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Psicologia: teoria e prática

Print version ISSN 1516-3687

Psicol. teor. prat. vol.14 no.3 São Paulo Dec. 2012

 

ARTIGO ORIGINAL

 

Comportamento alimentar inadequado e insatisfação corporal em jovens nadadores em função de variáveis sociodemográficas

 

Inappropriate eating behavior and body dissatisfaction in young swimmers according to sociodemographic variables

 

Comportamiento alimentar inapropriado e insatisfacción corporal em jóvenes nadadores de acuerdo con las variables sociodemográficas

 

 

Leonardo de Sousa Fortes; Santiago Tavares Paes; Ana Carolina Soares Amaral; Maria Elisa Caputo Ferreira

Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora – MG – Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo do presente estudo foi comparar a insatisfação com a imagem corporal e o comportamento alimentar em jovens atletas, segundo diferentes níveis econômicos e competitivos. Participaram 64 atletas, sendo 22 do sexo feminino e 42 do masculino. Utilizaram-se o Body Shape Questionnaire (BSQ) e o Eating Attitudes Test (EAT-26) para avaliar insatisfação com a imagem corporal e comportamento alimentar, respectivamente. A classificação econômica foi obtida mediante aplicação do "Critério de Classificação Econômica Brasil". Foi feita uma análise qualitativa para avaliar dados demográficos como idade, sexo e nível competitivo. Utilizou-se o teste Kruskall Wallis seguido do post hoc de Bonferroni. Não se identificaram diferenças de insatisfação, nem de comportamento alimentar entre os níveis econômicos e competitivos. Os resultados do presente estudo permitem concluir que tanto a insatisfação com a imagem corporal quanto o comportamento alimentar foram semelhantes segundo níveis econômicos e competitivos em nadadores.

Palavras-chave: imagem corporal; comportamento alimentar; transtornos alimentares; natação; atletas.


ABSTRACT

The purpose of this study was to compare body image dissatisfaction and eating behavior in young athletes according economic and competitive levels. 64 athletes participated, being 22 females and 42 males. We used the Body Shape Questionnaire (BSQ) and the Eating Attitudes Test (EAT-26) to assess body image dissatisfaction and eating behavior, respectively. The economic classification was obtained by applying the "Criterion of Economic Classification Brazil". We used qualitative analysis to evaluate demographic data such as age, gender and competitive level. We used the Kruskal Wallis test followed by Bonferroni post hoc. No differences were identified for dissatisfaction or eating behavior between the economic and competitive levels. The results of this study allow us to conclude that both body image dissatisfaction and eating behavior were similar according to economic and competitive levels in swimmers.

Keywords: body image; eating behaviors; eating disorders; swimming; athletes.


RESUMEN

El objetivo de este estudio fué comparar la insatisfacción con la imagen corporal y hábitos alimentarios en jóvenes deportistas de acuerdo con niveles económicos y de competencia. 64 atletas participaron, 22 mujeres y 42 hombres. Se utilizó el cuestionario Body Shape Questionnaire (BSQ) y el Eating Attitudes Test (EAT-26) para evaluar la insatisfacción con la imagen corporal y la conducta alimentaria, respectivamente. La clasificación económica se obtuvo mediante la aplicación del cuestionario "Brasil Económico Clasificación Criterio". Fue utilizado un análisis cualitativo para evaluar los datos demográficos, como edad, sexo y nivel de competencia. Se utilizó la prueba de Kruskal Wallis seguido de Bonferroni post hoc. No se observaron diferencias por el comportamiento de la comer y insatisfacción corporal entre los niveles económicos y de competencia. Los resultados de este estudio permiten concluir que tanto la insatisfacción con la imagen corporal, como la conducta alimentaria fueron similares de acuerdo con niveles económicos y de competencia.

Palabras clave: imagen corporal; conductas alimentarias; trastornos de la alimentación; natación; atletas.


 

 

Introdução

A rotina de treinamento físico intenso e competição, à qual atletas estão submetidos, parece influenciar o desenvolvimento de pensamentos e atitudes que refletem na saúde física, psicológica e social desses indivíduos (PERINI et al., 2009). Entre os nadadores, essas características são acompanhadas da exposição frequente do corpo, em função dos trajes competitivos, o que pode influenciar ainda mais os comportamentos em relação ao corpo (FORTES; FERREIRA, 2011; FORTES et al., 2011; SWAMI; STEADMAN; TOVEÉ, 2009). Ademais, a pressão exercida por treinadores, clubes e familiares acerca do desempenho desportivo pode influenciar negativamente na adoção de condutas que esportistas acreditam otimizar o desempenho atlético, como restrição alimentar, indução de vômitos, atividade física extenuante, uso de laxantes e diuréticos (SCHAAL et al., 2011). Esse ambiente repleto de cobranças e a tendência estética exigida por algumas modalidades podem fazer com que os atletas desenvolvam preocupações e insatisfações ligadas ao peso e à aparência física (FORTES; FERREIRA, 2011; DENOMA et al., 2009; SUNDGOT-BORGEN; TORSTVEIT, 2004), repercutindo em sua imagem corporal.

A imagem corporal é um importante construto multidimensional influenciado por fatores psicológicos, neurológicos, culturais e ambientais, e que se desenvolve por meio de pensamentos e percepções pessoais sobre as medidas, os contornos e as estruturas corporais (DE BRUIN; OUDEJANS; BAKKER, 2007; MARTINS; NUNES; NORONHA, 2008). A imagem corporal pode ser definida como a figura mental acerca de nosso corpo e os sentimentos que possuímos sobre ele (PERINI et al., 2009). A insatisfação com a imagem corporal é um componente afetivo da imagem corporal que envolve aspectos como satisfação com a aparência e os níveis de preocupação e ansiedade a ela associados (FORTES et al., 2011; DE BRUIN; OUDEJANS; BAKKER, 2007). A relação entre insatisfação com a imagem corporal, desempenho físico e controle de peso torna os atletas vulneráveis à instalação de comportamentos alimentares inadequados que podem se relacionar ao desenvolvimento de transtornos alimentares (TAs).

A anorexia nervosa e a bulimia nervosa são TAs caracterizados por padrão alimentar gravemente perturbado, controle patológico do peso corporal, distúrbios da percepção do formato corporal e medo mórbido de engordar ou tornar-se obeso, acompanhado de métodos compensatórios inadequados para o controle da massa corporal, como indução de vômitos, uso indevido de medicamentos (diuréticos, inibidores de apetite, laxantes, anorexígenos), dietas severas e exercícios físicos extenuantes (SCHAAL et al., 2011).

Modalidades esportivas que preconizam o baixo peso corporal e enaltecem a estética como um dos critérios de avaliação do desempenho – ginástica artística, ginástica rítmica, nado sincronizado – (OLIVEIRA et al., 2003; VIEIRA et al. 2009; PERINI et al. 2009) têm sido apontadas com grande prevalência de comportamentos considerados precursores de TAs entre seus praticantes, geralmente do sexo feminino (ASSUNÇÃO; CORDÁS; ARAÚJO, 2002). Em contrapartida, pesquisas recentes demonstraram a presença de comportamentos alimentares inadequados também em atletas de modalidades consideradas de baixo risco para TAs (GOMES; SILVA, 2010; SCHAAL et al., 2011).

Entre os fatores de risco para TAs, está o nível econômico (DUNKER; FERNANDES; CARREIRA FILHO, 2009), dado que quanto maior a renda familiar, maior o acesso à informação e aos veículos de mídia, que são componentes indiscutíveis no desenvolvimento dos pensamentos e sentimentos a respeito do corpo. Assim, indivíduos de classes econômicas distintas podem responder e agir de diferentes formas aos estímulos em relação ao corpo que lhes são fornecidos. Estudos têm apresentado resultados controversos a esse respeito. Alguns autores afirmam que os TAs são mais prevalentes nos estratos mais altos da sociedade (VALE; KERR; BOSI, 2011), enquanto outros estudos não identificaram essa tendência (PEREIRA et al., 2009).

Além dos estratos econômicos, o nível competitivo também possui uma forte associação com o aparecimento de alimentação inadequada. Baum (2006) e Denoma et al. (2009) salientam que atletas de alto nível competitivo podem apresentar maiores riscos para TAs. Todavia, ainda não são encontrados na literatura estudos que tenham avaliado a influência que essas variáveis apresentam sobre a insatisfação com a imagem corporal e o comportamento alimentar inadequado em atletas competitivos. Portanto, tendo em vista a escassez de estudos que relacionem essas variáveis, o objetivo da presente investigação foi comparar a insatisfação com a imagem corporal e o comportamento alimentar entre atletas adolescentes, segundo níveis econômicos e competitivos.

 

Método

Aspectos éticos

O estudo obteve aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Federal de Juiz de Fora com o Parecer nº 232/2010, de acordo com a Resolução nº 196/1996. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), contendo todos os procedimentos da pesquisa, foi assinado pelos pais dos atletas, além de garantir anonimato aos participantes e total sigilo no tratamento dos dados.

Amostra

Trata-se de um estudo transversal, cuja população foi constituída por nadadores ado lescentes competitivos, de ambos os sexos, com idades de 10 a 19 anos, residentes na cidade de Juiz de Fora (MG). Segundo a Federação Aquática Mineira (FAM), no ano de 2010, essa população era na ordem de 112 atletas. Realizou-se cálculo amostral considerando prevalência de 10% para comportamento alimentar inadequado como efeito de desfecho, com 95% de confiança, 5% de erro amostral, e efeito de desenho de 1,4, totalizando 63 adolescentes. Para seleção da amostra, foi adotado o critério de amostragem casual simples descrita por Perini et al. (2009).

A participação foi voluntária e foram excluídos deste estudo os atletas que não apresentaram o TCLE assinado pelos pais, aqueles que não se encontravam em processo de treinamento físico sistematizado com frequência mínima de três dias semanais e duração mínima de uma hora por sessão de treino, e aqueles que não participaram de pelo menos uma competição regional em 2011.

Instrumentos

Para avaliar o comportamento alimentar de risco para TAs, aplicou-se o Eating Attitudes Test (EAT-26). Trata-se de um questionário com 26 questões, em escala Likert de pontos de 0 (nunca) a 3 (sempre), que avaliam recusa alimentar patológica, preocupação exacerbada com aparência física, comportamentos purgativos, influência do ambiente na ingestão alimentar e autocontrole sobre os alimentos. Um somatório das respostas igual ou maior que 20 representa indivíduos com comportamento alimentar de risco para TAs. A versão utilizada foi validada por Bighetti et al. (2004), apresentando consistência interna de 0,82. Para a amostra do presente estudo, os valores de alfa de Cronbach foram 0,89 e 0,92 para meninas e meninos, respectivamente, indicando a manutenção das qualidades psicométricas do EAT-26 entre os participantes.

Para avaliar a insatisfação com a imagem corporal, aplicou-se o Body Shape Questionnaire (BSQ). Trata-se de um teste de autopreenchimento com 34 perguntas, em escala Likert de pontos de 1 (nunca) a 6 (sempre), que procuram avaliar a preocupação que o sujeito apresenta com seu peso e com sua aparência física. A versão utilizada foi validada para adolescentes brasileiros (CONTI; CORDÁS; LATORRE, 2009), obtendo elevada consistência interna ( = 0,96) e estabilidade. O escore é dado pela soma dos itens, e quanto maior o escore, maior a insatisfação com a imagem corporal. Segundo o escore, o participante pode ser caracterizado como livre de insatisfação (escores <80), levemente insatisfeito (entre 80 e 110), moderadamente insatisfeito (entre 110 e 140) e com grave insatisfação corporal (escores > 140). Calculou-se o alfa de Cronbach para a presente amostra, e identificaram-se valores de 0,89 para as meninas e 0,92 entre os meninos.

A classificação econômica foi obtida mediante a aplicação do "Critério de Classificação Econômica Brasil" desenvolvido pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep) (PEREIRA et al., 2009). Esse critério enfatiza sua função de estimar o poder de compra das pessoas e famílias urbanas, abandonando a pretensão de classificar a po pulação em termos de "classes sociais". Esse instrumento avalia a quantidade de itens de conforto (automóvel, geladeira, televisão etc.) adquiridos, além de identificar o grau de instrução do chefe de família. Ele nos remete aos seguintes pontos de corte em relação à classe econômica: A1 – de 30 a 34 pontos; A2 – de 25 a 29; B1 – de 21 a 24; B2 – de 17 a 20; C – de 11 a 16; D – de 6 a 10; E – de 0 a 5, em ordem decrescente de nível econômico.

Foi aplicado um questionário qualitativo para avaliar dados demográficos como: ida de, sexo, nível competitivo (regional, estadual ou nacional) e horas de treino por dia.

 

Procedimentos

O estudo foi realizado no local de treinamento, após a autorização dos treinadores e devolução do TCLE assinado pelos responsáveis. Os questionários (EAT-26 e BSQ) foram aplicados individualmente, por um mesmo pesquisador (LSF), em salas adequadas disponibilizadas pelas instituições, e não houve limite de tempo para as respostas.

Análise dos dados

Foram realizadas análises descritivas (média e desvio padrão) das variáveis insatisfação com a imagem corporal e comportamento alimentar. Considerou-se que as variáveis do estudo eram do tipo "não paramétrica", por tratar-se de dados comportamentais e afetivos que utilizam escalas do tipo likert (SUNDGOT-BORGEN; TORSTVEIT, 2004). O teste Kruskall Wallis foi utilizado para comparar os escores de insatisfação com a imagem corporal e comportamento alimentar, segundo níveis econômicos e competitivos. Para identificar tais diferenças, utilizou-se o post hoc de Bonferroni. Para isso, as classificações da Abep foram agrupadas em A (A1, A2), B (B1 e B2) e C (C, D e E). Foi conduzida análise de regressão múltipla (stepwise foward) para identificar a influência exercida pelos níveis econômicos e competitivos sobre a insatisfação com a imagem corporal e o comportamento alimentar. Para esta análise, foi considerado p < 0,2 para as variáveis entrarem no modelo. Todos os dados foram tratados no software SPSS versão 17.0, com nível de significância de 5%.

 

Resultados

Participaram da pesquisa 64 atletas com idade média de 13,64 (± 2,57), sendo 22 do sexo feminino e 42 do masculino. A distribuição da amostra segundo níveis econômicos e competitivos está apresentada na Tabela 1.

 

 

Em relação à insatisfação com a imagem corporal entre participantes dos diferentes níveis econômicos, não se verificou diferença significativa, como apresentado na Tabela 2. Quanto aos valores obtidos para o EAT-26 em cada estrato econômico, não foram observadas diferenças significativas entre os escores nos três estratos (Tabela 2).

 

 

A respeito do nível competitivo, não foram encontradas diferenças significativas em relação às variáveis insatisfação com a imagem corporal e comportamento alimentar, como pode ser observado na Tabela 3.

 

 

A análise de regressão múltipla demonstrou que somente o nível econômico exerceu influência sobre a insatisfação com a imagem corporal (9%) (p < 0,02) (Tabela 4). No entanto, tanto o nível econômico (11%) quanto o competitivo (7%) modularam a variância do comportamento alimentar. Além disso, a interação entre esses níveis explicou em 13% a variância da pontuação do EAT-26 (p < 0,05).

 

 

 

Discussão

O presente estudo buscou comparar a insatisfação com a imagem corporal e o comportamento alimentar entre atletas adolescentes, segundo níveis econômicos e competitivos. Pesquisadores têm apontado que sujeitos pertencentes aos estratos mais altos da sociedade tendem a apresentar maiores preocupações com o peso e a aparência física, repercutindo em hábitos alimentares não saudáveis (PEREIRA et al., 2009; VALE; KERR; BOSI, 2011). Além disso, alguns autores suportam a hipótese de que atletas que competem em níveis elevados podem apresentar maior insatisfação com o corpo e, consequentemente, comportamento alimentar inadequado quando comparados a esportistas que competem em níveis inferiores (DENOMA et al., 2009). No entanto, pesquisas comparando variáveis afetivas e comportamentais entre classificações econômicas contrastantes somente foram realizadas com escolares. Ademais, ainda não existe indicador fidedigno para avaliar nível competitivo em atletas, o que dificulta a realização de estudos desse tipo. Portanto, a presente pesquisa destaca-se como inovadora ao realizar comparações de insatisfação com a imagem corporal e comportamento alimentar em relação a níveis econômicos e competitivos em atletas adolescentes.

Os resultados deste estudo não evidenciaram diferenças estatisticamente significativas de insatisfação com a imagem corporal entre os diferentes níveis econômicos. No entanto, pesquisas têm demonstrado achados conflitantes, mostrando que a insatisfação com a imagem corporal aflige com maior gravidade sujeitos inseridos em níveis econômicos mais altos (DENOMA et al., 2009; VALE; KERR; BOSI, 2011). Essa diferença pode ser justificada em função da diferenciação da amostra, já que a maior parte dos estudos que demonstraram o aumento da insatisfação em relação à classe econômica foi realizada em escolares.

O nível econômico respondeu por somente 9% da variância da insatisfação com a imagem corporal. Por sua vez, o nível competitivo não exerceu influência sobre essa variável afetiva. Parece que cerca de 90% da modulação da insatisfação com a imagem corporal de nadadores de Juiz de Fora pode ser explicada por outros fatores. Alguns autores destacam a importância dos fatores sociais no desenvolvimento de insatisfação com a imagem corporal, ressaltando o papel dos pais, dos amigos e da mídia sobre esse construto (CONTI; CORDÁS; LATORRE, 2009; CARVALHO; AMARAL; FERREIRA, 2009). Talvez pressões de treinadores cobrando a otimização do rendimento físico e o uso de vestimentas que expõem o corpo possam ser tópicos que também expliquem a variância desse fenômeno nesta amostra (SWAMI; STEADMAN; TOVEÉ, 2009).

Quanto ao nível competitivo, não se encontraram diferenças significativas de insatisfação com a imagem corporal entre atletas que competiam em âmbito regional, estadual e nacional. Todavia, esses resultados vão de encontro às hipóteses de alguns autores (DENOMA et al., 2009; PERINI et al., 2009) que sugerem que altos níveis competitivos podem provocar maiores preocupações e depreciações com o peso e a aparência corporal. Os achados do presente estudo podem ser interpretados em função da performance e não da estética corporal, ou seja, quanto menor a performance do atleta, menor sua satisfação corporal.

Em relação ao comportamento alimentar, não foram encontradas diferenças de pontuações do EAT-26 entre as classificações econômicas. Ao contrário, outros estudos revelaram que quanto mais alto o nível econômico, maior a ocorrência de comportamentos alimentares de risco (PEREIRA et al., 2009; VALE; KERR; BOSI, 2011). Contudo, tais pesquisas foram conduzidas com amostras de jovens não atletas, portanto deve-se ter cautela com tais comparações.

A respeito das comparações de comportamento alimentar entre os níveis competitivos, mais uma vez não se identificaram diferenças significativas. Sobretudo, parece existir uma explicação para esses achados. Talvez pelo fato de os clubes aqui avaliados darem mais importância a torneios regionais e estaduais, atletas que competiam nesses âmbitos poderiam sofrer maiores pressões do treinador no anseio por melhores resultados, fazendo com que esses nadadores adquirissem hábitos alimentares não saudáveis com o propósito de otimizar seus rendimentos atléticos. Sendo assim, esportistas de níveis regional e estadual poderiam apresentar frequência de comportamento alimentar inadequado semelhante aos atletas de nível nacional. Entretanto, estudos como de Denoma et al. (2009) demonstraram resultados diferentes, indicando que quanto mais elevado o nível competitivo, maior a prevalência de comportamentos alimentares inadequados. Desse modo, são recomendadas mais investigações dentro desse tema com intuito de esclarecer melhor esse tópico.

Com relação à influência de níveis econômicos e competitivos sobre o comportamento alimentar, alguns resultados merecem destaque. Tanto o nível econômico quanto o competitivo modularam as pontuações do EAT-26. Além disso, a interação entre esses níveis explicou aproximadamente 13% da variância do comportamento alimentar. De qualquer forma, parece que hábitos alimentares de atletas são comportamentos de extrema complexidade, pois aproximadamente 87% desse fenômeno é explicado por outros fatores, permanecendo então como tema a ser mais bem explorado no campo acadêmico (SCHAAL et al., 2011).

O presente estudo apresentou limitações. Pesquisadores afirmam que os participantes podem não responder a questionários autoaplicáveis com fidedignidade, ainda mais no caso de atletas que podem associar sua participação à permanência na equipe. Portanto, é comum que atletas, mesmo com problemas psicológicos, mascarem suas síndromes, omitindo-as por meio de respostas não confiáveis a partir de instrumentos desse tipo. Além disso, variáveis como índice de massa corporal e gordura relativa que, de alguma forma, podem influenciar na insatisfação com a imagem corporal e no comportamento alimentar não foram mensuradas a fim de serem utilizadas como covariáveis no tratamento dos dados do presente estudo. Entretanto, este estudo apresenta resultados importantes que podem indicar que atletas adolescentes competitivos de natação podem responder de forma diferente à exigência em relação ao corpo e à alimentação. São necessários estudos que busquem comparar as variáveis aqui analisadas em outras modalidades esportivas, a fim de investigar o comportamento destas em outros âmbitos esportivos.

 

Conclusão

Os resultados do presente estudo permitem concluir que tanto a insatisfação com a imagem corporal quanto o comportamento alimentar são semelhantes entre diferentes níveis econômicos e competitivos de nadadores. Além disso, os resultados permitem inferir que os níveis econômicos e competitivos medeiam as variações no comportamento alimentar, mas não na imagem corporal, sobre a qual apenas o nível econômico demonstrou ser um fator associado.

 

Referências

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Endereço para correspondência
Contato
Leonardo de Sousa Fortes
e-mail: leodesousafortes@hotmail.com

Tramitação
Recebido em outubro de 2011
Aceito em julho de 2012