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Psicologia: teoria e prática

versión impresa ISSN 1516-3687

Psicol. teor. prat. vol.15 no.2 São Paulo ago. 2013

 

PSICOLOGIA CLÍNICA

 

Análise funcional de eventos antecedentes ao comportamento de desobediência de crianças

 

Functional analysis of antecedent events on children's noncompliance behavior

 

Análisis funcional de los eventos antecedentes de la conducta de desobediencia de niños

 

 

Camila do Carmo Menezes; Márcia Cristina Caserta Gon; Robson Zazula

Universidade Estadual de Londrina, Londrina - PR - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A dermatite atópica é uma doença crônica de pele que se manifesta na infância. A desobediência é uma queixa comum entre os pais dessas crianças. Pesquisas apontam que inúmeros eventos antecedentes podem influenciar a desobediência. O presente estudo objetivou avaliar o efeito da manipulação da atenção parental e da dificuldade da tarefa, como eventos antecedentes, no comportamento de desobediência de cinco crianças com dermatite atópica. O delineamento experimental utilizado foi o de multielementos. Os resultados demonstram que a manipulação de tais variáveis alterou as respostas de desobediência para três das cinco crianças. Sugere-se a necessidade de inclusão dessas variáveis na avaliação, prevenção e intervenção de crianças atópicas cujos pais se queixam de desobediência.

Palavras-chave: dermatite atópica; problemas de comportamento; desobediência; análise funcional; análise comportamental aplicada.


ABSTRACT

The atopic dermatitis is a chronic skin disease which manifests in childhood. Noncompliance is a common parent's complaint of atopic children. Studies have shown that several antecedent variables can influence noncompliance. The present study aimed to examine the effects of parental attention and task difficult, on noncompliance behavior of five preschoolers' children with atopic dermatitis. The experimental design was the multielement. The results showed that the manipulation of these variables changed noncompliance responses in three of the five children. It suggests the need of including these variables to assess, to prevent and to intervene in children with atopic dermatitis described as noncompliance by their parents.

Keywords: atopic dermatitis; behavior problem; noncompliance; functional analysis; applied behavior analysis.


RESUMEN

La dermatopatia es una enfermedad crónica de piel que ocurre en la infancia. La desobediencia es una queja común entre los padres de niños con dermatopatias. Estudios indican que numerosos eventos antecedentes pueden influenciar en la desobediencia. El presente estudio objetivó evaluar el efecto de la manipulación de la atención parental y de la dificultad de la tarea, como eventos antecedentes, en la desobediencia de niños con dermatopatias. El diseño experimental utilizado fuera el multielementos. Los resultados indicaron que la manipulación de las variables alteró las respuestas de desobediencia para tres dos cinco niños evaluados. Sugiere incluir estas variables en la evaluación, prevención e intervención de niños con dermatopatias y desobediencia.

Palabras clave: dermatopatias; problemas de la conducta; desobediencia; análisis funcional; análisis aplicado de la conducta.


 

 

A presença de uma doença crônica na infância pode ser um fator que interfere negativamente na emissão de respostas parentais e que, por essa razão, afeta a maneira como os pais introduzem e conduzem a disciplina na vida de seus filhos (Piccinini, Castro, Alvarenga, Vargas, & Oliveira, 2003). Tem sido também referida como um fator de mediação da qualidade da interação cuidador e criança (Leitch, 1999; Piccinini et al., 2003).

Pesquisas indicam que crianças com doença crônica apresentam maior frequência de problemas de comportamento ou probabilidade de desenvolvê-los, destacando-se ansiedade, depressão, dificuldades de relacionamento e desobediência (por exemplo, Farrell, Donovan, Turner, & Walker, 2011; Pinquart & Shen, 2011). Piccinini et al. (2003) levantaram como uma de suas hipóteses que a presença de problemas de comportamento, observada nesses estudos, possa estar mais relacionada à permissividade materna decorrente da condição de saúde da criança do que de práticas coercitivas (por exemplo, punição física ou verbal, ameaça de punição, castigo, entre outros), as quais são consideradas menos favoráveis para o desenvolvimento emocional infantil. Isso ocorreu porque os autores verificaram que as mães de crianças com doença crônica utilizaram práticas coercitivas com menor frequência do que as mães de crianças sem doença.

A desobediência infantil, considerada como um desses problemas comportamentais, quando ocorre de forma persistente, afeta negativamente não apenas as interações sociais com adultos e com outras crianças no dia a dia, mas também a qualidade dessas relações em longo prazo (Kalb & Loeber, 2003). É observada em crianças com doença crônica (por exemplo, Lawson, Lewis-Jones, Finlay, Reid, & Owens, 1998; Pauli-Pott, Darui, & Beckmann, 1999) e sem doença crônica (por exemplo, Call, Wacker, Ringdahl, Cooper-Brown, & Boeiter, 2004; Cooper, Wacker, Sasso, Reimers, & Donn, 1990). Contudo, para aquelas com problema de saúde crônico, a desobediência, além de prejudicar a emissão de comportamentos relacionados ao tratamento e à saúde, tem consequências desfavoráveis à aprendizagem e manutenção de comportamentos em outros contextos.

Para crianças que apresentam uma doença crônica como a dermatite atópica (DA) que afeta a pele e tem como sintomas principais o prurido e a coceira (Pires & Cestari, 2005), comportamentos de desobediência como chorar, jogar objetos no chão, sair correndo ou recusar-se a fazer alguma atividade podem, por um processo de generalização, ocorrer também em situação de tratamento médico. Se essa generalização acontecer, esses comportamentos poderão interferir negativamente na adesão ao tratamento, prejudicando o controle adequado dos sintomas da doença e levar os cuidadores a sentir-se estressados e ansiosos (Stabb et al., 2002). Para as crianças, desobedecer aos seus cuidadores, em especial no momento de realizar tarefas do tratamento médico, teria como consequência principal o aumento da probabilidade de piora dos sintomas e de recidivas. De acordo com alguns autores (Lawson et al., 1998; Pauli-Pott et al., 1999), a severidade dos sintomas da DA pode levar as crianças a apresentar problemas de comportamento além da desobediência, como dependência de familiares, medo, ansiedade, distúrbios de sono, irritabilidade, entre outros.

Embora crianças possam ser desobedientes em diferentes situações e períodos de seu desenvolvimento, desobediência é, neste estudo, apresentada como comportamentos percebidos por um adulto (por exemplo, pais) como problemáticos quanto à intensidade, à frequência e à duração (Kalb & Loeber, 2003). Mais especificamente, foca no comportamento de desobediência de crianças com DA quando devem executar tarefas que lhes são aversivas.

Dimensões de uma tarefa como novidade, repetição, escolha da sequência, de dificuldade são variáveis antecedentes que podem funcionar como operações motivacionais (ou estabelecedoras) e alterar a efetividade de reforçadores que mantêm comportamentos de desobediência (McCommas, Hoch, Paone, & El-Roy, 2000; Michael, 2000). Segundo Michael (2000), a tarefa aversiva é uma operação motivacional que evoca respostas de fuga e de esquiva. Esses comportamentos podem ser observados na forma de autolesão, agressão ou desobediência, aumentando a probabilidade de não iniciar a tarefa ou de interrompê-la.

Além de a tarefa difícil ser considerada uma variável motivacional que evoca comportamentos de desobedecer, a maneira como os pais interagem com a criança nas situações nas quais deve executá-la pode ou não aumentar a probabilidade de que a tarefa seja completada com sucesso. Para alguns pesquisadores (por exemplo, Cooper et al., 1990; Cooper et al., 1992; Michael, 2000), problemas de comportamento como o desobedecer podem ser mantidos por atenção parental. Ambientes com escassez de contato social podem evocar comportamentos de desobediência previamente reforçados por atenção. Em determinados contextos, como o de exigência de tarefas difíceis, a ausência de atenção dos pais pode evocar respostas da criança como chorar ou dizer que não consegue realizá-la. Isso pode ocorrer porque a privação de atenção agiria como operação motivacional que aumenta o valor reforçador da atenção e evocaria comportamentos previamente reforçados por esses eventos.

Portanto, a desobediência, no presente estudo, é entendida como uma classe de respostas que têm função de fuga e de esquiva e que são emitidas no momento em que a criança deverá executar tarefas difíceis. Considera-se ainda que, a desobediência poderá ter maior probabilidade de ser evocada pela atenção parental. Assim, o objetivo desta pesquisa foi investigar os efeitos da manipulação de variáveis antecedentes específicas (isto é, dificuldade da tarefa e atenção parental) no comportamento de desobediência de crianças com DA.

 

Método

Participantes

Participaram cinco díades mãe-criança (C1, C2, C3, C4 e C5). As crianças tinham entre quatro a seis anos de idade e diagnóstico médico de DA. Os critérios para inclusão foram: ter o diagnóstico de DA, estar em tratamento dermatológico e obter score entre 7 e 14 para problemas de comportamento externalizantes, segundo o Sistema de Avaliação de Habilidades Sociais (SSRS) (Gresham & Elliott, 1990) traduzido e adaptado para o Brasil por Del Prette (2003).

Foram critérios de exclusão: apresentar mais de uma doença de pele, doença grave não dermatológica (como HIV ou câncer) ou déficits cognitivos ou intelectuais. Para as mães, o critério de inclusão foi ser alfabetizada (isto é, possuir repertório de leitura e escrita).

Instrumentos

Sistema de Avaliação de Habilidades Sociais (SSRS) (Gresham & Elliott, 1990): foi utilizada a escala de avaliação para pais ou cuidadores (forma M) do instrumento. Na presente pesquisa, apenas os escores referentes a problemas de comportamento externalizantes foram analisados. Estes podem ser definidos como comportamentos que envolvem agressão física ou verbal dirigida a outras pessoas com baixo controle de raiva (como bater, discutir, retrucar, ameaçar, ter acesso de birra).

Inventário Portage (Williams & Aiello, 2001): foram utilizadas as avaliações que correspondiam ao desenvolvimento motor de crianças de três a seis anos de idade, por ser esta a faixa etária de interesse do estudo. Os resultados orientaram a escolha de tarefas fáceis e difíceis utilizadas no procedimento (como recortar, desenhar, copiar, empilhar blocos).

Procedimento

Os dados foram coletados por meio do delineamento experimental de multielementos, conforme descrito por Cooper et al. (1990) e Cooper et al. (1992). O procedimento foi dividido em três etapas: avaliação e seleção dos participantes, aplicação do inventário Portage e avaliação do comportamento de desobediência mediante observação direta.

Primeira etapa: avaliação e seleção dos participantes

As mães das crianças que apresentaram problemas de comportamento externalizantes foram convidadas a participar da pesquisa. Aquelas que não aceitaram ou não cumpriram os critérios foram encaminhadas para atendimento psicológico em grupo para crianças com doença crônica de pele e seus cuidadores.

Segunda etapa: aplicação do inventário Portage

Cada criança selecionada na primeira etapa foi avaliada individualmente em relação às faixas etárias atual, anterior e posterior, a fim de identificar tarefas fáceis e difíceis para a avaliação do comportamento de desobediência.

Terceira etapa: avaliação do comportamento de desobediência mediante observação direta

Essa etapa foi conduzida em duas fases de avaliação (linha de base e intervenção), realizadas em um único dia para cada dupla mãe e criança.

a) Avaliação de linha de base (LB): em uma sessão de dez minutos de brincadeira livre, a mãe e a criança ficaram sozinhas na sala com tarefas e brinquedos disponíveis. A pesquisadora instruiu as mães a interagir com sua criança como se estivessem em casa.

b) Treino para as condições de avaliação: antes da realização da avaliação, instruções por escrito foram dadas às mães com descrições de como deveriam se comportar em relação à criança em cada condição de avaliação. Foi também entregue a descrição dos comportamentos de obediência e de desobediência, a fim de esclarecer a compreensão das instruções. Após leitura das instruções, realizou-se um breve treino com cada mãe, sobre como agir com a criança em cada condição. Além disso, as mães responderam a um checklist, com o objetivo de avaliar o conhecimento delas sobre cada condição de avaliação. Durante o treino, as crianças permaneceram na sala de avaliação com um segundo experimentador, o qual foi instruído a apenas brincar livremente com a criança.

c) Avaliação de intervenção: constituída de quatro condições de avaliação distintas, com duração aproximada de dez minutos cada:

1) Aeca (tarefas de alta exigência com atenção): as tarefas disponíveis eram difíceis, conforme avaliação prévia. As mães foram instruídas a sentar ao lado de suas crianças e a providenciar assistência verbal e gestual durante a tarefa. Deveriam ignorar o comportamento de obediência e desobediência da criança.

2) Aesa (tarefas de alta exigência sem atenção): as tarefas eram difíceis. As mães foram instruídas a sentar em uma cadeira atrás de sua criança, a ler uma revista e a ignorar comportamentos de obediência e de desobediência da criança.

3) Beca (tarefas de baixa exigência com atenção): as tarefas disponíveis eram fáceis. As mães foram instruídas a sentar ao lado de suas crianças e providenciar assistência verbal e gestual à criança na tarefa. Elas deveriam ignorar o comportamento de obediência e de desobediência da criança.

4) Besa (tarefas de baixa exigência sem atenção): as tarefas disponíveis eram fáceis, conforme avaliada para cada criança na segunda etapa. As mães foram instruídas a sentar em uma cadeira atrás de sua criança, a ler uma revista e a ignorar o comportamento de obediência e de desobediência da criança. As condições estão sumarizadas no Quadro 1.

Respostas avaliadas

As categorias de respostas das mães e das crianças foram definidas de acordo com Cooper et al. (1990) e Cooper et al. (1992). Para as crianças, registraram-se duas categorias de comportamento:

Comportamentos de obediência (on-task): respostas direcionadas à tarefa exigida, leitura (silenciosa ou oral), falar em voz baixa, seguir orientações dos pais, manter contato visual com o falante, trabalhar nas tarefas indicadas e fazer perguntas relevantes que ajudem na execução da tarefa.

Comportamentos de desobediência (off-task): chorar, gritar, xingar, chutar, bater, destruir materiais, jogar objetos, tentar sair da sala, recusar a tarefa, fazer questões irrelevantes para a condução das tarefas, olhar para além da tarefa ("dormir acordado"), entre outros.

Para as mães, foram registradas duas categorias de comportamento, antecedentes e consequentes ao comportamento de obediência e de desobediência da criança. Os comportamentos antecedentes foram:

Atenção: respostas que demonstram interesse pelo comportamento da criança, como sentar ao seu lado, dizer que irá ajudá-la caso precise, descrever o que a criança faz, imitá-la e olhar para ela.

Não atenção: ler revista, sentar longe da criança, não olhar na direção da criança e ficar quieta.

Instrução: verbalizações que descrevem o que a criança deve fazer, como: "Faça a tarefa agora", "Pinte com o lápis vermelho" ou "Sente-se na cadeira".

Os comportamentos consequentes foram:

Feedback positivo: respostas positivas sobre o comportamento da criança, o que inclui respostas verbais e gestuais, como dizer "Parabéns, meu filho", "Como você encaixa as peças do quebra-cabeça direitinho" e "Muito bem, você terminou a tarefa no tempo previsto" ou então fazer sinal de "joia", balançar a cabeça afirmativamente e piscar um olho.

Feedback negativo: repreensões e críticas a respeito do comportamento da criança. Inclui respostas verbais e gestuais como "Você está fazendo tudo errado" e "Não fale palavrões" ou fazer sinal negativo com a cabeça.

O registro dos comportamentos maternos foi realizado com o propósito de avaliar a integridade do procedimento. Isso permite identificar se as mães seguiram corretamente as instruções sobre como deveriam proceder nas condições de avaliação. Além disso, assegura que o responder das crianças variou devido à manipulação das variáveis que estão sendo investigadas (Cooper et al., 1990; Cooper et al., 1992).

Registro dos comportamentos, concordância entre observadores e análise de dados

Todas as condições foram gravadas em vídeo e observadas pela primeira autora através de espelhos unidirecionais instalados na sala de avaliação. Dois juízes, ingênuos em relação ao procedimento, registraram de modo independente os comportamentos da mãe e da criança, de acordo com as categorias definidas. A frequência do comportamento da mãe foi registrada em intervalos de 5 s e a da criança em intervalos de 6 s. O critério de concordância entre os observadores foi de 85%.

Em seguida, foram registradas as frequências de respostas emitidas pela mãe e pela criança mediante as variáveis manipuladas, atenção parental e dificuldade da tarefa, em cada uma das condições. O valor da porcentagem referente à frequência de cada resposta avaliada foi calculado separadamente para a díade. O total de respostas emitidas pela criança (obediência + desobediência) e pela mãe (atenção + não atenção + instrução + feedback positivo + feeedback negativo) em cada condição foi considerado como sendo 100%. A porcentagem de cada comportamento foi calculada separadamente, tendo-se o total de respostas apresentadas em cada condição pelo total de respostas avaliadas.

 

Resultados

O participante C1 apresentou porcentagens mais baixas de comportamentos de desobediência na condição LB (2%), seguida das condições Besa (6%) e Beca (18%). Por sua vez, as maiores porcentagens desse comportamento foram registradas nas condições de alta exigência (Aesa - 52%; Aeca - 39%). A não atenção da mãe e tarefas de alta exigência aumentaram em 52% a ocorrência de comportamentos de desobediência quando comparadas à LB.

A mãe C1 apresentou porcentagens mais elevadas de atenção nas condições com atenção (Beca - 74%; Aeca - 64%), e as menores porcentagens desses comportamentos apareceram nas condições sem atenção (Aesa - 21%; Besa - 43%). Respostas de feedback positivo e negativo da mãe variaram entre 0 a 8% nas condições.

A criança C2 não apresentou comportamentos de desobediência na condição LB, 6% de respostas de desobediência na condição Besa, 13% em Aeca e Beca, e 53% em Aesa. Assim como C1, para C2 tarefas de baixa exigência com ou sem atenção diminuíram a ocorrência de comportamentos de desobediência (Besa - 6%; Beca - 13%). Na condição Aesa, a porcentagem de comportamentos de desobediência aumentou 40% em relação à condição Aeca. Para C2, quando a tarefa era de alta exigência, a atenção da mãe diminuiu a ocorrência de comportamentos de desobediência.

A análise das respostas da mãe C2 demonstra que porcentagens mais altas de atenção nas condições com atenção (Aeca - 89%; Beca - 89%), enquanto as menores porcentagens desses comportamentos apareceram nas condições sem atenção (Besa - 11%; Aesa - 25%). Respostas de feedback positivo e negativo da mãe variaram entre 0 a 11%. Os dados das duplas C1 e C2 estão dispostos na Figura 1.

O participante C3 obteve porcentagens menores de comportamentos de desobediência nas condições Beca (13%), LB (17%) e Aeca (15%). Na condição Besa, C3 exibiu maior porcentagem de respostas de desobediência (80%), e porcentagem Aesa foi de 43%. Quando se analisa apenas o desempenho de C3, pode-se concluir que a ocorrência de comportamentos de desobediência aumentou em função da não atenção da mãe, tal como pode observado em Besa (80%) e Aesa (43%).

No entanto, as porcentagens de atenção da mãe C3 foram maiores do que as de não atenção em todas as condições. Isso demonstra que as instruções não foram seguidas corretamente nas condições Aesa e Besa. A maior porcentagem de atenção ocorreu na condição Beca (87%), e a menor porcentagem de atenção realizada pela mãe foi registrada na condição Besa (54%). Pode-se afirmar que a atenção da mãe afetou as porcentagens de comportamentos de obediência, e a não atenção diminuiu. Entretanto, devido à baixa integridade do procedimento para essa dupla, a confiabilidade desses dados diminui.

A criança C4 apresentou baixas porcentagens de comportamentos de desobediência em todas as condições (LB - 3%; Aesa - 6%; Besa - 16%). A maior porcentagem de comportamentos de desobediência foi encontrada nas condições com atenção (Beca - 19%; Aeca - 23%). No entanto, a variação na porcentagem de comportamentos de desobediência foi pequena (10%) em relação às porcentagens das condições Aesa e LB.

A mãe de C4 exibiu elevadas porcentagens de atenção nas condições com atenção, (Beca - 86%; Aeca - 73%), enquanto apresentou menores porcentagens desses comportamentos nas condições sem atenção (Besa - 11%; Aesa - 25%). Respostas de feedback positivo e negativo da mãe variaram entre 0 a 6%. Tais resultados demonstram que houve integridade do tratamento. Os dados das duplas C3 e C4 estão dispostos na Figura 2.

Para C5, atenção da mãe e a exigência da tarefa não alteraram a porcentagem dos comportamentos de desobediência, com 100% de comportamentos de obediência em todas as condições (BL, Aeca, Aesa, Beca e Besa). A mãe C5 apresentou maiores porcentagens de respostas de atenção em Beca (97%) e Aeca (94%), e menores em Aesa (1%) e Besa (1%). Os dados em relação à mãe C5 demonstram que houve integridade do procedimento, uma vez que ela seguiu as orientações do pesquisador com maior frequência, ou seja, apresentou elevadas porcentagens de atenção nas condições com atenção e baixas porcentagens de atenção nas sem atenção. Os dados da dupla C5 estão dispostos na Figura 3.

 

 

Discussão

A análise dos efeitos das variáveis antecedentes que foram manipuladas na pesquisa (atenção parental e dificuldade da tarefa) demonstrou que estas podem estar relacionadas à desobediência em crianças com DA, assim como observado em crianças sem doença crônica. Tal qual o procedimento de Cooper et al. (1990) e Cooper et al. (1992), o presente estudo demonstrou que a avaliação por meio de observação direta da desobediência pode ser utilizada com sucesso em crianças com DA.

Na avaliação de LB, na qual não houve manipulação das variáveis atenção materna e dificuldade da tarefa, todas as crianças apresentaram alta porcentagem de comportamentos de obediência (C1 - 98%; C2 - 94%; C3 - 83%; C4 - 97%; e C5 - 100%). A hipótese para explicar esse resultado seria o fato de essa condição não exigir tarefas difíceis, possibilidade de escolha pela criança daquelas atividades que ela gostaria de fazer e atenção da mãe.

Além de identificar a maneira como as variáveis manipuladas podem influenciar na emissão de comportamentos de desobediência, a avaliação permitiu descrever a função dessas variáveis para cada criança, as quais fortaleciam ou enfraqueciam as contingências envolvidas na manutenção desses comportamentos. Skinner (1953) afirma que a influência das variáveis ambientais é diferente para cada indivíduo, considerando que cada pessoa tem uma história de relação única com cada variável. De modo geral, os resultados demostraram padrões diferentes de comportamento para cada participante: três das cinco crianças (C1, C2 e C3) apresentaram alterações nas porcentagens dos comportamentos de desobediência em função da manipulação de duas variáveis antecedentes (atenção parental e dificuldade da tarefa), diferentemente para C4 e C5 que não apresentaram comportamentos de desobediência quando essas mesmas variáveis foram manipuladas.

As crianças C1 e C2 apresentaram porcentagens mais altas de comportamentos de desobediência nas condições Aesa e Aeca. Esse resultado sugere que a dificuldade da tarefa, como operação motivacional, teria evocado comportamentos que foram previamente relacionados com consequências reforçadoras, como chorar, abaixar a cabeça, rabiscar e brincar com os materiais (Hanley, Iwata, & McCord, 2003), e que evitariam iniciar a tarefa ou interrompê-la.

Resultados semelhantes aos registrados para C1 e C2 foram relatados por Cameron, Ainsleigh e Bird (1992) e McCommas et al. (2000). Esses autores realizaram estudos com crianças deficientes intelectuais e observaram que a maneira como determinada tarefa foi exigida funcionou como operação motivacional. No caso de tarefa com alta exigência, sem auxílio, repetitiva ou escolhida por um adulto, observou-se maior frequência de respostas agressivas e perturbadoras, aumentando a probabilidade de sua ocorrência.

Assim como a dificuldade da tarefa, a presença ou ausência de atenção pode ser considerada um estímulo antecedente que evoca comportamentos anteriormente reforçados por atenção (Michael, 2000). Durand e Crimmins (1998) e Michael (2000) afirmam que comportamentos-problema que possuem uma história de reforçamento positivo e que foram consequenciados por atenção terão maior probabilidade de ocorrência sob privação. Para C1 e C2, o valor reforçador da atenção materna aumentou diante de situações aversivas (tarefa com alta exigência). Para C3, a não atenção da mãe aumentou a ocorrência de comportamentos de desobediência, independentemente da exigência da tarefa. Embora não tenha sido investigada a história de reforçamento das crianças para identificar se foram ou não privadas de atenção ou se esta ocorreu com maior frequência quando desobedeciam às mães, pode-se inferir que os resultados da linha de base quando comparados com os das condições de avaliação indicam essa possibilidade.

O presente estudo demonstrou a importância da manipulação de eventos antecedentes sobre o comportamento de desobediência, em específico as operações motivacionais, e a relevância de se fazer uma avaliação comportamental que integre essas variáveis à análise. Por essas razões, duas considerações devem ser incluídas na presente discussão: a integridade do tratamento e a análise dos eventos consequentes. Por meio da avaliação das respostas das mães, pode-se analisar o controle de determinadas variáveis sobre as respostas de desobediência da criança. A mãe C3 não seguiu adequadamente as instruções da pesquisadora, o que dificulta afirmar se as respostas da filha foram alteradas em função das variáveis manipuladas. Em programas de orientação de pais ou mesmo em consultas médicas, a efetividade do tratamento pode variar em função dessa integridade (Allan & Warzak, 2000). Portanto, é importante avaliar a frequência com que os pais seguem as instruções do tratamento.

Apesar de a presente pesquisa não manipular diretamente as consequências do comportamento de desobedecer, mediante reforço ou punição, considera-se importante analisar a funcionalidade dos comportamentos das crianças em interações com suas mães. Call et al. (2004), além de verificarem a influência das variáveis antecedentes, também manipularam variáveis consequentes, contingentes ao comportamento da criança, como retirada da atividade e atenção parental. Os resultados apontaram altas frequências de desobediência durante a condição de alta exigência com possibilidades de fuga/esquiva e menores frequências de comportamento de desobediência na condição de baixa exigência com possibilidades de fuga e esquiva com atenção.

 

Referências

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Endereço para correspondência:
Márcia Cristina Caserta Gon
Universidade Estadual de Londrina
Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento
Caixa Postal 6001, Londrina - PR - Brasil. CEP: 86051-990
E-mail: marciagon@sercomtel.com.br

Submissão: 11.01.2013
Aceitação: 10.05.2013