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Psicologia: teoria e prática

Print version ISSN 1516-3687

Psicol. teor. prat. vol.22 no.2 São Paulo May/Aug. 2020

http://dx.doi.org/10.5935/1980-6906/psicologia.v22n2p83-104 

ARTIGOS
DESENVOLVIMENTO HUMANO

 

Escala de Desregulação Emocional - Adultos (EDEA): evidências de validade

 

 

Gabriela da S. Cremasco; Ana Celi Pallini; Bruno Bonfá-Araujo; Ana Paula P. Noronha; Makilim N. Baptista

Universidade São Francisco (USF), Itatiba, SP, Brasil

Correspondência

 

 


RESUMO

A autorregulação emocional é necessária em diversas ocasiões da vida, porém estudos têm indicado diferenças na forma como homens e mulheres tendem a expressar, conter ou mudar suas emoções. É importante investigar essas considerações em instrumentos psicológicos, uma vez que, quando se avalia esse construto, sobretudo no caso de um item ter maior probabilidade de endosso por um ou outro sexo, os resultados podem ser enviesados. Com base nisso, o objetivo deste estudo foi analisar o funcionamento diferencial do item (DIF) da Escala de Autorregulação Emocional - Adulto (EARE-AD) para tristeza, em relação à variável sexo. Além disso, analisaram-se as distribuições das categorias de respostas do instrumento. Mediante a existência de DIF, itens neutralizados foram priorizados, favorecendo assim resultados menos tendenciosos. A partir disso, em um segundo estudo, foi proposta uma versão reduzida da escala (Escala de Desregulação Emocional - Adultos - EDEA) com 15 itens, com vistas a buscar evidências de validade baseadas na estrutura interna para essa nova versão.

Palavras-chave: emoções; estudos de validade; regulação emocional; testes psicológicos; tristeza.


 

 

1. Introdução

Regular as emoções é um aspecto essencial no desenvolvimento humano. Trata-se de um processo no qual as pessoas utilizam diferentes estratégias para inibir, controlar ou expressar suas emoções, de forma a coincidir com as necessidades do ambiente e/ou metas e objetivos pessoais. Esse processo pode ocorrer de forma automática (quando não necessita de esforços ou pensamentos antecipados) ou intencional, envolvendo tomada de decisão e escolhas sobre qual expressão é mais adequada ou desejada (Barros, Goes, & Pereira, 2015).

Considerando a relevância da autorregulação emocional, é necessário ter instrumentos que mensurem o construto adequadamente e possam ser específicos para contextos e amostras. Isso ocorre levando em conta que diferentes situações e fases da vida, por vezes, requerem diferentes tipos de estratégia de autorregulação (Kring & Sloan, 2010). Diante dessa necessidade, Noronha e Baptista (2016) desenvolveram a Escala de Autorregulação Emocional - Adultos (EARE-AD) voltada a situações de tristeza, para o contexto brasileiro. Os autores se apoiaram nas concepções de Gratz e Roemer (2004) sobre o controle expressivo de emoções negativas e a redução da excitação emocional para a elaboração dos itens. Sendo assim, foram contemplados diversos aspectos e processos de regulação, como: expressão e manifestação de emoções positivas ou negativas diante das situações de tristeza, reavaliação positiva da atenção, ruminação, reação impulsiva, não aceitação de respostas emocionais, dificuldade em ter ações voltada ao alcance dos objetivos, entre outros (Noronha, Baptista, & Batista, 2019).

As primeiras propriedades psicométricas da EARE-AD foram investigadas no estudo de Noronha et al. (2019). Participaram do estudo 802 sujeitos com idades entre 18 e 79 anos (M = 27,62; DP = 12,19), com 66,2% da amostra composta pelo sexo feminino. Conduziu-se uma análise fatorial exploratória, sendo testados modelos de um a cinco fatores para o instrumento. A solução de quatro fatores foi a que apresentou melhor ajuste dos dados (CFI = 0,994; RMSEA = 0,03 e χ2 = 618,64; gl = 431; RMSR = 0,04). Além disso, foram verificados índices de confiabilidade adequados para todos os fatores, com valores de 0,98, 0,69, 0,88 e 0,92, respectivamente para os fatores 1 (estratégias adequadas de enfrentamento), 2 (externalização da agressividade), 3 (pessimismo) e 4 (paralisação).

Buscando obter novas evidências de validade e fidedignidade para a EARE-AD, outro estudo testou o instrumento pela análise fatorial confirmatória (AFC) e pelos pressupostos da teoria de resposta ao item (TRI). Foram testados três modelos (multidimensional, de segunda ordem e bifator). Participaram 660 pessoas com idades entre 18 e 71 anos (M = 22,83; DP = 7,21), sendo 68,9% do sexo masculino. Os melhores índices de ajustes foram verificados no modelo multimensional (χ2 = 1.938; gl = 521; CFI = 0,95; RMSEA = 0,06; TLI = 0,95; WRMR = 1,622), com confiabilidade de 0,94 pelo alfa e de 0,96 considerando o ômega. Dois itens apresentaram índices de infit e outfit fora do esperado, que poderiam ser excluídos em estudos posteriores (Bonfá-Araujo, Pallini, Baptista, & Noronha, manuscrito submetido para publicação).

Embora a escala já tenha sido testada quanto às propriedades psicométricas adequadas como indicado nos estudos relatados, é importante ressaltar a possibilidade de existirem diferenças na regulação das emoções considerando o sexo. A revisão feita por Nolen-Hoeksema (2012) mostrou que as mulheres fazem maior uso de estratégias de regulação emocional. No entanto, por terem maior tendência à ruminação, as mulheres acabam por apresentar mais sintomas de depressão e ansiedade em relação aos homens. Além disso, a autora ressaltou que estudos que busquem investigar quais as estratégias de autorregulação emocional mais utilizadas pelos homens ainda são incipientes.

Possíveis diferenças de estratégias de autorregulação em relação ao sexo, por meio da ressonância magnética, foram consideradas por McRae, Ochsner, Mauss, Gabrieli e Gross (2008). Os autores verificaram que as mulheres despendiam de maior esforço em relação aos homens no uso das estratégias, sugerindo que as diferenças poderiam ser explicadas pelo fato de os homens geralmente fazerem maior uso da regulação automática de emoções. Enquanto isso, as mulheres mesmo com maior esforço, podiam usar, em maior grau, emoções positivas na reavaliação das emoções negativas.

Nesse sentido, para a presente pesquisa, elaboraram-se dois estudos. O objetivo do primeiro estudo foi testar o funcionamento diferencial do item (differential item functioning - DIF) no que diz respeito à variável sexo e às categorias de resposta para a EARE-AD. Posteriormente, em um segundo estudo, foi proposto um aperfeiçoamento da medida - derivada da EARE-AD - renomeada de Escala de Desregulação Emocional - Adultos (EDEA), que considerasse apenas itens que não estivessem afetados pelo DIF, visando buscar evidências de validade baseadas na estrutura interna.

 

2. Método

2.1 Participantes

Compuseram a amostra deste estudo 1.372 sujeitos (M = 23,3; DP = 7,67), sendo 49,6% do sexo feminino e 50,4% do sexo masculino. Os participantes, em sua maioria, afirmaram que são solteiros (87,6%) e cursam o ensino superior (75%). Essa amostra é derivada da reunião de bancos de dados, nos quais a EARE-AD foi utilizada.

2.2 Instrumento

Adotou-se a EARE-AD (Noronha & Baptista, 2016), instrumento que tem como objetivo mensurar a autorregulação emocional para a tristeza por intermédio de itens de autorrelato, sendo a versão final composta por 34 itens em escala Likert (de 0 = nenhuma das vezes/nada a 4 = sempre). Quatro dimensões compõem a EARE-AD, a saber: estratégias adequadas de enfrentamento (a = 0,98, no estudo original), externalização da agressividade (a = 0,69), pessimismo (a = 0,88) e paralisação (a = 0,92).

2.3 Procedimentos

A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa previamente à coleta de dados: Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) n. 80594117.1.0000.5514. Todos os participantes deveriam concordar com os dados apresentados no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram seguidos os aspectos éticos solicitados pela Resolução n. 510/2016 (Conselho Nacional de Saúde, 2016). A coleta ocorreu de forma on-line pela plataforma Google Forms, com duração estimada de dez minutos.

2.4 Análise de dados do estudo 1

Após a reunião das bases de dados, foram realizadas estatísticas descritivas para categorização dos participantes de acordo com o sexo, estado civil e nível de formação. Em seguida, testou-se o DIF de acordo com o sexo, e, posteriormente, analisaram-se os dados com o objetivo de interpretar a categoria de respostas para os fatores da EARE-AD, segundo os pressupostos da TRI. O critério utilizado para estabelecer presença de DIF foi o de Draba (1977), em que itens com escores t iguais ou superiores a 2,40 apresentam o funcionamento diferencial. Posteriormente, analisaram-se as categorias de respostas, sendo apresentadas em gráficos, nos quais o eixo x indica o teta (nível dos sujeitos no traço latente) e o eixo y indica a probabilidade de resposta dos sujeitos nos níveis diferentes de teta, de modo que a média é centrada em zero. Quando duas categorias de endosso apresentam uma intersecção, esta pode ser considerada como o valor limiar de mudança entre as categorias. O software utilizado para as análises foi o Winsteps (Linacre, 2010). Em seguida, os itens que apresentaram funcionamento diferencial para sexo foram excluídos.

2.5 Análise de dados do estudo 2

Depois do estudo 1, testaram-se duas AFCs. A primeira continha o instrumento sem os itens que apresentaram o DIF do estudo anterior, visando compreender a estrutura do instrumento sem itens influenciados pelo funcionamento diferencial. A segunda continha aqueles itens com maior carga fatorial, pertinência teórica e compreensão semântica extraídos da primeira análise fatorial, os quais foram selecionados para compor uma versão da EDEA balanceada de acordo com a quantidade de itens, sendo testada também a AFC para esta. Para a AFC, foi utilizado o estimador Weighted Least Squares Mean and Variance Adjusted (WLSMV), sendo considerados os índices de ajuste Root Mean Square Error of Approximation (RMSEA < 0,08), Comparative Fit Index (CFI > 0,95) e Tucker Lewis Index (TLI > 0,95). Para a consistência interna, calcularam-se o alfa de Cronbach e o ômega de McDonald, além da correlação entre as dimensões do instrumento final. Todas as análises foram realizadas no software MPlus 7 (Muthén & Muthén, 2011).

 

3. Resultados

3.1 Estudo 1: Funcionamento diferencial do item na variável sexo e categoria de resposta para a EARE-AD

Primeiramente, buscou-se analisar o DIF para os itens da EARE-AD, cujos resultados são apresentados na Tabela 3.1.1.

 

 

Segundo os critérios preestabelecidos, os itens 5, 7, 15, 17, 18 e 33 apresentam DIF, de modo que os valores de t variaram de 2,44 até −4,92. Para os itens 5, 7 e 33, o sexo feminino foi aquele que mais os endossou. Sendo, EARE5 - "Acho que nada do que pode ser feito vai adiantar", EARE7 - "Quero bater nos outros" e EARE33 - "Soco as coisas/quebro as coisas". Por sua vez, o sexo masculino endossou em maior proporção os itens 15, 17, 18, sendo EARE18 - "Acho que o que sinto é importante para meu crescimento", EARE15 - "Brigo com os outros" e EARE17 - "Fico perdido".

Em seguida, foi realizado o gráfico de categoria de respostas. Na Figura 3.1.1, são apresentadas as categorias de acordo com as dimensões. Os resultados das distribuições de endosso nas categorias indicam que os sujeitos, de modo geral, utilizam todas as possibilidades de resposta. Contudo, a partir da inspeção visual, é relevante destacar que, apesar da progressão evidente dos níveis de teta para a escala Likert, a categoria 2 apresentou pouco endosso em todos os fatores, especialmente em relação os fatores 1, 2 e 3 (estratégias adequadas de enfrentamento, externalização da agressividade e pessimismo, respectivamente). No que tange à porcentagem de uso de tais categorias, considerando todos os fatores, 33,85% dos participantes indicaram a chave de resposta zero, 20,40% indicaram a chave um, 16,04% assinalaram a chave dois, 14,15% indicaram a chave três e 13,87% assinalaram a chave de resposta quatro. No entanto, deve-se levar em conta que os conteúdos de tais chaves (0 = nenhuma das vezes/nada, 1 = um pouco, 2 = mais ou menos, 3 = muito e 4 = sempre) são diferentes, de modo que a alternativa dois é pouco capaz de discriminar o construto.

3.2 Estudo 2: Evidências de validade baseadas na estrutura interna da EDEA

Inicialmente foi testada a AFC para a EDEA, considerando apenas os itens que não apresentaram o DIF. Conforme mencionado anteriormente, esse teste foi realizado após a exclusão dos itens que apresentaram DIF para o sexo. A Tabela 3.2.1 apresenta os resultados da análise fatorial.

 

 

Para esse primeiro modelo, os índices de ajuste obtidos foram RMSEA = 0,07, CFI = 0,95 e TLI = 0,95, o que indica um modelo satisfatório. Contudo, uma segunda análise foi realizada para aprimorar alguns tópicos, a saber: quantidades desbalanceadas de itens para as dimensões e baixas cargas fatoriais para alguns itens. Propôs-se um segundo modelo de AFC testado com quatro itens para três das dimensões e três itens para a dimensão externalização da agressividade. Um dos itens (EARE31) foi considerado pelos autores como pouco semanticamente compreensível, e, por isso, optou-se por excluí-lo do instrumento final. Os itens utilizados estão em negrito na Tabela 3.2.1, escolhidos por conta de suas altas cargas fatoriais, da pertinência teórica e da clareza semântica. A Tabela 3.2.2 apresenta o novo teste de análise fatorial, consistência interna para cada fator e correlação entre as dimensões.

 

 

Esse segundo modelo satisfatório apresentou os seguintes índices de ajuste: RMSEA = 0,06, CFI = 0,98 e TLI = 0,98. As cargas fatoriais variaram de 0,60 até 0,95. No que diz respeito à consistência interna para a escala geral, os resultados obtidos foram alfa de Cronbach ( α = 0,94) e ômega de McDonald (ω = 0,96).

 

4. Discussão

A fim de atingir os objetivos propostos, realizaram-se dois estudos. O primeiro teve como enfoque testar o funcionamento diferencial do item e as categorias de resposta da EARE-AD, seguindo os pressupostos da TRI. O segundo teve como objetivo aperfeiçoar a EARE-AD, visando buscar os itens que não fossem afetados pelo funcionamento diferencial do item e propor a EDEA. Uma vez que a EARE-AD se concentra nas estratégias desadaptativas, optou-se por inverter apenas a primeira dimensão do instrumento. Assim, o nome da escala foi modificado de Escala de Autorregulação Emocional (EARE-AD) para Escala de Desregulação Emocional - Adultos (EDEA).

Quando analisados, seis itens indicaram funcionamento diferencial para o sexo. Essa análise é importante porque permite identificar características que podem enviesar os resultados de um instrumento, limitando sua utilização (Sisto, 2006). Entre esses itens, o sexo feminino endossou mais alguns itens das dimensões externalização da agressividade e paralisação (como indicado pelos itens EARE5, EARE7 e EARE33 disponíveis na Tabela 3.1.1). Em contrapartida, o sexo masculino endossou mais outros itens das dimensões estratégias adequadas de enfrentamento, externalização da agressividade e paralisação (como indicado pelos itens EARE15, EARE17 e EARE18 disponíveis na Tabela 3.1.1). Tais dados indicam que, ante eventos tristes, as mulheres tendem a ser mais agressivas fisicamente no que diz respeito à externalização da agressividade - comportamentos indicados pelos itens "Quero bater nos outros" e "Soco as coisas/quebro as coisas", enquanto os homens tendem a ser mais agressivos de modo expressivo - como indicado pelo item "Brigo com os outros", ambos culpabilizando outros ou ruminando possíveis estratégias de enfrentamento. Já os homens - considerando apenas o item "Acho que o que sinto é importante para o meu crescimento" - são mais capazes de buscar ferramentas adequadas para confrontar tais situações.

Para as chaves de resposta, a categoria de resposta dois ("mais ou menos") foi aquela menos discriminativa quando se avaliou a progressão de teta dos indivíduos. Estudos anteriores sobre ancoramento de respostas (por exemplo, Gehlbach & Artino, 2018; Gehlbach & Barge, 2012) indicam que algumas chaves de respostas são pouco discriminativas, especialmente aquelas que podem confundir o respondente. Desse modo, visando a um instrumento que seja capaz de ser aplicado para ambos os sexos igualitariamente e possa ser discriminativo em relação ao traço latente, optou-se por remover, na versão reduzida, os itens que apresentaram funcionamento diferencial para o sexo e retirar a chave de resposta que discriminou pouco quando avaliada de acordo com os respondentes. As afirmações de Chyung, Roberts, Swanson e Hankinson (2017) contribuem para tal decisão ao alertarem que pontos médios nas chaves de resposta nem sempre são necessários, principalmente quando não trazem uma boa discriminação ou prejudicam a medida fornecendo poucas informações. Pelo pouco endosso dessa chave e pela preferência de que as pessoas se posicionem claramente em relação à frequência de suas ações em cada item, a remoção dessa chave se torna viável, não trazendo prejuízos à medida.

Após esse processo, foi iniciado o segundo estudo em que se realizou a AFC. Com o objetivo de manter a proposta de Noronha e Baptista (2016), mantiveram-se quatro dimensões previamente apontadas pela literatura (Gratz & Roemer, 2004). Para a AFC, foram encontradas cargas fatoriais que variaram de moderadas até altas (ver Tabela 3.2.1). Contudo, mantida essa versão, a quantidade de itens por dimensão seria desbalanceada, variando de 14 itens para um fator até 4 itens para outro. Visto que uma versão desbalanceada do instrumento poderia prejudicar análises futuras, realizou-se uma segunda AFC considerando os seguintes critérios: 1. obter uma versão aprimorada do inventário, que fosse pouco extensa e capaz de captar o construto de maneira eficiente (Streiner, 2003), e 2. manter itens que pudessem representar cada uma das dimensões propostas, sem serem redundantes.

Isso posto, essa nova análise (ver Tabela 3.2.2) evidenciou cargas fatoriais que variaram de moderadas até altas, com índices de ajustes satisfatórios e superiores à sua versão anterior. Mantiveram-se quatro itens para três dimensões e três itens para a dimensão externalização da agressividade, obtendo-se uma escala com um total de 15 itens. Uma dimensão avaliou estratégias adaptativas; e três, estratégias desadaptativas ante a tristeza. Conforme esperado, as dimensões desadaptativas indicaram correlação negativa com o fator de estratégias adequadas. Essa correlação indicou que o fator de estratégias adequadas pode ser considerado como um fator protetivo a eventos tristes (Weiss, Gratz, & Lavender, 2015).

Uma vez que esta pesquisa teve como objetivo testar possíveis discrepâncias no que tange ao sexo e às categorias de resposta, bem como apresentar uma versão aprimorada (isto é, a EDEA), estudos futuros devem buscar testar a escala proposta em outros contextos (por exemplo, evidências de validade baseadas na relação com outras variáveis e validade discriminante em relação a construtos que possam compartilhar de algumas proximidades na avaliação e regulação das emoções, como a autoestima). A proposta dessa escala reduzida se fundamenta na justificativa de que instrumentos reduzidos podem servir como triagem (screening), tendo grande utilidade clínica, principalmente quando associados a investigações de sintomas e transtornos notoriamente relacionados, como a depressão e ansiedade, demandas que têm aumentado significativamente nos últimos anos. Além disso, tais instrumentos são mais bem utilizados em aplicações de larga escala, visto que exigem um tempo menor para preenchimento, acabando por evitar efeitos de fadiga muito comuns em grandes coletas de dados (Streiner, 2003), assim como devem ser buscadas relações com construtos notoriamente relacionados na literatura, como depressão e ansiedade. Em virtude de esse instrumento ter seu principal enfoque nas estratégias desadaptativas da autorregulação emocional para a tristeza, analisar as relações entre elas e os traços psicopatológicos da personalidade é uma proposta em aberto para estudos futuros.

 

Referências

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Correspondência:
Gabriela da Silva Cremasco
Rua Waldemar César da Silveira, 105, Jardim Cura D'ars
Campinas, SP, Brasil. CEP 13045-510
E-mail: gabisilva10@hotmail.com

Submissão: 28/05/2019
Aceite: 15/04/2020

Nota dos autores
Gabriela da S. Cremasco, Programa de Pós-Graduação em Psicologia (ênfase em Avaliação Psicológica), Universidade São Francisco (USF); Ana Celi Pallini, Programa de Pós-Graduação em Psicologia (ênfase em Avaliação Psicológica), Universidade São Francisco (USF); Bruno Bonfá-Araujo, Programa de Pós-Graduação em Psicologia (ênfase em Avaliação Psicológica), Universidade São Francisco (USF); Ana Paula P. Noronha, Programa de Pós-Graduação em Psicologia (ênfase em Avaliação Psicológica), Universidade São Francisco (USF); Makilim N. Baptista, Programa de Pós-Graduação em Psicologia (ênfase em Avaliação Psicológica), Universidade São Francisco (USF).

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