventar estórias, o que indicou uma personalidade pouco criativa e rígida. Em todos os desenhos, relatou fatos concretos de sua vida, e em um desenho copiou o objeto que estava consigo na sala (celular). Assim, houve indícios de tratar-se de uma pessoa bastante autocrítica, que evita situações de improviso e de pouca estruturação. Com relação às estórias, conseguiu realizar narrações elaboradas, com enredo e estrutura condizentes com a sua condição intelectual (não havia nenhum indício de comprometimento cognitivo por parte dele). As dificuldades que surgiram foram de ordem afetiva, referentes ao contato com suas fantasias e seus pensamentos mais profundos, ou seja, o comprometimento se situava na ideação, o que se refletiu nas dificuldades de expressão que se constituíam como consequências e não causas da sua dor psíquica.

    João fez referência ao filho como motivação para desenhar e se desqualificou em relação a ele no que se referia à sua produção gráfica, demonstrando angústia diante da possibilidade de regressão e identificação com a criança. Nesse âmbito, ficaram evidentes mais uma vez uma atitude básica de autocrítica e um controle excessivo de suas emoções. Quanto à sua vida conjugal, houve a expressão de sentimentos ambivalentes em relação à esposa, ora de admiração, ora de desprezo, o que ficou explícito na entrevista quando João exprimiu raiva, ao referir-se a ela e à sua nova gravidez.

    O contato com João, mediado pela entrevista e pelo D-E, revelou seus psicodinamismos, inclusive os ganhos secundários que apresentava com a gagueira, evitando certos contatos e se calando. Com isso, ele não expressava seus pensamentos hostis e de crítica nas situações que vivia no trabalho, com sua família e no relacionamento conjugal. Além disso, a disfluência proporcionava o alcance de privilégios como a tolerância da família aos seus silêncios e falas agressivas, nos momentos em que ele necessitava se posicionar de maneira clara.

    O material colhido na entrevista e no D-E revelou conteúdos diretamente relacionados à condição de comunicação de João (aspectos manifestos de seu sofrimento) e ao mundo de interesses masculinos. Tais conteúdos vincularam-se à necessidade de afirmação de sua condição de bom pai, estudioso, trabalhador, mais bem situado em termos profissionais que os amigos e que o próprio pai, e de acolhedor para com sua mãe. Subjacente a essa temática, aparecia a repressão de pulsões agressivas e sexuais, ora evidenciadas nos conteúdos em que João disfluiu em sua fala, ora nos atos falhos que cometeu, bem como no uso que fazia da mentira.

    No que concerne à relação estabelecida entre João e a psicóloga, ficou patente na comunicação o sofrimento dele nos momentos de disfluência, mas também surgiu satisfação ao perceber que a profissional o compreendeu, sem que ele precisasse fazer tanto esforço. Quando foi sugerido tratamento psicoterápico posterior, João demonstrou interesse e ratificou o quanto seria importante um espaço como o que foi proporcionado por meio da avaliação psicológica realizada.

    Em suma, no presente caso a gagueira configurou-se como uma espécie de escudo protetor do mundo interno do paciente, conforme teoriza Saldanha (1986), com a função de reprimir o que vai ser expresso, de acobertá-lo, de não mostrar o desagradável, de mentir sobre ele. Assim, no caso de João, a mera verbalização de um conteúdo que parecesse agressivo acarretava nele intensa angústia, similar à que poderia vir à tona pela realização de um ato dessa natureza, denunciando a existência de alguns focos corrompidos da função simbólica. Assim, para ele a fala configurava uma exposição com status da ação; desse modo, o não falar tinha intuito de evitar o sofrimento. O intenso sentimento de culpa do paciente apresentou, portanto, um caráter mórbido, uma vez que já se manifestou em forma de sintomas patológicos, e, mesmo assim, a ansiedade permaneceu. Em termos estruturais, o diagnóstico do paciente foi definido como de caráter neurótico, subestrutura obsessiva compulsiva.

    Os dados do D-E corroboraram as informações obtidas na análise da entrevista sobre a dificuldade de João para iniciar relacionamentos pessoais espontâneos. As relações apareciam permeadas por insegurança e ansiedade, como encontrado nos relatos clínicos de pacientes com gagueira, descritos por Tassinari (2001).

    A atitude de autocrítica e controle excessivo também foi observada por Tassinari (2001) em seus pacientes, tendo sido explicada pela autora como relativa a uma vivência de descontrole que surgia após a primeira palavra gaguejada pelo indivíduo, ou seja, após ele deparar com seus limites e com a impossibilidade de controlar o pensamento do ouvinte. No presente estudo, observou-se também a sensação de prazer que João apresentava ao falar, mesmo tendo episódios de disfluência. Glauber (1968 apud KELLY, 2001) e Coriat (1978 apud FENICHEL, 1981) também apontaram para a busca de sensações prazerosas de pessoas disfluentes ao falarem, configurando assim uma busca por se expressar, ou seja, por existir; apesar disso, Glauber e Coriat também interpretaram tais movimentos psíquicos referindo-se a aspectos exibicionistas da personalidade dessas pessoas.

    Com referência às atitudes de desconfiança e ao medo de ser castigado, observados em João, os dados deste estudo revelaram tratar-se de projeção de conteúdos agressivos reprimidos e não reprimidos, também abordados por Winnicott (1982), Tommasi (1997), Fenichel (1981) e Cunha (2001). Segundo esses autores, tais conteúdos precisariam ser expressos, e, quando o paciente não o faz diretamente, como foi o caso de João, isso ocorre por receio de encontrar a mesma agressividade no ouvinte.

    No tocante aos sintomas exibidos, durante todas as verbalizações o paciente gaguejou, teve descontrole do ritmo de sua fala, pausas fora do contexto e prolongamentos em outras situações. A utilização que João fez de seu corpo, para expressão do sintoma, foi compatível com aquela que Tassinari (2001) denominou alienante, porém o autor argumentou também que esse tipo de utilização é constituinte, na medida em que possibilita ao paciente um contato com a realidade externa através do corpo.

     

    Conclusão

    A utilização do D-E com o participante deste estudo possibilitou um contato direto com o seu sofrimento, sem haver um conluio com a sua doença, a gagueira. Ao contrário, tal instrumento pareceu cooperar para o início de um trabalho de elaboração dos conteúdos mentais do paciente, particularmente a integração da agressividade no self, processo que se encontrava bloqueado por fixações. Nesse contexto, embora os procedimentos de avaliação da personalidade utilizados, por sua característica verbal, tenham inicialmente o seu uso desaconselhado para pacientes disfluentes, o presente estudo demonstrou as suas possibilidades e contribuições para pessoas nessas condições, com a vantagem de impedir os ganhos secundários que o "poupar" o paciente de verbalizar apresenta.

    Nessas condições, foi ainda verificado um "ganho terapêutico" de João: maior contato com os conflitos de sua personalidade, culminando em seu interesse por atendimento psicoterápico. A aplicação do D-E tornou evidente o conflito entre o desejo de falar e não falar, pois, passado o tempo de adaptação ao instrumento, João, mais confiante, começou a expressar conteúdos estruturantes relacionados ao seu adoecer, bem como os referentes às suas angústias relacionadas à perda da mãe e à não aceitação da gravidez da esposa.

    A fecundidade diagnóstica e terapêutica que a entrevista psicológica e o D-E apresentaram neste estudo, numa situação em que, a rigor, esses instrumentos seriam contraindicados por causa da qualidade manifesta do sofrimento do participante, conduz à conclusão de que o bom uso de um instrumento psicológico deve considerar não apenas as diretrizes e orientações específicas à sua aplicação, mas também as contribuições referentes aos processos mentais inconscientes, incluindo os ganhos secundários das psicopatologias. Assim, é necessária uma maior integração entre os conhecimentos produzidos nas áreas da avaliação psicológica e da psicologia clínica, diminuindo a distância e os descompassos entre ambas.

     

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    Endereço para correspondência
    Irma Helena Ferreira Benate Bomfim
    Rua Dárcio Fonseca Jr., 788
    Vila Guilherme – Franca – SP
    CEP 14401-035
    e-mail: irmabenate@mailbox.com.br

    Tramitação
    Recebido em abril de 2009
    Aceito em setembro de 2009

     

     

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