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Psicologia: teoria e prática

versión impresa ISSN 1516-3687

Psicol. teor. prat. vol.11 no.3 São Paulo  2009

 

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

 

Resenha sobre o livro Publicar em Psicologia: um enfoque para a revista científica,de Sabadini, Sampaio e Koller (Org.)

 

 

Paulo Sérgio Boggio

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Endereço para correspondência

 

 

Nas últimas décadas, tem ficado evidente que publicar trabalhos científicos é mais do que uma mera exigência de nossas agências reguladoras – trata-se de um compromisso fundamental daqueles que escolhem a Ciência como profissão. Publicar é levar ao debate nossos dados, ideias, conceitos. Publicar é nosso dever ético com aqueles que participam como voluntários de pesquisa. Publicar é nosso dever cível, é a maneira pela qual nós, pesquisadores, podemos contribuir com o desenvolvimento de nosso país. Publicar é apresentar resultados àqueles que, em última análise, financiam os projetos de pesquisas custeados via agências de fomento governamentais: a população.

Esta resenha é sobre o livro Publicar em Psicologia – um Enfoque para a Revista Científica. O livro de uma forma geral é generoso ao sintetizar e apresentar de maneira agradável diferentes facetas da publicação em psicologia (embora acredite que o livro atinja outras áreas além da psicologia). É coerente com a discussão apresentada no Capítulo 3 sobre Open source na medida em que está disponibilizado em página de internet para download gratuito. E, finalmente, é atual, inédito pela abordagem dada ao tema, consistindo em leitura obrigatória para todos os que já participam e que buscam participar da constante consolidação da Publicação Científica em Psicologia seja como autor, seja como editor de periódico.

O Capítulo 1 deixa evidente em seus primeiros parágrafos o que diferencia este livro dos tradicionais manuais de redação científica. “Escrever um texto científico é como con-tar uma história”. Essa lição inicial é fundamental para aqueles que querem escrever Ciência, mas não menos importante é saber como, por que e para onde escrever. Esses pontos também são discutidos no capítulo 1 e ao longo do livro.

A importância sobre saber como escrever nos remete a um ponto fundamental em Ciência: a possibilidade de replicação do estudo por pesquisadores de outros grupos. Dessa forma, um bom artigo científico deve ser, como escrevem os autores, “... claro, objetivo, preciso, comunicativo e estar em linguagem correta. Isso quer dizer que o texto científico deve ser... científico e não literário ou coloquial”. Com isso, o desenvolvimento científico avança, sofisticações metodológicas são implementadas, interpretação novas aos mesmos dados podem ser estabelecidas. Dados bem divulgados possibilitam o embate científico. Na história da Ciência, um dos grandes exemplos disso é a controvérsia entre Luigi Galvani e Alessandro Volta. Galvani apresentou em Commentarius sua hipótese sobre “energia elétrica animal”. Volta, seguindo os achados e a publicação de Galvani, levantou outra hipótese, a da energia gerada a partir dos metais, derivando na pilha voltaica.

Assim, publicar é expor seus dados e suas hipóteses à prova, sujeitá-los aos aprimora-mentos e às sofisticações. Desta forma, publicar é também um ato de desapego. É assumir que outros podem tirar melhores conclusões com os seus dados. Isso talvez não seja sim-ples do ponto de vista individual, mas, se pensarmos coletivamente, o altruísmo legítimo talvez seja uma das formas mais eficazes de avançar o conhecimento.

O Capítulo 2, Preparando um Periódico Científico, propõe-se a apresentar “orientações quanto à elaboração e padronização do periódico cientifico”. Entretanto, os autores fazem muito mais do que isso; apresentam informações históricas importantes. Contextualizam o cenário científico trazendo os anos de publicação dos primeiros periódicos internacionais (Journal dês Sçavan e Philosophical Transactions of the Royal Society, ambos de 1665), posteriormente, o ano de duas das publicações mais antigas em psicologia (American Journal of Psychology, 1887, e L’Année Psychologique, 1894) e, finalmente, as publicações em psicologia mais antigas no Brasil (Boletim de Psicologia e Arquivos Brasileiros de Psicologia, ambas de 1949). Essa rápida incursão histórica nos localiza na his-tória recente da Ciência, em particular, da psicologia e sua divulgação científica. Apenas como ilustração, a revista L’Année Psychologique foi criada por Beaunis e Binet. Em um artigo, no primeiro volume da revista, escrito por Delabarre, são apresentados à comu-nidade científica os laboratórios de psicologia da América. É de se imaginar o quanto esse artigo foi lido por aqueles que buscavam seus pares em uma época em que os laboratórios não estavam presentes em páginas de internet com acesso automático e aberto. Além disso, a psicologia vinha de períodos de grande transformação registrados nesses primeiros periódicos. Como coloca Beaunis na Introdução do Volume I “A l’instrospection purê sont venues s’ajouter l’observation et l’expérimentation et gràce à ces deux méthodes, la conception qu’on se faisait autrefois de la psychologie s’est profondément modifiée. A la science de l’âme se substitua peu à peu la science des phénomènes psychiques, conception nouvelle qui faisait de la psychologie une science naturelle et une branche de la biologie.”. Para os neurocientistas com origem na psicologia, é uma inspiração ler na introdução do primeiro volume de uma das primeiras revistas em psicologia a seguinte passagem: “Par ses recherches sur le fonctionnement du cerveau, les localisations cérébrales, les sensations, lês phénomènes d’ihibition, la vitesse de transmission dans le nerfs, etc., elle a ouvert à la psychologie des voies nouvelles”. É também para isso que serve a publicação científica: registrar a história de uma área e inspirar os que estão por continuar essa história.

Além da breve contextualização histórica, o capítulo 2 é preciso na descrição das características de um Periódico Científico. Aborda questões práticas e formais como norma-lização, periodicidade, regularidade, divulgação e distribuição, dimensões, tiragem e apresentação gráfica. Descreve o que é, para que serve e como obter o ISSN. Traz primo-rosamente detalhada a estrutura de um periódico científico – é praticamente um manual para os que buscam se aventurar na Editoração de novo Título. Com isso, trata-se de leitura importante não só para os que têm interesse em escrever artigos científicos, mas também para editores e, mais ainda, futuros editores.

O Capítulo 3, como escrito anteriormente, discute o Movimento de Acesso Aberto. O capítulo é atual e detalhado. Permite ao leitor uma visão global do tema, mas ao mesmo tempo oferece aos que se interessam por essa discussão informações sobre as declarações que sustentam esse movimento (Declaração de Budapeste, Declaração de Bethesda, Declaração de Berlim, Declaração de Salvador, Declaração de Florianópolis e Declaração de Cuba) e também sobre as ferramentas que permitem a operacionalização do Acesso Aberto e softwares para construção de repositórios. Por fim, descreve algumas iniciativas nesse movimento como, por exemplo, o SciELO.

O Capítulo 4 discute a estrutura editorial de um periódico científico. De forma mar-cante, o capítulo tem logo em seu início a descrição de três requisitos para a revista científica: i. “levar aos seus leitores-pesquisadores (e pesquisadoras) o conhecimento novo e relevante dentro de sua área temática”; ii. “fazê-lo a tempo e hora”; e iii. “perenizar-se, ou seja, existir para sempre”. Em seguida, traz de forma detalhada tópicos como retaguarda institucional, Comitê de Política Editorial e Garantia de Credibilidade Científica. Sobre este último, mas fundamental item, o autor o discute em função do Corpo Editorial Científico, do quadro de revisores ad hoc, da Editora e do editor e do próprio processo editorial e suas diferentes etapas. O quadro de distribuição das principais tarefas e decisões editoriais apresentado na página 97 oferece um exemplo interessante e concreto sobre funções e responsabilidade no processo editorial.

O Capítulo 5 traz informações sobre indexação e fator de impacto. Ler esse capítulo é importante, a meu ver, por duas razões principais: i. entender o que esses termos significam e ii. Entender a importância deles no cenário científico moderno. As críticas são comuns com relação a quantificações como fator de impacto, mas aqueles que acompanham o desenvolvimento de ferramentas de análise de produção científica conseguem identificar as falhas e virtudes das métricas. Problemas sempre existirão, assim como pesquisadores tentando solucioná-los. Áreas como a Bibliometria e Cienciometria vêm se desenvolvendo a passos largos. Em 1993, foi criada a Society for Scientometrics and Informetrics. No Brasil, esse movimento também existe e pode-se verificar que em 2008 foi realizado o 1o Encontro Brasileiro de Bibliometria e Cienciometria. Além disso, existem periódicos científicos destinados exclusivamente a essas temáticas como o Scientometrics e o Journal of the American Society for Information Science and Technology. Neste capítulo, quando os autores abordam o fator de impacto, eles lembram que esse não visa avaliar a qualidade da publicação ou dos autores; com isso, acredito que teria sido interessante se os autores estendessem esse debate apresentando outros índices como, por exemplo, o Hirsch índex (H-index) mais voltados a produção do pesquisador.

O Capítulo 6 apresenta orientações sobre a preparação e normalização do artigo científico. Assim como todos os capítulos do livro, esse é detalhado e preciso. São descritas as etapas e os procedimentos necessários desde a elaboração até a resposta final de aceite ou rejeição do manuscrito. Os autores oferecem aos leitores dicas simples, mas ao mesmo tempo primorosas sobre como, por exemplo, deve ser o título do trabalho e os cuidados a serem tomados na elaboração do resumo e na escolha das palavras-chave. Além disso, descrevem de maneira detalhada os tópicos Introdução, Método, Resultados e Discussão. Em seguida, discutem aspectos relacionados aos diversos tipos de artigos e também a escolha do periódico para submissão. O capítulo chega ao fim com a explicação sobre o Identificador de Documento Digital (DOI).

O Capítulo 7 é sobre Autoria, Coautoria e Colaboração. Tema polêmico se considerarmos o desenvolvimento do conhecimento em um cenário de grande interação e facilidade de acesso à informação. A troca rápida de conhecimento entre pares pode deixar ainda mais confusa à definição do que é autor, coautor e colaborador. Nesse contexto, os autores lançam sabiamente de início uma questão fundamental: “Quem realmente ganha com a publicação do conhecimento, quer seja em revistas, em livros, quer seja em outro tipo de documento?”. A essa pergunta, eles respondem: “A principal beneficiada é, sem dúvida, a humanidade. A publicação de resultados de pesquisas é um ato louvável e generoso que leva ao progresso da ciência”. O capítulo segue com importantes reflexões sobre a importância de publicar e como isso refletirá na vida do pesquisador.

Caminhado em direção ao final do livro, o Capítulo 9 discute normas para apresentação de dados estatísticos. Os autores, com base nas normas da APA, discutem formas de apresentar informações estatísticas ao longo do texto, em Tabelas e em Figuras. Também apresentam diferentes tipos de gráficos e a que tipo de informação eles se destinam. Por fim, apresentam formas de descrever informações oriundas de análises estatísticas paramétricas e não paramétricas. Vale ressaltar que, mais do que apresentação de normas, os autores apresentam de forma bastante objetiva uma explicação sobre os tipos de análise e seu uso – não se trata de uma manual de estatística, mas cumpre um papel fundamental ao fornecer informações precisas aos leitores.

Ficou para o último capítulo um ponto valioso aos pesquisadores brasileiros da Área da Psicologia: a avaliação dos periódicos científicos nacionais em Psicologia. Os autores, inicialmente, apresentam as modalidades e finalidades de avaliação de periódicos. Isso é fundamental uma vez que a finalidade de uma avaliação definirá a maneira pela qual os títulos serão avaliados. Como bem escrevem os autores, as finalidades são variadas indo desde a avaliação para financiamento até a qualificação para avaliação de um pesquisador ou instituição. Em função disso, os autores instrumentalizam os leitores com informações necessárias para reflexões sobre os critérios de avaliação. Discorrem brevemente sobre bases de dados como a ISI Web of Knowledge e as avaliações do JCR. Apresentam bases em psicologia como a PsycINFO e o Index Psi Periódicos. Em seguida, no quesito finalidade, abordam o tema Fomento. Tema complicado a um leitor iniciante, mas facilitado pelo breve histórico que os autores apresentam no início do tópico. Inclusão em Coleções e Avaliação de Pesquisadores e de Instituições são os temas seguintes. Por fim, os autores discutem o cenário atual de avaliação dos periódicos em psicologia, apresentam o papel dos processos de avaliação, em particular da Capes com a classificação Qualis, e terminam com reflexões sobre aspectos positivos e negativos do processo de avaliação de periódicos.

Finalizo essa resenha parabenizando os organizadores e os autores deste livro – não havia momento mais oportuno para a chegada dessa obra. Este livro deve ser leitura obrigatória em todo curso de psicologia que tenha como finalidade, entre outras, a preparação de futuros profissionais voltados a divulgação científica e construção de uma psicologia baseada em Evidência.

 

Referência

SABADINI, A. A. Z. P.; SAMPAIO, M. I. C.; KOLLER, S. H. (org.). Publicar em Psicologia: um enfoque para a revista científica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2009.         [ Links ]

 

 

Tramitação
Recebido em dezembro de 2009
Aceito em dezembro de 2009