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Psicologia: teoria e prática

versão impressa ISSN 1516-3687

Psicol. teor. prat. vol.16 no.2 São Paulo ago. 2014

 

PSICOLOGIA CLÍNICA

Consumo de substâncias psicoativas  em estudantes do ensino médio

 

Psychoactive drugs use among high school students

 

El consumo de drogas psicoactivas en adolescentes de la escuela secundaria

 

 

Andressa Pereira LopesI; Manuel Morgado RezendeII
I Faculdade Integrada Tiradentes, Maceió – AL – Brasil
II Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo – SP – Brasil

Endereço para correspondência

 

 


Resumo

Este estudo objetivou verificar a prevalência do consumo de substâncias psicoativas em adolescentes do ensino médio da cidade de Maceió, no Estado de Alagoas. Tratou–se de um estudo descritivo transversal. A amostra foi composta por 407 estudantes de quatro escolas públicas e três particulares. Os participantes responderam a um questionário sociodemográfico e a um questionário sobre o consumo de substâncias psicoativas. O álcool foi a substância mais consumida nas cinco modalidades de uso: na vida, no ano, no mês, uso frequente e uso pesado. O consumo na vida foi prevalente nos adolescentes do sexo masculino e nos estudantes das escolas particulares. A pesquisa verificou a necessidade de realizar projetos de prevenção ao uso de drogas de promoção de saúde.

Palavras–chave: adolescência; drogas; abuso de substâncias; ensino médio; prevalência


Abstract

This study aimed to determine the prevalence of psychoactivies substance use among high school students in Maceió, Alagoas state. It was a descriptive, cross sectional study. The sample was composed by 407 students and the survey was conducted in four public and in three private schools. Participants answered a sociodemographic questionnaire, and a questionnaire about consumption of psychoactive substances. Alcoholic beverages were the more consumed substance in the five modes of use: during the life, in a year, in one month, frequent and heavy use. Consumption in life was more prevalent in males and students from private schools. The research verified the need to carry out projects to prevent the drug use and improve health promotion.

Keywords: adolescence; drugs; substance abuse; high school; prevalence


Resumen

Este estudio tuvo como objetivo determinar la prevalencia de consumo de sustancias psicoactivas en los adolescentes de la escuela secundaria en la ciudad de Maceió, estado de Alagoas. Este fue un estudio transversal. La muestra fue compuesta por 407 estudiantes y el estudio fue conducido en cuatro escuelas públicas y tres privadas. Los participantes respondieron a un cuestionario sociodemográfico y a una encuesta sobre el uso de sustancias psicoactivas. El alcohol fue la sustancia más consumida en los cinco modos de uso: la vida, año, mes, consumo frecuente y consumo intenso. El uso en la vida era más frecuente en los adolescentes del sexo masculino y estudiantes de escuelas privadas. La investigación analiza la necesidad de llevar a cabo proyectos de prevención de drogas y promoción de la salud.

Palabras clave: adolescencia; drogas; abuso de sustancias; escuela secundaria; prevalencia


 

 

Esta pesquisa é um recorte da dissertação de mestrado intitulada Ansiedade e consumo de substâncias psicoativas em adolescentes (Lopes, 2011), apresentada ao Programa de Pós–Graduação em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) e financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). No entanto, a ideia de construir o artigo a partir dos objetivos específicos desse estudo maior surgiu porque o consumo de substâncias psicoativas, popularmente conhecidas como "drogas", é um dos maiores problemas sociais e de saúde pública do mundo, além de ser um tema que desperta interesse na sociedade e na comunidade científica.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), droga é qualquer substância não produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais sistemas, produzindo alterações no funcionamento do corpo.

As drogas psicotrópicas são aquelas que alteram o funcionamento cerebral, causando modificações no estado mental e no psiquismo do indivíduo que a utiliza. Portanto, são chamadas também de substâncias psicoativas (World Health Organization, 1981).

Esse consumo faz parte da própria história da humanidade, acontece há milhares de anos e muito provavelmente vai acompanhar sempre o homem (Tavares, Beria, & Lima, 2004; Parrott, Morinan, Moss, & Scholey, 2004).

Para Muza, Bettiol, Muccillo e Barbieri (1997), o conhecimento do hábito de consumir substâncias psicoativas remete a séculos anteriores, quando as sociedades primitivas utilizavam–nas de modo ritualístico. Esses autores afirmam que, nas décadas de 1960 e 1970, ocorreu uma verdadeira explosão do consumo pelos jovens. No Brasil, houve um aumento do consumo de substâncias psicoativas a partir da última década do século XX e uma intensificação do uso pelos adolescentes (Pratta & Santos, 2007).

Bucher (2002) relata que, nos anos 1960, com a contestação hippie, as drogas eram percebidas como uma oportunidade de experimentar novas sensações da vida, da interioridade humana. Porém, com a evolução da conjuntura econômica e com o militantismo, a sociedade dita "liberal" cedeu lugar ao modelo consumista, o movimento hippie foi desarticulado e as drogas tomaram outro sentido: elas têm, agora, o poder de fazer esquecer. Nos anos 1990, o consumo foi reforçado pelos meios de comunicação, que mostravam a droga como promessa de esquecer problemas e inseguranças e permitir encontros grupais.

Segundo Cavalcante, Alves e Barroso (2008), a geração atual é considerada a mais urbana da história. Por conta disso, os adolescentes ficam mais expostos aos riscos de consumir substâncias psicoativas. As autoras acrescentam que os fatores associados ao consumo de álcool na adolescência estão ligados a aspectos sócio–históricos, como a industrialização e a urbanização de décadas recentes, e à crise econômica dos anos 1980, responsável pela dificuldade de inserção do jovem no mercado de trabalho e pela consequente insatisfação de suas necessidades.

É na adolescência que geralmente acontece o primeiro contato com as drogas (Muza et al., 1997; Prata & Santos, 2007; Vinet & Faúndez, 2012). De acordo com Cruz e Marques (2000, p. 32): "Os levantamentos epidemiológicos sobre o consumo de álcool e outras drogas entre os jovens no mundo e no Brasil mostram que é na passagem da infância para a adolescência que se inicia esse uso".

A literatura, de forma geral, aponta que os fatores que podem levar os adolescentes a utilizar drogas são variados (De Micheli & Formigoni, 2002; Pratta & Santos, 2007), ou seja, o consumo não é causado por um fator, mas por uma combinação de fatores, quais sejam: genéticos, psicológicos, familiares, socioeconômicos e culturais.

No que diz respeito à idade, vários estudos analisam a associação dessa variável ao consumo de substâncias psicoativas.

Muza et al. (1997) realizaram uma pesquisa sobre consumo de substâncias psicoativa em adolescentes escolares com idade entre 13 e 19 anos, na cidade de Ribeirão Preto/SP. O resultado obtido, em relação à idade, foi que a primeira experiência com cada uma das substâncias psicoativas se concentra entre 14 e 16 anos, exceto para as bebidas alcoólicas, cuja primeira experiência ocorreu, na maioria das vezes, antes dos 11 anos de idade.

O V levantamento nacional sobre o consumo de drogas psicotrópicas entre estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública de ensino nas 27 capitais brasileiras obteve como resultado uma média de idade de 12,5 anos para o álcool e 12,8 anos para o tabaco. Essas substâncias aparecem com "idade do primeiro uso" menor que a das outras drogas psicotrópicas (Galduróz, Noto, Fonseca, & Carlini, 2005).

Nos estudos realizados por Muza et al. (1997), Galduróz et al. (2005) e Carlini, Galduróz, Noto e Napo, 2006, verificou–se que os meninos consumiam mais substâncias psicoativas que as meninas, com exceção de medicamentos estimulantes (anorexígenos), benzodiazepínicos (ansiolíticos), orexígenos (estimulantes do apetite), analgésicos e xaropes à base de codeína. O V levantamento apontou, em nível nacional, que o uso na vida de drogas foi maior para o sexo masculino (23,5%) do que para o sexo feminino (21,7%). O sexo masculino teve maior uso frequente que o feminino, e o uso pesado (ao menos 20 vezes por mês) foi idêntico para ambos os sexos, com 2,3% dos estudantes do sexo masculino e 1,7% do feminino, excluindo da análise o álcool e o tabaco. Já no estudo de Tavares et al. (2004), realizado em Pelotas com estudantes de 10 a 19 anos, não houve diferenças de consumo significativas entre meninas e meninos.

Em relação ao tipo de substâncias psicoativas consumidas pelos adolescentes, diversos estudos apontam a prevalência de uso na vida de substâncias lícitas sobre as ilícitas (Galduróz et al., 2005; Guimarães, Godinho, Cruz, Kappann, & Tosta, 2004; Sanceverino & Abreu, 2004; Muza et al., 1997). O I e II levantamentos domiciliares sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil também constataram, em seus resultados, que as substâncias lícitas são mais consumidas que as ilícitas (Carlini, Galduróz, Noto, & Nappo, 2002; Galduróz et al., 2005).

Alguns estudos apontam diferenças quanto ao consumo de substâncias psicoativas em escolas públicas e particulares. Guimarães et al. (2004) realizaram um estudo com estudantes em escolas públicas e particulares na cidade de Assis/SP, e constataram que, na rede pública, as substâncias mais consumidas na vida foram álcool (67,6%), tabaco (22,2%), solventes (8,9%), maconha (6,3%), ansiolíticos (3,5%), anfetamínicos (2,2%) e cocaína (1,7%). Nas escolas particulares, foi maior o uso na vida para o total de usuários (22,5%; p < 0,05), para solventes (16,9%; p < 0,05) e para anfetamínicos (4,7%; p < 0,05). Sengik e Scortegagna (2008), numa pesquisa com adolescentes de escolas públicas e privadas no interior do Estado do Rio Grande do Sul, verificaram diferença significativa quanto ao tipo de instituição de ensino: a maioria dos usuários (14,9%) era formada por alunos de escolas da rede privada, enquanto apenas 2,7% eram estudantes de escolas públicas. Andrade e Argimon (2006) realizaram uma pesquisa com 706 adolescentes em Porto Alegre e, por meio do teste exato de Fisher, verificaram que os alunos da escola privada consumiram mais álcool na vida que os alunos da escola pública (cð2 = 11,619; p < 0,001). O mesmo ocorreu com o uso de maconha (cð2 = 15,388; p < 0,001), solventes (cð2 = 16,261; p < 0,001) e outras substâncias (cð2 = 13,784; p < 0,001). Sanceverino e Abreu (2004), numa pesquisa com estudantes do ensino médio em um município do Sul do Brasil, verificaram diferenças estatisticamente significativas do consumo na vida de anfetaminas e inalantes. O consumo maior dessas drogas foi verificado nos estudantes das escolas particulares.

Quando se comparam os quatro levantamentos realizados (1987, 1989, 1993 e 1997), constata–se que os solventes foram as drogas que tiveram maior uso na vida, excluindo o tabaco e o álcool da análise. Dentre as seis drogas mais utilizadas, três – maconha, anticolinérgicos e cocaína – tiveram um crescimento de uso na vida estatisticamente significante. No entanto, o álcool e o tabaco continuam amplamente a ocupar o primeiro lugar como as drogas mais utilizadas ao longo da vida e no momento atual (último mês).

Cavalcante et al. (2008) e Tavares et al. (2004) afirmam que a adolescência é o período em que as drogas se fazem mais presentes, sendo frequente a sua experimentação. Pesquisa realizada pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), intitulada Pesquisa domiciliar sobre uso de drogas psicotrópicas nas 107 maiores cidades brasileiras, aponta que as drogas legais como o álcool e o tabaco estão associadas aos problemas de saúde mais proeminentes na rede de atenção à saúde como um todo. No entanto, geralmente a população, ao referir–se a drogas, menciona apenas cocaína e maconha (Carlini et al., 2006). A distinção entre a drogas lícitas e ilícitas está dissociada de conhecimentos científicos e dos movimentos sociais de tolerância a determinados produtos psicoativos e de intolerância a outros (Rezende, 2000).

O I levantamento nacional sobre o uso de álcool, tabaco e outras drogas entre universitários das 27 capitais brasileiras mostrou que esse consumo é mais frequente entre os universitários que na população em geral (Guerra, Duarte, & Oliveira, 2010). Como podemos observar, os padrões de consumo de substâncias psicoativas são modificados, periodicamente, pela dinâmica sociocultural e psicossocial de indivíduos, grupos e comunidades. Portanto, os estudos epidemiológicos sistemáticos das escolas de ensino médio podem subsidiar o planejamento e a implementação de intervenções preventivas do consumo indevido de substâncias psicoativas.

Este estudo teve como objetivo identificar as características sociodemográficas e a prevalência do consumo de substâncias psicoativas em adolescentes do ensino médio da cidade de Maceió.

 

Método

Participantes

Este estudo teve caráter descritivo e transversal. Participaram da pesquisa 407 estudantes do ensino médio da cidade de Maceió/AL, sendo 237 (58,2%) do gênero feminino e 170 (41,8%) do gênero masculino, com idade entre 14 e 18 anos, e média de 16,31 anos (desvio padrão = 1,17). Na amostra, a maioria dos participantes – 399 (97,2%) – era solteira; 170 (41,8%) cursavam o primeiro ano, 97 (23,8%), o segundo ano, e 140 (34,4%), o terceiro ano; 223 (54,8%) estudavam em escolas públicas, e 184 (45,2%), em escolas particulares. Em relação à renda familiar, 178 (43,7%) informaram receber "até três salários mínimos"; 78 (19,2%), "mais de três até cinco salários míninos"; 67 (16,5%), "mais de cinco até dez salários míninos"; 48 (11,8%), "mais de dez até 15 salários mínimos"; e 36 (8,8%), "acima de 15 salários mínimos". Os participantes da pesquisa foram selecionados por meio de uma amostra não probabilística por conveniência.

Instrumentos

Foram utilizados, para coleta de dados, dois questionários de autopreenchimento. O primeiro instrumento foi um questionário sobre o consumo de substâncias psicoativas, em que se utilizaram algumas questões do material sobre o uso de substâncias psicotrópicas do V levantamento nacional sobre o consumo de drogas psicotrópicas entre estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública de ensino nas 27 capitais brasileiras. Utilizaram–se os critérios da OMS para definir as modalidades de consumo: uso na vida, quando a pessoa fez uso de qualquer droga pelo menos uma vez na vida; uso no ano, quando a pessoa utilizou droga pelo menos uma vez nos 12 meses que antecederam a pesquisa; uso no mês, quando a pessoa utilizou droga pelo menos uma vez nos 30 dias que antecederam a pesquisa; uso frequente, quando a pessoa utilizou droga seis vezes ou mais nos 30 dias que antecederam a pesquisa; uso pesado, quando a pessoa utilizou droga 20 vezes ou mais nos 30 dias que antecederam a pesquisa. Já o segundo instrumento foi o questionário de levantamento de dados sociodemográficos dos participantes. Os questionários foram grampeados juntos e entregues a cada pessoa. Ao serem respondidos, eram depositados numa urna, para impossibilitar a identificação e não violar o sigilo da pesquisa.

Procedimento

Após a aprovação do Comitê em Ética e Pesquisa (CEP), Protocolo nº 32.357.510, a pesquisa foi realizada. Selecionaram–se quatro escolas da rede pública estadual e três da rede particular. A coleta de dados foi feita coletivamente em sala de aula, em dias antecipadamente combinados com a coordenação das escolas e com os alunos. A participação dos estudantes na pesquisa foi voluntária e antecedida da assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido por parte dos pais ou responsáveis.

Análise estatística

A análise dos dados obtidos foi efetuada com o auxílio do programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS). Foram realizadas análises descritivas que envolveram: 1. descrição da distribuição das variáveis na amostra estudada; e 2. teste qui–quadrado e exato de Fisher. Utilizou–se o teste exato de Fisher quando as condições para o uso do teste qui–quadrado não foram verificadas. Os resultados foram considerados estatisticamente significantes para um valor de p < 0,05 e p < 0,01.

 

Resultados

 

 

As cinco substâncias mais utilizadas na modalidade "uso na vida" foram: álcool, com 324 (79,6%); energéticos, com 104 (25,6%); cigarro, com 100 (24,6%); solventes, com 60 (14,7%); e ansiolíticos, com 41 (10,1%). Na modalidade "uso no ano", as substâncias mais utilizadas foram: álcool, com 277 (68,1%); cigarro, com 67 (16,5%); solvente, com 42 (10,3%); ansiolíticos, com 26 (6,4%); e anfetaminas, com 25 (6,1%). Já para "uso no mês", elas foram: álcool, com 95 (23,3%); cigarro, com 20 (4,9%); solventes, com 16 (3,9%); ansiolíticos, com 10 (2,5%); e anfetaminas, com 7 (1,7%). Para "uso frequente", foram: álcool, com 44 (10,8%); solventes, com 6 (1,5%); anfetaminas, com 5 (1,2%); ansiolíticos e maconha, com 1 (0,2%). E na modalidade "uso pesado": álcool, com 40 (9,8%); cigarro, com 10 (2,5%); ansiolíticos, com 6 (1,5%); anfetaminas, com 4 (1,0%); e solventes, com 3 (0,7%). O álcool foi a substância lícita mais consumida, e os solventes, a substância ilícita mais consumida pelos participantes em todas as modalidade de consumo.

Em relação à média de idade com que se usou pela primeira vez cada substância, os resultados dos participantes que responderam a esse item apontam: cigarro, com média de 14,24 anos (desvio padrão de 1,93), sendo que 5,4% não lembravam a idade com que fumaram cigarro pela primeira vez; bebidas alcoólicas apresentaram média de 13,92 anos (desvio padrão de 2,00), sendo que 23,6% não lembravam a idade com que beberam pela primeira vez; maconha teve média de 14,38 anos (desvio padrão de 3,96), sendo que 1% não lembrava a idade com que usou a droga pela primeira vez; cocaína, média 14,80 anos (desvio padrão de 2,68), sendo que 0,5% não lembrava com que idade usou cocaína pela primeira vez; crack teve média de 13,50 anos (desvio padrão de 2,12), sendo que 0,2% não lembrava a idade; anfetaminas apresentaram média de 14,68 anos (desvio padrão de 1,68), sendo que 0,7% não lembrava; solventes tiveram média de 14,35 anos (desvio padrão de 2,12), sendo que 2,2% não lembravam a idade; ansiolíticos obtiveram média de 15,04 anos (desvio padrão de 1,74), sendo que 3,7% não lembravam; anticolinérgicos tiveram média de 15 anos (desvio padrão de 1,41); e para barbitúricos, a idade de uso foi 16 anos.

Quanto ao gênero, observou–se diferença nas prevalências entre o consumo de substâncias na vida. O gênero feminino apresentou maior prevalência no consumo de ansiolíticos, com 30 (12,7%); anfetaminas, com 23 (9,3%); e opiáceos, com 2 (0,8%). Já o gênero masculino apresentou maior prevalência no consumo de bebidas alcoólicas, com 141 (82,9%); energéticos, com 53 (31,2%); cigarro, com 45 (26,5%); solventes, com 30 (17,6%); maconha, com 11 (6,5); cocaína, com 4 (2,4%); orexígenos, com 4 (2,4%); anabolizantes, com 4 (2,4%); crack, com 3 (1,8%); xaropes, com  2 (1,2%); alucinógenos, com 1 (0,6%); anticolinérgico, com 1 (0,6%); e barbitúricos, com 1 (0,6%).

O teste exato de Fisher verificou diferença entre o gênero dos participantes e o consumo na vida, no ano, no mês, frequente e pesado das substâncias psicoativas.

O uso no mês de bebidas alcoólicas (p = 0,009) e o uso na vida de energéticos (p = 0,029) relacionam–se com o gênero masculino; já o uso na vida de ansiolíticos (p = 0,045) relaciona –se com o gênero feminino. Isso significa que houve maior prevalência do consumo de bebida no mês e energéticos na vida para os adolescentes e maior prevalência de consumo de ansiolíticos na vida para as adolescentes.

Quanto ao tipo de escola, os participantes que estudam em escola pública apresentaram maior prevalência do consumo na vida de orexígenos (5 – 2,2%), cocaína (4 – 1,8%) e barbitúricos (1 – 0,4%). Os que estudam em escola particular obtiveram maior prevalência nos itens álcool (158 – 85,9%), energéticos (66 – 35,9%), cigarro (49 – 26,6%), solventes (31 – 16,8%), ansiolíticos (25 – 13,6%), anfetaminas (24 – 13%), maconha (10 – 5,4%), anabolizantes (4 – 2,2%), xaropes (3 – 1,6%), crack (2 – 1,1%), opiáceos  (2 – 1,1%), alucinógenos (2 – 1,1%) e anticolinérgico (1 – 0,5%).

O teste exato de Fisher verificou diferença estatisticamente significativa entre tipo de escola e o consumo de substâncias psicoativas.

O consumo de bebidas alcoólicas na vida (p = 0,005), no ano (p < 0,001) e pesado (0,004); o consumo de energéticos na vida (p < 0,001); o consumo pesado de cigarro (p = 0,048); o consumo de anfetaminas na vida (p < 0,001), no ano (p = 0,002) e pesado (p = 0,041); e o uso na vida (p = 0,046) e no ano de ansiolíticos (p = 0,041) relacionaram–se aos estudantes da escola particular. Isso quer dizer que os estudantes da escola particular apresentaram maior prevalência no consumo dessas substâncias. Não houve relação entre o tipo de escola e o consumo de substâncias psicoativas nos estudantes da escola pública.

 

Discussão

Os resultados obtidos nesta pesquisa – no que se refere às cinco substâncias mais consumidas pelos estudantes na vida, no ano, no mês, frequente e pesado – diferem dos resultados do V levantamento nacional sobre o consumo de drogas psicotrópicas realizado em Maceió em 2004 pelo Cebrid. Esses resultados podem ser observados na Tabela 2.

 

 

Quando se comparam as duas pesquisas, nota–se que, no atual estudo, houve um aumento na prevalência do consumo de energéticos na vida e de ansiolíticos e anfetaminas em todas as modalidades de uso. Em relação à maconha, houve uma diminuição da frequência do seu consumo. A partir dessa comparação, observa–se que os tipos de droga consumidos mudam de uma época para outra. O álcool permaneceu como a substância mais consumida, seguida pelo cigarro; e os solventes, a substância ilícita de maior consumo pelos estudantes. Os dados relacionados ao consumo de álcool e solventes foram semelhantes aos obtidos nas pesquisas de Guimarães et al. (2004), Sanceverino e Abreu (2004), Galduróz et al. (2005) e Muza et al. (1997).

No que se refere à idade de início da experiência com uso de drogas, os resultados obtidos neste estudo apontaram para a média de idade do cigarro de 14,24 anos, e do álcool, de 13,92. Esses resultados diferem dos apresentados por Galduróz et al. (2005), uma vez que as médias de idade deste estudo são maiores. Esta pesquisa verificou que um grande percentual de estudantes não informou a idade de início, e isso pode ter prejudicado a análise desses resultados. Outra consideração a ser feita refere–se ao fato de que os estudantes experimentaram álcool pela primeira vez quando eram menores de 18 anos. O artigo 81, incisos I e II, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), dispõe que é proibida a venda de bebidas alcoólicas e de produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida, à criança e ao adolescente. E, em Maceió, desde 2009, foi regulamentada a Lei nº 4690/98 que proíbe a venda de cigarros e bebidas alcoólicas a menores de 18 anos.

No que se refere ao consumo de substâncias psicoativas e gênero, este estudo encontrou diferença significativa entre o consumo no mês de bebidas alcoólicas e o uso na vida de energético no gênero masculino, uma vez que a utilização dessas substâncias foi mais frequente nesse gênero; e o consumo de ansiolíticos na vida com o gênero feminino, já que o uso destes, nessa modalidade, foi mais prevalente nas adolescentes. Esses resultados corroboram os de Muza et al. (1997) e Galduróz et al. (2005). Já os resultados de Tavares et al. (2004) não corroboram os apresentados neste estudo. Em relação aos resultados da presente pesquisa, o fato de apenas três das 16 substâncias relacionarem–se de forma estatisticamente significativa com o gênero pode significar que homens e mulheres estejam consumindo drogas de forma semelhante.

Quanto ao consumo de substâncias psicoativas e ao tipo de escola, os participantes da escola particular, neste estudo, obtiveram diferenças significativas nas modalidades vida, ano e pesado. O consumo no ano e pesado de bebidas alcoólicas, o consumo pesado de cigarro, o consumo na vida, no ano e pesado de anfetaminas, o consumo no ano de ansiolíticos e o consumo na vida de energéticos relacionaram–se com estudantes da escola particular. O uso dessas substâncias nas citadas modalidades é mais frequente nos estudantes da escola particular. Resultados distintos foram encontrados na escola pública, que não se relacionou a nenhuma substância. Os resultados de Andrade e Argimon (2006) corroboram os deste estudo. Sanceverino e Abreu (2004) e Sengik e Scortegagna (2008) obtiveram resultados semelhantes aos desta pesquisa no que se refere ao uso na vida de anfetamina por estudantes de escolas particulares. O consumo de substâncias psicoativas na vida foi maior nas escolas particulares, em concordância com o estudo de Guimarães et al. (2004). Esses pesquisadores afirmaram que a maior prevalência de uso das drogas nas escolas particulares pode estar ligada à condição social, cuja disponibilidade de recursos financeiros facilita a aquisição de drogas. Tal afirmação se faz pertinente e é também aceita pelos autores deste estudo como possível causa de discrepante diferença entre o consumo de drogas pelos estudantes dessas duas instituições. A discussão sobre o consumo de substâncias e o tipo de escola ficou restrita à modalidade consumo na vida, uma vez que os estudos aqui citados fazem relação do consumo apenas com essa modalidade.

As substâncias lícitas – álcool e cigarro – foram as que apresentaram maior consumo pelos adolescentes, e o consumo de anfetaminas e ansiolíticos tem aumentado nessa população. Isso merece atenção, pois o fato de aquelas serem substâncias lícitas e de estas terem um consumo cujas consequências não são tão visíveis para a sociedade parece protelar a abordagem das consequências para o uso de tais substâncias.

Este estudo teve limitações que merecem ser destacadas, pois, quando se trata de verificar o consumo de substâncias psicoativas dentro de instituições de ensino, estudantes que tenham envolvimento mais grave com drogas podem não frequentar mais as salas de aula ou faltar sistematicamente, não sendo captados pelo estudo. Por exemplo: recentemente, a mídia alagoana tem divulgado o aumento do consumo de crack pelos estudantes e mostrado o índice de diminuição de matrículas nas escolas públicas. Como já mencionado, esta pesquisa pode não ter identificado esse índice de consumo, justamente porque esses adolescentes podem não se encontrar mais nas escolas.

É de grande importância que exista um diálogo franco e aberto entre escola, família e sociedade, um diálogo que envolva especificamente os adolescentes, em que se discuta o consumo de substâncias psicoativas não apenas enfatizando os seus efeitos negativos, as consequências que o consumo acarreta – pois isso não evita que haja a experimentação nem a curiosidade acerca das drogas –, mas sim que a discussão possa despertar o entendimento, para que eles percebam o significado social e de saúde que isso possui e que detenham as informações para poder avaliar e tirar suas próprias conclusões sobre o assunto.

É necessário realizar projetos não só de prevenção de drogas, mas também que promovam saúde e visem ao aumento da reflexão sobre o estilo de vida.

 

Referências

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Endereço para correspondência:
Andressa Pereira Lopes
Rua dos Coqueiros, 103, Gruta de Lourdes
Maceió – AL – Brasil. CEP: 57052–556
E–mail: andressa_lopes@hotmail.com

Submissão: 22.4.2013
Aceitação: 8.5.2014