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Psicologia: teoria e prática

versão impressa ISSN 1516-3687

Psicol. teor. prat. vol.21 no.3 São Paulo set./dez. 2019

http://dx.doi.org/10.5935/1980-6906/psicologia.n21n3p22-27 

EDITORIAL

 

Editorial

 

 

Cristiane Silvestre de PaulaI; Carlo SchmidtI; Alessandra SeabraII

IEditores da Seção Especial de Desenvolvimento Humano
IIEditora da revista Psicologia: Teoria e Prática

 

 

Prezados leitores,

Com alegria, encerramos o ano de 2019 apresentando aos leitores o terceiro número do vigésimo primeiro volume da revista Psicologia: Teoria e Prática. Ao longo de seus 21 anos de existência, a revista tem se consolidado como importante veículo de comunicação científica no Brasil e tem alargado seu escopo internacionalmente. Com a classificação no estrato A2 na área da Psicologia pelo sistema Qualis-Periódicos, a revista é um meio de divulgação de trabalhos científicos na psicologia e áreas afins.

O volume 21, com seus três números, apresentou ao todo 37 artigos e uma resenha de livro. Em todos os números, tivemos autorias internacionais, provenientes da Grã-Bretanha, de Cuba e Portugal. Ao todo, 98% já foram disponibilizados em versões em inglês, estratégia adotada pela revista para promover a internacionalização e ampliar o alcance de nossos artigos. Além da participação internacional, destacamos que, ao longo dos três números de 2019, tivemos a participação de autores de quatro regiões do Brasil, incluindo os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Bahia, Ceará, Alagoas e Piauí.

No presente número são apresentados 14 artigos. Destacamos, no presente número, a "Seção Especial de Desenvolvimento Humano - Transtorno do Espectro Autista".

Na seção "Avaliação Psicológica" há três artigos.

No artigo "Versão de rastreio do Teste de Bender para avaliar o desempenho escolar", de Fernanda Otoni e Fabián Javier M. Rueda, da Universidade São Francisco, os autores buscaram evidências de validade de critério para a versão de rastreio do Teste de Bender - Sistema de Pontuação Gradual, por relação com o desempenho escolar. Observou-se que o grupo de crianças com baixo desempenho escolar apresentou mais erros de distorções. Houve também correlações significativas entre o desempenho no teste e nas disciplinas de português e matemática, o que corrobora a possibilidade de uso dessa versão de rastreio na avaliação de possíveis dificuldades de aprendizagem.

O segundo artigo da seção - "Adaptação cultural do Protocolo Health Behaviour in School-aged Children para a realidade brasileira" - é de Juliana Maltoni, da Universidade de São Paulo, Carolina S. de M. Lisboa, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Margarida G. de Matos, da Universidade de Lisboa, Maycoln L. M. Teodoro, da Universidade Federal de Minas Gerais, e Carmem Beatriz Neufeld, também da Universidade de São Paulo. Diante da importância do período de adolescência para o desenvolvimento, o trabalho apresentou o processo de tradução e adaptação cultural do instrumento Health Behaviour in School-aged Children, da World Health Organization (HBSC-WHO), para a realidade brasileira. São descritos os processos de tradução de juízes, comitê de avaliação da área, avaliação em público-alvo e estudo-piloto. Os autores concluem que o instrumento traduzido e adaptado é adequado para a realidade brasileira.

Adriana S. Ferraz, Acácia Aparecida A. dos Santos, da Universidade São Francisco, e Leandro da S. Almeida, da Universidade do Minho, apresentam o artigo "Evidências de validade de critério para a Escala de Atribuições de Causalidade". Nele são apresentadas evidências de validade de critério concorrente da Escala de Avaliação das Atribuições de Causalidade para Alunos do Ensino Fundamental (EAVAT-EF), que apresenta dois fatores: causas para o sucesso e causas para o fracas-so. Os autores discutem os resultados de 927 alunos (do terceiro ao nono ano), as especificidades do ensino-aprendizagem nos vários níveis de ensino, a interação entre as variáveis sexo e repetência sobre os resultados na escala e a relação entre critérios de reprovação e as crenças atribucionais.

A seção "Psicologia Social" conta com um artigo intitulado "Treinamento de Habilidades Sociais (THS) para alunos em situação de vulnerabilidade social", de Marisangela S. de Souza, da Universidade Salgado de Oliveira, Adriana B. Soares, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e Clarissa P. P. de Freitas, da Universidade Salgado de Oliveira. No estudo, verificaram-se os efeitos de um Treinamento de Habilidades Sociais (THS) sobre habilidades sociais, problemas de comportamento e desempenho acadêmico em alunos do quinto ano do ensino fundamental. Em relação ao grupo controle, o grupo de intervenção apresentou escores superiores em todas as variáveis e houve ganhos positivos para a maioria dos alunos participantes da intervenção.

A seção "Psicologia e Educação" conta com dois artigos.

O artigo "Intervenções escolares para o TDAH: Uma revisão da literatura (2000-2018)" é de Waleska M. dos Santos e Alessandra R. de Albuquerque, da Universidade Católica de Brasília. Visto que alunos com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) apresentam índices elevados de fracasso e evasão escolar, as autoras realizaram uma revisão sistemática acerca de intervenções realizadas no contexto escolar para essa população. Os resultados da revisão são descritos e discute-se a presença de efeitos positivos das estratégias interventivas sobre repertórios acadêmicos e típicos do TDAH.

O artigo "Políticas educacionais e Psicologia: Uma revisão da literatura", de Carolina M. Moraes, Leilanir de S. Carvalho, Tatiane dos S. Costa, Fauston Negreiros e Sandra Elisa de A. Freire, da Universidade Federal do Piauí, é uma revisão de literatura que buscou analisar estudos sobre políticas educacionais e sua relação com a Psicologia Escolar e Educacional. Os autores descrevem os artigos encontrados e discutem os resultados, concluindo que a relação entre políticas educacionais e Psicologia Escolar e Educacional ainda é incipiente.

Na seção "Psicologia Clínica" há três artigos.

O artigo "Estratégias de enfrentamento dos cuidadores de pacientes em cuidados paliativos no domicílio", de Bruna Maffei, da Universidade Federal de Santa Catarina, Isabel Cristina de O. Arrieira, da Universidade Federal de Pelotas, Renata

A. Ferreira, do Hospital Nossa Senhora da Conceição, e Daniela H. Cardoso, da Universidade Federal de Pelotas, objetivou compreender as estratégias de enfrentamento de cuidadores de pacientes em cuidados paliativos. Foram ouvidos nove cuidadores, e os resultados são descritos e discutidos. As autoras destacam quão

desafiador é cuidar de um familiar, o que pode levar inclusive ao adoecimento do cuidador. São discutidas as necessidades de integrar o cuidador na assistência da equipe e implementar ações educativas à sua saúde.

O segundo artigo dessa seção - "Efeito da terapia cognitivo-comportamental um ano após tratamento para transtorno depressivo maior" - foi elaborado por Gessyka W. Veleda e Mariane L. Molina, ambas da Faculdade Anhanguera de Rio Grande e da Universidade Católica de Pelotas, Ricardo A. da Silva, da Universidade de São Paulo e da Universidade Católica de Pelotas, Karen Jansen, da Universidade Católica de Pelotas, Carmem Beatriz Neufeld, da Universidade de São Paulo, e Luciano D. de M. Souza, da Universidade Católica de Pelotas. O objetivo do artigo foi analisar a efetividade do tratamento psicoterápico com a terapia cognitivo-comportamental (TCC) em quadros de transtorno depressivo maior (TDM), em termos de manutenção dos resultados de 6 a 12 meses após a intervenção. Foram avaliados 94 participantes com o Inventário Beck de Depressão (BDI-II). Os resultados revelaram resposta significativa pós-tratamento, sem™ diferenças entre o final do tratamento e a avaliação dos sintomas aos 6 e 12 meses. Observou-se ainda correlação positiva significativa entre a severidade dos sintomas depressivos na linha de base e a redução de sintomas depressivos do início para a avaliação de 12 meses.

O artigo "Estratégias metodológicas para avaliação e análise funcional do comportamento obsessivo-compulsivo", de Paola E. de M. Almeida, Carolina M. Ortega, Helena D. Meletti, João Manoel Rodrigues Neto e Weslem M. Santos, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, objetivou identificar variáveis controladoras de comportamentos obsessivo-compulsivos de um participante adulto, com base em três estratégias de avaliação: Avaliação Funcional Indireta, Avaliação Funcional Descritiva e Análise Funcional Breve - Teste de Função Única. Os autores discutem a pertinência da adoção de diferentes estratégias de avaliação no trabalho clínico, bem como a fragilidade de intervenções orientadas exclusivamente por relatos verbais.

No presente número, apresentamos uma seção especial de "Desenvolvimento Humano", cujo tema é o transtorno do espectro autista (TEA). A última década trouxe grandes avanços para o campo dos TEA no Brasil e ao redor do mundo. Novos estudos, tanto de abordagem qualitativa como quantitativa, segundo pesquisas epidemiológicas, clínicas, nas áreas da educação, da economia e genética, entre outras, nos permitiram conhecer melhor esse quadro clínico e seus impactos pessoais, familiares e sociais.

A seção especial sobre TEA representa uma força-tarefa de um grupo de pesquisadores de diferentes regiões do Brasil, membros do Grupo de Trabalho (GT) da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (Anpepp) intitulado "Transtornos do Espectro Autista: pesquisas em saúde e educação". Esse GT foi instituído em 2014 e desde então tem tido um papel ativo em diferentes publicações e eventos científicos.

Essa seção especial da revista Psicologia: Teoria e Prática conta com seis artigos científicos nas áreas de saúde e educação sobre práticas baseadas em evidência para crianças/jovens com TEA, abarcando: modelos de capacitação para profissionais da saúde e para pais; modelos de intervenção segundo a autoscopia e a autor regulação da aprendizagem; e aspectos da comunicação, particularmente sobre regressão de linguagem e comunicação alternativa.

O artigo "Atualizações em epidemiologia do autismo" foi redigido por Éric Fombonne, da Universidade de Ciências e Saúde do Oregon, Estados Unidos. No artigo, o autor discute os avanços e os problemas relativos aos estudos epidemiológicos na área do TEA. São abordadas as questões ainda em aberto, como a logística e a complexidade das pesquisas e das coletas e análises de dados, as mudanças nos sistemas nosográficos e no DSM-5, bem como a necessidade de comparações interculturais.

O artigo "Autoscopia como recurso metodológico em intervenções com autismo: Aspectos empíricos" foi redigido por Carlo Schmidt, da Universidade Federal de Santa Maria, Leila Regina O. de P. N. Santos, Thatyana M. Silva, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e Jéssica Jaíne M. de Oliveira, da Faculdades Integradas de Santa Maria. O objetivo foi apresentar evidências de eficácia do procedimento da autoscopia em intervenções com autismo. Os autores descrevem a autoscopia, um recurso metodológico que inclui procedimentos de videogravação de práticas interventivas, com objetivo de análise e autoavaliação por um ou mais protagonistas dessa prática. Foram também analisados dois estudos, com professoras e com mãe, revelando efeitos estatisticamente significativos da autoscopia, o que corrobora a possibilidade de seu uso.

O artigo "Perda de palavras no transtorno do espectro autista: Análise de vídeos caseiros" foi redigido por Bárbara Backes, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Maria Cristina T.V. Teixeira, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Tatiana P. Mecca, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Decio Brunoni, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Regina B. Zanon, da Universidade Federal da Grande Dourados, e Cleonice A. Bosa, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O estudo objetivou descrever longitudinalmente um caso de uma criança de 42 meses com TEA ao longo de dez meses. Foram observadas perda de palavras e perda de outras habilidades, como o brincar, e as habilidades sociais. A perda de palavras foi o primeiro ou principal motivo de preocupação dos pais, o que corrobora o uso desse fenômeno como um indicador precoce potencial de TEA.

O quarto artigo dessa seção especial é intitulado "Capacitação parental para manejo de comportamentos disruptivos para TEA em intervenção comportamental" e é apresentado por Leila F. Bagaiolo, Graccielle R. da Cunha, da Universidade Federal de São Paulo, Maria Luísa M. Nogueira, da Universidade Federal de Minas Gerais, Mariana Braido, da Pontifícia Católica do Rio de Janeiro e da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, Daniela Bordini, Tatiana N. D. Sasaki, da Universidade Federal de São Paulo, e Cláudia R. Pacífico, do Hospital das Clínicas/Universidade de São Paulo. O estudo teve como objetivo capacitar, com base na Análise Aplicada do Comportamento, cuidadores de indivíduos com TEA. Resultados revelaram redução nos comportamentos disruptivos das crianças e nos sintomas de depressão e ansiedade dos cuidadores.

As autoras Siglia Camargo, Andréia T. Leão e Lourdes Maria B. Frison, da Universidade Federal de Pelotas, redigiram o artigo "Comunicação de estudantes com TEA: Uma intervenção baseada na autorregulação da aprendizagem". O objetivo foi investigar se uma intervenção em autorregulação da aprendizagem no contexto do Atendimento Educacional Especializado contribui para o aumento na comunicação dos participantes. As autoras observaram aumento na frequência de iniciativas não verbais e no uso do contato ocular em respostas aos parceiros de comunicação no Atendimento Educacional Especializado, porém não houve generalização desses ganhos para o contexto de sala de aula comum.

O sexto artigo da seção especial, "Treinamento sobre transtorno do espectro autista na atenção básica: Teleducação e presencial", foi redigido por Rosane Lowenthal, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Luciana C. Silva, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Claudio T. Miranda, Jorge Arthur P. de Miranda Coelho, da Universidade Federal de Alagoas, e Cristiane S. de Paula, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Os autores tiveram como objetivo desenvolver e avaliar um modelo de treinamento via telemedicina e workshop presencial sobre TEA e saúde mental infantil para médicos e enfermeiros da atenção básica. Resultados de avaliações pré e pós-capacitação revelaram aquisição de conhecimento, atitudes e prática por médicos e enfermeiros, o que sugere a viabilidade do treinamento de profissionais da atenção básica.

Com a seção especial aqui apresentada, esperamos que os dados inéditos sirvam como ferramentas para profissionais, familiares e pessoas com TEA tomarem decisões seguindo práticas com evidência de eficácia em nossa realidade.

Mais uma vez agradecemos todo o apoio e a confiança recebidos para a disponibilização deste número. Nossa gratidão aos autores, aos pareceristas, à equipe de editores, gestores e funcionários. Esperamos que todos aproveitem a leitura dos artigos.

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