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Psicologia: teoria e prática

Print version ISSN 1516-3687

Psicol. teor. prat. vol.13 no.2 São Paulo Aug. 2011

 

ARTIGO ORIGINAL

 

Perversão e contemporaneidade: um discurso equivocado?

 

Perversion and contemporaneity: a mistaken discourse?

 

Perversión y contemporaneidad : un discurso equivocado?

 

 

Gustavo Adolfo Ramos Mello Neto; Lara Stresser Schmitt

Universidade Estadual de Maringá, Maringá – PR – Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este trabalho teve como objetivo examinar a produção psicanalítica sobre a perversão nas últimas décadas, tendo como recorte as relações que os autores fazem entre perversão e contemporaneidade. Para a execução da pesquisa, tivemos como fonte artigos psicanalíticos indexados pela American Psychology Association (PsycInfo/APA), artigos de revistas psicanalíticas e capítulos de livros cujo tema é a perversão, mas no ponto em que esta faz uma interseção com a contemporaneidade. Para análise do material encontrado, categorias temáticas foram criadas: "perversão e patologias atuais", "laços sociais perversos" e "perversionalização ou obsessionalização?". Com esta pesquisa, percebemos que a perversão é um tema frequente no discurso atual da psicanálise; no entanto, muitas vezes esse vocábulo e seu derivado, "perverso", são empregados indiscriminadamente para denunciar tudo o que é imoral e mau na sociedade. Diante disso, corre-se o risco da banalização da perversão, fugindo esta do seu sentido psicanalítico.

Palavras-chave: psicanálise; cultura; perversão; sociedade; sexualidade.


ABSTRACT

The aim of this study was to examine the psychoanalytic production on perversion in the last decades, focusing on the relations the authors establish between perversion and contemporaneity. To carry out this research, we consulted psychoanalytic papers indexed by the American Psychology Association (PsycInfo/APA), papers of psychoanalytic journals, and chapters of books whose topic is perversion, but at its intersection with contemporaneity. To analyse the material found, thematic categories were created: "perversion and current pathologies", "perverse social bonds", and "perversionization or obsessionization?". Through this research, we realized that perversion is a very frequent topic in the current psychoanalysis discourse; however, often this term and its derivative, "perverse", are used indiscriminately to denounce everything that is immoral and evil in the society. This way, there is a risk of trivializing perversion, escaping from its original psychoanalytic sense.

Keywords: psychoanalysis; culture; perversion; society; sexuality.


RESUMEN

El objetivo deste estudio fue analizar la producción de la psicoanálisis sobre la perversión en las últimas décadas, centrandose en las relaciones que los autores hacen acerca de la perversión e de la contemporaneidad. Para la realización de esta investigación utilizamos artículos psicoanalíticos indexados en la Asociación Americana de Psicología (PsycInfo/APA), artículos de publicaciones psicoanalíticas y capítulos de libros cuyo tema es la perversión, y sobre todo sus intersecciones con la contemporaneidad. Para el análisis del material encontrado, creamos categorias temáticas: "perversión y patologías actuales", "lazos sociales perversos", y "perversionización o obsesionización?". Con esta investigación, comprendimos que la perversión es una temática frecuente en el discurso actual de la psicoanálisis; no obstante, muchas veces esa palabra y su derivado, "perverso", son utilizados para denunciar todo lo que es inmoral y mal en la sociedad. Teniendo en cuenta esto, se corre el riesgo de trivializar la perversión, huyendo de su sentido psicoanalítico.

Palabras clave: psicoanálisis; cultura; perversión; sociedad; sexualidad.


 

 

Introdução

Em 1905, Freud (1996) publica Três ensaios sobre a sexualidade e escreve sobre comportamentos sexuais considerados desviantes, pois não visariam à união genital entre dois indivíduos de sexo oposto: homossexualidade, zoofilia, pedofilia, necrofilia, fetichismo, o olhar, o tocar, o sadismo, o masoquismo e o exibicionismo. Trata-se, na época, de um vocábulo psiquiátrico que agrupa esses comportamentos sob o rótulo de perversões ou aberrações sexuais1. A novidade e genialidade é que, para Freud (1996), tais tendências perversas, espantosas aos olhos de seus contemporâneos, relacionam-se a desejos e fantasmas que estariam presentes no inconsciente de todos os homens e, surpreendentemente para a época, também no desejo das crianças.

Ora, hoje, passados mais de cem anos de psicanálise, não podemos nos impedir de perguntar como são concebidas essas ideias pelos próprios autores psicanalíticos do pós-Freud. É quase impossível deixar de perguntar se as práticas perversas de outrora ainda são consideradas desviantes hoje, no século XXI, ou, ainda, que sentidos têm para o psicanalista de nosso tempo. Seria a perversão, em psicanálise hoje, algo que se define tão simplesmente pela norma ou pelo seu desvio? A crítica antropológica da ideia de normalidade não pode ser deixada de lado nesse caso e essa é, pois, uma relação importante entre o discurso sobre a perversão e o discurso sobre a contemporaneidade.

Podemos falar numa certa construção social da perversão. Mas não é exatamente esse o recorte que nos interessa aqui. O que de fato é o nosso foco é certo discurso que, a pretexto dessa problemática antropológica, introduz uma espécie de ampliação da ideia de perversão. Trata-se, pois, de "diagnosticar" e explicar certas práticas sociais a partir do que se entende como dinâmica ou estrutura da perversão. Entre essas práticas, estão a supostamente exagerada busca de prazer a qualquer custo de nossa época e, sobretudo, de nossos jovens; a exploração midiática dos corpos e das partes dos corpos; o voyeurismo televisivo; o exibicionismo informatizado (webcam, blogs etc.); os realshows, repletos de elementos sádicos etc. (CECCARELLI, 2005, p. 49).

Desse modo, o que apresentamos aqui é uma revisão de artigos cujo desenvolvimento faz com que se "cruzem" os temas da perversão e do que os autores chamam de "contemporaneidade". Para sabê-lo, apenas convidamos o leitor a conhecer esse material.

 

Metodologia

Como fonte informativa do material, recorremos ao PsycInfo, principal base eletrônica da Associação Americana de Psicologia (APA), assim como à internet aberta e à base conhecida como Scielo. Dos 28 textos que pudemos encontrar e obter, a maioria é produzida aqui mesmo no Brasil. Ora, isso pareceria desinteressante, mas não é, pois podemos notar certa tendência, certo discurso sobre a perversão que vem se tornando popular entre psicanalistas brasileiros. Alguns desses artigos estão indexados no PsycInfo e outros não, mas cuidamos para escolher a partir de fontes conhecidas (revistas e, por vezes, livros e sites). Ora, determinado assim o nosso corpus de textos, a nossa pesquisa então se coloca como o exame dessa tendência, existente sobretudo no Brasil, de expandir o conceito de perversão para a vida social. No entanto, não deixamos de trazer outros textos, não brasileiros. Ao fazê-lo, podemos estabelecer contrastes, mostrar outras tendências.

Classificamos o material em temas. As categorias temáticas são: "perversão e patologias atuais", "laços sociais perversos" e "perversionalização ou obsessionalização?". Vejamos pois.

 

Discussão e resultados

Perversão e patologias atuais

Aqui a intenção é trazer apontamentos dos autores acerca da presença de traços ditos perversos em patologias como a toxicomania, a adição às compras e a anorexia.

Drogadição

Certa vez, Freud afirmou serem as adições um problema para sua teoria e, ao longo de sua obra, não chegou a apresentar uma elaboração a esse respeito2. Muitos autores até hoje mantêm esta posição: "a Psicanálise fracassa constantemente com a toxicomania" (ROSA, 2006, p. 111). No entanto, apesar desse discurso, existe uma considerável produção teórica nesse campo. Em grande parte, essa literatura associa drogadição e perversão.

Lemos (2004) afirma que o mundo hoje presencia uma mutação cultural, com o advento de novas formas de gozo. E, aí, o toxicômano é aquele que se inscreve num mais-gozar absoluto.

O toxicômano é um sujeito que recusa o gozo fálico. Ele é um sujeito que não se submete ao gozo universalizado da civilização. O gozo fálico é o que se sustenta nas relações de poder, de competição social e nas relações de trabalho que envolvem dinheiro, produção e poder. O toxicômano é aquele que se recusa a participar dessas relações, colocando-se à margem delas (LEMOS, 2004, p. 54).

Um argumento que aproxima os conceitos de adição e perversão é o fato, de muitas vezes, a droga funcionar como um objeto fetiche, no sentido em que ele é utilizado para livrar o sujeito da angústia de castração, predominante no perverso: "Os toxicômanos trabalham na sua busca pelas drogas como o perverso na sustentação da recusa à castração, seja por meio de um fetiche ou de alguma outra manobra que lhe permita evitar a angústia" (BERENDONK; RUDGE, 2002, p. 140).

Em ambos os casos, os atos são tidos como muito satisfatórios para o sujeito, que consegue momentaneamente recusar o sofrimento.

Lemos (2004, p. 53), afirma, ainda, que "o toxicômano é aquele que não quer saber, que não se submete a nenhum interdito, que se inscreve em um mais-gozar absoluto". O adicto, desse ponto de vista, é um não castrado, e castração é perda, falta, limite à onipotência do desejo, o que, definitivamente, não se encontra nem no adicto nem no perverso. Outro argumento, ainda, que faz aproximar esses dois quadros é que o gozo, no sentido de prazer, tanto de consumir a droga quanto a satisfação sexual do perverso, apresenta-se como um incessante trabalho que pode passar pela mentira, pelo furto, pela desconsideração das normas sociais e pelo rompimento com o Outro da linguagem e da lei, estando sempre em desafio (BERENDONK; RUDGE, 2002).

Tem-se, no pensar de alguns autores, a droga como fetiche; o fetichista, assim como o adicto, encontra-se fixado em um objeto. Além da fixação, existe um deslocamento, sendo o objeto-fetiche originário de outro objeto da história do indivíduo (GURFINKEL, 2007). Como compreender o poder de tais objetos em certos sujeitos? Gurfinkel (2007, p. 18), autor também brasileiro, chama-os de objetos-totens e fala de seu poder: "o pó, a erva, o álcool, a comida ou o jogo transformam-se em coisas vivas, em seres alienígenas que invadem e dominam corpos". Com tais poderes, não é de se espantar que os indivíduos sob seu domínio desconsiderem as normas sociais na busca de seu gozo.

Vejamos que essa é, pois, uma aproximação engenhosa e calcada no fato de que a droga é um objeto "amado", digamos, e um objeto não humano, daí a possibilidade de substituí-lo, no discurso (metaforizá-lo), pelo objeto do fetichista. Entretanto, é de se perguntar se, nessa substituição, o substituído e o substituto se recobrem inteiramente ou se algo de um ou de outro fica sobrando nessa superposição. É de se perguntar também, em termos freudianos, se a recusa a castração do fetichista, de que falava Freud, é a mesma que se está a supor no drogadito. Aliás, a ideia de metaforizar a perversão na drogadição é bem interessante, contudo a nós que não somos lacanianos surge uma pergunta clínica: "Se a drogadição em geral tem a estrutura de uma perversão, por que nem sempre atinge a genitalidade do sujeito?". Na nossa experiência, sempre vimos que, seja no que Freud (1996a) chamou de perversão negativa, a neurose, seja na perversão propriamente dita, as relações sexuais são afetadas de algum modo. Por exemplo, há frigidez de vários graus nas histerias, há por vezes atuações homossexuais, donjuanismo sexual em histéricos masculinos, dificuldades sexuais de diversas naturezas nos obsessivos etc. Quanto à perversão propriamente dita, não é necessário dar exemplos. Não temos observado os drogaditos de forma tão nítida. É compreensível.

Um problema dessas metaforizações de categorias clínicas é que se vai metaforizando ad infinitum, e até que o que se fala de uma dessas categorias já não é o que corresponde a ela. Aí se está, pois, em pleno reino da retórica ou, até mesmo, da ideologia, no sentido de falsificação da verdade.

Há, contudo, nesses mesmos discursos uma certa relativização e, mesmo, uma crítica interna. Berendonk e Rudge (2002) afirmam que muitos analistas se apressam a diagnosticar um adicto como perverso, por causa da dificuldade de suportar o tempo necessário para a compreensão do caso, e com isso concordamos. Piera Aulagnier (1967) parece, pois, dar uma solução. Ela frisa que, quando fala de perversão em seus escritos, refere-se ao domínio do sexual e, quando fala de "estrutura perversa", engloba outras entidades nosológicas: toxicomania, anorexia e bulimia. Desse modo, para a autora, para caracterizar um perverso, é preciso o conhecimento de sua sexualidade, de suas práticas sexuais, enquanto uma estrutura perversa abarca outros fenômenos, como hábitos e vícios com traços considerados perversos. Para ela, então, existem muitos fenômenos ditos perversos, mas que não se inscrevem numa estrutura perversa, podendo ser os toxicômanos psicóticos ou neuróticos também. Além da toxicomania, transtornos alimentares também estão sujeitos a essas aproximações.

É sem dúvida uma solução inteligente e ponderada. O que nos parece mais interessante não é a expressão "estrutura perversa", que pode também ser bem problemática, mas a afirmação da perversão como algo que se atribui ao sexual, ao pé da letra. A expressão "estrutura perversa", justamente por compor-se de "perversa", acaba, pois, trazendo o mesmo problema: se se trata de "perversa", por que não se refere, também, ao sexual, no sentido mais óbvio que essa palavra tem? Isso mesmo serviria para a relação entre, por exemplo, "histeria" e "estrutura histérica"; no entanto, sabe-se que entre essas duas entidades há uma proximidade muito grande, uma relação que se pode dizer orgânica e, por sinal, conhecida desde o século XIX, por meio de, por exemplo, Madame Bovary, enquanto "estrutura histérica" é, a nosso ver, uma substituição bem mais questionável3.

Finalmente, o discurso de Aulagnier (1967), de algum modo, nos aponta para a fonte daquele produzido pelos outros autores brasileiros; sobretudo pela época de produção do texto da autora. Passemos, enfim, a outro tema.

Patologias da oralidade

Fernandes (2006) considera que a cultura atual fetichiza o corpo, preocupando-se sobretudo com sua forma e aparência, isso de maneira que é a perversão que poderia dar o melhor modelo de compreensão, sobretudo porque nos leva para além do recalcamento e da representação. A recusa ao envelhecimento e à morte sustenta essa lógica perversa do culto ao corpo e à imagem: do mesmo modo que o perverso recusa-se à castração. Na anoréxica, especificamente, que também é uma figura bem atual, essa recusa dá-se na forma de recusa do alimento, o que mostra algo a mais do que os típicos mecanismos neuróticos.

A razão de ser de uma anoréxica é o triunfo onipotente sobre o objeto, diz-nos Kelner (2004), sobre a comida, que é recusada. Também o perverso deseja dominar o seu objeto de gozo, como dizem Pires et al. (2004).

Na anorexia ainda, bem como na perversão, o sujeito geralmente procura análise quando ocorre um colapso psíquico, "produzido por uma falha no mecanismo da recusa – suas atuações já não conseguem controlar a angústia – o que o leva a ter que enfrentar aquilo que, sucessivamente, têm estado negando: a castração" (CECCARELLI, 2005, p. 47).

Como Kelner (2004) nos mostra, a recusa à comida da anoréxica é uma solução para o conflito com sua imagem corporal, o que torna dificílima qualquer abordagem terapêutica, bem como com os perversos.

Aqui, pois, também vale a crítica feita à metaforização "excessiva". Mas, além da metáfora, há algumas metonímias a considerar. Trata-se da passagem da recusa da comida para a recusa perversa, recusa à castração. Ora, as duas coisas são diferentes, uma delas, inclusive, a perversa, é uma recusa interpretada, portanto produzida a partir de um trabalho teórico, enquanto a da anoréxica é recusa ao pé da letra. Do mesmo modo o triunfo sobre o objeto recusado. A esse triunfo, Kelner (2004) associa a ideia de dominação sobre o objeto e, daí, conclui pela perversão. É apenas uma associação, uma relação de contiguidade, uma metonímia. Mesmo assim, é uma associação interessante, no entanto o constringente impulso de dominação não é exclusivo da anorexia nem da perversão; na neurose obsessiva, ele é algo de uma onipotência gritante, e Abraham (1975) já chamava a atenção para isso, ligando-o ao que denominou caráter anal.

Outro autor que se dedica às relações entre anorexia e perversão é Russell (1992). Para ele, os transtornos alimentares atuais representam algo como um estatuto perverso das expectativas sociais, uma espécie de rebeldia contra o que lhe é imposto socialmente, isto é, ter o corpo "perfeito". As perversões, diz, "representam um misto de fascinação, raiva e repugnância em relação à expectativa de um gênero sexual" (RUSSELL, 1992, p. 99). Na obesidade, o autor propõe que, na tentativa de ser desejada, a mulher acaba sendo não desejada sexualmente, por causa de seu corpo, digamos, excessivo. Aí se cria um conflito em relação ao que "gostariam que eu fosse" e o que "eu realmente sou". Esse conflito é expresso por adição às compras, limpeza obsessiva da casa, exibicionismo, cleptomania e desordens alimentares (RUSSELL, 1992).

Não cremos, pois, que para essa argumentação valha a crítica já feita ao excesso metaforizante ou às associações metonímicas. Isso porque há um apontamento de natureza empírica que tem que ser considerado e que diz respeito ao exibicionismo e à cleptomania e à própria modificação do corpo do sujeito, que, de algum modo, interfere em sua vida sexual genital. Vejamos também que Russell (1992) não nos diz que a anoréxica ou a bulímica recusa-se ao gozo fálico e rejeita em bloco a castração.

Aliás, acerca de compras e impulsos semelhantes, Richards (1996) discute esse aspectos a partir de uma relação entre o universo feminino, sobretudo a moda e a perversão (paraphilia). Diz ele acerca da moda:

Se um par de botas pretas é usado para o prazer sensual ou para atrair um outro, isto é parte da sexualidade normal. Se usar as botas é mais importante do que a outra pessoa, isso é parafilia. Se eles são usados para machucar ou anular os outros, especialmente para negar sua humanidade, isso é perversão (RICHARDS, 1996, p. 347).

Quanto ao consumismo, não se trata de uma questão recente; o prazer da mulher nas compras existe há muito tempo, e a preocupação com isso vem desde a época de Freud, que afirmou que as roupas são supervalorizadas porque cobrem (reprimem) o corpo nu da mulher, a qual desejava exibi-lo. Enfim, passemos a outra categoria.

Laços sociais perversos

Casamentos funcionando como uma espécie de contrato perverso, massa de trabalhadores unidos pelo mesmo ideal, entrada no universo do crime organizado, práticas sexuais ditas perversas, tudo isso caracteriza o que a psicanálise vem denominando de "laço social perverso", "montagem perversa" ou ainda "formação perversa". Vejamos na sequência.

Calligaris (1986 apud PIRES et al., 2004) afirma, pois, que a estrutura perversa é muito rara na clínica, o que mais se vê são neuróticos unidos no mesmo fantasma. Assim, quando nos deparamos com situações que, numa primeira impressão, caracterizariam uma relação de perversos, devemos, diz o autor, atentar para o fato de que se trata de neuróticos unidos no mesmo objetivo. Para Pires et al. (2004), nessas formações, o neurótico perde sua singularidade para perseguir o gozo do Outro.

Peixoto Jr. (1999 apud BETTS, 2004) afirma que o neurótico acredita não poder realizar seus desejos por serem proibidos e aí goza com formações sintomáticas substitutivas; não se dá conta de que a proibição é condição de desejar e, atuando em montagens, não está sozinho com seu fantasma. Nas montagens, ele se alivia porque: "o gozo que se obtêm é o de ser instrumento do saber, que assegura um domínio do gozo do Outro, e isso gera uma grande recompensa" (GONZAGA JR., 2008, p. 105). Ou seja, a satisfação do neurótico é a submissão a um outro, para não ficar sozinho. Essa talvez seja uma das razões que explicam o ingresso no universo do crime, a esperança malograda de evitar a solidão, segundo Peixoto Jr. (1998). Além do crime, essa montagem é vista no excesso de trabalho a que certos trabalhadores se submetem e também na relação de diversos casais contemporâneos. Vejamos.

Casais perversos

Vejamos que o que segue é uma psicanálise atravessada por um tom de denúncia.

Dos Reis Filho et al. (2005) questionam a incidência de fenômenos ditos perversos nas relações amorosas, tentando diferenciar quando eles se dão a partir de uma organização perversa ou quando são apenas jogos eróticos entre os casais. Para os autores, o que dois adultos fazem com consentimento mútuo não pode ser qualificado de perversão. Essa ideia do consentimento parece ser bem plausível, mas aparece sem explicação. Por que uma relação a dois, absolutamente consentida, não pode transformar um em outro em puro objeto parcial? Suponha-se uma relação sexual em que um casal tenha como momento principal consentidamente e com prazer mútuo o defecar de um na boca de outro, seguido de masturbação. Há aí dois ingredientes perversos: 1. a transformação dos parceiros em uma relação do sujeito com o objeto anal (objeto fecal) e 2. uma violação, digamos, daquilo que Freud chamou de "diques" para as pulsões, na medida em que os diques contra a coprofagia e coprofilia são primários (a repugnância) em muitas culturas, sobretudo na nossa.

Essa ideia de tomar a perversão, no plano interpessoal, como apenas aquilo que não é consentido e, portanto, é violência tem sentido em muitos casos, no entanto cremos poder afirmar que se trata de certo moralismo, em que perversão toma o sentido de perversidade. É desse modo que Ceccarelli (2000) afirma que, em geral, muita gente se revolta contra cenas de sexo na TV, mas aceita tranquilamente cenas de violência e barbaridade. Essa seria uma forma de circusncrever a perversão no sexual. É uma fala contra o preconceito, mas não deixa de ser uma preleção moral.

Discordamos, pois, dessa ideia de combater a circunscrição no sexual. A violência é extremamente sexual, no sentido do polimórfico perverso, e Freud não deixou de falar disso. É muito difícil pensar que, quando predomina esse sexual, a genitalidade não seja afetada, como já dissemos. A teoria da sedução generalizada de Jean Laplanche (1999) tem justamente esta proposta: esse é o verdadeiro sexual, o polimórfico, enquanto o genital e o complexo de Édipo são elaborações mais tardias e estão do lado do recalcamento. É esse sexual que compõe o inconsciente e que se espraia em todas as nossas relações. Desse modo, em tudo há algo de perverso. Isso é genérico demais, mas, a partir disso, concordamos com os autores que a violência e a imposição de uma fantasia levam-nos ao reino da perversão. Dos Reis Filho et al. (2005) dão como exemplos a imposição sexual a crianças, animais, deficientes mentais, mas essas já são coisas conhecidas há muito como perversão e foram explicadas de outras maneiras. Pensemos, então, no exemplo no coprófilo que paga prostitutas especializadas para praticar a coprofagia. Onde está a violência? Talvez haja aí fantasias de imposição e agressão, mas não há agressão nem imposição de fato.

Quando Freud nos diz que a perversão está em negativo nas neuroses, isso significa que ela está lá e se apresenta de alguma maneira como perversão. Mahler, o grande compositor austríaco, e sua esposa, muitos anos mais nova que ele, tinham uma relação profundamente cruel, em que ele era traído, mas não podia fazer algo a esse respeito e foi então que procurou Freud. Este último, ao entrevistá-lo, não titubeou em ver neurose em tudo aquilo segundo a própria Alma Mahler (MAHLER, 1988).

As relações de trabalho

Para Peixoto Jr. (1998), todas as modalidades de poder podem implicar maneiras sutis e ostensivas de economia perversa. Não apenas o tirano é perverso, diz ainda; mesmo as formas de poder mais flexíveis podem funcionar segundo uma economia desejante perversa. Perversão aí

[...] implica basicamente na existência de certos laços sociais, fundados num fantasma inconsciente, que fundamentam montagens sociais específicas cujo objetivo fundamental é a degradação, a humilhação, ou a destruição do outro (PEIXOTO JR., 1998, p. 103).

Vale dizer que esta não é uma definição rigorosa de perversão, mas é a que o autor nos traz, no que se refere ao que ele chama de perversão social. A título de comentário, digamos nós que a degradação insistente, a humilhação e a destruição do outro tem a ver com o objeto parcial. Laplanche (1999) chama atenção para o fato de que o que ocorreu nos campos de concentração nazistas não deixou de ser manifestação da sexualidade polimórfica.

Roudinesco (2008) examina os acontecimentos de Auschwitz e afirma que o que choca nos depoimentos é que a pavorosa normalidade de que os torturadores dão prova é efetivamente o sintoma não de uma perversão no sentido clínico do termo – e essa ressalva é algo que consideramos importante –, mas de uma adesão a um sistema perverso que sintetiza o conjunto de todas as perversões possíveis. Aqui a montagem é vista na obediência irrestrita às normas e leis, que muitas vezes são um contrassenso e ferem os direitos humanos; na Alemanha hitlerista, alguns responsáveis pela morte de milhões de judeus não se viam na condição de culpados, pois, para eles, o que fizeram foi cumprir o seu dever para com o Estado, isto é, para com a montagem perversa.

Para Gonzaga Jr. (2008), as práticas de gestão de pessoas atualmente criam um laço baseado no saber, no controle sobre o gozo, na tentativa de negar a castração e a diferença, o que também é característico da perversão. Essas práticas são associadas a um saber, um elemento soberano, mais forte e fundamental que o próprio indivíduo que utiliza esse saber. Enriquez (1990 apud GONZAGA JR., 2008, p. 301) aponta a posição perversa nesse tipo de relação com o saber: "O perverso só se interessa pelos planos, pelas cifras, pelo número de pessoas destruídas ou seduzidas. Sob tais condições, os seres humanos são intercambiáveis, são apenas instrumentos, ou devem vir a sê-lo".

Para Gonzaga Jr. (2008, p. 105), assim como nas relações amorosas perversas sempre há o dominante e o dominado, nas relações de trabalho isso também acontece, é a montagem perversa: "a questão da perversão surge a partir de um ‘acordo' estabelecido, uma intrincada e sutil rede de valores e relações que permeiam a organização e, de forma mais ampla, toda a sociedade".

Pode-se, contudo, dizer rapidamente que esse tipo de análise traz o problema da definição da perversão, que já vimos antes. Esta vai se distanciando cada vez mais das definições clássicas, o que não é problemático em si, mas pode chegar a um ponto em que tudo e qualquer coisa que se queira denunciar cabe no conceito de perversão. A tendência aí é a de um discurso moralizante, agora podemos afirmar de modo mais enfático, mesmo que atual e politicamente correto. É isso que Laplanche (1992) já apontava em certas obras de Marcuse. Haveria um excesso moral, mesmo que muito bem fundamentado, que sacrificaria a psicanálise. A nosso ver, a psicanálise com Breuer e Freud só surge, de fato, quando o analista pode abster-se de posicionar-se moralmente. É só dessa maneira que ele pode convidar o paciente para ser um pesquisador neutro de si mesmo. Ora, é a falta de neutralidade, provocadora de angústia, que está mantendo o recalcamento. Uma psicanálise que tenha muito o que dizer sobre como são ou como devem ser as relações sociais arrisca-se a não dar lugar para o sujeito tal como ele é. O que hoje autores lacanianos e pós-lacanianos chamam de ética da psicanálise necessita ser urgentemente problematizado...

Perversionalização ou obsessionalização?

Nesta categoria temática, pretende-se falar um pouco sobre um chavão muito encontrado hoje em dia, tanto no senso comum quanto em textos com embasamento psicológico e até psicanalítico: o de que a sociedade inteira é regida hoje por uma ordem perversa. Mas, afinal, o que sustenta essa ideia já tão batida na atualidade? Para além dos textos sobre ordem perversa, foram encontrados diversos artigos que encaram essa temática de outra forma: dizem que a sociedade hoje é uma sociedade histérica, da ordem da neurose; outros ainda afirmam que se trata de uma sociedade "esquizofrenizante", psicótica.

Essa preocupação psicanalítica com a cultura e suas mazelas, como se sabe bem, não é nova. Em 1929, quando Freud publica O mal-estar na civilização, tinha a esperança de que um dia a psicanálise pudesse ter alguma serventia nesse domínio, e, para ele, o traço característico de uma cultura é o modo como são reguladas as relações dos homens entre si e os discursos que permeiam as relações sociais.

Betts (2004) se questiona sobre quais são os discursos que determinam a sociedade de consumo existente hoje e qual é o gozo implicado nessas relações de consumo. Para ele, subverte-se a equação shakespeariana "ser ou não ser", transformando a questão essencial vital em "ter ou não ser". Ceccarelli (2005), ao discorrer também sobre o consumismo, aponta que o slogan, segundo o qual consumindo, possuindo, você "chega lá", marcando assim sua diferença e impondo sua marca individual, revela um aspecto perverso do sistema, pois ele acena para a possibilidade de realização do Desejo e, consequentemente, da eliminação da falta, ou seja, da volta ao paraíso perdido do narcisismo primário, o que pode levar a um empobrecimento da subjetividade do homem moderno. Notemos, pois, que é sempre o repetitivo discurso da eliminação da falta, sem que haja mediações entre a suposta perversão e outras estruturas. E, mais interessante, o uso de letras maiúsculas inclusive nos pronomes, o que leva diretamente a uma ideia de Deus, portanto trata-se de uma ideia mítica.

Há autores, contudo, como Kehl (2005), que consideram que, nas sociedades modernas, em razão do excessivo narcisismo e da frustração consequente a ele, há um sofrimento neurótico coletivo cada vez maior. Ribeiro (2004) fala em cultura da ansiedade.

Mas, afinal, se é para traçar um paralelo entre sociedade e patologia, o que rege hoje as relações: a perversão ou a neurose? A resposta que parece mais adequada está, a nosso ver, na noção de montagem perversa: o sistema é perverso, mas os sujeitos são neuróticos. De acordo com Poli (2004), neurose e perversão estão sempre lado a lado, e pode-se afirmar que a permanência do elemento "perverso" da cultura é o que torna possível a manutenção do enlace social visto hoje, ao passo que a neurose só tenderia à desagregação.

Na sociedade do excesso, os sujeitos entorpecidos pelos seus sentimentos pobres de palavras recorrem frequentemente à medicação como barreira de contenção ao seu mal-estar (Castro, 2009), e, de acordo com Ribeiro (2004), nessa cultura, que ele chama de cultura da ansiedade, as pessoas se drogam para obter um efeito estimulante, capaz de ajudá-las a produzir uma melhor integração social, o que nos remete à primeira categoria do presente trabalho: a toxicomania remete a uma estrutura perversa ou neurótica?

 

Considerações finais

Antes de tudo, vê-se que a perversão é um tema muito presente no discurso atual, tanto dentro quanto fora da psicanálise. Por meio do levantamento bibliográfico, foi possível notar que a produção de textos relacionados à perversão, em psicanálise, aumentou significativamente nas últimas décadas, assim como aumentou também o uso do vocábulo "perversão" e seu derivado "perverso" como chavões utilizados indiscriminadamente, para denunciar tudo aquilo que é imoral, mau, criminoso na sociedade. Um exemplo disso está no fato de que, quando se digita no Google a palavra "perversão", obtém-se um resultado de 415 mil resultados, enquanto, ao se digitar "neurose obsessiva", o resultado é de apenas 29.700. Essa diferença também se repete na pesquisa feita no PsycInfo, banco de dados da APA, em que se obtém um total de 648 resumos de artigos no campo da perversão e 143 no da neurose obsessiva. Isso indica que a produção relacionada à perversão é significativa, mas também se observa que, em diversas ocasiões, o sentido da perversão foge àquele postulado pela psicanálise e se refere a questões cotidianas que nem sempre têm o mesmo sentido que para os psicanalistas. Com esse uso indiscriminado da palavra, como foi dito, corre-se o risco da banalização da perversão, tudo é perverso: o sistema, a sociedade, o homem, as relações, as famílias etc.

Em sua maioria, são textos que empregam linguagem lacaniana – o que não é um problema, pois a escolha é e deve ser livre, mas quase todos eles dirigem-se rapidamente e sem mediações para ideias tais como "não castração", "gozo total" e, no melhor dos casos, "negação da castração." Essas fórmulas parecem servir para moldar o fenômeno estudado (drogadição, relações de casais etc.) de uma maneira que o próprio fenômeno não é explorado em suas particularidades.

Além disso, a pesquisa mostrou que, em psicanálise, a perversão não é algo que se manifesta apenas nos "doentes", mas é integrante do psiquismo e do cotidiano dos chamados normais. Os mecanismos que "fabricam" uma perversão podem ser vistos em talvez todas as atividades. Laplanche (1999) chama a atenção para o que há de humano "demasiado humano", como diria Nietzsche, em algo como o fenômeno do assim chamado holocausto judaico. Esse é um caso extremo, mas esse humano da sexualidade parcial e polimórfica está em tudo. Aliás, a teoria da sedução generaliza, com a ideia de situação antropológica fundamental, propõe o surgimento do humano a partir de um encontro desigual entre adulto e a criança. O adulto, "dotado" de um inconsciente, dirige à criança mensagens sexuais que são enigmáticas para ele mesmo. O infante tenta decifrá-las, mas não consegue mais que parcialmente; o que sobra não traduzido vai formar o inconsciente, e o movimento de tradução que aí vai se instaurar seria o que chamamos de pulsão, que é pulsão de tradução. A mensagem sexual do outro (o adulto) é sobretudo de natureza perverso-polimórfica e persiste em nós para sempre. Isso quer dizer que, se procurarmos, encontraremos uma faceta perversa em tudo. Mas daí a usar rótulos muito conhecidos da clínica, "espremendo" neles outros fenômenos clínicos (a drogadição) muito menos conhecidos e difíceis de entender e fenômenos sociais diversos (casais, trabalho, massas), já é um passo que não queremos dar. Muitas atuações neuróticas têm a cara da perversão, mas perversão, para nós, é aquela que Freud (1996) expôs em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade.

Para finalizar, chamamos a atenção para a paixão, política ou moral, com que vários autores tomam da pena e constroem o seu trabalho. Não vemos como isso possa ser incorreto por si só. No entanto, ao lermos esses trabalhos, sobretudo os produzidos no Brasil, ficamos pensando que não é de forma alguma inútil ler e reler o que disse Freud (1990): que a psicanálise não deveria se submeter a qualquer coisa que fugisse a uma neutra visão científica. Talvez o que falte em vários dos artigos que acompanhamos seja profundidade epistemológica...

 

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Endereço para correspondência
Contato
Lara Stresser Schmitt
e-mail: larastresser@hotmail.com

Tramitação
Recebido em novembro de 2010
Aceito em março de 2011

 

 

Notas

1 O termo perversão não é privilégio da psicanálise. Tem origem em 1444, quando utilizado no sentido de retornar ou reverter, ganhando a acepção de "deplorável", algo desprezível. No século XIX, a sexologia passou a usar o vocábulo para designar algum desvio sexual (PIRES et al., 2004).
2 Além disso, segundo Berendonk e Rudge (2002), Freud chegou a recusar esse tipo de demanda em análise, justamente por ser o vício um problema difícil teoricamente.
3 Como se sabe, Madame Bovary era uma mulher muito sonhadora e profundamente insatisfeita. Francisque de Sarce (apud SHOWALTER, 1998, p. 82) escreve: "Encontramos a histeria em toda parte hoje em dia. Os deliciosos problemas de uma jovem que produz apenas vagos desejos ou chora sem saber por que: histeria. Os langores de uma mulher de 30 anos que está entediada, que devaneia. Os tumultuosos anseios de uma mulher de 40 que se lança no futuro olhando para trás: histeria. Nossos médicos estão povoando o mundo com histéricas".

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