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Psicologia: teoria e prática

versão impressa ISSN 1516-3687

Psicol. teor. prat. vol.15 no.2 São Paulo ago. 2013

 

DESENVOLVIMENTO HUMANO

 

Programa de orientação: como estimular a linguagem das crianças nascidas pré-termo

 

Parent orientation program: how to stimulate premature babies' language

 

La formación de padres: estimulando el desarrollo del lenguaje en niños prematuros

 

 

Fernanda Mara do Nascimento; Marina Brandão Rodrigues; Ângela Maria Vieira Pinheiro

Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte - MG - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Durante os primeiros anos de vida, o desenvolvimento de boas habilidades linguísticas, decorrentes de uma íntima interação verbal entre a criança e seus pais, prediz a facilidade de aprendizagem da leitura. Se toda criança precisa de estimulação para um desenvolvimento cognitivo eficaz, tal necessidade aumenta em crianças nascidas pré-termo. Essas crianças, além do risco biológico, estão sujeitas também ao risco de um ambiente (tanto hospitalar quanto familiar) pouco estimulante. Foi desenvolvido um programa de orientação para pais sobre como estimular a linguagem do filho desde o nascimento, para que ele possa, no futuro, aprender a ler bem. Testamos esse programa em uma amostra de pais de crianças pré-termo. Dos participantes, 98,92% afirmaram ter aprendido novas informações, e todos disseram ser possível aplicar os conhecimentos adquiridos no cotidiano, evidenciando, portanto, comprometimento com a facilitação do desenvolvimento linguístico dos filhos. No presente artigo, discutiremos essa experiência.

Palavras-chave: linguagem; aprendizagem; leitura; capacitação; nascimento prematuro.


ABSTRACT

It has been demonstrated that the development of good linguistic abilities during the first years of life, resulting from an intimate verbal interaction between children and their parents, facilitates reading acquisition. If all children need to be stimulated in order to have a good cognitive development, this is even more necessary in the case of premature babies. Apart from the biological risk, they are also subject to hazard coming from an environment that may not be stimulating enough. A guiding program for parents was developed on how to stimulate the children's language from birth, so that he may in the future learn to read well. We tested this program on a sample of parents of preterm children. Of the participants, 98.92% affirmed that they learned new information and all of them declared that it is possible to apply the acquired knowledge on a daily basis, evidencing thus a comprise with the facilitation of the linguistic development of their children. In this article we discuss this extramural experience.

Keywords: language; learning; reading; training; premature birth.


RESUMEN

Durante los primeros años de vida, ha sido mostrado que el desarrollo de buenas habilidades lingüísticas, decurrentes de una íntima interacción verbal entre el niño y sus padres, predice la facilidad de aprendizaje de la lectura. El estímulo se hace aún más presente en los niños prematuros. Además del riesgo biológico, ellos están sujetos al riesgo de un ambiente poco estimulante. Desarrollamos un programa de orientación para los padres sobre como estimular la lenguaje de su hijo desde el nacimiento para que él pueda, en el futuro, aprender a leer bien. Los resultados muestran que 98,92% de los padres dicen que han aprendido nuevas informaciones y todos los encuestados afirmaron la posibilidad de aplicar las informaciones adquiridas en el curso en sus vidas cotidianas, mostrando conciencia en la promoción del desarrollo del lenguaje en niños. Con ese artículo discutiremos esa experiencia.

Palabras clave: lenguaje; aprendizage; lectura; capacitación; nascimiento prematuro.


 

 

Para se formar um bom leitor, é preciso primeiro formar um bom ouvinte. É através da escuta e de sua compreensão que se aprende a falar. O desenvolvimento adequado da linguagem oral facilita a aprendizagem da leitura e mantém uma estreita relação com essa habilidade. Por exemplo, uma criança que possui um vocabulário empobrecido não vai entender o que lê muito melhor do que entende o que ouve.

Segundo Lindner (1999), no quinto mês gestacional, as estruturas da orelha média encontram-se formadas, com as funções cocleares já demonstráveis. Em torno do sexto mês, as vias auditivas periféricas atingem amadurecimento, começando a mielinização das fibras no nervo auditivo. Testes de audição fetal, como os realizados por Johansson, Wedenberg e Westin (1964), DeCasper e Fifer (1980) e Abrams, Gerhardt, Huang, Petters e Langford (2000), mostram que, já na vida intrauterina, o feto ouve sinais auditivos que passam através dos fluidos que o circundam. Ouve os ruídos internos do organismo da mãe e ruídos do ambiente externo, sendo os sons da voz materna aqueles que se sobrepõem a todos outros (Lindner, 1999; McGuiness, 2006; Klaus & Klaus, 2001). Após o nascimento, o bebê precisa de estímulos auditivos e comunicativos de qualidade para concretizar a maturação da via auditiva, e isso se torna ainda mais importante no caso de crianças nascidas pré-termo, cujo desenvolvimento das vias auditivas pode não ter se completado.

A prematuridade, por aumentar a probabilidade de problemas em diversas áreas e momentos do desenvolvimento, é apontada como um fator de risco biológico (Linhares, 2004). Apesar dessa propensão, um ambiente familiar adequado pode reduzir ou compensar os efeitos adversos dessa condição, ao passo que um ambiente inadequado pode intensificá-los. Como mostram Levy-Shiff et al. (1994), o ambiente social exerce, após o primeiro ano de vida, papel fundamental no desenvolvimento da criança pré-termo. Para Rugolo (2005), efeitos socioambientais atrelados ao fator biológico podem influenciar em vários aspectos do desenvolvimento cognitivo, inclusive na aprendizagem da fala e, consequentemente, da leitura. Até mesmo crianças a termo, privadas de uma interação verbal normal, terão seu desenvolvimento linguístico comprometido e poderão nunca mais se recuperar, caso essa privação seja longa demais (McGuiness, 2006).

Conhecendo o processo de crescimento dos filhos, os pais podem tornar-se aptos a identificar desvios quanto ao desenvolvimento esperado, recorrendo à ajuda necessária, sendo a intervenção precoce essencial para que o problema seja superado. Durante os primeiros anos de vida, o desenvolvimento de boas habilidades para linguagem oral prediz a futura facilidade de aprendizagem da leitura. Segundo Tussi e Rossing (2008), contar com os pais para introduzir as primeiras ações de leitura com os bebês, na forma de interação e práticas orais de leitura, é fundamental para a formação de leitores.

Com base na importância do papel dos adultos no processo de desenvolvimento das crianças, um programa de orientação para pais sobre como estimular a linguagem do filho desde o nascimento para que ele possa aprender a ler bem se torna uma ferramenta a mais no campo da capacitação de pais. Assim, o projeto de extensão "Treinamento de pais: um programa de intervenção nos problemas de aprendizagem da leitura", coordenado pela última autora, foi formulado. Tem como objetivo assistir os pais na educação linguística de seus filhos, demonstrando-lhes, de forma interativa, modelos de condutas adequados que possam não só levá-los a facilitar o desenvolvimento da linguagem de suas crianças, mas também a identificar os sinais de desenvolvimento atípico dessa habilidade, com enfoque em crianças pré-termo.

A seguir, apresentamos um relato de experiência sobre os quatro meses iniciais da aplicação desse projeto no Ambulatório da Criança de Risco do Hospital das Clínicas (Acriar-HC), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que, como resultado dessa experiência, passou ser conduzido em fluxo contínuo.

 

Método

Trata-se de um estudo de intervenção de caráter extensionista, baseado no livro Cultivando um leitor desde o berço, de Diane McGuiness (2006).

Participantes

Os participantes são pais de crianças pré-termo entre zero a 6 anos que aguardavam consulta no Acriar e que foram convidados a dirigir-se a uma sala específica desse ambulatório, na qual receberam informações sobre aspectos do desenvolvimento de crianças, em forma de um minicurso.

Instrumentos

Minicurso: consistiu em apresentações com uso de recursos audiovisuais (vídeos, músicas, fotos e desenhos) que permitiram transmitir as informações de forma objetiva e com exemplos, sempre que necessário, em cinco módulos. Os quatro primeiros abordaram o desenvolvimento linguístico das crianças nas seguintes idades: de zero a 1 ano (módulo 1), de 1 a 2 anos (módulo 2), de 3 a 4 anos (módulo 3) e de 4 a 6 anos (módulo 4). O último módulo resume todo o conteúdo anterior, abrangendo, em uma só apresentação, todo o espectro de zero a 6 anos. Os conteúdos abordados foram trabalhados em cinco módulos independentes.

Cartilha ilustrativa: trata-se de um livreto de seis páginas que ilustra e resume os pontos mais importantes do minicurso, possibilitando aos pais não somente consultas posteriores, mas também retransmissão das informações obtidas.

Questionário de avaliação: cada questionário continha sete perguntas fechadas e duas perguntas abertas (Quadro 1). No primeiro grupo de perguntas, os pais avaliaram o treinamento quanto aos seguintes aspectos: clareza, adequação de seu conteúdo à sua duração, qualidade dos recursos audiovisuais, novidade das informações, possibilidade das informações aprendidas serem colocadas em prática, conhecimento prévio e, por fim, a interação estabelecida (isto é, se, durante o minicurso, os pais se sentiram à vontade para interagir). Na pergunta aberta, os pais foram convidados a descrever tanto os assuntos que mais lhes interessaram quanto os que gostariam que fossem aprofundados em cursos futuros.

Procedimento

Todo o procedimento de capacitação dos pais foi ministrado pelos bolsistas do projeto supracitado. As sessões se iniciaram com um convite aos pais para uma conversa com a equipe de psicologia sobre o desenvolvimento de crianças. Na sala pertinente, os pais foram recebidos com um vídeo de duração de aproximadamente quatro minutos que antecede o minicurso. Foi-lhes explicado que a apresentação pode se concentrar no desenvolvimento de crianças de várias idades e que a escolha de certa faixa etária dependerá do interesse da maioria. Após a escolha do módulo, procedeu-se à sua apresentação, a qual ocorreu de maneira a incentivar a participação e troca de experiência das palestrantes com os pais e entre eles, aproximando a apresentação a uma roda de conversa.

Ao final do minicurso, os participantes receberam a cartilha e foram convidados a responder ao questionário de avaliação. O programa de treinamento foi ministrado regularmente uma vez por semana. Dois minicursos foram ministrados por dia, com duração de cerca de uma hora cada.

No período aqui relatado, cada apresentação contou com uma média de cinco a oito pais. Entretanto, devido ao fato de o treinamento ocorrer no tempo de espera de consultas médicas, alguns pais foram chamados para atendimento e precisaram sair antes do término. Por essa razão, os questionários de avaliação foram feitos apenas com os pais que assistiram ao minicurso do princípio ao fim. Durante o período de quatro meses, 54 questionários foram respondidos.

 

Resultados

Todos os respondentes classificaram a apresentação como clara, acharam possível praticar as técnicas ensinadas em seu dia a dia, avaliaram os recursos audiovisuais como bons e relataram que se sentiram à vontade para interagir ao longo da apresentação. Dos participantes, 98,38% consideraram o tempo de apresentação suficiente, 96,22% disseram já praticar alguns dos conhecimentos transmitidos e 98,92% afirmaram ter aprendido informações novas. No Gráfico 1, encontram-se o resultado das perguntas fechadas.

 

 

Quanto à pergunta aberta (Figura 1), os assuntos que despertaram maior interesse foram organizados em dois tópicos, de acordo com a ordem de preferência dos participantes: os relativos ao relacionamento dos pais com o bebê e ao conhecimento da linguagem dos bebês. No que se refere ao primeiro tópico, os pais mostraram maior interesse pela "importância da fala materna", pela "forma de conversar com o bebê - olhando para ele e deixando ele se expressar também" e ainda pela maneira de "ensinar limites sem ser autoritário". A respeito do segundo tópico, os escolhidos como mais relevantes foram: "aproveitar todos os momentos para conversar", "contar e recontar histórias", "as maneiras de estimular o desenvolvimento da linguagem - usar frases completas, falar claramente e não ser repetitivo" e o fato de que "a criança compreende mais do que consegue falar".

Esses resultados são encorajadores e mostram que o objetivo de sensibilizar e orientar pais foi alcançado, uma vez que estes mantiveram alto índice de participação ao longo do minicurso, trazendo relatos quanto aos resultados positivos que observaram nos filhos ao praticarem as técnicas aprendidas. Relatos igualmente favoráveis foram emitidos pelo corpo técnico do Acriar a respeito do impacto do presente projeto na rotina do ambulatório. O Quadro 2 apresenta exemplos de ambos os tipos de dados qualitativos.

 

Discussão

Como a linguagem é algo tão natural ao ser humano, temos a impressão de que já nascemos sabendo falar, sem a necessidade de esforço algum. No entanto, embora já tenhamos uma habilidade inata para a fala, a aprendizagem de uma língua dá-se por meio das interações sociais.

No hemisfério esquerdo do cérebro, existem áreas especializadas para linguagem: a área de Broca, responsável pela produção da linguagem (tanto falada quanto de sinais), e a área de Wernicke, responsável pela compreensão da linguagem (falada ou de sinais) (Kolb & Whishaw, 2002). Nascemos biologicamente hábeis para desenvolver a linguagem, mas, para que isso aconteça, a exposição à fala é essencial. Cada bebê irá aprender a língua que escuta, de acordo com a região em que vive, o que mostra a importância do ambiente, em especial o familiar.

As crianças aprendem observando os adultos, e os pais são, na maioria das vezes, a presença mais influente nesse processo (Garton, 1992; McGuiness, 2006, Tussi & Rossing, 2008). Para Oliveira, Enumo, Azevedo e Queiroz (2011), torna-se importante compreender a criança em sua complexidade, possibilitando o planejamento de atividades direcionadas às suas necessidades, principalmente para aquelas em risco potencial para problemas de desenvolvimento. É essa sensibilização que o nosso projeto visa trazer.

Considerando especificamente a influência familiar para o desenvolvimento de bebês prematuros, a literatura aponta uma relação direta entre ansiedade dos pais e o desenvolvimento da criança. Pinto, Padovani e Linhares (2009) relatam que, após o nascimento do bebê prematuro e durante sua internação na unidade de tratamento intensivo neonatal, a mãe apresenta ansiedade elevada. Para Fraga, Linhares, Carvalho, Vita e Martinez (2008), essa ansiedade se expressa em um comportamento materno com tendência a ser intrusivo e superprotetor na relação com o bebê, o que claramente percebemos nos discursos dos participantes do nosso treinamento.

Além da variável ansiedade materna, Fraga et al. (2008) também consideraram a influência do nível socioeconômico e de escolaridade dos pais. Mães de baixo nível socioeconômico são menos responsivas e, por isso, dão mais feedback negativo à criança. Mães com maior nível de escolaridade possuem maior variedade de estimulação ao interagirem com os filhos, e estes apresentam melhor desenvolvimento.

O que o nível de ansiedade materna e o nível socioeconômico e de escolaridade dos pais têm em comum é a determinação da qualidade de estímulos e respostas que serão dados às crianças pelos pais, e a qualidade dessa interação é um indicador para o desenvolvimento cognitivo. A diversidade e qualidade de interações podem ser obtidas por meio de conversas com bebê desde o útero, pois, a partir do sexto mês gestacional, ele já é capaz de ouvir a entonação da fala da mãe (Abrams et al., 2000). No nosso treinamento, incentivamos os pais a contar histórias e a brincar com os filhos, explorando o máximo essas experiências. Mostramos que todas as ações desses momentos lúdicos devem ser narradas com vivacidade e expressas de forma clara e correta por meio da adição gradativa de palavras e conceitos novos e do ensino de noções de tempo e de categorias. Enfatizamos ainda que a interação que se estabelece deve ser descontraída, e, nos casos em que a fala da criança deve ser corrigida, isso deve ocorrer de forma casual e contextualizada. Os pais são também aconselhados a propiciar aos filhos um ambiente calmo e silencioso, usando a fala materna com os bebês e sem subestimar a capacidade de compreensão das crianças novas, posto que o vocabulário receptivo delas chega a ser aproximadamente quatro vezes maior que o vocabulário expressivo. São ainda estimulados a conversar sobre eventos passados e futuros, durante momentos de rotinas, e a estar atentos aos indícios de problemas no desenvolvimento.

Portanto, a quantidade e a qualidade das interações estabelecidas são mais importantes do que a classe social. Para McGuiness (2006), o modo como a mãe interage com o filho pode amenizar as diferenças sociais e biológicas. Isso é especialmente relevante para crianças nascidas prematuras em comparação com as nascidas a termo. Como nos mostram Oliveira et al. (2011), o primeiro grupo tem maior probabilidade de alterações no desenvolvimento cognitivo, acadêmico, comportamental e da linguagem. Especificamente quanto às habilidades linguísticas, as crianças prematuras mostraram limitações no repertório verbal, tanto na capacidade de pronunciar palavras quanto no tamanho e na sofisticação do vocabulário expressivo: falaram uma média de palavras abaixo do esperado para a idade e apresentaram menor capacidade de categorização. Em geral, apresentaram pior desempenho em habilidades básicas para alfabetização, além de diagnósticos de transtornos de ansiedade, problemas desenvolvimentais invasivos, entre outros.

Embora o nosso projeto seja focado no desenvolvimento da linguagem, como um fator preventivo de futuras dificuldades na aprendizagem da leitura, evitando dessa forma os problemas escolares, também discutimos questões comportamentais e educacionais, importantes para uma boa relação afetiva com os pais, que, por fim, também irão auxiliar numa melhora na qualidade da interação pais e filhos, tão importante para um bom desenvolvimento linguístico.

"Incentivar a mãe para que converse com o bebê é o primeiro passo quando se quer desenvolver comportamentos de leitura [...]" (Tussi & Rossing, 2008, p. 5). Entretanto, os pais terão alguma dificuldade para estabelecer uma boa comunicação com os filhos se não tiverem um repertório adequado dessa habilidade. Segundo Del Prette e Del Prette (1999, 2001), "habilidades sociais de comunicação", como estimular a criança por meio de perguntas, responder aos questionamentos feitos por ela, fornecer feedback nas relações sociais e saber começar, manter e encerrar conversas, são muito importantes não apenas para o desenvolvimento de boas habilidades sociais e prevenção de problemas comportamentais, mas também para um bom desenvolvimento linguístico.

Sendo assim, o nosso projeto visa à melhora de perspectivas para as crianças do Acriar que, devido ao nascimento prematuro, apresentam, em geral, maior risco de um desenvolvimento cognitivo comprometido. Entretanto, reconhecemos que o ambiente de consultório hospitalar tem certas desvantagens, como a saída dos participantes para as consultas na hora em que são requisitados (o que muitas vezes ocorre antes do término do minicurso), reduzindo a amostra de questionários e privando os pais de ricas discussões que surgem ao longo dos conteúdos ministrados.

É importante ter em mente que os pais, ao avaliarem e melhorarem as próprias habilidades linguísticas e a forma como interagem com os filhos, podem facilitar e enriquecer a aprendizagem destes nessas habilidades. E sendo a capacidade linguística parte hereditária e parte dependente do ambiente familiar, torna-se importante uma intervenção precoce que capacite os pais para essa tarefa. Recurso que pode, inclusive, amenizar os problemas de aprendizagem de leitura (e também da escrita) e, em longo prazo, aumentar a qualidade da educação e diminuir as desigualdades sociais. Assim, levar tal atuação para mais pais e cuidadores de classe baixa que frequentam os hospitais públicos, aos educadores de creches e escolas públicas, expandindo o público-alvo, é um desafio e um objetivo para o futuro do projeto.

 

Referências

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Endereço para correspondência:
Fernanda Mara do Nascimento
Departamento de Psicologia
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Universidade Federal de Minas Gerais
Avenida Antônio Carlos, 6.627, Campus Pampulha
Belo Horizonte - MG - Brasil. CEP: 31270-901
E-mail: mnfernanda@hotmail.com

Submissão: 18.07.2012
Aceitação: 18.03.2013