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Psicologia: teoria e prática

Print version ISSN 1516-3687

Psicol. teor. prat. vol.15 no.2 São Paulo Aug. 2013

 

DESENVOLVIMENTO HUMANO

 

Índices complementares para o estudo de uma representação social a partir de evocações livres: raridade, diversidade e comunidade

 

Complementary indexes to study a social representation from free evocations data: rarity, diversity and community

 

Índices adicionales para el estúdio de una representación social con evocaciones: rareza, diversidad y comunidad

 

 

Rafael Pecly WolterI; João WachelkeII

IUniversidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro - RJ - Brasil
IIUniversidade Federal de Uberlândia, Uberlândia - MG - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este artigo visa apresentar, com exemplos empíricos, três índices calculáveis a partir de dados de evocações livres. Dois desses índices foram elaborados por Flament e Rouquette (2003) e indicam o grau de diversidade e de raridade das evocações. O terceiro índice permite o estudo da proporção de elementos comuns a dois corpora de evocações, por isso foi nomeado de índice de comunidade. A partir desses três indicadores, é possível ter informações sobre o grau de compartilhamento social de cada objeto, seu nível de idiossincrasia e a proporção de comunidade entre dois corpora. Essas informações, quando associadas a outras técnicas, podem ser úteis para uma melhor compreensão da relação população-objeto.

Palavras-chave: análise de evocações; índice de raridade; índice de diversidade; índice de comunidade; representações sociais.


ABSTRACT

This paper aims at presenting three indexes that can be calculated from free evocation data. Two of those indexes were elaborated by Flament and Rouquette (2003), and they indicate the diversity and rarity degrees of evocations. The third index allows for the study of the proportion of elements common to two evocation corpora. From these three indicators it is possible to have information about the degree of social sharing of each object, their idiosyncrasy level and the community proportion between two corpora. When associated with other techniques, such information might be useful for a better understanding of the population-object relationship.

Keywords: evocation analysis; rarity index; diversity index; community index; social representations.


RESUMEN

Este artículo tiene como objetivo presentar, con ejemplos empíricos, tres índices estimados a partir de datos de evocaciones libres. Dos de estos índices fueron desarrollados por Flament y Rouquette (2003) e indican el grado de diversidad y rareza de las evocaciones. El tercer índice permite estudiar la proporción de elementos comunes a los dos corpora de evocaciones, por lo que fue llamado el índice de la comunidad. A partir de estos tres indicadores es posible tener información sobre el grado de participación social de cada objeto, su nivel de la idiosincrasia y la proporción de comunidad entre los dos corpora. Esta información, cuando se combina con otras técnicas, puede ser útil para una mejor comprensión de la relación población-objeto.

Palabras clave: análisis de las evocaciones; índice de rareza; índice de diversidad; índice de comunidad; representaciones sociales.


 

 

A técnica de associação verbal, às vezes chamada de técnica de associação livre de palavras ou evocação livre, é muito popular nos estudos de representações sociais (Camargo, Barbará, & Bertolo, 2007; Gomes & Oliveira, 2005; Gomes, Oliveira, & Sá, 2008; Oliveira & Costa, 2007; Naiff, Soares, Azamor, & Almeida, 2008; Sá, 1996; Tura, 1998; Wachelke, 2009). Essa técnica consiste em pedir aos participantes para que evoquem o que têm em mente quando se deparam com o indutor, que geralmente é o objeto de representação social do estudo. Não existem limites ou regras para a quantidade de palavras a serem evocadas, pois ficam a critério do pesquisador. Usualmente os pesquisadores solicitam de três a cinco evocações, sob forma de palavras ou expressões. Essas evocações podem ser analisadas de diversas maneiras: com análises fatoriais (por exemplo, Deschamps, 2003; Fonseca, Azevedo, Araújo, Oliveira, & Coutinho 2007), análise prototípica e seus desdobramentos (Vergès, 1992; Sá, 1996; Abric, 2003; Wachelke & Wolter, 2011) e análise de conteúdo (Bardin, 2003).

Essa técnica de coleta de dados tem a vantagem de fornecer informações numerosas, de maneira rápida e pouco dispendiosa para os participantes e pesquisadores. Com uma simples pergunta, é possível saber o que o indutor ativa na população estudada.

No campo das representações sociais, vários fatores poderiam explicar o sucesso dessa técnica. Dois desses fatores são a sua facilidade de aplicação e o fato de permitir o acesso simultâneo ao conteúdo e à estrutura representacional, a partir da análise das evocações hierarquizadas.

Este artigo tem por objetivo apresentar dois índices, desenvolvidos por Flament e Rouquette (2003), que estudam duas dimensões do corpus de evocação: a diversidade dos termos evocados e seu compartilhamento social. Essa apresentação será ilustrada por um exemplo empírico. Em seguida, será apresentado um índice inédito que traduz o grau de comunidade entre dois corpora de evocações.

 

Características do corpus representacional

Na maioria dos casos, um corpus de evocação livre não é simplesmente um aglomerado de respostas individuais reagrupadas para formar um conjunto. Por essa razão, é necessário estudar as características globais das respostas, pois elas podem nos dar informações acerca do objeto representacional, as quais são úteis para uma melhor compreensão da relação população-objeto. As características globais do corpus permitem também uma comparação entre diferentes corpora. Como veremos a seguir, tomar conhecimento da quantidade (ou proporção) de evocações diferentes, da quantidade (ou proporção) de termos que são evocados somente uma vez ou da frequência média em que os termos são evocados permite uma melhor compreensão do compartilhamento social e do nível de estruturação do objeto. De modo algum, essas informações substituem a análise das evocações, desenvolvida por Vergès (1992), a partir da ordem de evocação e da frequência. São simplesmente análises diferentes e complementares dos mesmos dados (ver Quadro 1).

A seguir ilustraremos, com dois exemplos empíricos, como é possível, a partir de evocações livres, obter informações complementares às obtidas com a análise prototípica de Vergès (1992).

 

Método

Amostra e procedimentos

Os dados acerca dos índices de diversidade e raridade foram obtidos com uma amostra composta por 151 estudantes universitários italianos (110 mulheres e 41 homens; média de 21,4 anos; desvio padrão de 1,85 ano), cada um evocou três termos ou expressões a partir dos indutores "família" e "trabalho". O segundo exemplo empírico, sobre o índice de comunidade, contou com a participação de 57 sujeitos (34 mulheres e 23 homens; média de idade de 36,2 anos; desvio padrão de 10,4 anos) e todos parisienses. Os participantes forneceram até quatro evocações a partir dos seguintes termos indutores: "bairro", "bairro ideal" e "bairro anti-ideal".

Análise a partir dos índices complementares

Uma tarefa de associação de palavras, também chamada de tarefa de evocação de palavras, fornece ao pesquisador um corpus de palavras e expressões em que se podem distinguir:

o número total de evocações (N);

o número total de evocações diferentes (elementos), denominadas, segundo a nomenclatura de Flament e Rouquette (2003), tipos (T);

a quantidade elementos que só são evocados uma única vez ou Hapax (H);

a frequência de evocação dos tipos (elementos).

A partir do número de evocações diferentes, da quantidade de tipos e de Hapax, Flament e Rouquette (2003) desenvolveram dois índices que permitem estudar uma população de respostas.

Índice de diversidade (T/N)

O primeiro índice que apresentamos é relativo à diversidade das evocações. O índice T/N corresponde à proporção de tipos (termos diferentes) sobre o número total de evocações do corpus. Caso o total de evocações do corpus seja igual ao número de tipos, então T/N = 1. Por exemplo, se, para o objeto "futebol", cinco participantes evocarem as palavras apresentadas no Quadro 2, teremos cinco evocações e cinco tipos (termos diferentes). Nesse caso, como cada participante deu uma resposta singular e idiossincrática, o compartilhamento social do objeto é nulo.

 

 

No caso oposto, se todos os participantes evocarem o mesmo termo, o índice será próximo de 0. Por exemplo, se, para o objeto "mesa", todos os 100 sujeitos de um hipotético estudo evocarem o termo "cadeira", teremos então 100 evocações (N = 100) e um tipo (cadeira). Nesse caso, o índice será de 1/100 = 0,01. Um índice próximo de 0 traduz um pensamento único e estereotipado.

Os objetos de representação social não são extremos como esses exemplos e tendem a ter índices de diversidade mais moderados. O importante, nos casos não tão extremos, é observar se o índice tende para 0, o que significaria um compartilhamento social elevado do objeto, ou, no caso oposto, se o índice tende a se aproximar de 1, o que traduziria uma grande idiossincrasia das evocações para o grupo estudado. Convém ressaltar que De Rosa (2003) apresentou uma medida intitulada índice de estereotipia que é similar ao índice de diversidade. A única diferença reside no fato de multiplicar por 100 a razão de T sobre N. Mantendo a nomenclatura de Flament e Rouquette (2003), o índice de estereotipia corresponde a (T/N) × 100. Ou seja, em vez de variar de 0 a 1, esse indicador varia de 0 a 100.

Índice de raridade (H/T)

Geralmente dentro de um corpus de respostas, encontram-se termos que só foram evocados uma vez e por uma única pessoa; esses termos com frequência mínima são chamados de Hapax. Se todos os termos de um corpus forem Hapax, então nenhum termo se repetirá e será compartilhado; nesse caso H, T e N serão iguais.

O índice de raridade é a proporção de Hapax sobre o número de termos diferentes evocados (tipos). Se a quantidade de Hapax dentro do corpus é igual à quantidade de tipos (H/T = 1), isso significa que o objeto não é compartilhado socialmente e o corpus é composto por um conjunto de respostas individuais. Se a quantidade de Hapax for nula (e H/T = 0), isso significará que nenhuma resposta é idiossincrática. No caso dos estudos de representação social, é comum ter alguma quantidade de Hapax, porém, se essa quantidade for alta e simultaneamente o índice de raridade for baixo, haverá um indício de baixo compartilhamento social do objeto.

Os dois índices, de raridade e de diversidade, possuem semelhanças, mas, como afirmam Flament e Rouquette (2003, p. 63), eles correspondem a

[...] "olhares" diferentes sobre a população de respostas, e todo o problema é saber qual dos olhares responde da melhor forma à investigação em desenvolvimento. A diversidade é uma medida global da variedade interna das populações, e a raridade é uma medida de rendimento relativo a essa variedade. Os dois podem então se combinar: estudadas em conjunto, a minimização da diversidade (T/N) e a maximização da raridade (proporção de Hapax) reforçam o diagnóstico da existência de uma representação estruturada.

Índice de comunidade: a proporção de elementos comuns a dois corpora

Quando dois corpora de evocações são comparados, é possível estudar a proporção de elementos comuns aos dois conjuntos sobre o total de elementos evocados. Isso equivale a retomar o índice de Jaccard (1901) para o estudo das evocações. Esse índice é muito usado em estatística (Youness & Saporta, 2004) e até mesmo para a análise de dados verbais (Rossignol & Sebillot, 2006). Concretamente, no caso das evocações, esse índice corresponde à divisão do número de evocações presentes nos dois corpora sobre o total de elementos evocados.

Formalização do índice de comunidade

Após uma tarefa de associação livre em que os participantes evocam o que lhes vêm à mente a partir de dois estímulos, A e B, obtêm-se dois corpora de evocações: corpus A e corpus B. Têm-se então dois corpora pertencentes ao conjunto N (total de respostas associativas). Cada evocação (anotada x) pertence ao conjunto N, o que corresponde a

x N

Existem três possibilidades para esse elemento evocado:

x A, x B (x está presente no corpus A e não está presente no corpus B);

x B, x A (x está presente no corpus B e não está presente no corpus A);

x A, x B (x está presente nos corpora A e B).

Essa terceira possibilidade corresponde à interseção entre os corpora A e B. Quando se somam os elementos da primeira condição com os da segunda e terceira condições, obtém-se a totalidade dos elementos evocados. Esse índice interessa-se pela proporção de elementos comuns sobre o total de elementos e, consequentemente, corresponde à divisão da possibilidade 3 sobre a soma de 1 + 2 + 3. Ou seja, isso significa que se divide:

a quantidade de elementos (evocações diferentes) comuns aos dois corpora/ sobre a totalidade dos elementos (evocações diferentes) evocados pelos dois corpora.

A totalidade de elementos evocados corresponde ao T da nomenclatura de Flament e Rouquette (2003), pois corresponde à totalidade de evocações diferentes dos corpora. A quantidade de elementos comuns aos dois corpora será chamada de C. Com essa nomenclatura, o índice de comunidade pode ser escrito como C/T.

Esse índice tem as seguintes características:

C < T.

0 < C/T < 1.

Se C = T, logo C/T =1.

Se C = 0, logo C/T = 0.

Caso o total de elementos compartilhados seja igual ao total de elementos evocados, o resultado do índice será 1. Nesse caso, todos os elementos dos corpora são comuns aos dois grupos, e nenhum elemento pertence a um grupo sem pertencer ao outro. No caso oposto, em que nenhum elemento é compartilhado, o resultado do índice é 0. Quando o índice se situa entre esses extremos, quanto mais se aproxima de 1, mais os corpora estudados compartilham elementos, e, quanto mais se aproxima de 0, menos os corpora têm elementos em comum.

 

Resultados

Exemplo empírico acerca dos índices de raridade e variedade

Na Tabela 1, é possível observar que "trabalho" tem uma quantidade maior de tipos e de Hapax, resultado que se traduz nos índices de diversidade e de raridade. O índice de diversidade do objeto "família" (0,29) é menor que o do objeto "trabalho" (0,41). Isso demonstra que o objeto "família" evoca proporcionalmente menos tipos que o objeto "trabalho" para os estudantes italianos, ou seja, existe uma maior variedade de evocações para o objeto "trabalho" comparativamente "família". Como consequência dessa maior variedade, um tipo é geralmente evocado 3,48 vezes quando o objeto é "família", enquanto a média é de 2,45 vezes quando o objeto é o "trabalho", e essa diferença é significativa [t(313) = 1,76; p < 0,05; d = 0,20)].

 

 

Quanto ao índice de raridade, é possível observar que a proporção de Hapax sobre os tipos é maior para o objeto "trabalho" (0,70) que para "família" (0,53). Quando comparamos as proporções de Hapax e de não Hapax (ver Tabela 2) dos dois objetos com o teste do χ², a diferença é significativa (χ² = 9,07; gl = 1; p < 0,01). Com esses resultados, podemos afirmar que a quantidade de Hapax é maior para o objeto "trabalho", o que traduz uma maior proporção de respostas idiossincráticas para esse indutor comparativamente ao indutor "família".

 

 

Essa primeira análise das evocações permitiu uma comparação dos dois objetos, mostrando que o indutor "trabalho" ativa uma maior variedade de termos e uma maior quantidade de termos idiossincráticos, e que suas evocações são menos compartilhadas que as do indutor "família". Esse resultado traduziria uma menor elaboração social do objeto "trabalho", o que talvez pudesse ser explicado pelo fato de que os participantes são estudantes e tiveram, de modo geral, pouco contato com o mundo do trabalho. Por sua vez, a "família" é algo vivido por todos e tem um papel estruturador em qualquer sociedade humana (Lévi-Strauss, 1948), além de ser um dos locais privilegiados em que os indivíduos se socializam e aprendem a viver em sociedade. Não é de se espantar que, para estudantes universitários, o objeto "família" seja mais elaborado e compartilhado que "trabalho".

Exemplo empírico do índice de comunidade

A Tabela 3 apresenta os tipos e termos evocados em função dos objetos estudados: "bairro", "bairro ideal" e "bairro anti-ideal".

 

 

Para calcular o índice de comunidade, é necessário conhecer a quantidade de tipos comuns aos corpora de evocações estudados. A Tabela 4 indica que as evocações de "bairro" e "bairro ideal" compartilham 33 tipos. Por sua vez, "bairro" e "bairro anti-ideal" compartilham 11 elementos, enquanto "bairro ideal" e "bairro anti-ideal" compartilham 5 tipos.

O cálculo do índice de comunidade (ver Tabela 5) mostra que os corpora de "bairro" e "bairro ideal" compartilham mais tipos (índice de 0,19) que "bairro" e "bairro anti-ideal" (0,06). Isso demonstra que, para essa população, o indutor "bairro" tem mais elementos em comum com o indutor "bairro ideal" que com o indutor "bairro anti-ideal". De maneira previsível, "bairro ideal" e "bairro anti-ideal" têm poucas evocações em comum. A partir do índice de comunidade, foi possível ordenar a comunidade entre os corpora da seguinte maneira: "bairro - bairro ideal" > "bairro - bairro anti-ideal" > "bairro ideal - bairro anti-ideal".

 

 

Discussão

A partir de uma tarefa de evocação, é possível fazer uma grande quantidade de análises; a maioria delas interessa-se pelo conteúdo evocado e não pela organização. Com os índices aqui apresentados, é possível ter informações sobre a totalidade do corpus, e essas informações permitem uma melhor compreensão da representação social estudada. O objetivo aqui não é propor que o estudo do conteúdo representacional seja abandonado, mas atribuir maior atenção às características do corpus representacional.

Este artigo apresentou ao leitor brasileiro dois índices, recentemente elaborados na França (Flamente & Rouquette, 2003), voltados às características globais das evocações. Os índices de diversidade e raridade baseiam-se em três informações: a quantidade de evocações (N), de tipos (T) e de Hapax (H). As três características permitem um mapeamento do corpus não acessível com outras técnicas e análises de dados. A observação dessas características permite também a utilização de testes de significância (χ², t de Student e Anova), caso mais de um corpus seja estudado. Parece-nos que conhecer o nível de compartilhamento do corpus e a diversidade dos elementos evocados é importante, até mesmo como indicação sobre a adequação do objeto à teoria das representações sociais (TRS). Caso o nível de compartilhamento não seja elevado, é bem provável que a teoria das representações sociais não seja uma boa escolha para a interpretação dos dados. Quanto à diversidade dos termos evocados e de seu índice, eles indicam o grau de estereotipia do objeto na população. Estereotipia aqui tem o sentido de "hipersimplificação categorial de uma realidade" (De Rosa, 2003, p. 92). Além disso, quando se estudam vários corpora (com mais de uma população e/ou mais de um objeto), é possível obter outro indicador: a quantidade de termos comuns (C).

A adaptação do índice de Jaccard, como no caso dos índices de raridade e diversidade, pode ser útil quando associada à análise prototípica (Abric, 2003; Sá, 1996; Vergès, 1992, 1994). O índice de comunidade permitiria, sem perguntas suplementares, obter informações sobre o grau de compartilhamento entre corpora de evocações. Quando mais de dois corpora estão presentes, é possível ordená-los, do mais alto grau de comunidade ao mais baixo. Quanto mais as representações forem "próximas", mais o índice será alto, traduzindo o nível de homogeneidade dos corpora. No exemplo apresentado no texto, uma mesma população produzia evocações para vários objetos, mas o índice pode ser usado para populações diferentes e para um mesmo objeto e até mesmo objetos diferentes.

Todos esses indicadores e índices são ateóricos e podem ser usados dentro do quadro teórico das representações sociais ou de qualquer outra teoria. No entanto, parece-nos que, dentro da teoria das representações sociais, o estudo das características de comunidade, raridade e diversidade fornece informações importantes para o diagnóstico da representação para o grupo estudado. Saber se o que o objeto ativa numa determinada população é idiossincrático, compartilhado entre os membros do grupo e comum a outro objeto ou população permite um melhor conhecimento da relação população-objeto, um dos maiores objetivos dos pesquisadores no campo da teoria das representações sociais.

 

Referências

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Endereço para correspondência:
Rafael Pecly Wolter
Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Rua São Francisco Xavier, 524, 10º andar, sala 10.009, bloco F
Maracanã, Rio de Janeiro - RJ - Brasil. CEP: 20550-900
E-mail: rafaelpeclywolter@gmail.com

Submissão: 06.05.2012
Aceitação: 03.04.2013