SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.14 issue1Institutional Discourse OF Analysis of teachers of students diagnosed as autist in schoolar inclusionGames and moral judgement: a study of adolescents with high school author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Psicologia: teoria e prática

Print version ISSN 1516-3687

Psicol. teor. prat. vol.14 no.1 São Paulo Apr. 2012

 

ARTIGO ORIGINAL

 

Ninho cheio: perspectivas de pais e filhos

 

Full nest: perspectives of parents and children

 

Nido lleno: perspectivas de padres e hijos

 

 

Ana Caroline Sari Vieira; Paula Grazziotin Silveira Rava

Faculdade de Ciências Contábeis e Administrativas de Taquara – RS – Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este artigo busca conhecer e compreender os aspectos psicológicos e psicossociais envolvidos no processo de permanência do adulto jovem na casa parental, incluindo a perspectiva dos pais sobre esse fenômeno. Participaram deste estudo duas famílias com filhos com idade entre 20 e 34 anos. Utilizou-se como instrumento da pesquisa uma entrevista semiestruturada. O método empregado foi o estudo de casos coletivos e fez-se uma análise de conteúdo das informações. Observou-se que, em ambas as famílias, as perspectivas de pais e filhos são divergentes quantos aos aspectos da convivência familiar prolongada, mas as famílias apontaram como motivo comum, influenciador para a ocorrência desse fenômeno, os aspectos relacionados às regalias e aos confortos que o lar parental propicia aos jovens. Tarefas familiares não cumpridas ao longo do ciclo evolutivo vital que se arrasta acabam dificultando o desenvolvimento desse adulto jovem e a sua consequente emancipação física e emocional em relação à família.

Palavras-chave: adulto jovem; parentalidade; ciclo vital; família; desenvolvimento humano.


ABSTRACT

The present article was aimed to analyze the psychological and psychosocial aspects involved in the young adult's process of remaining at their parents' home. Two families with young adults were interviewed, aged 20 and 34 years old. Semi-structured interview was used to collect information. The method used was Collective Case Study. Data analysis have been made according to the content analysis method. Results show that in this families young adults and their parents have different opinions of this life together in the same home. Besides, their agree that the main reason in the young adult's process of remaining at their parents' home is the wish of continuing enjoying their parents' home comfort and safety. the familiar tasks not completed during the life cycle of life that drag on end up hindering the development of young adults and their resultingphysical and emotional emancipation in relation to the family.

Keywords: young adult; parenthood; life cycle; family; human development.


RESUMEN

Este trabajo busca conocer y comprender los aspectos psicológicos y psicosociales implicados en la permanencia de los jóvenes adultos en la casa de los padres, incluyendo la perspectiva de los padres sobre este fenómeno. El estudio incluyó a dos familias con niños de edades comprendidas entre 20 y 34 años. Fue utilizado como un instrumento de una encuesta de entrevista semi-estructurada. El método utilizado fue el estudio de caso colectivo y no había un análisis del contenido de la información. Se observó que tanto en la perspectiva de la familia de los padres y los niños son diferentes a aquellos aspectos de la vida familiar prolongado, pero las familias señaló qué tan común es la razón, para influir en este fenómeno, los aspectos relacionados con los beneficios y comodidades que en casa los padres proporciona a los jóvenes. Las tareas familiares no se hayan concluido durante el ciclo de vida de la vida que se prolongan terminan obstaculizando el desarrollo de los adultos jóvenes y su emancipación resultante físico y emocional en relación con la familia.

Palabras clave: adultos jóvenes; crianza de los hijos; ciclo de vida; familia; desarrollo humano.


 

 

Introdução

As mudanças no ciclo de vida familiar estão cada vez mais aparentes, pois a convivência entre pais e filhos está se perpetuando e o lar parental já não está mais ficando tão vazio como ocorria até os anos 1980. Em outros tempos, os jovens, aos 20 anos, já tinham autonomia e independência em muitas áreas da vida e almejavam a liberdade, mas esse desejo só era realizado quando saíam da casa parental (NASCIMENTO, 2006; OLIVEIRA, 2007). Atualmente, os filhos adultos frequentemente permanecem em casa e a convivência familiar parental está se prolongando. Esse fenômeno tem sido comumente chamado de ninho cheio (com relação ao antagônico ninho vazio), terminologia utilizada por Carter e McGoldrick (1995) e Silveira e Wagner (2006).

Portanto, os objetivos deste artigo são identificar quais são os projetos vitais e ocupacionais de adultos jovens que moram com seus pais, entender os aspectos que facilitam ou dificultam a convivência no lar parental na perspectiva dos pais e filhos, e, para, possivelmente, compreender o fenômeno, conhecer a percepção dos pais com relação a esse comportamento.

Considera-se importante para a compreensão do fenômeno o conhecimento das possíveis delimitações da faixa etária em que ocorre a transição da adolescência para a vida adulta. Observa-se aqui que os institutos nacionais e internacionais, os pesquisadores e a população não utilizam as mesmas demarcações para o início e o fim dessa faixa.

O presente fenômeno pode estar situado tanto na faixa do ciclo vital que compreende a adolescência como na do adulto jovem, o que dependerá da corrente teórica de cada pesquisador, no entanto foi escolhida a indicação de Erikson (1998), em que os adultos jovens são considerados pessoas com idade entre 20 e 35 anos.

Para que a saída do lar parental possa ocorrer, um importante passo nessa direção parece ser a estabilidade profissional e financeira do adulto jovem. Fatores que possivelmente são promotores de dependência econômica paterna englobam o ciclo de inserção e desinserção do mercado de trabalho, grande promotor de insegurança e o investimento (temporal e financeiro) na escolarização (FÉRES-CARNEIRO; HENRIQUES; MAGALHÃES, 2006; ABRANTES; GUERREIRO, 2005).

O trabalho não é apenas uma remuneração para os jovens. Para a maioria deles, ter uma identidade profissional é parte importante da formação da sua identidade global, pois o jovem que possui um trabalho socialmente valorizado e tem sucesso nele, provavelmente terá sua autoestima aumentada, e isso permitirá que ele ingresse na vida adulta de maneira mais segura e estável (OSIPOW, 1986).

Dessa forma, entende-se que a escola e o trabalho estão intrinsecamente ligados, pois, para conseguir entrar no mercado de trabalho, o jovem precisa de uma base sólida, uma boa formação no ensino médio e no curso superior. E também pode-se pensar que alguns dos aspectos que levam os jovens a adiar a saída da casa dos pais sejam, consequentemente, o prolongamento dos estudos, a difícil inserção e a insegurança no mercado de trabalho atual.

Ao longo dos tempos, as transformações no pensamento e nas definições de família geraram mudanças em como esta é compreendida e como entende seus membros. Além das questões que anteriormente foram discutidas como motivadoras ou não para saída da casa dos pais, existem outras circunstâncias que também podem contribuir para a possível ocorrência desse comportamento.

A transgeracionalidade pode ser um fator importante para a ocorrência do fenômeno ninho cheio, visto que ela se refere ao fato de as pessoas absorverem os conhecimentos passados pelas figuras significativas do mundo familiar e, por meio delas, serem influenciadas nas suas decisões. Portanto, compreende-se que isso só será um fator determinante para a reprodução de comportamentos na família se a intensidade dessa absorção for acentuada. No caso do fenômeno estudado, a influência transgeracional não se constitui numa causa determinante, visto que, em algumas famílias, os jovens podem estar cientes de que seus pais saíram cedo de casa e também, provavelmente, devem ter ouvido histórias de que seus avós também tiveram o mesmo comportamento. Porém, atualmente, os adultos jovens parecem não seguir esse modelo familiar (GROISMAN, 2000).

Desse modo, o comportamento de não realizar o mesmo caminho dos pais, ou seja, rejeitar o padrão familiar, possivelmente possa ser explicado pela busca do modelo oposto, conforme explicitam Breulin, Scwartz e Mac Kune-Karrer (2000).

Outro fator que pode motivar o prolongamento da permanência dos adultos jovens no lar parental pode estar relacionado com o fluxo das ansiedades, tanto no âmbito dos estressores verticais como no dos horizontais. Assim sendo, estressores verticais, segundo Carter e McGoldrick (1995) e Falcke e Wagner (2005), abordam conceitos sobre padrões, mitos, lealdades, ritos e legados familiares, e consideram que a lealdade não é uma lei manifesta mas um laço invisível que une a família. Os mitos são os sistemas de crenças de cada família, e os legados referem-se às informações definidas pela família para serem passadas de uma geração a outra. Os estressores verticais podem ser predizíveis ou não; os predizíveis são os desenvolvimentais, as etapas do ciclo vital, como a transição da adolescência para a vida; os impredizíveis são a morte de um familiar, nascimento, doença crônica, acidentes, entre outros.

Talvez seja pertinente a reflexão sobre a importância dos estressores verticais e horizontais no fenômeno estudado. Assim sendo, a lealdade em algumas famílias pode ser observada por meio dos sentimentos exacerbados dos filhos adultos jovens para com a família de origem, e, dessa forma, os filhos podem permanecer em casa por mais tempo, para que, assim, possam cumprir as expectativas de seus pais quanto ao seu futuro. Pode-se também refletir sobre os mitos e as crenças familiares e a mudança nestes, pois talvez esses mitos e crenças possam estar baseados no comportamento que ocorria anteriormente, quando a saída de casa relacionava-se diretamente com a entrada na vida adulta, como apontam Carter e McGoldrick (1995). Assim sendo, o mito era de que em determinada idade os filhos saíam de casa e entravam na vida adulta. Pode-se pensar que a mudança nesse mito vem ocorrendo ao longo dos anos, com a alteração no comportamento de os filhos prolongarem a permanência no lar parental.

Os estressores horizontais, como a passagem da adolescência para a vida adulta, podem gerar ansiedade na família, já que, segundo Carter e McGoldrick (1995, p. 171), essas transições estão "constantemente sujeitas aos estresses na rede familiar". O prolongamento da convivência familiar pode ser resultado de um processo que inclui os estressores horizontais e verticais e as ansiedades geradas por estes. A ansiedade normal da partida ou não do filho de casa, quando somada às ansiedades trazidas pela família ao longo dos anos ou agravada por um fator externo como uma crise financeira mundial ou apenas centrada na família, poderia resultar na permanência do adulto jovem no lar parental.

Contudo, outra questão a ser observada refere-se à possível dissolução dessas ansiedades geradas pelos estressores horizontais, ou seja, a atual cumplicidade entre pais e filhos, em um clima não gerador de ansiedades, poderia ser motivacional para permanência dos filhos adultos no lar parental (NASCIMENTO, 2006; KUGELBERG, 1998; FÉRES-CARNEIRO; HENRIQUES; JABLONSKI, 2004).

Sendo assim, Henriques (2003) aponta outros fatores que podem estar envolvidos na permanência dos filhos adultos na casa parental, tais como: o alto grau de investimento na vida profissional; o pouco valor dado à independência individual; a diminuição dos conflitos intergeracionais ou a sua neutralização; a ambivalência dos pais no que concerne à saída dos filhos de casa; as escolhas profissionais cada vez mais difíceis pelas escassas oportunidades do mercado de trabalho; a permissão para o sexo na casa dos pais; o conforto e o padrão de vida usufruídos na convivência familiar; o isolamento do grupo familiar em relação à sociedade reproduzido, em menor escala, no isolamento dos próprios membros dentro de casa, tendo em vista que, em alguns quartos da casa, os jovens possuem apartamentos quase completos; o adiamento do casamento; as baixas expectativas e exigências nos relacionamentos afetivos; e a dificuldade de separação entre pais e filhos. Conforme Féres-Carneiro, Henriques e Jablonski (2004 p. 13): "o jovem adulto se caracteriza como um adulto em potencial e, apesar de possuir recursos de adulto, não os utiliza em todas as suas possibilidades".

 

Método

Optou-se pela metodologia qualitativa de caráter exploratório sob forma do estudo de casos coletivos (YIN, 2001).

Participantes

A escolha dos participantes deste estudo foi por conveniência e indicação. A pesquisa foi realizada com duas famílias. O critério de inclusão era que pelo menos um(a) filho(a), com idade entre 20 e 34 anos e com formação de nível superior completo ou em andamento, residisse no lar parental.

Instrumento

Adotaram-se duas entrevistas semiestruturadas diferentes, uma destinada aos pais e outra ao filho adulto jovem, com roteiro flexível. Abordaram-se aspectos transgeracionais, dinâmica familiar, motivações e empecilhos quanto à saída do lar parental, com o propósito de conhecer a percepção de pais e filhos quanto a esses aspectos.

Coleta de dados

Após aprovação do Conselho de Ética da Faccat, sob o nº 488 de 2009, iniciou-se a coleta dos dados. Realizaram-se duas entrevistas com cada família. Por telefone, agendou-se uma visita à residência da família. No primeiro momento, os pais eram entrevistados, e, posteriormente, a pesquisadora conversava com o adulto jovem separadamente.

Procedimentos de análise dos dados

Os dados foram analisados com base em duas perspectivas: vertical (para a obtenção dos dados em profundidade de cada família) e horizontal. Na análise das entrevistas de cada participante, observaram-se as semelhanças e diferenças entre os casos, apoiadas na proposta dos estudos de caso coletivos de Yin (2001).

 

Resultados e discussões

A fundamentação teórica utilizada serviu de base para a análise do conteúdo das entrevistas e gerou três eixos temáticos principais: aspectos da dinâmica familiar, motivações e obstáculos quanto à saída do lar parental e projeções para o futuro. Sendo assim, de cada um dos eixos temáticos derivaram distintas categorias de análise. Tais eixos e suas categorias nortearam a análise vertical dos casos.

Estudo de caso 1: família Garcia

Dados biodemográficos

Marcos e Tais estão casados há aproximadamente 36 anos e têm três filhas. Marcos tem 57 anos e é comerciário. Tais tem 65 anos e é dona de casa aposentada.

Gabriele foi a filha que participou da pesquisa. É a mais nova de uma prole de três, está no oitavo semestre do curso de graduação em Nutrição e tem 26 anos, possui comércio próprio e, por meio deste, consegue ser independente financeiramente dos pais. Quando da realização desta pesquisa, pretendia concluir a graduação em 2011.

Amanda é a filha do meio, tem 31 anos, possui déficit cognitivo leve e sua escolaridade é ensino médio incompleto. Ela tem uma filha, Fabiana, que tem 15 anos e também tem déficit cognitivo.

Sandra é a filha mais velha e não mora mais com os pais. Ela tem 35 anos e é dentista. A seguir, apresentam-se as subcategorias que emergiram com mais frequência:

Filho parentalizado: no sistema familiar, o filho passa de protegido a protetor, ou seja, do subsistema fraterno, ele passa a integrar o subsistema parental, pois assume atividades que o responsabilizam pelo cuidado dos irmãos.

Subsistema fraterno: composto pelos irmãos, esse subsistema tem grande importância no sistema familiar, pois os vínculos estabelecidos são carregados por toda a vida, os quais são formados por meio de uma relação única e diária dos irmãos.

Subsistema parental: composto pelos pais, tem função de proteger o subsistema filial.

Subsistema filial: composto pelos filhos do casal que têm papéis definidos na hierarquia familiar para que esse subsistema seja funcional.

Subsistema conjugal: refere-se ao casal e/ou aos pais, cujos diferentes papéis devem ser bem definidos.

Nas entrevistas, o conteúdo mais enfatizado pela família diz respeito ao subsistema fraterno, composto por Gabriele, Amanda e a sobrinha Fabiana.

A dinâmica familiar se mostra confusa, pois Gabriele está sobrecarregada pela família, com responsabilidades que estão além de suas possibilidades de filha. Possivelmente, isso tem relação com estressor horizontal, do nascimento de uma neta com déficit cognitivo, filha de mãe com problemas cognitivos. Nessa família, a história de nascimentos é sempre de muita expectativa e sofrimento. O nascimento de Gabriele foi um "alívio", pois foi aguardado de forma muito apreensiva, conforme explicita a mãe: "chorei os nove meses de gestação". A mãe de Gabriele relatou ter muito medo que nascesse outra criança com deficiência. Dessa forma, no nascimento da neta com dificuldades cognitivas, Marcos e Tais se desestruturaram emocionalmente e possivelmente reviveram o nascimento das filhas, por isso recorrem a Gabriele como um apoio familiar, pois eles a colocam como a única "normal" e deslocam-na de seu papel de filha, no subsistema fraterno, para o papel de cuidadora, no subsistema parental. É interessante observar que eles justificam essa atitude em função do déficit cognitivo de Amanda, conforme ilustra verbalização de Tais: "a mãe não tem tantas condições"

Na família Garcia, as fronteiras estão hiperflexíveis, e Gabriele ocupa um lugar que não é o seu, desenvolvendo um papel de filha parentalizada, em que o protegido passa para protetor (NUNES, 2000). Em função dessas fronteiras hiperflexíveis, em que pais e filhos são iguais perante as responsabilidades, Gabriele se sente responsável pela irmã e sobrinha e preocupa-se com isso: "porque eu penso, vou deixar tudo pra eles, toda essa responsabilidade". Esse senso de responsabilidade que Gabriele possui é utilizado pela família a seu favor, principalmente por seus pais, no subsistema parental. Ela fica presa na teia da lealdade familiar e, por isso, não pode "abandonar" a família. Exige de si mesma algo que não faz parte de seu papel de filha. Já seus pais reforçam esses aspectos ao projetarem nela o papel de cuidadora da irmã e sobrinha, o que fica nítido com as providências que eles tomaram para garantir o futuro de Amanda: pagam uma aposentadoria para Gabriele. A mãe desta verbaliza: "porque, se for pra imaginar, a gente sabe que vai sobrar pra Gabi cuidar".

No entanto, Gabriele revela que pretende sair de casa – "em 2011, eu quero morar sozinha, é o meu objetivo" –, mas os pais não têm conhecimento dessa sua vontade. Quando questionada se seus pais sabem dessa sua vontade, ela responde: "Essa tu pode perguntar pra eles". E seus pais desconsideram a possibilidade de ela sair de casa, conforme o relato de sua mãe: "ela nunca disse ‘eu vou morar sozinha, tô louca pra sair de casa', nunca ouvi ela falar". Pode-se pensar que essa falta de diálogo sobre o assunto "saída de casa" tornou-se um mito, um segredo familiar. Sabe-se que os mitos servem para encobrir uma realidade familiar complexa de ser suportada, cuja revelação pode trazer inicialmente sofrimento para a família (FALCKE; WAGNER, 2005).

Os pais de Gabriele, entretanto, revelam, na entrevista, um pouco de autocrítica sobre esse comportamento de esperar que a filha mais nova realize o papel de genitora e, ao mesmo tempo, de avó de Fabiana: "a gente acha que sobrecarrega ela demais". Ao longo da entrevista, não foi encontrada nenhuma verbalização por parte dos pais que demonstre que há alguma intenção de que isso mude.

Estudo de caso 2: família Silva

Dados biodemográficos

João e Cristina estão casados há aproximadamente 35 anos e têm três filhos: Lucas, Leandro e Laura. João tem 52 anos e é aposentado, mas trabalha atualmente, e Cristina tem 51 anos e é dona de casa.

Por critérios de exclusão previstos pela pesquisa, Lucas é o filho que participou da entrevista. Ele é o filho do meio, tem 30 anos, atualmente está desempregado e é concluinte do curso de Relações Públicas. Seu irmão mais velho, Leandro, já morou fora do país, e suas filhas moram com a mãe no exterior. Sua irmã mais nova tem 15 anos. Atualmente, moram todos juntos, incluindo a avó materna.

Dinâmica familiar

Trata de uma família de relações abertas com fronteiras bem definidas, em que a permanência de filho adulto jovem é vista como normal e esperada, conforme ilustra a verbalização da mãe: "esse aí eu fiz para ficar comigo em casa, sabe que era uma coisa que eu já sabia que ele não ia sair de casa". Possivelmente, pelo fato de os pais caracterizarem como funcional ter um filho adulto em casa, não percebem que não estão proporcionando uma individualização adequada para Lucas, que, por viver no mesmo ambiente, também vê como funcional essa permanência prolongada na casa dos pais e não consegue vislumbrar atualmente sua saída de casa (BRONFENBRENNER; MORRIS, 1998, SILVEIRA; WAGNER, 2006).

Uma característica presente nos relatos da família era a ambiguidade, tanto dos pais – "as coisas são resolvidas em conjunto, e tem coisas que ela consegue resolver e às vezes eu nem fico sabendo" – como do filho – "é boa e ... ãh, dá uns ‘estressizinhos' normal, assim, né?". A ambiguidade dos pais ante as situações cotidianas demonstra uma atitude pouco facilitadora para fortalecer a individualização de Lucas, pois, por trás do discurso de que está tudo "normal, tranquilo", não há nenhuma crítica com relação ao fato de o filho de 30 anos ser totalmente dependente financeiramente dos pais. João e Cristina infantilizam a relação com seu filho não lhe permitindo ser adulto. Mesmo que afirmem que ele tem "livre-arbítrio", não colaboram efetivamente para que isso ocorra. Esses pais não parecem estar propiciando que as escolhas de Lucas o levem para fora de casa, vivenciam um sistema familiar rígido, em que todos exercem sempre os mesmos papéis: o pai que sustenta a casa, a mãe que cuida dos filhos e estes que continuam "crianças". Lucas, por causa dos benefícios, aceita passivamente esse contrato familiar. Conforme registros na literatura, à medida que os filhos crescem, os pais precisam elaborar o "luto da infância", e os filhos, o "luto pelo corpo infantil", o que parece não ocorrer na família Silva, inibindo a individuação de seu filho e, como consequência, prolongando a permanência em casa (ABERASTURY; KNOBEL, 1981).

Quanto à saída da família de origem, João e Cristina afirmam que "casaram velhos", considerando a época em que isso ocorreu, e que pessoas com "vinte e poucos anos são crianças ainda". Isso atravessa gerações. O legado da família Silva é transmitir que na sua família se casa tarde, sem pressa e que nessa idade ainda não se é "adulto" o suficiente para fazer tal escolha.

Lucas não expressa claramente ter motivação para sair da casa dos pais, pois seu discurso ante esse aspecto é ambíguo: "não me imagino longe de casa". Todavia, em seguida, verbaliza que pretende sair. Essa ambiguidade quanto à sua saída revela claramente que ele não pretende sair de casa tão cedo e, provavelmente por isso, atualmente, não faz planos concretos para que isso se realize.

 

Análise horizontal e integradora dos casos

O primeiro eixo da análise temática corresponde à dinâmica familiar. Ambas as famílias responderam a questões sobre a relação entre pais e filhos. Na família Garcia, surgiu a particularidade do fenômeno da filha parentalizada que se responsabiliza pelo cuidado da irmã e o fato de os subsistemas fraterno, filial, conjugal e parental não estarem com suas fronteiras definidas. Um dos motivos para permanência de Gabriele na casa dos pais, o principal deles, está relacionado à dinâmica familiar, justamente porque a convivência familiar não ocorre apenas num contexto microssistêmico, mas está também inter-relacionada dinamicamente com os demais contextos e subsistemas (BRONFENBRENNER; MORRIS, 1998).

No entanto, na família Silva, a relação pais e filhos é mais "tranquila", fazendo uso do termo que a própria família utilizou, e as fronteiras estão bem definidas e aparentemente tudo está em seu lugar. Porém, de acordo com a literatura (FÉRES-CARNEIRO, HENRIQUES; JABLONSKI, 2004; OUTEIRAL, 2008), Lucas não está se tornando um adulto, pois ainda se mantém na adolescência. Ele é dependente financeiramente dos pais, visto que está desempregado e não possui projetos vitais de investimento em sua carreira profissional. Também é dependente afetivamente dos pais, uma vez que não consegue ao menos se imaginar longe deles e, quando pensa em morar "sozinho", diz que só iria se fosse para morar em alguma residência perto da casa dos pais.

No segundo eixo temático, as questões abordadas referem-se às motivações e aos obstáculos para a permanência na casa dos pais. Ambas as famílias apontam, confirmando a literatura (HENRIQUES, 2003), que o conforto e as mordomias do lar são fatores facilitadores para a permanência do adulto jovem na casa dos pais, e que, atrelada a elas, está a questão financeira, pois as famílias consideram que o aspecto financeiro pode ter grande influência na permanência dos adultos jovens em casa. Mesmo na família Garcia, em que a filha possui boa condição financeira, os pais também apontam que esse aspecto facilita sua permanência em casa.

Ainda no mesmo eixo temático, com relação aos obstáculos, surgem as peculiaridades de cada sistema familiar. Na família Silva, o principal motivo apontado é o desemprego do filho, com implicações nas questões financeiras da família. Portanto, a questão financeira, para essa família, é tanto facilitadora como um obstáculo. Confirmando os dados apontados pela literatura (FÉRES-CARNEIRO; HENRIQUES; MAGALHÃES, 2006; ABRANTES; GUERREIRO, 2005), a permanência dos adultos jovens na casa dos pais pode ser influenciada pela atual instabilidade do mercado de trabalho. Nesse caso, ressalta-se que, além desse cenário global de desemprego, os adultos jovens do estudo parecem não estar fazendo sua parte efetivamente, tendo em vista que, em seus projetos vitais, a carreira profissional não é destaque como meta a ser alcançada. Possivelmente, o microssistema da família Garcia está constituído de uma maneira que não propicia a Lucas que este deixe a casa dos pais, uma vez que seus pais oferecem a ele total conforto e liberdade. Dessa forma, ele não tem motivos para querer deixar a casa dos pais, e estes não consideram isso um problema.

Diferentemente, na família Garcia, devido à sua dinâmica familiar, por Gabriele ser uma filha parentalizada, a família aponta essa questão como dificultadora para sua saída do lar parental. Porém, a perspectiva de seus pais sobre como isso afeta a vida de Gabriele é bem diferenciada, visto que, para eles, essa sobreposição de papéis familiares de Gabriele não influencia diretamente na sua permanência em casa. Os pais verbalizam motivos como afetivos ou o fato de ela ser muito apegada à família. Na perspectiva de Gabriele, esse é o grande motivo de sua permanência em casa, já que exerce simultaneamente os papéis de mãe, tia e irmã.

Nesse eixo, um aspecto comum em ambas as famílias refere-se ao conforto proporcionado pelo lar parental. Tanto Gabriele como Lucas apontaram como aspectos facilitadores as mordomias da casa dos pais e a questão financeira. Dessa forma, os presentes resultados corroboram a literatura atual sobre o fenômeno estudado.

O último eixo temático refere-se aos projetos vitais de pais e filhos. Nele também há perspectivas comuns, uma vez que Gabriele e Lucas pretendem morar fora da casa dos pais. Mas a diferença estava no planejamento: enquanto, na época da pesquisa, Gabriele pretendia sair em 2011, Lucas ainda estava no "plano das ideias", pois não havia nada concreto, ou seja, planejado.

Percebe-se que, na perspectiva de Gabriele, sua saída de casa tem o sinônimo de liberdade, uma vez que a ideia de liberdade está associada à saída do lar parental. A literatura (NASCIMENTO, 2006; OLIVEIRA, 2007; HENRIQUES, 2003) explicita que essa forma foi utilizada por várias gerações, mas, atualmente, os adultos jovens já possuem essa liberdade dentro de casa, como no caso da família Silva. No entanto, na família Garcia, o que Gabriele provavelmente deseja é desvincular-se de sua família de origem, dessa sobrecarga de responsabilidades parentais e fraternais que ela se ocupa desde muito jovem.

A perspectiva dos pais quanto aos projetos vitais é que seus filhos, contrariando aqueles, continuarão morando em casa. Ambas as famílias têm suas particularidades, como já foi visto na análise vertical, mas o que chama a atenção é o desejo comum de continuar querendo ter os filhos por perto, por um motivo ou outro. Nesse processo, constata-se claramente uma vontade implícita de que isso aconteça. A transgeracionalidade é fundamental no estudo desses casos, visto que, nas duas famílias, os próprios pais prolongaram sua saída de casa ao máximo para os padrões de sua época, e esse legado pode estar se repetido com seus filhos de uma maneira não intencional.

É interessante ressaltar que as perspectivas de pais e filhos são divergentes em ambas as famílias. Contrariando alguns autores que apontam como um dos motivos do prolongamento da convivência familiar as dissoluções dos conflitos e das ansiedades entre pai e filhos, nesta pesquisa esse motivo não foi encontrado. O que se descobriu é que os conflitos continuam a permear os lares, mas as questões influenciadoras no processo do adulto jovem de prolongar a convivência com os pais são outras. As perspectivas comuns entre pais e filhos sobre essas questões influenciadoras reforçam os aspectos de conforto e as regalias proporcionadas pelo lar parental (NASCIMENTO, 2006; KUGELBERG, 1998; FÉ- RES-CARNEIRO; HENRIQUES; JABLONSKI, 2004, HENRIQUES, 2003).

 

Considerações finais

O fenômeno da permanência prolongada dos adultos jovens na casa parental, denominado "ninho cheio", acontece quando o adulto jovem continua residindo com sua família de origem, sem desvincular-se financeira e afetivamente de seus genitores. Nota-se que isso ocorre com uma frequência cada vez maior em nossa sociedade. Pode-se pensar que se trata de uma nova forma de configuração familiar, em resposta à dinâmica mudança provocada pelo atual mundo globalizado.

Desse modo, é necessário enfatizar que este estudo reflete um fenômeno contextualizado no momento específico em que foi realizado, já que aborda um tema da atualidade numa sociedade em constante transformação.

Ressalta-se que esta pesquisa teve como participantes duas famílias e seria importante, em estudos futuros, sua ampliação para um número maior de famílias, para que se possa avaliar, em maior escala, a perspectiva de pais e filhos quanto ao tema pesquisado.

Portanto, conhecer a perspectiva de pais e filhos é de grande importância para a compreensão desse fenômeno, pois não é possível compreender satisfatoriamente nenhum comportamento estudando-o isoladamente. Os aspectos transgeracionais se mostraram grandes influenciadores na permanência dos adultos jovens no lar parental.

O ambiente microssistêmico, onde se localiza a família, está o tempo todo se inter-relacionando com os demais ambientes, meso, exo e macro. Assim, os pais têm uma bagagem histórico-familiar única e se relacionam com os filhos, compartilham suas vivências e criam novas vivências.

Os pais, antes de os filhos nascerem, encontram-se no subsistema conjugal para, posteriormente, com a chegada dos filhos, agregarem o subsistema parental. Todavia, nem sempre essa agregação do subsistema conjugal para o subsistema parental é tranquila, justamente porque os seres humanos são indivíduos de intensa interação social, em que as vivências alheias perpassam suas vidas e transformam o contexto.

Quando, na família, a transição da adolescência para a vida adulta não ocorre de maneira satisfatória, sob a perspectiva de alguma das partes, pode-se pensar que possivelmente a agregação dos subsistemas conjugal e parental não ocorreu de maneira que as fronteiras estivessem delineadas para afastar os filhos do subsistema conjugal, e isso pode gerar filhos parentalizados ou dependentes. A falta de equilíbrio nesse subsistema afeta os demais. Portanto, para que isso não ocorra, é fundamental o esforço da família no cumprimento das tarefas que cada um dos subsistemas desempenha para que o desenvolvimento desses membros ocorra sem o acúmulo dos papéis alheios.

As famílias entrevistadas revelam motivos explícitos e implícitos para explicar a sua permanência na casa da família de origem. A percepção de dificuldade de inserção no mercado de trabalho e da conquista de salários melhores, aliada à vontade de seguir desfrutando do conforto e da segurança que o lar parental oferece, é o grande motivador explícito da permanência dos filhos na casa dos pais. Implicitamente, aparecem as tarefas familiares não cumpridas ao longo do ciclo evolutivo vital que se arrastam e acabam dificultando o desenvolvimento desse adulto jovem e a sua consequente emancipação física e emocional em relação à família. Certamente, é preciso integrar os âmbitos psicológico e social para a compreensão desse fenômeno. Entretanto, os participantes desta pesquisa revelaram que algumas questões psicológicas, como é o caso da formação da identidade e da aquisição de autonomia, interferem na forma como esse adulto jovem apreende o meio que o cerca e desenvolve estratégias para conquistar seus projetos. Dessa maneira, pode-se observar que as variáveis familiares e individuais foram preponderantes para a explicação do fenômeno nos casos estudados.

Desse modo, o presente estudo poderá ser utilizado futuramente no âmbito da prática profissional, para que profissionais relacionados direta ou indiretamente com essa questão possam usufruir desses achados para compreender as diferentes perspectivas de pais e filhos nesse fenômeno. E que possam também, por meio deste, produzir conhecimentos científicos úteis na esfera não somente da psicologia, mas também auxiliando os demais profissionais no entendimento da multiplicidade de perspectivas existentes no fenômeno da convivência prolongada entre pais e filhos.

 

Referências

ABERASTURY, A.; KNOBEL, M. Adolescência normal. Porto Alegre: Artes Médicas, 1981.         [ Links ]

ABRANTES, P.; GUERREIRO, M. das D. Como tornar-se adulto: processos de transição na modernidade avançada. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 20, n. 58, p. 157-175, jun. 2005.         [ Links ]

BREULIN, D. C.; SCWARTZ, R. C.; MAC KUNE-KARRER, B. Metaconceitos: transcendendo os modelos de terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.         [ Links ]

BRONFENBRENNER, U.; MORRIS, P. A. The ecology of developmental processes. In: DAMON, W.; LERNER, R. M. (Org.). Handbook of child psychology: theoretical models of human development. New York: John Wiley, 1998. p. 993-1028.         [ Links ]

CARTER, B.; MCGOLDRICK, M. As mudanças no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a terapia familiar. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.         [ Links ]

ERIKSON, E. O ciclo da vida completo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.         [ Links ]

FALCKE, D.; WAGNER, A. A dinâmica familiar e o fenômeno da transgeracionalidade: definição de conceitos. In: WAGNER, A. (Org.). Como se perpetua a família? A transmissão dos modelos familiares. Porto Alegre: Edipucrs, 2005. p. 25-46.         [ Links ]

FÉRES-CARNEIRO, T.; HENRIQUES, C. R.; JABLONSKI, B. A "geração canguru": algumas questões sobre o prolongamento da convivência familiar. Revista PSICO, Porto Alegre, v. 2, n. 35, p. 195-205, jan./dez. 2004.         [ Links ]

FÉRES-CARNEIRO, T.; HENRIQUES, C. R.; MAGALHÃES, A. S. Trabalho e família: o prolongamento da convivência familiar em questão. Paidéia, Ribeirão Preto, v. 16, n. 35, p. 327-336, set./dez. 2006.         [ Links ]

GROISMAN, M. Família é Deus: descubra como a família define quem você é. Rio de Janeiro: Eldorado, Núcleo-Pesquisas, 2000.         [ Links ]

HENRIQUES, C. R. "Geração canguru": o prolongamento da convivência familiar. 2003. 136 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica)–Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.

KUGELBERG, C. Imagens culturais dos jovens suecos acerca do início da vida adulta. Sociologia, Problemas e Práticas, Lisboa, n. 27, p. 41-58, set. 1998.         [ Links ]

MINUCHIN, S. Família: estrutura e tratamento. Tradução J. A. Cunha. Porto Alegre: Arte Médicas, 1985.         [ Links ]

NASCIMENTO, A. M. Transição para a vida adulta: situação dos filhos adultos brasileiros no período 1970-2000. 2006. 243 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais)–Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Escola Nacional de Ciências Estatísticas, Rio de Janeiro, 2006.

NUNES, C. S. Como o câncer (des)estrutura a família. São Paulo: Annablume, 2000.         [ Links ]

OLIVEIRA, A. Adolescência prolongada: um olhar sobre a nova geração. Colloquium Humanarum, São Paulo, v. 4, n. 1, p. 31-45, jun. 2007.         [ Links ]

OSIPOW, S. H. Theories of career development. New York: Applenton Century Crofts, 1986.         [ Links ]

OUTEIRAL, J. Do adolescer ao adultecer. In: MOURA, L.; OUTEIRAL, J.; SANTOS, S. (Org.). Adultecer: a dor e o prazer de tornar-se adulto. Rio de Janeiro: Revinter, 2008. p. 2-13.         [ Links ]

SILVEIRA, P. G.; WAGNER, A. Ninho cheio: a permanência do adulto jovem em sua família de origem. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 23, n. 4, p. 441-453, dez. 2006.         [ Links ]

YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Contato
Paula Grazziotin Silveira Rava
e-mail: paulagraz@yahoo.com

Tramitação
Recebido em junho de 2010
Aceito em agosto de 2011